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Trinta anos depois, Maurício não nega a dimensão de seu feito: “É o gol mais importante do Botafogo”

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Ídolo, camisa 7 do inesquecível 21 de junho de 1989 relembra decisão contra o Flamengo, conta que quase não jogou e compara lance com outros memoráveis da história do Estadual

Por Emanuelle Ribeiro e Fred Gomes — Rio de Janeiro

Campeão desde 1907, como diz seu hino, o Botafogo colecionou taças desde o princípio. É o Glorioso, porém seu torcedor perdeu o delicioso hábito de cantar vitórias por amargos 21 anos. A espera terminou com um gol cantado em verso, prosa e até em disco. Gol que derrotou o rival Flamengo e rebatizou Maurício de Oliveira Anastácio, hoje o Maurício 89.

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Narração do gol

“Marquinho, Vitor… pelo meio a bola a enfiada, olha o Botafogo chegando, o cruzamento… Maaaaurício! Gooool do Botafogo! Maurício! Aos 12 minutos e 15! Mazolinha acreditou, cruzou. Zé Carlos olhou, Maurício chegou, meteu o pé… Uma loucura”, exclamou Galvão Bueno naquele inesquecível 21 de junho de 1989.

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Com a histórica 7 às costas e a bênção de Garrincha, Maurício gravou seu nome na história do Glorioso ao fazer o gol que garantiu o título que o próprio considera “o maior título do clube”. E não é pretensão, nem marra do hoje ex-atacante, que tem 55 anos. Não são poucos os botafoguenses que fazem coro ao ídolo.

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“É o gol mais importante do Botafogo, quebrou um tabu. Depois, fomos campeões em 90, 93, 95 e 97. A gente quebrou uma barreira com aquele título. Se não fosse aquele gol, não sei o que seria do meu Botafogo hoje”.

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O gol de Maurício não sai mesmo da memória dos torcedores mesmo 30 anos depois. Durante a entrevista ao GloboEsporte.com, no condomínio onde mora na Barra da Tijuca, ele foi interrompido algumas vezes por botafoguenses marcados pela figura do ex-atacante. Confira como foi o papo:

GloboEsporte.com: O gol do título de 1989 ficou marcado na história do Botafogo e também na sua vida. Foi o gol mais importante da sua carreira?

Maurício: Com certeza foi o gol mais importante da minha carreira. Eu não era uma pessoa conhecida nacionalmente, e esse gol, essa competição fizeram com que todos os atletas fossem reconhecidos. O Botafogo tem um histórico de grandes jogadores, como Mané Garrincha, Jairzinho… Quando fomos campeões, quebrando um jejum de 21 anos, os botafoguenses voltaram a sorrir.

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“Eu, um garoto desconhecido, passei a ser conhecido, tanto que fui vendido para a Espanha”.

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Para mim foi um orgulho muito grande fazer parte daquela campanha, com um grupo bastante determinado, unido, um torcia pela felicidade do outro, não tinha vaidade, isso foi muito importante para a conquista.

Quando eu fui contratado, o Antonio Rodrigues e Alcides Aguilar que me levaram para o Botafogo. Agradeço muito a eles e ao Emil Pinheiro que foram fundamentais para a minha ida ao Botafogo, onde pude conquistar esse título maravilhoso.

Maurício em 2015, quando o Botafogo completou 111 anos — Foto: Jessica Mello

E o título, você considera também como o mais importante do Botafogo? Mesmo tendo Brasileiro, Conmebol depois…

Pelas circunstâncias, sim. Em São Paulo teve o Basílio com o Corinthians sendo campeão depois de 23 anos, e no Rio teve o Maurício. Poderia ser Mazolinha, Paulinho Criciúma, Luisinho, mas eu fui escolhido. Eu não ia jogar, estava febril e, na ida para o Maracanã, reuni o pessoal e disse que não jogaria.

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Eles disseram: “Nós vamos correr por você. Você é um jogador que faz gol contra o Flamengo, eles têm medo de você, e você vai fazer diferença”.

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Isso é família, acho que isso não pode faltar em nenhum lugar. Quando você trata um irmão com carinho, consegue ajudá-lo a superar uma dificuldade, isso faz a diferença.

Você estava febril e mesmo assim foi para o jogo. Como foi a preparação para entrar em campo e superar a doença?

Eu fui para o jogo. Chegando lá, encontrei o Nilton Santos, um mito do futebol. Ele me abraçou e falou: “Maurício, eu sei que você está mal, mas você não está sozinho, Mané Garrincha estará com você”. Aquilo foi um empurrão para eu poder seguir em frente mesmo com dificuldade para correr. No segundo tempo, eu falo para o Espinosa me tirar e colocar Mazolinha ou Donizete, porque eles poderiam render mais.

