Brasil
Marivaldo assume a presidência do Banco da Amazônia e fala em investimentos
Marivaldo disse esta muito orgulhoso por ser o primeiro funcionário de carreira do banco a chegar ao cargo mais importante da instituição
O novo presidente do Banco da Amazônia (Basa), Marivaldo Melo, tomou posse no cargo na manhã desta segunda-feira (16) em Belém, na sede da instituição financeira, em uma das mais concorridas solenidades da história do banco.
Os senadores Sérgio Petecão (PSD) e Gladson Cameli (PP) lideraram uma bancada de outros seis senadores que se juntaram ao governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), deputados federais, estaduais, vereadores e o vice-governador do Pará, Zequinha Miranda.
Marivaldo Melo falou de sua trajetória e disse estar muito orgulhoso por ser o primeiro funcionário de carreira do banco a chegar ao cargo mais importante da instituição. Mas ele lembrou que esse fato não é motivo de comemoração, mas de responsabilidade.
“A missão é o que mais me empolga, não o cargo de presidente”, observou. Quando discursou, Marivaldo fez um breve relato de sua trajetória no banco, onde está há quase duas décadas, e pediu o empenho de toda a equipe para que o trabalho surta ainda mais efeitos positivos.
O senador Gladson Cameli falou da expectativa para a economia do Acre com a chegada do novo presidente do banco que mais fomenta os setores no estado. Para ele, Marivaldo não terá dificuldades em encaixar seu modelo de gestão, justamente porque é um profundo conhecedor das necessidades econômicas do Acre.
“Ele sabe melhor do que muita gente quais são os setores que mais necessitam dos investimentos do banco. É um gestor formado dentro do banco e não tenho duvidas de que vai ajudar muito o Acre”, disse ele.
Na agenda do novo presidente, o primeiro compromisso oficial será justamente no Acre, onde participa da inauguração do frigorífico Dom Porquito, no próximo dia 30, em Brasiléia. Na mesma viagem, Marivaldo terá uma audiência com o governador Tião Viana (PT), que não participou da solenidade de posse.
Para 2016, o Banco da Amazônia vai disponibilizar um orçamento de R$ 6 bilhões.
Confira o discurso de posse do presidente Marivaldo Melo:
Gostaria muito de iniciar este modesto pronunciamento agradecendo a Deus, a quem também rogo a iluminação e o discernimento necessários para avançar nesse novo desafio de desenvolver, cada vez mais, a Amazônia e a Região Norte do nosso país.
Registro aqui, minhas senhoras e meus senhores, o grande afeto e reconhecimento que nutro pela minha família, na figura do meu querido pai, Mario Diogo e da minha mãe Flor, a quem devo os melhores exemplos de vida honesta, de trabalho e de dedicação.
Meu muitíssimo obrigado pelo apoio indispensável da minha esposa Mielle, funcionária de carreira desta casa, que sempre soube lidar com muito equilíbrio nas questões familiares e profissionais.
Meus queridos filhos Pedro e João Gabriel, saibam do grande orgulho que tenho de ser seu pai e de saber que posso sempre contar com o afeto, apoio, respeito e compreensão de vocês.
Testemunham igualmente essa vida de lutas em família, minhas irmãs, a Dra. Maria da Glória ,Dra. Marineide, Dirce Melo, Dilene Melo, Elisa Melo, Janeide Melo, meus Sobrinho Thiago, Marta e Márcia aqui presentes. À essas profissionais vencedoras e dedicadas, meus abraços fraternos e o agradecimento pelo grande incentivo nas minhas pelejas cotidianas.
Saudações calorosas também faço aos meus irmãos Mário Diogo, Dra. Marilza e Graça Melo que não se fazem aqui presentes, mas estão aqui com seus pensamentos.
Senhoras e senhores,
Faço questão de falar dessa nossa família de 10 irmãos, porque tivemos as graças e as bênçãos de Deus que nos deu um pai com a sabedoria de um amazônida.
