Conecte-se conosco

Acre

Óleo de murumuru do Acre se firma no mercado nacional ao integrar bioeconomia, sustentabilidade e força cooperativa

Publicado

em

Gerar renda com produtos da floresta tem sido a missão da Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra (Coopercintra), situada em Rodrigues Alves, município do interior do Acre com 14.938 habitantes, dos quais mais de 61% vivem na zona rural.

Essa realidade é o que torna a comunidade um exemplo vivo de bioeconomia, ao trabalhar, com responsabilidade ambiental, a cadeia produtiva do óleo de murumuru, matéria-prima que confere notas da floresta acreana aos produtos vendidos por marcas como a Natura. O avanço é fruto de uma engrenagem que reúne diversos atores: ações governamentais de capacitação e infraestrutura, parcerias com a iniciativa privada e, sobretudo, a força pulsante do cooperativismo.

No mercado da manteiga de murumuru, enviada a pelo menos três grandes empresas de cosméticos do país, a Coopercintra atua em 53 comunidades rurais distribuídas entre cinco municípios. Foto: Pedro Devani/Secom

No mercado da manteiga de murumuru, enviada a pelo menos três grandes empresas de cosméticos do país, a Coopercintra atua em 53 comunidades rurais distribuídas entre cinco municípios: Porto Walter, Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul, no Acre; Guajará e Ipixuna, no Amazonas. Por ano, o grupo produz 20 toneladas do produto.

Queline Souza, diretora executiva da Coopercintra, conta que há 14 anos o trabalho do grupo é focado na sustentabilidade e no fortalecimento das famílias que vivem da floresta em pé. Famílias que elevam o nome do estado por meio da qualidade dos produtos que chegam às penteadeiras de todo o país. Um detalhe que revela a sensibilidade do projeto: 30% da diretoria da cooperativa é formada por mulheres.

Aproveitamento consciente desse recurso gera renda e fortalece a consciência ambiental. Foto: Pedro Devani/Secom

Tesouro da floresta

O murumuru é uma palmeira nativa da Amazônia, encontrada em áreas de várzea e em terra firme, com destaque para o território acreano. Seus frutos crescem em cachos protegidos por palhas espessas, uma estrutura fibrosa que resguarda o coco onde está a verdadeira joia: a amêndoa.

A colheita, feita por extrativistas das comunidades tradicionais, respeita o tempo da natureza. Após a coleta, os frutos são descascados manualmente e as amêndoas passam por secagem natural. Em seguida, são prensadas para extração da manteiga, uma substância cremosa, rica em ácidos graxos e altamente hidratante, qualidades que seduzem o mercado da beleza.

Todo esse processo hoje acontece na própria comunidade, na sede da Coopercintra. A agroindústria funciona com incentivo da Natura e também do governo do Acre, por meio da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), que cedeu o espaço e oferece capacitações, qualificação técnica e métodos inovadores para garantir a excelência de um produto que leva a marca de Rodrigues Alves.

“O murumuru hoje é uma fonte de renda dentro das famílias. Antes era visto como apenas um espinheiro na mata, que muita gente achava inútil. Hoje, nossos produtores relatam que virou uma renda complementar e ajuda a preservar a natureza”, explica Queline.

Força da floresta

O aproveitamento consciente desse recurso gera renda e fortalece a consciência ambiental. Ao colher a amêndoa, as comunidades praticam o manejo sustentável, uma ação crucial para manter a área preservada. “Os nossos produtores têm papel fundamental nos municípios onde atuamos, porque entendem que dali vem o sustento de suas famílias, então eles são os principais guardiões da floresta”, reforça a diretora.

Óleo chega a grande empresas de cosméticos do país. Foto: Pedro Devani/Secom

Entre março e abril, a cooperativa realiza um cadastro com os extrativistas, visitando as comunidades para recadastramento e mapeamento das famílias beneficiadas. “Depois dessa visita, nós também vamos até a casa deles buscar a matéria-prima e selecionar as que serão trabalhadas na agroindústria”, detalha Queline.

Na extração do óleo de murumuru, nada se perde. A casca é levada para a olaria e a chamada “torta de murumuru”, resíduo sólido que sobra após a prensagem, é reaproveitada como ração.

Técnicas refinadas, como prensagem a frio e métodos mecânicos, transformam a manteiga em óleo vegetal puro, altamente valorizado na indústria cosmética por suas propriedades emolientes e regeneradoras. Mais do que um insumo, o óleo de murumuru carrega consigo a força da floresta, a biodiversidade e as mãos que o tornam possível, um elo entre tradição, sustentabilidade e inovação.

Queline Souza, diretora executiva da Coopercintra, conta que há 14 anos o trabalho do grupo é focado na sustentabilidade e no fortalecimento das famílias que vivem da floresta em pé. Foto: Pedro Devani/Secom

Cleisson Oliveira, selecionador de amêndoas há mais de 10 anos, domina a arte de escolher os melhores caroços. Ele entende que essa etapa é essencial para a qualidade do produto final. E foi justamente esse trabalho que sustentou sua família, sua esposa e seus filhos.