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Espinosa me disse: “Maurício, eu tiro qualquer um, mas não tiro você. Sonhei que você faria o gol do título”. Todo mundo me empurrando, pensei que alguma cosia aconteceria.

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O mais importante foi que, aos 11 minutos, o Zico bate uma falta, a bola quase entra e, quando ele vai saindo, eu coloco a mão nele. Hoje, eu acho que quando toquei nele saíram virtudes. Logo depois, Mazolinha cruza da esquerda e eu faço o gol. Acho que peguei a virtude do Zico, que é artilheiro, e consegui fazer um gol que ficou para a história. Inesquecível para nós botafoguenses.

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“Três coisas que mexeram comigo: meus dois filhos e esse gol”.

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Depois, Espinosa disse que era mentira, que não sonhou que eu faria o gol, só falou para me motivar. No caminho para o estádio, eu dormi no ônibus. Luisinho me acordou quando chegamos e eu disse: “Sonhei que a gente ganhava de 1 a 0, mas passávamos um sufoco danado”. Ele me perguntou quem tinha feito o gol no meu sonho e eu não me lembrava. Falei: “Tomara que você passe a bola para mim, eu faça a jogada e cruze para o Paulinho Criciúma fazer o gol”. Mas era eu que tinha sido escolhido e não sabia.

Maurício 89 recebeu o GloboEsporte.com no condomínio onde mora — Foto: Fred Gomes

O título marcou também a vida de muitos torcedores, né? Tem até casamento por sua causa…

São engraçadas histórias de algumas pessoas com relação ao título. Tiago foi um diretor do Botafogo que atravessou o Maracanã todo de joelho. Tem a Sonja, que esperava tanto aquele título, vibrava com a gente. Foi o título da vida dela. Conheço um que se casou com a mulher porque o Botafogo foi campeão. Muitas histórias bonitas que a gente só sabe depois. Isso nos mostra a importância do atleta, dentro de campo a gente não sabe o que se passa fora. Quando a gente está com a bola ali nos pés, não temos noção da quantidade de pessoas que estão olhando.

Garrincha te inspirou?

Sempre gostei de driblador, jogador com habilidade. Sou alto, mas sempre gostei de ir pra cima, driblar. Tem um drible de letra que eu faço que é do Garrincha, e um que eu salto que é do Jairzinho. Eu imitei mesmo os dois, porque a gente tem que copiar as coisas boas. Esses dois dribles aprendi observando. O Garrincha sabia a jogada do adversário, parece que estudava.

Você disse que seu gol em 89 foi o mais importante da história do Botafogo. Você acha que pode ser considerado também o mais importante da história do Campeonato Carioca comparando, por exemplo, com os de Pet, Renato Gaúcho e Cocada?

Cada um teve sua proporção. Tiveram vários gols, mas nenhum estava em jejum, nenhum tinha a responsabilidade que a gente tinha. Vínhamos carregando um fardo há 21 anos, o desejo de todos os torcedores por um título era muito grande. Torcedores do Fluminense e do Vasco, inclusive, estavam com a gente. Havia uma energia muito grande e também uma responsabilidade. Tínhamos uma coisa bacana, fomos campeões invictos. Eu estava mal, dei uma sorte, foi coisa de Deus, estava predestinado. Foi o gol mais importante do Botafogo, quebrou um tabu. Depois, fomos campeões em 90, 93, 95 e 97.

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“A gente quebrou uma barreira com aquele título. Se não fosse aquele gol, não sei o que seria do meu Botafogo hoje”.

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Do Botafogo, acho que é o gol mais importante. No Carioca tiveram vários gols importantes, o do Loco Abreu, Pet, Rondinelli. São gols lindíssimos, os jogadores foram escolhidos. Cada um no seu momento. Momento único na vida do atleta. Meu momento de brilho foi em 89.

O gol marcou tanto que, hoje, você é conhecido como Mauricio 89. Você gosta desse apelido?

O 89 é um número que registrei, o Botafogo me dá o licenciamento para usar o 89. Já pegou, não tem como tirar mais. 89 virou uma marca registrada.

Antes da vitória na final, teve um jogo marcante também contra o Flamengo. Eles ganhavam de 3 a 1, e vocês conseguiram empatar…

Esse foi o jogo do campeonato. Fiz um gol. Eles fizeram 1 a 0, eu empatei com um golaço de trivela. Eles abriram 3 a 1. Empatamos no fim do jogo.

