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Os mitos e as verdades sobre os refrigerantes
- Bebida é mais consumida que carne no Brasil, mas seu valor nutricional é nulo

Nos anos 1970 e 1980, um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de semana; hoje são cerca de 94 ml por pessoa por dia, um aumento de 500% no consumo – Latinstock
Os refrigerantes existem da forma como a gente conhece há mais de 120 anos e, no Brasil, segundo informa o IBGE, está entre os cinco alimentos mais consumidos do país, à frente de qualquer tipo de carne, fruta ou verdura. Pode ser cúmplice, mas a bebida não produz celulites ou causa diabetes sozinha, muito menos vicia. O açúcar ajuda na obesidade, mas obesos não o são apenas por causa do líquido tentador. Tanto tempo no mercado foi o suficiente para o surgimento de mitos sobre a ingestão da bebida doce borbulhante, mas há pelo menos uma grande unanimidade entre especialistas em nutrição: ao contrário de um bife, uma laranja ou um brócolis, refrigerante tem valor nutritivo insignificante.
Um terço de latinha per capita
Só de refrigerante, segundo a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2009, são cerca de 94 ml por pessoa todos os dias, pouco menos de um terço de uma latinha. Apesar da cafeína contida em refrigerantes à base de cola, a bebida não causa dependência química, afirma o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo. Não existe gente viciada especificamente em refrigerante. Pode existir a necessidade, pelo hábito, mas para que seja ingerida a quantidade de cafeína suficiente para ter o ritmo cardíaco alterado, seria necessário beber entre um e dois litros da bebida num mesmo dia.
— Há exagero nos ataques aos refrigerantes. Não há efeito deletério no consumo da bebida, não se compara ao cigarro — afirma o nutrólogo, coordenador do Centro de Distúrbios Alimentares na Infância do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. — Do mesmo modo, não há nada a favor dos refrigerantes, e cabe aos pais controlar o consumo, desde a infância. Antigamente, o consumo da bebida estava atrelada aos fins de semana, uma porção. O limite é o bom senso. Quem puder mudar para as versões light ou zero, melhor — diz.
Steve Jobs, o empresário fundador da Apple, morto em 2001, fez uma descrição bastante objetiva sobre os refrigerantes ao tentar convencer John Sculley, então CEO da Pepsi, em 1983, a chefiar a empresa de tecnologia: “Você quer vir mudar o mundo ou continuar a vender água com açúcar?” Exageros à parte, são os dois ingredientes mais importantes da bebida, mas uma lata não contém as nove ou 10 colheres de sopa que alguns virais da internet fazem chegar a nossas caixas de e-mail. Fisberg faz a conta: para ter a média de 125 calorias, cada lata teria que ter 30 gramas de açúcar ou duas colheres cheias. E o mesmo valor calórico da mesma quantidade das bebidas à base de néctar de frutas, por exemplo:
— Ninguém fica gordo por causa de refrigerante. A questão é que quem consome refrigerante com açúcar em excesso também tende a consumir pizza, macarronada ou doces em excesso, além de não praticar exercícios físicos. A maioria das pesquisas que condena o consumo de refrigerantes isola a bebida sem considerar os outros hábitos do indivíduo — acredita.
Na mesma baia do macarrão
O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, concorda que não dá para demonizar o refrigerante. Se for para achar um culpado, que se coloque então os refrigerantes na mesma baia dos alimentos com alto índice glicêmico. Produtos industrializados, como doces, macarrão, pães e arroz estão na lista. Magnoni explica que tais alimentos têm o que se chama de caloria ruim, pois elevam rapidamente o índice de açúcar do sangue e obrigam maior atividade do pâncreas ao provocar o que especialistas chamam de incursões insulínicas:
— Usar o pâncreas a toda hora desta forma não faz bem. Temos um estoque de produção de insulina para o decorrer da v ida e, quando o pâncreas entra em fadiga, temos o diabetes — explica.
A caloria boa, presente no feijão, lentilha, nozes e castanhas, é feita de carboidratos mais complexos, que demoram a serem absorvidos e, por isso, exigem trabalho mais suave do pâncreas.