“Minha vida sempre foi aqui. E vejo que é preciso preservar, porque se derrubar a floresta e matar os pés de murumuru, não teremos trabalho. Então é fundamental manter tudo preservado”, avalia Cleisson.

O coletor Antônio Carlos da Costa, de 51 anos, percorreu todos os estágios da cadeia produtiva. Criou os filhos com o que chama de tesouro das palmeiras. A técnica de aguardar a queda natural dos frutos é o princípio básico do extrativismo sustentável, pois assim permite que a palmeira continue viva e produtiva por muitos anos, mantendo a floresta em pé e gerando renda às comunidades.

“É preciso valorizar os coletores. O trabalho mais difícil é feito na mata, como limpar o entorno, cuidar para não ter cobra nos cachos, é um serviço que exige atenção. Mas é dali que tiramos nossa renda”, diz Antônio.

Murumuru é uma palmeira nativa da Amazônia, encontrada em áreas de várzea e terra firme, com destaque para o território acreano. Foto: Pedro Devani/Secom

Esperança plantada em cada muda

A ameaça das queimadas e do desmatamento preocupa as comunidades que sabem extrair riqueza natural sem ferir o meio ambiente. Foi com essa consciência que a Coopercintra implantou um viveiro florestal.

“Em parceria com a SOS Amazônia, começamos a trabalhar com 15 famílias no reflorestamento e enriquecimento de áreas. Nossos produtores estão engajados nesse trabalho, tanto em nossa comunidade quanto nas vizinhas, fortalecendo as cadeias e criando mais uma fonte de renda”, afirma Queline, mostrando a estrutura do viveiro montado ao lado da agroindústria.

O objetivo é fortalecer os sistemas agroflorestais e expandir outras cadeias de produção, como açaí, cacau, graviola, e também trazer o murumuru para mais perto dos extrativistas.

“Depois de reflorestar essas outras espécies, vamos iniciar o reflorestamento do murumuru, porque os pés estão muito distantes. Queremos enriquecer áreas e aproximá-los das moradias dos produtores”, projeta.

Entre março e abril, a cooperativa realiza um cadastro com os extrativistas, visitando as comunidades para recadastramento e mapeamento das famílias beneficiadas. Foto: Pedro Devani/Secom

Funtac parceira

A diretora técnica da Funtac, Suelen Farias, acompanha de perto o trabalho com a cooperativa. Segundo ela, o fortalecimento das cadeias produtivas se dá por diversas frentes.

“Oferecemos cursos de capacitação na coleta da matéria-prima, no armazenamento e na melhor utilização do recurso, inclusive melhorando o fluxo de produção”, explica.

A micro usina em funcionamento na Coopercintra foi doada pela Funtac em 2004. Desde então, o governo tem apoiado com aquisição de produtos e melhorias estruturais, com recursos do REM e também da Natura, que investiu no aperfeiçoamento do espaço.

“Além de novas tecnologias, damos cursos para que eles saibam como posicionar seus produtos no mercado. Ensinamos sobre redes sociais, como divulgar os produtos e melhorar a parte visual, como embalagens”, enumera Suelen.

Trata-se de um esforço conjunto entre Universidade Federal do Acre (Ufac), Sebrae, Funtac, governo estadual e iniciativa privada, um modelo de economia sustentável que mira o reconhecimento mundial.

Mais do que um insumo, o óleo de murumuru carrega consigo a força da floresta, a biodiversidade e as mãos que o tornam possível, um elo entre tradição, sustentabilidade e inovação. Foto: Pedro Devani/Secom

Governo faz história

No fim de junho, o governo do Acre realizou um feito aguardado há quase 30 anos: o pagamento da subvenção da borracha e do murumuru diretamente na conta dos produtores extrativistas. A ação histórica trouxe dignidade, agilidade e segurança.

A nova metodologia, prevista na Lei Estadual nº 1.277/1999 e oficializada pelo Decreto nº 1.564/2024, foi implementada por determinação do governador Gladson Cameli, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri).

“Essa decisão me deixou muito feliz. Criamos a divisão do subsídio para atender exclusivamente os extrativistas, porque antes ela era fundida a outras áreas”, explica o secretário de Agricultura, José Luis Tchê.

Segundo ele, o pagamento era constantemente atrasado por erros em CPF ou ausência de assinatura. O governo decidiu desburocratizar e pagar diretamente aos trabalhadores.

“Por solicitação do governador, decidimos resolver de vez a vida dos nossos extrativistas. Fizemos parceria com o Banco do Brasil e já pagamos mais de 70 extrativistas diretamente na conta. O plano piloto funcionou e vamos seguir nesse formato”, garante Tchê.

Comentários

Continue lendo
Publicidade

Acre

Hemoacre suspende atendimento para manutenção nesta segunda

Publicado

em

Nesta segunda-feira, o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Acre (Hemoacre) não terá atendimento ao público. A suspensão ocorre em razão da realização de serviços de dedetização e manutenção elétrica na unidade.