Esse homem simples e valente, nascido nas barrancas do Rio Purus, fez na vida um pouco de tudo. Foi seringueiro, regatão, vereador, prefeito, deputado e atualmente promotor de Justiça aposentado e pecuarista,
Devo ao meu pai, esse homem extraordinário de 102 anos de idade, os melhores ensinamentos de vida, que sempre apontavam para um único caminho: o caminho do bem e da educação.
Minha mãe com sua simplicidade nos mostrou que, acima de tudo, a verdade, a honestidade e a sensibilidade devem sempre prevalecer.
Foi nessa estrada, minhas amigas e meus amigos, que fomos aprendendo a caminhar e a enfrentar todos os desafios.
Senhores empregados e empregadas do Banco da Amazônia, amigas e amigos que engrandecem esta Casa,
Como técnico de carreira do BANCO, agradeço à Presidente Dilma Roussef e ao Ministro Joaquim Levy pela confiança em mim depositada para dirigir este valoroso e importante Banco de fomento com vista a continuar o desenvolvimento regional.
Sei dos grandes desafios do Banco, mas fico muito satisfeito, minhas senhoras e meus senhores, porque conto e sempre contei com o apoio de representantes políticos ilustres dessa Região.
Meu reconhecimento, portanto, ao Senador Omar Aziz, cuja liderança política no Senado da República e no Congresso Nacional estão a serviço do crescimento econômico e da melhoria de vida das pessoas da nossa Região.
Minhas congratulações também se estendem a todos os senadores e deputados federais aqui presentes, verdadeiros entusiastas e defensores das políticas regionais de geração de emprego e renda.
Senhores Governadores, Prefeitos, Senador Omar Aziz, demais Senadores e Deputados Federais, tenho a certeza absoluta de que contaremos com o apoio da Bancada federal da Região Norte para que o BANCO avance ainda mais em projetos que, verdadeiramente, desenvolvam os municípios da Amazônia e da Região Norte do Brasil.
Senhoras e senhores,
Sinto-me parte da história do Banco da Amazônia em várias dimensões – profissionais, pessoais, sociais e emocionais.
Aqui é minha Casa e como tal, vivo a cada dia seus desafios, suas vitórias e conquistas.
Sou filho da Região da Amazônia com muito orgulho. Meu bisavô João Gabriel chegou em Boca do Acre em 1882, atraído pelo ouro negro, a borracha e assim, também surgiu o Banco. Minha história se encontra com a do Banco.
Amo esta terra, porque aqui construí minha família, meu trabalho e meu futuro.
Por isso não posso ocultar meu orgulho de estar aqui, minha alegria de ser nomeado no cargo de Presidente do Banco, instituição que tem grande importância e significado para essa Região.
Assumo, portanto, a presidência do Banco da Amazônia, com a missão e o foco de contribuir com este grande projeto de desenvolvimento regional, que conta com corações, mentes, conhecimentos e experiências e grande vontade de acertar.
Como disse, carrego também meus valores morais e éticos, que recebi de meu pai e que procuro transmitir aos meus filhos.
São estes valores que garantem quem sou, o que fiz e o que farei em prol dessa Instituição.
Senhoras e senhores,
Inicio hoje essa caminhada na Presidência do Banco com a consciência da responsabilidade do cargo e do momento histórico que vivemos.
Tenho o privilégio e a honra de ser o primeiro servidor de carreira do Banco a assumir oficialmente o cargo de Presidente do Banco.
Isso também é motivo de orgulho para todas as mulheres e homens que trabalham no Banco, pelo reconhecimento pelo trabalho de qualidade que prestam à sociedade.
O Banco avançou muito nos últimos anos e tivemos muitas conquistas no campo da política de crédito, da gestão de pessoas, da tecnologia, dentre outras áreas.
Por isso, reafirmo aqui que as gestões da Dra. Flora, Dr. Mâncio Lima, Dr. Abidias Junior e Dr. Valmir Rossi, contribuíram decisivamente para todos os avanços institucionais do Banco. Prova maior desses avanços é que hoje estou assumindo esse cargo, porque tive minha formação bancária preparada na própria instituição.
Assim, estou aqui como parte de um sonho coletivo, no qual tantas mulheres e homens dedicaram e se dedicam seus melhores esforços para o fortalecimento do Banco.
