Acre
Isenta de ICMS, Agrocortex vai faturar R$ 135 milhões por ano com exploração de madeira
Ambientalistas se dividem em elogios e críticas ao empreendimento; diretor executivo da empresa, Rui Ribeiro faz esclarecimentos em entrevista exclusiva
Financiada por investidores europeus, a empresa Agrocortex Madeiras do Acre Agroflorestal Ltda, do grupo português Domínio Capital, vai explorar nos próximos 30 anos um plano de manejo florestal sustentável numa área de 190.210 hectares nos estados do Amazonas e do Acre. Trata-se de um investimento de R$ 100 milhões, dos quais já foram investidos R$ 80 milhões em seu complexo madeireiro na margem direita do Rio Purus, no município de Manoel Urbano (AC), a 230 quilômetros de Rio Branco, onde duas serrarias já estão em operação, mas ao todo serão dez serrarias até o final do ano.
A empresa já começou a comercializar a madeira serrada para o mercado interno e externo. Máquinas florestais robustas chamadas skidders arrastam árvores da floresta cujas toras são levadas para o pátio de estocagem em caminhões trucados equipados com carretas tipo Romeu e Julieta com capacidade de transportar até 80 toneladas. A retirada anual está estimada em 150.000 m³ de toras de 42 espécies, principalmente mogno, cedro rosa, cerejeira, angelim, jatobá e cumaru-ferro. A Agrocortex espera faturar R$ 135 milhões por ano com o comércio dessas madeiras nativas de alto valor.
A madeira será explorada na área da Fazenda Seringal Novo Macapá, localizada nos municípios Boca do Acre e Pauini, ambos no Amazonas, e Manoel Urbano. A exploração ocorre em 97,9% da área, em território do Amazonas, e 2,1% em território do Acre. A propriedade pertence ao empresário Moacir Eloy Crocetta Batista, que regularizou o plano de manejo em 2010 e o negociou com a empresa Agrocortex, criada no ano passado, financiada por espanhóis e portugueses. Detalhes da participação dele no empreendimento não são revelados pela empresa.
Há duas semanas, quando as primeiras serrarias da Agrocortex foram inauguradas, o governador do Acre, Tião Viana (PT), um dos principais entusiastas do empreendimento, destacou que a empresa possui selo FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal), considerado uma ferramenta de controle de produção florestal.
“Essa empresa está autorizada a ir para os melhores mercados. Ela segue normas ambientais. É a única empresa do mundo que tem autorização para explorar o mogno, a fazer o manejo do mogno. O Rui [Ribeiro, diretor executivo da Agrocortex] estava dizendo que tem árvore de mogno que vale mais de R$ 1 milhão. Ele já conseguiu aqui árvore de mogno de 60 metros. E olha o tanto que foi correta a informação passada para nós que uma árvore que eles tiram aqui é a árvore que está morrendo, ou morreu ou vai morrer logo”, afirmou o governador.
Outro entusiasta do projeto é o agrônomo Beto Veríssimo, pesquisador sênior e co-fundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Beto Veríssimo, para quem os elementos gerais do projeto são positivos porque envolve manejo florestal. “Sendo bem feito, garante a floresta em pé e gera retornos sociais e econômicos vis-à-vis as outras opções de uso da terra, como pecuária e soja”.

Pátio de estocagem da Agrocortex; produção anual será de 150.000 m³ de toras de 42 espécies. (Foto: Sergio Vale/Secom)
Veríssimo afirma que o selo do FSC traz credibilidade ao empreendimento e o fato de ter uma empresa internacional investindo tanto é algo positivo. “Para mim, o mais importante é ter o melhor projeto -social e ecologicamente- e mais rentável. Pelos elementos gerais vejo como positivo. Claro, o desafio é garantir que na implementação os benefícios prometidos sejam realizados”, acrescenta.