Engraçado que Gonçalves estava no Flamengo e depois fez sucesso também com a camisa do Botafogo…

O futebol tem essas coisas. Fui campeão no Inter e no Grêmio. Fui aplaudido nos dois lugares. O Gonçalves sempre foi um baita de um jogador, tinha uma classe. Botafogo estava bem servido de zagueiros: Gottardo, Mauro Galvão e Gonçalves.

Além do longo jejum de títulos, o Botafogo também não vencia o Flamengo desde 1986. Tinha muita coisa envolvida naquela decisão, né?

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“Nós éramos motivo de piadas, 21 anos sem títulos. Isso vinha magoando a gente, estávamos ofendidos”.

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A maneira de mudar era ser campeão. Nos treinamentos em Marechal Hermes tinham duas, três mil pessoas olhando. Nos jogos no campo do Olaria, o estádio ficava lotado. A torcida acreditou tanto e a gente lutava muito também. Tínhamos certeza que íamos conquistar algo, estávamos no caminho certo.

O Flamengo botou pilha na gente, falavam que não tínhamos time para ganhar, falaram que ressuscitaram um defunto. Essas coisas eram discutidas no nosso grupo. A gente treinava mais, serviu como motivação para que pudéssemos superar a grande equipe do Flamengo.

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Brasil

Pesquisa revela que rios do Acre passaram a ser alternativas do tráfico internacional de drogas

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Juruá e Acre, além de outros 12 rios da Amazônia, passaram a ser utilizados com mais frequência por causa da lei do abate de aeronaves. A ação do tráfico fez explodir a violência na Amazônia, incluindo o Acre

Rio Juruá banha a capital do Juruá, Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução

Tião Maia, ContilNet

O aumento na taxa de homicídios em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, o segundo maior município do Estado do Acre, no período de 2005 a 2020, foi como uma explosão em termos de violência: 595% em 15 anos.

A taxa saiu de 4,3, de 1996 a 2004, para 30, no período de 2005 a 2020, o segundo maior índice da região Norte do país. O primeiro ficou com Eirunepé, município do Amazonas, que tem uma população estimada em 33 mil habitantes. Entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes. Mas, entre 2005 e 2020, esse número explodiu: 34 homicídios a cada 100 mil habitantes – um aumento vertiginoso de 819%.

Além de terem em comum a situação geográfica, Cruzeiro do Sul e Eirunepé, embora estejam em estados diferentes, são banhadas pelo mesmo rio, o Juruá, um dos afluentes do Rio Amazonas. Assim como esses dois, existem outros quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem de rota para o tráfico que envolve Brasil, Peru, Colômbia e Bolívia. São eles: Abunã, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xié.

O resultado da pesquisa está publicado na revista Piauí deste mês, com base em estudos sobre Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira, produzido por pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com a participação do IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia.

Cerco ao transporte de droga pelo ar fez aumentar uso dos rios, mostra pesquisa

De acordo com a publicação, a hipótese para o aumento da violência que atinge pequenos municípios na região amazônica banhados por essas águas tem uma explicação: com o cerco aos aviões, intensificou-se o uso de barcos no escoamento da droga.

A mudança no transporte do entorpecente aconteceu depois de 2004, ano em que o governo brasileiro colocou em prática uma política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Com a nova lei, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.

O escoamento pela água, um meio de deslocamento mais demorado, exige uma dinâmica própria e influencia as comunidades atingidas, argumentam os estudiosos. Os longos trajetos, por exemplo, levam os criminosos a empregarem diferentes barqueiros, contratarem pessoas para fazer a segurança do carregamento, fornecer equipamentos, estocar a droga, entre outras funções. “Isso acaba trazendo a atividade ilegal para uma proximidade muito maior com a população local”, diz Rodrigo R. Soares, professor titular da cátedra Fundação Lemann no Insper e líder da pesquisa.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia. Foto: Rio Acre/Assis Brasil

Mudanças na logística fizeram explodir a violência em cidades ribeirinhas

As estimativas do estudo indicam que a mudança na logística para movimentar a droga ocasionou, entre 2005 e 2020, 27% do total de 5.337 mortes em 67 cidades da região Oeste da Amazônia margeadas pelos dezesseis “rios de cocaína”. Elas têm menos de 100 mil habitantes, estão longe das grandes cidades e do cruzamento de rodovias, o que diminui as chances de as mortes estarem relacionadas a disputas fundiárias ou desmatamento ilegal. A prevalência de óbitos acontece entre homens de 20 a 49 anos, por uso de arma de fogo ou faca.