Ingressei no Banco como um técnico e tornei-me gestor. Por essa razão, esperem de mim uma gestão técnica amparada por preceitos éticos, na legalidade, com responsabilidade buscando corresponder ao cumprimento da Missão deste Banco.
E a missão do Banco é justamente a de desenvolver de forma sustentável a Região. É a missão de reduzir as desigualdades regionais e sociais. É a missão de fazer da Amazônia um eixo estratégico e estruturante da economia do país.
Senhoras e senhores,
O desenvolvimento sustentável da região continuará como uma grande prioridade na minha gestão.
Para tanto, vamos perseguir as metas estabelecidas pelo Governo Brasileiro na ONU em sua última conferência.
Foi lá que a Presidente Dilma anunciou a redução do desmatamento em 82%, o reflorestamento de 12 milhões de hectares e a recuperação de outros 15 milhões de pastagem degrada, além da integração de R$ 5 milhões hectares de lavoura-pecuária-floresta até o ano de 2030.
Vamos estabelecer metas anuais para esses objetivos, de acordo com a nossa capacidade operacional.
Aos diretores, gerentes e empregados do Banco asseguro que cuidarei pessoalmente para que nossa rede de agências tenha o apoio e o incentivo para atingirmos os resultados que o Banco precisa.
No que depender desta presidência, vamos, cada vez mais, crescer, incluir, conservar e proteger, conforme os preceitos da Conferência RIO + 20”.
Estamos convictos de que esse caminho não tem volta. Por isso, iremos discutir o tema com todos os parceiros do Banco, numa estratégia de atuação integrada.
A importância da Amazônia para o mundo é inegável, mas temos que levar em conta a sua população de 25 milhões de habitantes, que precisa ser incluída no processo produtivo.
Essa população, no que depender do Banco, estará incluída nas políticas de geração de emprego e renda.
Sempre digo que a pobreza gera passivo ambiental, e que a inclusão social no processo produtivo gera sustentabilidade. Não me afastarei desses eixos.
Prezadas amigas e amigos aqui presentes,
Estamos numa época de dificuldades na economia e na política. Nós Amazônidas, entretanto, que sempre enfrentamos dificuldades com perseverança, acreditamos que os desafios serão superados.
E esta Empresa, este Banco, estará na vanguarda das ações em favor do crescimento e da prosperidade da na nossa Região. Seremos atores principais nessa empreitada que reerguerá a Amazônia e a Região Norte.
É muito importante dizer que o Banco da Amazônia vem cumprindo seu papel fundamental para a economia brasileira gerando emprego, renda na Amazônia, em projetos verdadeiramente estruturantes.
Até setembro de 2015, o Banco registrou o lucro líquido de R$ 181,7 milhões com um Patrimônio Líquido de R$ 1,89 bilhão. Hoje estamos administrando R$ 32,34 bilhões de ativos.
Com esses números, o Banco se consolida cada vez mais como a principal Instituição Financeira da Região Norte onde temos 61% do crédito de Fomento e 33% do crédito total aplicado.
O volume de crédito aplicado pelo Banco tem efeitos multiplicadores no crescimento da nossa economia, elevando o produto, a renda, a arrecadação de tributos e a geração de empregos na Amazônia.
O Banco da Amazônia, minhas senhoras e meus senhores é o principal instrumento de política pública na promoção do desenvolvimento regional da Amazônia.
Com relação a esses benefícios gerados pelo Banco, destacamos o crescimento no PIB regional, da ordem R$ 8,7 bilhões.
Citamos igualmente a evolução do Valor Bruto da Produção (VBP), com R$ 17 bilhões, a criação de mais de 300 mil postos de trabalhos e a destinação de cerca de R$ 2 bilhões ao pagamento de salários.
Esses números comprovam a solidez do Banco da Amazônia como instituição financeira, ao longo dos seus 73 anos.
Essa performance também é confirmada pelo indissociável balanço dos benefícios sociais gerados na Amazônia, que é, de maneira inconteste, uma das mais complexas e desafiadoras regiões do Brasil.
A região Amazônica, como todos sabemos, é caracterizada por extremos.