Explosão de consumo
Nos anos 1970 e 1980, uma garrafa de um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de semana. De acordo com Rosely Sichieri, especialista em nutrição em saúde pública do Instituto de Medicina Social da Uerj, levantamentos nacionais indicam que o consumo da bebida aumentou 500% em relação aos níveis dos anos 70. Nesse intervalo surgiram as embalagens de dois litros ou mais. Em paralelo, explica Rosely, o mercado não parou de fazer propaganda associando o consumo dessas bebidas ao bem-estar, além de lançar marcas mais baratas, as tubaínas:
— O problema é o exagero. Temos uma cultura de que tudo tem que ser adocicado. Não existe, por exemplo, a necessidade de beber algo durante as refeições, mas criou-se o hábito.
A contrapropaganda da celulite, no entanto também tem seus mitos. Uma latinha de refrigerante não tem poder de virar imediatamente furinhos nos quadris. Se a moça na praia não tem uma celulite sequer, suspeite de sua herança genética, mais do que o fato de ela nunca ter ingerido açúcar na vida.
— Não é a causa, mas é agravante. A gordura dos quadris gera maior recepção do hormônio feminino, o estrogênio, para o local e este é apenas um fator de indução à celulite — explica a dermatologista Vanessa Metz, integrante da Academia Americana de Dermatologia. — As células de gordura com pior irrigação sanguínea também têm propensão à celulite. E nas mulheres, a gordura se acumula de forma perpendicular à pele, o que também contribui para o problema.
Os mitos e as verdades sobre os refrigerantes
Vício
Especialistas concordam que refrigerante não vicia. Seria necessário beber entre 1 e 2 litros da bebida tipo cola em um dia para que o ritmo cardíaco, por exemplo, seja afetado pela cafeína ou xantina (substância equivalente) contidas.
Açúcar
A partir da quantidade de calorias indicadas em uma lata de refrigerante açucarado, a estimativa é de que haja o equivalente a duas colheres de sopa ou 30 gramas de açúcar por lata de 350 ml.
Dopamina
O refrigerante açucarado tem poder de estimular a produção de dopamina (o hormônio do prazer) pelo cérebro, mas em quantidades semelhantes às de qualquer outro alimento que traga satisfação. Mas pesquisas recentes indicam que obesos precisam de mais consumo de calorias para a mesma produção de dopamina e, por isso, consomem mais.
Danos aos dentes
O dentista Marcelo Fonseca, fundador da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética, explica que a acidez do refrigerante facilita a penetração no dente da pigmentação escura dos refrigerantes com cola. Bactérias das cáries também gostam de ambientes ácidos, assim como do açúcar contido. “Se pudermos tirar o refrigerante do cardápio, melhor. Escovar os dentes apenas minimiza o efeito”, disse Fonseca.
Absorção de nutrientes
Segundo o nutrólogo Durval Ribas Filho, o fosfato presente na bebida pode prejudicar a absorção de cálcio apenas se consumida junto com a fonte do nutriente. Não há efeito para outros minerais
Água gasosa
Ingredientes que dão o efeito gasoso na bebida só são contraindicadas para quem tem problemas gástricos. Atribuir o gás às celulites é mentira.
Celulites
Refrigerante não têm poder de virar celulite sozinho. Predisposição genética conta, e a bebida é uma agravante dentro de um conjunto de fatores, inclusive na maior ação do estrogênio nas células de gordura. O sódio presente na bebida contribui para a retenção de líquidos, que também causa o problema.
Hipertensão
De acordo com Durval Filho, o consumo diário de mais de duas latas e meia de refrigerante, ou 850ml, todos os dias, aumenta risco de hipertensão.
Incursões glicêmicas
O açúcar da bebida, assim como o de pães, doces industrializados e arroz, fazem pâncreas trabalhar mais intensamente.
