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Policial penal morre com Covid após mais de 15 dias na UTI no AC: ‘perdi o amor da minha vida’, diz esposa grávida de 9 meses

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Por Aline Nascimento

Um pai amoroso, cuidadoso, marido apaixonado, atencioso e um homem voltado para família. É assim que o policial penal Eden Carlos de Souza da Cruz, de 38 anos, é descrito pela mulher, Jaqueline Alves, de 33 anos, grávida de 9 meses da segunda filha do casal. Na quarta-feira (17), a Covid-19 interrompeu os planos de Eden de terminar de montar o quarto da filha.

Após mais de 15 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC), em Rio Branco, o policial penal morreu vítima da doença. Ele era servidor público desde 2008 e descrito pelos colegas de trabalho como um homem muito alegre, companheiro e que lutava pela categoria.

O Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC) divulgou uma nota lamentando a morte do servidor. (Veja nota na íntegra mais abaixo).

Além do servidor, a mulher Jaqueline e a segunda filha do casal, uma adolescente de 13 anos, também foram infectados pelo novo coronavírus. Jaqueline e a adolescente são do grupo de risco, a menina tem asma e a mãe usa um dreno no pulmão, mas as duas já estão curadas e não precisaram ser internadas por causa da doença.

“Nunca passou pela minha cabeça perder meu marido. Ele era um paizão, daqueles de acordar de manhã e pular na cama e chamar para tomar café, dizer que ama. Era um esposo de excelência, cuidadoso, zeloso, sempre se preocupou com nossa casa. Era o homem da casa, eu não tinha preocupação com nada. Coloquei meu marido no hospital, uma pessoa sadia, e não voltou para casa. Estava ansioso para conhecer a filha”, relembrou Jaqueline entre lágrimas.

Policial penal era pai de uma adolescente de 13 anos e esperava a chegada da segunda filha, batizada de Estela — Foto: Arquivo da família

Primeiros sintomas

Eden Cruz começou a sentir os primeiros sintomas da doença após um plantão no Complexo Penitenciário de Rio Branco no dia 21 de fevereiro. Ele chegou em casa com uma tosse, falou para a esposa que podia ser Covid porque alguns colegas estavam afastados com a doença.

Preocupado com a saúde da mulher, que tem uma gravidez de risco, o policial penal foi fazer um exame para saber se estava com coronavírus quando a tosse não passou. O teste rápido deu negativo, mas o médico receitou os remédios para o tratamento e mandou ele se isolar em casa.

A partir de então, o policial passou a ficar trancado dentro do quarto sem contato com a família. Porém, alguns dias depois, a filha adolescente disse que não sentia mais gosto e nem cheiro da comida. Jaqueline percebeu que a filha estava infectada e foi fazer um exame para saber se também estava com a doença.

“Levantei cedo e fui fazer o exame para tirar ele de dentro do quarto. Na hora que estava recebendo o resultado do exame, que deu positivo, ele ligou dizendo que não estava legal e que estava indo para o Into. Quando foi por volta das 14 horas me ligou para eu ir para lá que não estava legal. Passei oito dias sem ver ele, só falando por telefone quando estava no quarto em casa, e não sabia como estava. Quando cheguei no Into vi que estava muito cansado e não conseguia falar direito”, relembrou a mulher.

No mesmo dia, o policial já ficou internado na observação unidade. Já no período da noite, o servidor ligou novamente para a mulher dizendo que iria para o leito e que ela fosse assinar a documentação. No hospital, Jaqueline ainda chegou a conversar com o marido. Esse foi o último contato dos dois.

“No leito não pode entrar com celular. Meu os pertences dele, levei roupa e cobertor para ficar lá. No dia 4 [de março] o médico me ligou dizendo que ele tinha sido intubado, que a situação era grave e ele não estava respondendo. Falaram tão rápido que só entendi intubado. Os telefones do Into falham, a gente não entende o que os médicos dizem. Falei com a assistente social, fiz uma reclamação porque usam muito termo técnico e podiam simplificar”, disse Jaqueline.

Servidor era policial penal desde 2008 e trabalhava no Complexo Penitenciário de Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal

Angústia e espera

Os dias seguintes foram de angustia e sofrimento para Jaqueline. Ela esperava ansiosamente o boletim médico com o estado de saúde do marido. Na terça (16), porém, o boletim não chegou como todo os dias e ela se desesperou. Até que o irmão do policial mandou alguns áudios falando sobre o estado de saúde dele.