Assim como possui grandes extensões territoriais e extensas áreas de preservação ambiental, biodiversidade e de água potável ela também conta com baixos índices em algumas áreas sociais.
Nesse contexto de oportunidades e de superação de “gargalos”, o Banco busca renovar suas políticas e estratégias de ação às novas demandas políticas, sociais, econômicas e ambientais.
Essa abordagem foi reafirmada na reformulação do nosso Planejamento Estratégico, ocorrida no ano passado.
Em decorrência, estamos aperfeiçoando o processo de concessão de crédito, para democratizar e agilizar, com segurança, o acesso daqueles que desejam produzir e gerar emprego e renda na região.
Nessa visão estratégica, a gestão de pessoas ganhará ainda mais relevância, por meio do aperfeiçoamento e valorização contínua do nosso quadro de empregados. Isso é fundamental para que possamos prestar bons serviços à sociedade.
Tenho certeza de que contarei com o compromisso, o envolvimento e participação de cada mulher e de cada homem que trabalha nesta Casa .
Convido a todos, para, juntos, consolidarmos o BANCO DA AMAZÔNIA como instituição forte, permanente e necessária ao desenvolvimento social, humano e econômico da Amazônia e do Brasil.
Só iremos consolidar essa posição se avançarmos na boa prestação de serviços financeiros e creditícios às pessoas e às instituições do setor produtivo. Essa conquista é que propiciará a obtenção de resultados financeiros positivos e para a nossa Instituição.
Vamos dar continuidade à modernização dos processos gerenciais e da área de Tecnologia da Informação. Queremos e seremos um Banco de desenvolvimento moderno, ágil e cada vez mais voltado para a sua missão institucional de bem atender ao desenvolvimento da Região.
Tudo isso, minhas senhoras e meus senhores, será conduzido sob os princípios da ética e da transparência, valorizando a gestão colegiada.
Estas são ferramentas básicas para atuar em consonância com os princípios do desenvolvimento sustentável.
Vamos intensificar ainda mais o estreitamento das relações institucionais com órgãos federais, governos estaduais, municipais e com a sociedade civil organizada.
Dessa aproximação com os vários segmentos da sociedade, espero obter mais e mais oportunidades de atuação do BANCO, aspecto indispensável para ampliarmos as nossas fontes de financiamento do desenvolvimento regional.
Encerro esta fala, agradecendo a todos os meus companheiros de equipe, aqueles que trabalharam comigo no Acre, na Regional Pará II e no Tocantins. Essas pessoas amigas me ajudaram de fato a construir uma carreira no Banco.
Agradeço aos nossos governadores da região, parlamentares federais, estaduais e municipais, aos prefeitos e vereadores, SEBRAE, EMATER, Federações, Associações Comerciais e de Classe pela parceria e pela confiança no nosso Banco da Amazônia.
Agradeço com muito afeto a meus amigos particulares, que aqui estão e vieram de muito longe para prestigiarem esta bonita solenidade.
E por falar em amigos, aproveito para lembrar uma frase de Vinicius de Moraes:
“Depois de algum tempo você aprende que as verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longa distâncias e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida”.
Quero lhes assegurar que procurarei ser justo e fazer uma gestão transparente na Presidência do Banco.
Estou convicto também de que serei bem sucedido tão somente se conduzir esta Instituição com muita dedicação zelo pelas pessoas, respeito, ética e transparência.
Por isso, não posso e não devo caminhar sozinho, ao contrário, vamos caminhar ainda mais juntos na construção do BANCO DA AMAZÔNIA e do futuro da nossa Região.
Meu olhar é de grande otimismo, mesmo sabendo dos grandes desafios. Vamos cumprir, juntos e integrados, a missão desse valoroso Banco, que é a de promover o desenvolvimento sustentável, para melhorar a vida das pessoas da nossa Região.
Não quero ser lembrando como o primeiro empregado de carreira a ascender a Presidência do Banco. Mas gostaria muito, muito mesmo, de ser lembrando como um empregado que, na sua passagem pela Presidência do BANCO e na história desta Casa, agregou mentes e corações em prol do efetivo desenvolvimento desta Região.