Duilo Victor – O Globo
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Mãe denuncia ‘calvário’ por atendimento à filha com paralisia cerebral no Acre: “É uma luta desumana”
Cansada da espera, a mãe redigiu um documento à mão e protocolou junto à Sesacre pedindo que o Estado se responsabilizasse por possíveis danos à visão da filha causados pela negligência

“Me perguntaram por que eu havia feito denúncia sobre a cadeira de rodas que nunca chegou, sobre as fraldas que ela tem direito e nunca recebeu, e sobre a consulta oftalmológica”, contou.
Dell Pinheiro
A jornalista e servidora pública Dryelem Alves usou as redes sociais para expor o drama enfrentado diariamente ao tentar garantir atendimento médico especializado para sua filha, Laís Loren, de apenas quatro anos, diagnosticada com paralisia cerebral. Em um longo e emocionado desabafo, ela revelou o calvário vivido há quase dois anos para conseguir uma simples consulta com oftalmologista pediátrico na rede pública de saúde do Acre.
“É um desabafo de uma mãe atípica”, iniciou Dryelem, visivelmente cansada, referindo-se ao processo burocrático e ineficiente que tem enfrentado. Segundo ela, Laís foi encaminhada pela neurologista para avaliação com oftalmo pediatra, mas ao chegar à consulta agendada na Fundação Hospitalar, descobriu que o profissional sequer existe no Estado, nem na rede pública, nem na privada.
“A médica nos disse que o atendimento necessário para a minha filha não existia no Acre. Recorremos ao TFD (Tratamento Fora de Domicílio), mas a Secretaria de Saúde recusou o pedido”, relatou. A negativa, segundo Dryelem, foi dada mesmo após insistência da profissional que atendeu Laís. A família então retornou à Fundação acompanhada de uma assistente social, que garantiu que haveria atendimento por meio de uma equipe rotativa. “Isso foi no início de 2023. Até hoje, nada”, lamentou.
Cansada da espera, a mãe redigiu um documento à mão e protocolou junto à Sesacre pedindo que o Estado se responsabilizasse por possíveis danos à visão da filha causados pela negligência. A solicitação, segundo ela, nunca foi respondida.
Com a falta de retorno, Dryelem buscou a Ouvidoria do Ministério Público. Somente meses depois, recebeu uma ligação da Promotoria de Saúde. “Me perguntaram por que eu havia feito denúncia sobre a cadeira de rodas que nunca chegou, sobre as fraldas que ela tem direito e nunca recebeu, e sobre a consulta oftalmológica”, contou.
A esperança reacendeu quando a mãe recebeu, recentemente, uma ligação informando que havia conseguido, enfim, uma consulta para a filha. “Achei que o Ministério Público do Acre (MPAC) tinha conseguido resolver. Mas quando chego lá, a médica me dá mais um encaminhamento, para que eu vá até a Fundação pegar outro encaminhamento, e só então, quem sabe, ser atendida por uma médica que faz cirurgia de estrabismo, que aí talvez encaminhe para uma oftalmo pediatra”, explicou, inconformada.
O ciclo de encaminhamentos e a falta de resolutividade indignam a mãe. “Por que desgastar o tempo dos profissionais, do paciente, pra fazer uma consulta, pra um encaminhamento, pra ir pra outra consulta, pra pegar outro encaminhamento?”, questiona. “É enxugar gelo. Quem sabe até os 15 anos da Lore, a gente consiga um oftalmo pediatra no Acre”, desabafou.
Alves ainda relatou que procurou novamente o MPAC, mas foi orientada a aguardar até 20 de agosto por uma resposta. “Não que esses 30 dias façam tanta diferença depois de quase dois anos esperando, mas é desgastante”, afirmou indignada.
Veja vídeo:
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Expoacre: Uma Vitrine do Acre para o Brasil e para o Mundo
Se Parintins, no Amazonas, conseguiu transformar um festival folclórico em uma potência turística e cultural, por que o Acre não pode sonhar com a criação do maior festival indígena do mundo?

Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco,
A Expoacre é muito mais do que uma tradicional feira agropecuária. Ela representa a força do povo acreano, a riqueza da nossa terra e o potencial de um estado que busca crescer com inovação, mas sem abrir mão de suas raízes. Em seus 50 anos de história, a feira se consolidou como um espaço de celebração, negócios e identidade cultural.