“Ninguém conseguiu entender nada. Na lista que consta para os médicos só tem dois números, o meu e a segunda opção que é o meu irmão. O médico ligou para o irmão dele e passou o relatório. Fui dormir chorando querendo saber o estado de saúde do meu marido e quando foi na manhã do outro dia fui bater no Into desesperada querendo saber o estado de saúde dele. No relatório médico tinha que ligaram para mim e não colocou o horário. Falei que não tinham ligado, mas na lista constava que ligaram”, criticou.

Jaqueline passou mal com a confusão e, enquanto tentava entender a situação, o quadro do marido piorou e ele morreu na UTI. Ela tentava falar com os médicos quando foi avisada do óbito. “Não sabia que naquele exato momento meu marido estava morrendo. Ele era a pessoa mais saudável aqui de casa. Até brincava com ele diversas vezes que se o vírus chegasse na nossa casa as pessoas de risco eram eu e minha filha. Nunca me passou pela cabeça que quem iria dar uma entrada no hospital era ele”, contou.

Ainda segundo a mulher, Eden Cruz teve um machucado em um dos joelhos jogando bola ano passado. Daí surgiu uma trombose, que ele já iria tratar. Após ser infectado pelo novo coronavírus, o policial passou a ter alteração na pressão e na glicose.

“O quadro só se agravou. Trataram a trombose com anticoagulante. Estava tudo certo sobre isso. Minha filha quase não teve sintomas, eu peguei como se fosse uma gripe muito forte. Estamos com mais de 15 dias. Nunca passou isso pela minha cabeça, está doído. Estávamos junto há 18 anos, construímos tudo juntos”, acrescentou.

Eden Cruz e Jaqueline Alves estavam juntos há 18 anos — Foto: Arquivo pessoal

Irmão também morreu com Covid

Dias após ser internado no Into-AC, o irmão mais velho do policial também deu entrada na unidade e morreu logo depois também com Covid-19. Eden Cruz não sabia que o irmão estava internado doente e morreu sem saber que o irmão também perdeu a luta para a doença

“O irmão dele faleceu no dia 10 de março. Infelizmente, perdi duas pessoas importantes. Ele tinha o coração crescido, foi logo intubado, o vírus foi em cima disso. Ele [Eden] estava sedado e não sabia o que estava acontecendo aqui fora”, lamentou.

Filha planejada

Ainda segundo Jaqueline, o casal conseguiu comprar a casa própria recentemente e estava reformando a residência. Com a casa própria, Eden propões à mulher ter um segundo filho. Estela, como vai ser chamada a bebê, era muito esperada pelo pai.

“Foi uma criança planejada, sonhou muito dela, estava arrumando o quarto para ela, comprou todo o enxoval. Queria terminar a reforma antes dela nascer, mas, infelizmente, não deu tempo. Ele acordava, beijava minha barriga e dizia assim: ‘bom dia, Estela, papai ama você’. Todos os dias era assim, pedia para ela crescer logo que ele estava louco para conhecê-la”, contou entre lágrimas.

Mesmo com o apoio da família, principalmente dos pais que estão com ela em casa, Jaqueline se diz sem chão com a morte do marido. “Estou sem chão, perdi o homem da minha vida, meu amor, companheiro, a gente tem uma história juntos. Temos uma história juntos, os últimos anos da vida viveu intensamente, apresentou TCC, fez a planta da casa, construiu, decidiu ser pai novamente, escolhemos o nome do bebê. Quando eu estava doente era ele que cuidava de mim”, finalizou.

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Sesacre aponta números e ações que marcaram a saúde pública do Acre em 2025

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Foto: Reprodução

A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) divulgou um balanço destacando números e ações que marcaram a saúde pública acreana ao longo de 2025. De acordo com os dados apresentados, o ano foi caracterizado pela ampliação do acesso aos serviços e pela interiorização dos atendimentos especializados.

Entre os principais resultados, a Sesacre informou a realização de mais de 27 mil atendimentos por meio do programa Saúde Itinerante, que levou serviços de saúde a municípios do interior do estado. Outro dado destacado foi a execução de mais de 12 mil cirurgias pelo programa Opera Acre.

O balanço também aponta a retomada de centros cirúrgicos, ampliação da oferta de exames, fortalecimento da rede hospitalar e avanços considerados históricos na área da oncologia. Segundo a secretaria, houve ainda recorde de atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ao longo do ano.

A Sesacre mencionou, ainda, a implantação de programas voltados ao atendimento de urgência e à redução da mortalidade, como o Conecta Coração e o AVC – Segundos Importam, voltados para situações críticas em que o tempo de resposta é determinante.