Os estudos mostram que o Brasil possui cerca de 8 mil km de fronteira com três países que concentram o plantio de coca na região, que está dividido da seguinte forma: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%), segundo o relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês). Até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para norte-americanos e europeus, onde estão os maiores compradores.

A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. O Brasil, que até então figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro colocado, atrás de Estados Unidos e Colômbia, apontam dados da UNODC de 2021. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km².

Uma das medidas para inibir o tráfico veio em 2004 com a chamada Lei do Abate. A medida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma longa discussão no Congresso e com as Forças Armadas. A lei sinalizava que o governo estava disposto a “combater, com as armas adequadas, a invasão de nossas fronteiras por quadrilhas internacionais de narcotraficantes”, afirmou o então ministro da Defesa, José Viegas Filho.

Àquela altura, o país montava uma infraestrutura própria para agir nesse campo – havia pouco controle sobre o espaço aéreo da Amazônia, o que facilitava voos carregados de drogas vindos de países andinos. Em 2002, o Sistema de Vigilância da Amazônia e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam) entraram em operação sob a justificativa de aumentar a vigilância e o controle do tráfego aéreo, das fronteiras, monitorar comunicações clandestinas, rotas de tráfico e contrabando, além de identificar pistas escondidas e garimpos ilegais. Anos mais tarde, em 2005, o Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) iniciava suas atividades em Manaus.

Assim que a Lei do Abate passou a valer, a FAB diz ter registrado uma redução imediata de 32% no número de voos irregulares. O primeiro relato de interceptação de avião suspeito veio a público em 2009, quando uma aeronave vinda da Bolívia foi alvo de disparos de advertência pelos militares brasileiros após o piloto se negar a obedecer. Depois dos tiros, o avião, que carregava 176 kg de pasta base de cocaína, pousou numa estrada de terra em Rondônia.

O estudo liga a interdição aérea ao volume da droga apreendida. Com a migração de parte do comércio ilegal para os rios e estradas, o Brasil dobrou a quantidade de cocaína detida por mar, terra e ar entre 2004 e 2005: foi de 7,7 toneladas para 15,7 toneladas, segundo estatísticas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) à época.

No entanto, a estratégia usada para dificultar o tráfico de drogas pelo ar pode ter estimulado um novo problema. Segundo o estudo dos pesquisadores brasileiros, a geografia da floresta favoreceu a rápida adaptação do narcotráfico. A análise indica que a violência nas cidades ao longo das vias acessadas mudou de padrão depois da Lei do Abate. O estudo também aponta o aumento de mortes por overdose, sinalizando maior presença de drogas em circulação. “Observamos que diversos municípios com zero casos de overdose antes de 2005 passaram a ter episódios esporádicos desde então”, afirmam os pesquisadores, alertando ainda para a provável subnotificação de casos.

Existem quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”. Foto: Reprodução

Disputa pelo monopólio do tráfico na região entre facções criminosas

Os pesquisadores alertam que é praticamente impossível enfrentar o problema numa região do tamanho da Amazônia, maior que a União Europeia, apostando só na presença ostensiva da polícia ou das Forças Armadas. “Tem que pensar em algum uso de tecnologia que seja capaz de acompanhar isso e gerar alertas que acionem uma reação”, sugere a pesquisa, citando drones, radares móveis e melhor coordenação entre os órgãos de fiscalização e autoridades dos países vizinhos. Outra ação vital é oferecer às comunidades locais alternativas que gerem renda, preservem a floresta e o modo de vida tradicional, a fim de evitar o envolvimento dos moradores com o narcotráfico e impedir possível “entrincheiramento de algum grupo criminoso ali na região que consiga um monopólio”.

A disputa pelo monopólio do tráfico de drogas na Amazônia sugerida pela pesquisa foi diagnosticada pelo Fórum de Segurança Pública em um relatório de 2022, citado no estudo sobre os “rios de cocaína”. A análise do Fórum abordou o interesse de facções do Sudeste, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, de São Paulo, pelo controle da região entre 2015 e 2016. O relatório cita ainda que “algumas facções locais compreenderam melhor os mecanismos de funcionamento das redes ilegais através da Amazônia”.

Esse fenômeno suscitou o surgimento de organizações regionais, como a Família do Norte, no Amazonas. Cientes disso, os estudiosos do Insper e da USP compararam os homicídios ocorridos após 2015, tentando identificar algum aumento de óbitos a partir da interferência das facções. Os números mostram que a taxa de mortes se manteve similar durante todo o período a partir de 2004, quando a restrição aérea foi implementada.