Que Deus nos abençoe. Muito obrigado.
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Brasil
Pesquisa revela que rios do Acre passaram a ser alternativas do tráfico internacional de drogas
Juruá e Acre, além de outros 12 rios da Amazônia, passaram a ser utilizados com mais frequência por causa da lei do abate de aeronaves. A ação do tráfico fez explodir a violência na Amazônia, incluindo o Acre
Tião Maia, ContilNet
O aumento na taxa de homicídios em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, o segundo maior município do Estado do Acre, no período de 2005 a 2020, foi como uma explosão em termos de violência: 595% em 15 anos.
A taxa saiu de 4,3, de 1996 a 2004, para 30, no período de 2005 a 2020, o segundo maior índice da região Norte do país. O primeiro ficou com Eirunepé, município do Amazonas, que tem uma população estimada em 33 mil habitantes. Entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes. Mas, entre 2005 e 2020, esse número explodiu: 34 homicídios a cada 100 mil habitantes – um aumento vertiginoso de 819%.
Além de terem em comum a situação geográfica, Cruzeiro do Sul e Eirunepé, embora estejam em estados diferentes, são banhadas pelo mesmo rio, o Juruá, um dos afluentes do Rio Amazonas. Assim como esses dois, existem outros quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem de rota para o tráfico que envolve Brasil, Peru, Colômbia e Bolívia. São eles: Abunã, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xié.
O resultado da pesquisa está publicado na revista Piauí deste mês, com base em estudos sobre Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira, produzido por pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com a participação do IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha.
Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia.
Cerco ao transporte de droga pelo ar fez aumentar uso dos rios, mostra pesquisa
De acordo com a publicação, a hipótese para o aumento da violência que atinge pequenos municípios na região amazônica banhados por essas águas tem uma explicação: com o cerco aos aviões, intensificou-se o uso de barcos no escoamento da droga.
A mudança no transporte do entorpecente aconteceu depois de 2004, ano em que o governo brasileiro colocou em prática uma política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Com a nova lei, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.
O escoamento pela água, um meio de deslocamento mais demorado, exige uma dinâmica própria e influencia as comunidades atingidas, argumentam os estudiosos. Os longos trajetos, por exemplo, levam os criminosos a empregarem diferentes barqueiros, contratarem pessoas para fazer a segurança do carregamento, fornecer equipamentos, estocar a droga, entre outras funções. “Isso acaba trazendo a atividade ilegal para uma proximidade muito maior com a população local”, diz Rodrigo R. Soares, professor titular da cátedra Fundação Lemann no Insper e líder da pesquisa.
Mudanças na logística fizeram explodir a violência em cidades ribeirinhas
As estimativas do estudo indicam que a mudança na logística para movimentar a droga ocasionou, entre 2005 e 2020, 27% do total de 5.337 mortes em 67 cidades da região Oeste da Amazônia margeadas pelos dezesseis “rios de cocaína”. Elas têm menos de 100 mil habitantes, estão longe das grandes cidades e do cruzamento de rodovias, o que diminui as chances de as mortes estarem relacionadas a disputas fundiárias ou desmatamento ilegal. A prevalência de óbitos acontece entre homens de 20 a 49 anos, por uso de arma de fogo ou faca.
Os estudos mostram que o Brasil possui cerca de 8 mil km de fronteira com três países que concentram o plantio de coca na região, que está dividido da seguinte forma: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%), segundo o relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês). Até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para norte-americanos e europeus, onde estão os maiores compradores.
A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. O Brasil, que até então figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro colocado, atrás de Estados Unidos e Colômbia, apontam dados da UNODC de 2021. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km².
Uma das medidas para inibir o tráfico veio em 2004 com a chamada Lei do Abate. A medida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma longa discussão no Congresso e com as Forças Armadas. A lei sinalizava que o governo estava disposto a “combater, com as armas adequadas, a invasão de nossas fronteiras por quadrilhas internacionais de narcotraficantes”, afirmou o então ministro da Defesa, José Viegas Filho.