Os dados foram divulgados em um vídeo publicado nas redes sociais da secretaria, que apresenta um resumo das ações realizadas em 2025 e projeta a continuidade das iniciativas para o próximo ano.

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Nível do Rio Acre se aproxima dos 11 metros após fortes chuvas na capita

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Foto: David Medeiros

As fortes chuvas que atingem Rio Branco nas últimas horas provocaram alagamentos em diversos pontos da cidade e elevaram rapidamente o nível do Rio Acre. Entre as áreas mais afetadas estão a Estrada do Calafate, a região da Igreja da Pista do Poço e a Baixada da Sobral, especialmente nos bairros Boa União e Plácido de Castro, onde a água invadiu várias residências.

Durante acompanhamento ao vivo feito pela equipe, foi constatado que, apesar de uma breve trégua na chuva, o volume de água nos rios segue aumentando. Imagens mostram que o nível do Rio Acre se aproxima dos 11 metros e continua em elevação, embora, até o momento, a Defesa Civil Municipal ainda não tenha divulgado boletim oficial atualizado.

Na região da Ponte Metálica, a força da correnteza chamou atenção pelo grande volume de balseiros descendo pelo rio, indicando que a chuva atingiu toda a bacia hidrográfica.

Mesmo diante da situação de risco, moradores dos dois lados do rio aproveitaram a cheia para pescar. Durante a transmissão, duas pescadoras foram flagradas capturando peixes da espécie pintado. Segundo elas, apesar de alguns peixes serem pequenos, a pescaria rendeu o suficiente “para garantir o caldo”.

Outro episódio inusitado chamou a atenção durante a cobertura. Um homem foi visto dormindo sobre um dos pilares da Ponte Metálica, próximo à marca de medição do Rio Acre, onde há registro histórico de até 16 metros. Mesmo com o fluxo intenso de veículos sobre a ponte, o homem permaneceu dormindo tranquilamente, despertando surpresa entre os que acompanhavam a transmissão.

A equipe segue monitorando, em tempo real, os pontos de alagamento pela capital acreana. Novas informações sobre o nível do Rio Acre e ações da Defesa Civil devem ser divulgadas a qualquer momento.

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Governo do Acre entra em alerta total com monitoramento de rios e auxílio a famílias

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Foto: José Caminha/Secom

O governo do Estado do Acre, por meio da Defesa Civil Estadual e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), emitiu um alerta sobre a intensificação do período chuvoso na região. Nas últimas 24 horas, o volume de precipitação causou uma elevação rápida no nível dos principais mananciais.

Em Rio Branco, o Rio Acre registrou uma elevação rápida, de quase três metros nas últimas 24 horas mobilizando equipes de socorro para prestar assistência imediata às famílias atingidas.

De acordo com o coordenador estadual da Defesa Civil, Cel. Carlos Batista, a bacia do Rio Acre vem sendo monitorada, pois o nível das águas está subindo.

“Esta é uma subida muito rápida, provocada pela grande quantidade de chuvas em toda a calha do Rio Acre, desde Assis Brasil até a capital, passando por Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri e a área rural de Capixaba”, explicou o Coronel.

Além do Rio Acre, a bacia do Rio Tarauacá também registrou índices pluviométricos acima da média, mantendo as equipes locais em estado de atenção.

Foto: José Caminha/Secom

A preocupação das autoridades não se restringe apenas aos grandes rios. O monitoramento foi estendido aos igarapés que cortam a capital, que costumam transbordar rapidamente e atingir áreas povoadas.

Enquanto as equipes técnicas monitoram os níveis, as equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Acre vem ajudando moradores como o senhor José Garcia Rodrigues, de 65 anos, que reside em uma área de risco há oito anos.

“A alagação já chegou. Agora vou tirar minhas coisas para levar para a casa da minha filha. Quando a água baixar, eu volto”, conta o aposentado.

Mesmo enfrentando problemas de saúde, ele destaca a importância do apoio que recebe: “Falei com os bombeiros e eles vieram ajudar. Todo ano a gente vai para o Parque de Exposições. Eles carregam as coisas para nós e a gente ajuda como pode”.

O Cel. Batista reforçou que a integração entre o Estado, as prefeituras e o Corpo de Bombeiros é total. O objetivo é garantir que os planos de contingência sejam executados com rapidez caso o nível dos rios atinja a cota de transbordo.

“O Estado está em alerta total e em contato direto com as coordenadorias municipais. Estamos preparados para atender as populações que moram em áreas de risco e nas regiões mais impactadas”, garantiu o coordenador.

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