Por fim, os pesquisadores ressaltam que, além dos esforços brasileiros para conter o crime organizado, é imprescindível uma cooperação internacional, “principalmente na região andina, para garantir uma abordagem coordenada ao tráfico de cocaína, com maior troca de informações e práticas de segurança transnacional”.

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Com repasses de R$ 32,5 milhões, Acre chegou a 98% de execução de recursos da Lei Paulo Gustavo, diz governo federal

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Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais

Maior parte dos recursos foi destinada a projetos de audiovisual. Foto: Lucas Dutra/FEM

O Acre foi um dos estados que mais se destacou na execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo, com mais de 98% do montante recebido sendo investido na cultura local. Ao todo, o estado e seus 22 municípios executaram R$ 32,5 milhões, sendo R$ 23,86 milhões direcionados ao setor audiovisual e R$ 8,68 milhões para diversas outras manifestações culturais, como música, dança, pintura e artes digitais.

Entre os municípios acreanos, Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais e R$ 1,27 milhão em outras áreas culturais. As cidades de Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá e Feijó também se destacaram na execução dos recursos, contribuindo para o fortalecimento da cultura no estado.

A Lei Paulo Gustavo, sancionada em 2022, foi criada para apoiar o setor cultural durante a pandemia de Covid-19. Inspirada no legado do humorista Paulo Gustavo, que faleceu em decorrência da doença, a lei destinou recursos a estados, municípios e ao Distrito Federal, com o objetivo de ajudar artistas e produtores culturais a manterem suas atividades durante a crise. Com uma execução recorde, a lei se consolidou como o maior investimento direto na cultura na história do Brasil, promovendo o fortalecimento da economia criativa e a valorização das expressões culturais locais.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, fez questão de ressaltar a importância da Lei Paulo Gustavo para o desenvolvimento cultural e social do Brasil. “A lei é responsável pelo desenvolvimento econômico, social e artístico ao injetar recursos financeiros nos municípios e estados, gerando emprego, renda e dignidade para o nosso povo. A cultura está diariamente na vida dos brasileiros, e por isso leis de incentivo, como a Paulo Gustavo, são fundamentais para fomentar e evidenciar a diversidade da nossa gente e as diferentes formas de se fazer cultura”, afirmou.

Em nível nacional, os recursos da Lei Paulo Gustavo somaram R$ 3,93 bilhões, o maior investimento na história do país para o setor cultural. Com uma execução recorde de 95% dos recursos, a lei se consolidou como um importante pilar de apoio à cultura, especialmente em um momento tão desafiador como a pandemia de Covid-19.

O Acre, ao lado de outros estados que também se destacaram, como o Espírito Santo e o Paraná, é exemplo de como a aplicação desses recursos tem gerado impacto positivo na economia e na vida das pessoas. A execução eficiente no estado mostra como é possível investir em cultura e fortalecer a identidade local, ao mesmo tempo em que se geram novas oportunidades para a população.

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Governo Federal propõe expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado

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Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional

Modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Foto: internet

O Governo Federal anunciou a criação de uma proposta legislativa que visa expandir o acesso ao crédito consignado para os cerca de 42 milhões de trabalhadores com carteira assinada (CLT) no Brasil, especialmente aqueles com dificuldades de acesso a este tipo de financiamento. A principal novidade da proposta é a criação de uma plataforma que permitirá aos bancos e instituições financeiras consultar diretamente o perfil de crédito dos trabalhadores por meio do eSocial, o sistema eletrônico obrigatório que reúne informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais dos empregados de todo o país.

O crédito consignado, uma das modalidades de empréstimo mais populares no Brasil, tem as parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento do devedor. Essa modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Atualmente, a legislação permite que trabalhadores com carteira assinada acessem o crédito consignado, mas a exigência de convênios entre empresas e bancos dificulta a adesão de pequenas e médias empresas, limitando o acesso ao serviço.

O projeto foi discutido em uma reunião com o presidente Lula, os ministros Haddad e Luiz Marinho, além dos presidentes de cinco dos maiores bancos públicos e privados do país, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Durante o encontro, ficou claro que a proposta busca eliminar a necessidade de convênios entre as empresas e os bancos, facilitando a oferta de crédito para trabalhadores de diversos setores, independentemente do porte da empresa em que trabalham.

Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional, conforme indicou o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

As regras sobre o limite do crédito consignado, como o teto de 30% da renda mensal do trabalhador comprometida com o empréstimo, deverão permanecer inalteradas. Além disso, os trabalhadores poderão utilizar até 10% do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a multa por demissão sem justa causa para o pagamento das parcelas, caso se desliguem da empresa.

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