De acordo com o Hemoacre, as intervenções fazem parte do cronograma de manutenção preventiva e têm como objetivo garantir a segurança, as condições sanitárias e a qualidade dos serviços prestados à população.

O atendimento será retomado normalmente na terça-feira, com funcionamento no horário habitual, das 7h às 18h.

Comentários

Continue lendo

Acre

TCE-AC estabelece novas regras para execução de emendas parlamentares a partir de 2026

Publicado

em

Resolução amplia exigências de transparência, rastreabilidade e controle social sobre o uso de recursos públicos

O Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) publicou novas diretrizes que passam a disciplinar a execução das emendas parlamentares estaduais e municipais, com foco no fortalecimento da transparência, da rastreabilidade e do controle social sobre a aplicação dos recursos públicos. As medidas entram em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026 e foram comunicadas oficialmente ao Governo do Estado e às prefeituras por meio do Ofício Circular nº 53/2025, assinado pela presidente da Corte, conselheira Dulcinéa Benício.

As normas estão previstas na Resolução TCE/AC nº 133/2025, publicada no Diário Eletrônico de Contas em dezembro, e tratam da fiscalização e do acompanhamento da execução das emendas parlamentares. O texto está alinhado à Constituição Federal, às decisões do Supremo Tribunal Federal — com destaque para a ADPF 854 — e às orientações dos órgãos nacionais de controle.

De acordo com o TCE-AC, a partir de 2026 a execução orçamentária e financeira das emendas ficará condicionada ao cumprimento integral das exigências de transparência e rastreabilidade. Entre os principais pontos está a obrigatoriedade de ampla divulgação, em meio digital e de acesso público, de informações detalhadas sobre as emendas, incluindo autoria, valores, objeto, beneficiários, local de aplicação, cronograma e estágio de execução.

A Resolução também determina a identificação e o rastreamento das despesas desde a origem da emenda até o beneficiário final, o uso de sistemas orçamentários e financeiros que permitam o acompanhamento completo da execução, a adoção de conta bancária específica para a movimentação dos recursos, quando aplicável, e a integração dos sistemas locais com plataformas federais e estaduais. Além disso, todos os documentos relacionados à execução — como empenhos, liquidações, pagamentos, contratos e notas fiscais — deverão ser disponibilizados em transparência ativa.

O Tribunal orienta ainda que estados e municípios promovam, ainda em 2025, as adequações necessárias em seus sistemas e rotinas administrativas para garantir o cumprimento das novas exigências no ano seguinte. Algumas medidas deverão ser adotadas de forma imediata, como condição provisória para a execução das emendas a partir de janeiro de 2026.

Outro ponto destacado é que, no prazo máximo de seis meses após a publicação da Resolução, todas as medidas voltadas à transparência e à rastreabilidade deverão estar completamente implementadas. O TCE-AC poderá solicitar aos gestores a apresentação de um plano de ação com diagnóstico da situação atual, cronograma de execução, responsáveis pelas providências e estratégias de integração dos sistemas.

O Tribunal alerta que o descumprimento das regras poderá resultar na aplicação das sanções previstas na legislação vigente, sem prejuízo de outras medidas de controle. Com a iniciativa, o TCE-AC reforça o compromisso com a boa governança, a correta aplicação dos recursos públicos e o fortalecimento da confiança da sociedade na gestão orçamentária.

Comentários

Continue lendo

Acre

Feijó decreta recesso administrativo de final de ano

Publicado

em

A Prefeitura de Feijó publicou o Decreto nº 257, de 11 de dezembro de 2025, que estabelece o recesso administrativo de final de ano no âmbito da Administração Pública Municipal. A medida tem como objetivo organizar o funcionamento dos órgãos municipais durante o período festivo, garantindo o planejamento interno e a continuidade dos serviços essenciais. O documento foi publicado na edição do Diário Oficial nesta segunda-feira, 15.

De acordo com o decreto, o recesso seguirá o seguinte calendário: 24 de dezembro, ponto facultativo; 25 de dezembro, feriado nacional de Natal; 26 de dezembro (sexta-feira), ponto facultativo; 29 e 30 de dezembro, ponto facultativo; 31 de dezembro, ponto facultativo; 1º de janeiro, feriado nacional de Confraternização Universal; e 2 de janeiro (sexta-feira), ponto facultativo. Nos dias 27 e 28 de dezembro, assim como 3 e 4 de janeiro, por se tratarem de sábado e domingo, não haverá expediente administrativo. O retorno das atividades normais está previsto para o dia 5 de janeiro de 2026.

O decreto ressalta que, durante o período de recesso, não haverá paralisação dos serviços essenciais, que deverão funcionar normalmente conforme escalas definidas pelos respectivos secretários municipais.

Ainda conforme o documento, as secretarias municipais deverão organizar escalas de trabalho para assegurar o atendimento mínimo necessário e evitar prejuízos ao andamento dos processos administrativos.

Comentários

Continue lendo