Àquela altura, o país montava uma infraestrutura própria para agir nesse campo – havia pouco controle sobre o espaço aéreo da Amazônia, o que facilitava voos carregados de drogas vindos de países andinos. Em 2002, o Sistema de Vigilância da Amazônia e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam) entraram em operação sob a justificativa de aumentar a vigilância e o controle do tráfego aéreo, das fronteiras, monitorar comunicações clandestinas, rotas de tráfico e contrabando, além de identificar pistas escondidas e garimpos ilegais. Anos mais tarde, em 2005, o Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) iniciava suas atividades em Manaus.
Assim que a Lei do Abate passou a valer, a FAB diz ter registrado uma redução imediata de 32% no número de voos irregulares. O primeiro relato de interceptação de avião suspeito veio a público em 2009, quando uma aeronave vinda da Bolívia foi alvo de disparos de advertência pelos militares brasileiros após o piloto se negar a obedecer. Depois dos tiros, o avião, que carregava 176 kg de pasta base de cocaína, pousou numa estrada de terra em Rondônia.
O estudo liga a interdição aérea ao volume da droga apreendida. Com a migração de parte do comércio ilegal para os rios e estradas, o Brasil dobrou a quantidade de cocaína detida por mar, terra e ar entre 2004 e 2005: foi de 7,7 toneladas para 15,7 toneladas, segundo estatísticas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) à época.
No entanto, a estratégia usada para dificultar o tráfico de drogas pelo ar pode ter estimulado um novo problema. Segundo o estudo dos pesquisadores brasileiros, a geografia da floresta favoreceu a rápida adaptação do narcotráfico. A análise indica que a violência nas cidades ao longo das vias acessadas mudou de padrão depois da Lei do Abate. O estudo também aponta o aumento de mortes por overdose, sinalizando maior presença de drogas em circulação. “Observamos que diversos municípios com zero casos de overdose antes de 2005 passaram a ter episódios esporádicos desde então”, afirmam os pesquisadores, alertando ainda para a provável subnotificação de casos.
Disputa pelo monopólio do tráfico na região entre facções criminosas
Os pesquisadores alertam que é praticamente impossível enfrentar o problema numa região do tamanho da Amazônia, maior que a União Europeia, apostando só na presença ostensiva da polícia ou das Forças Armadas. “Tem que pensar em algum uso de tecnologia que seja capaz de acompanhar isso e gerar alertas que acionem uma reação”, sugere a pesquisa, citando drones, radares móveis e melhor coordenação entre os órgãos de fiscalização e autoridades dos países vizinhos. Outra ação vital é oferecer às comunidades locais alternativas que gerem renda, preservem a floresta e o modo de vida tradicional, a fim de evitar o envolvimento dos moradores com o narcotráfico e impedir possível “entrincheiramento de algum grupo criminoso ali na região que consiga um monopólio”.
A disputa pelo monopólio do tráfico de drogas na Amazônia sugerida pela pesquisa foi diagnosticada pelo Fórum de Segurança Pública em um relatório de 2022, citado no estudo sobre os “rios de cocaína”. A análise do Fórum abordou o interesse de facções do Sudeste, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, de São Paulo, pelo controle da região entre 2015 e 2016. O relatório cita ainda que “algumas facções locais compreenderam melhor os mecanismos de funcionamento das redes ilegais através da Amazônia”.
Esse fenômeno suscitou o surgimento de organizações regionais, como a Família do Norte, no Amazonas. Cientes disso, os estudiosos do Insper e da USP compararam os homicídios ocorridos após 2015, tentando identificar algum aumento de óbitos a partir da interferência das facções. Os números mostram que a taxa de mortes se manteve similar durante todo o período a partir de 2004, quando a restrição aérea foi implementada.
Por fim, os pesquisadores ressaltam que, além dos esforços brasileiros para conter o crime organizado, é imprescindível uma cooperação internacional, “principalmente na região andina, para garantir uma abordagem coordenada ao tráfico de cocaína, com maior troca de informações e práticas de segurança transnacional”.