Mais do que um evento anual, a Expoacre é uma verdadeira ferramenta de desenvolvimento econômico. Durante sua realização, a economia local ganha novo fôlego: empregos são gerados, o comércio se fortalece, o agronegócio ganha visibilidade, e os setores de serviços e indústria se aquecem. Pequenos, médios e grandes negócios encontram na Expoacre uma vitrine para suas marcas e produtos, expandindo mercados e parcerias.
Mas o potencial da Expoacre vai além. Ela deve — e pode — ser uma vitrine do Acre para o Brasil e para o mundo. Um palco onde apresentamos nossa cultura, nossa produção, nossa diversidade e a força do empreendedorismo local. Um espaço de identidade, onde se encontram a tradição rural e urbana, as raízes indígenas, a cultura popular e o espírito acolhedor do nosso povo.
Acabei de voltar de uma viagem ao Rio Grande do Sul, onde passei pelo Vale dos Vinhedos, por Gramado e por outras regiões encantadoras. Lá, pude ver com meus próprios olhos o potencial que o turismo tem para transformar um lugar para melhor — gerar riqueza, criar empregos e permitir que os municípios dependam cada vez menos de recursos públicos. Mas para isso acontecer, é preciso agir agora. Precisamos de políticas públicas que incentivem o turismo e, principalmente, vencer o preconceito que ainda existe em relação ao investimento em festivais turísticos e culturais.
A cada ano, turistas de diversas partes do mundo percorrem nossas florestas, visitam aldeias, se conectam com nossas manifestações étnicas, religiosas e espirituais. Esse fluxo existe e cresce, mas ainda é subestimado. Está na hora de olharmos para essa riqueza com mais ousadia.
Se Parintins, no Amazonas, conseguiu transformar um festival folclórico em uma potência turística e cultural, por que o Acre não pode sonhar com a criação do maior festival indígena do mundo? Temos tudo: os povos originários, a tradição viva, a espiritualidade, a arte ancestral e, acima de tudo, um povo que sabe acolher.
A Expoacre pode ser o embrião dessa nova visão. Um espaço onde o turismo de base comunitária, a cultura indígena e os saberes tradicionais ganhem protagonismo. Onde o Acre se apresente ao mundo como um destino autêntico, transformador e emocionante.
Além disso, a Expoacre simboliza a união de forças. Governo, prefeituras, entidades empresariais, universidades, imprensa, Sebrae, FIEAC e sociedade civil se unem para realizar um evento que é do povo e para o povo. É essa união que faz da feira um sucesso — e que pode projetar o Acre para novos horizontes.
Fortalecer a Expoacre é fortalecer o Acre. É reafirmar que temos muito a oferecer e que estamos prontos para crescer com orgulho da nossa história e coragem para inovar. A Expoacre pode — e deve — ser a ponte entre o que somos e o que queremos ser.
Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco e idealizador do movimento CIDADANIA EMPREENDEDORA.
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TCE-AC aprova com ressalvas as contas do governo Gladson Cameli referentes a 2020
Ministério Público de Contas emitiu parecer favorável, mas decisão final depende de análise da Aleac após publicação do acórdão

Após a publicação, o documento será encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac) para julgamento e aprovação pelos deputados. Foto: captada
O Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) aprovou, com ressalvas, a Prestação de Contasdo governo Gladson Cameli referente ao exercício de 2020, segundo ano de sua gestão. A decisão, baseada em parecer favorável do Ministério Público de Contas (MPC), foi homologada pelo plenário da corte nesta semana.
O conselheiro Valmir Ribeiro, relator do processo, apresentou o voto que serviu de base para a deliberação. Os detalhes da análise serão divulgados em acórdão no Diário Oficial do TCE-AC nos próximos dias. Após a publicação, o documento seguirá para a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), onde os deputados farão o julgamento final, conforme exige a Constituição.
A aprovação com ressalvas indica que, embora o TCE não tenha rejeitado as contas, há pontos que exigem esclarecimentos ou ajustes por parte do Executivo estadual. A decisão mantém o processo em conformidade, mas transfere a última palavra para o Legislativo acreano.
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