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Com repasses de R$ 32,5 milhões, Acre chegou a 98% de execução de recursos da Lei Paulo Gustavo, diz governo federal
Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais
O Acre foi um dos estados que mais se destacou na execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo, com mais de 98% do montante recebido sendo investido na cultura local. Ao todo, o estado e seus 22 municípios executaram R$ 32,5 milhões, sendo R$ 23,86 milhões direcionados ao setor audiovisual e R$ 8,68 milhões para diversas outras manifestações culturais, como música, dança, pintura e artes digitais.
Entre os municípios acreanos, Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais e R$ 1,27 milhão em outras áreas culturais. As cidades de Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá e Feijó também se destacaram na execução dos recursos, contribuindo para o fortalecimento da cultura no estado.
A Lei Paulo Gustavo, sancionada em 2022, foi criada para apoiar o setor cultural durante a pandemia de Covid-19. Inspirada no legado do humorista Paulo Gustavo, que faleceu em decorrência da doença, a lei destinou recursos a estados, municípios e ao Distrito Federal, com o objetivo de ajudar artistas e produtores culturais a manterem suas atividades durante a crise. Com uma execução recorde, a lei se consolidou como o maior investimento direto na cultura na história do Brasil, promovendo o fortalecimento da economia criativa e a valorização das expressões culturais locais.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, fez questão de ressaltar a importância da Lei Paulo Gustavo para o desenvolvimento cultural e social do Brasil. “A lei é responsável pelo desenvolvimento econômico, social e artístico ao injetar recursos financeiros nos municípios e estados, gerando emprego, renda e dignidade para o nosso povo. A cultura está diariamente na vida dos brasileiros, e por isso leis de incentivo, como a Paulo Gustavo, são fundamentais para fomentar e evidenciar a diversidade da nossa gente e as diferentes formas de se fazer cultura”, afirmou.
Em nível nacional, os recursos da Lei Paulo Gustavo somaram R$ 3,93 bilhões, o maior investimento na história do país para o setor cultural. Com uma execução recorde de 95% dos recursos, a lei se consolidou como um importante pilar de apoio à cultura, especialmente em um momento tão desafiador como a pandemia de Covid-19.
O Acre, ao lado de outros estados que também se destacaram, como o Espírito Santo e o Paraná, é exemplo de como a aplicação desses recursos tem gerado impacto positivo na economia e na vida das pessoas. A execução eficiente no estado mostra como é possível investir em cultura e fortalecer a identidade local, ao mesmo tempo em que se geram novas oportunidades para a população.
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Governo Federal propõe expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado
Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional
O Governo Federal anunciou a criação de uma proposta legislativa que visa expandir o acesso ao crédito consignado para os cerca de 42 milhões de trabalhadores com carteira assinada (CLT) no Brasil, especialmente aqueles com dificuldades de acesso a este tipo de financiamento. A principal novidade da proposta é a criação de uma plataforma que permitirá aos bancos e instituições financeiras consultar diretamente o perfil de crédito dos trabalhadores por meio do eSocial, o sistema eletrônico obrigatório que reúne informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais dos empregados de todo o país.
O crédito consignado, uma das modalidades de empréstimo mais populares no Brasil, tem as parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento do devedor. Essa modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Atualmente, a legislação permite que trabalhadores com carteira assinada acessem o crédito consignado, mas a exigência de convênios entre empresas e bancos dificulta a adesão de pequenas e médias empresas, limitando o acesso ao serviço.
O projeto foi discutido em uma reunião com o presidente Lula, os ministros Haddad e Luiz Marinho, além dos presidentes de cinco dos maiores bancos públicos e privados do país, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Durante o encontro, ficou claro que a proposta busca eliminar a necessidade de convênios entre as empresas e os bancos, facilitando a oferta de crédito para trabalhadores de diversos setores, independentemente do porte da empresa em que trabalham.
Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional, conforme indicou o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.
As regras sobre o limite do crédito consignado, como o teto de 30% da renda mensal do trabalhador comprometida com o empréstimo, deverão permanecer inalteradas. Além disso, os trabalhadores poderão utilizar até 10% do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a multa por demissão sem justa causa para o pagamento das parcelas, caso se desliguem da empresa.
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