Por sua vez, Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra considera que “em tese pode ser positivo, como parte de uma economia florestal, algo que precisa avançar”. Segundo Smeraldi, a região precisa de um “bolsão” de atividade florestal próximo da estrada, caso contrário com o tempo vai virar pasto, pois a fiscalização não dá conta.
“Tudo depende do como será implementado. É muito bom que eles estejam em processo para obter certificação FSC, e ainda com o Imaflora, que é a melhor certificadora. Mas eu perguntaria: como está a situação fundiária de área tão grande? Como está a situação da presença de comunidades dentro da área, e o que vai ocorrer com elas? Vai ter alguma agregação de valor no Acre, ou é apenas serraria e exportação direta? Neste caso, o benefício não iria muito além de algum ISS, pois nem ICMS pagaria?”.
O plano de manejo vai gerar a contribuição previdenciária de 350 empregos diretos e, eventualmente, Imposto sobre Serviços (ISS) em Manoel Urbano. A madeira é valiosa no mercado no internacional, mas a legislação brasileira permite que seja exportada da Amazônia com isenção do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Dos ambientalistas consultados pela reportagem, Paulo Adário, diretor da Campanha da Amazônia do Greenpeace no Brasil, é o mais crítico. “O pátio na beira de um rio, onde devia ser APP [Área de Preservação Permanente], já acende a luz amarela”. Baseado no noticiário que já leu sobre a inauguração do empreendimento, Adário aponta “incorreções e cascatas, plena de complexo de vira-lata de quem precisa dizer que tudo é o ‘maior do mundo’, sem nunca ter saído do quintal e visto o tal mundo”.
“Pra começar, nem precisa sair da Amazônia para achar uma empresa com manejo, aliás também certificado pelo FSC, que deixaria o ufanismo envergonhado: é a Mil/Precious Woods. Começou com 85 mil hectares e hoje tem mais de 450 mil. A PW, de capital suíço, perdeu dinheiro durante um longo tempo. Manejo FSC, quando bem feito, perde longe em rentabilidade na competição com madeira ilegal. Eles tentaram se expandir no Pará e quebraram a cara”, acrescenta.
Adário também citou a Jari Florestal, que herdou a massa falida da Jari Celulose, também certificada pelo FSC, que está cheia de problemas com as comunidades locais. “Há pouco, comunitários bloquearam estradas da Jari em protesto. Ou seja, FSC, sem monitoramento adequado, corre o risco de virar ‘greenwash’, a famosa maquiagem verde”.
Entrevista – Rui Ribeiro

Governador Tião Viana com Rui Ribeiro, da Agrocortex, na inauguração de serrarias (Foto: Sérgio Vale/Secom)
O engenheiro florestal português Rui Pedro de Almeida Ribeiro, 47 anos, é o diretor executivo da Agrocortex. Ele assegura que a situação fundiária da área do plano de manejo não apresenta problemas, mas revela que a empresa ainda não concluiu o senso para saber quantos posseiros existem. Isenta de pagamento de ICMS, nega que esse fato seja o maior incentivo para tanto investimento na região.
“Esta isenção é para qualquer produto de exportação, de qualquer valor, e o incentivo à sua exportação decorre de políticas públicas. A maior motivação e incentivo para a implantação deste projeto é a possibilidade de implementá-lo de acordo com todas as normas de boas práticas de manejo florestal sustentável, da legalidade completa, de com isso estarmos a proteger do desmatamento uma área florestal enorme e trazer para uma região desfavorecida renda e condições condignas de vida para as populações”, afirma.
Veja a entrevista exclusiva com Rui Ribeiro a seguir:
ContilNet – Nos próximos 30 anos, a Agrocortex vai explorar madeira bruta em quase 200 mil hectares de floresta tropical na divisa do Acre e Amazonas. Como será?
Rui Ribeiro – Na verdade, nos próximos 30 anos a Agrocortex vai implementar um plano de manejo florestal sustentável, utilizando manejo de impacto reduzido numa área de 190.200 hectares nos estados do Amazonas e do Acre, previamente aprovado e auditado de forma permanente pelo Ibama e pela Cites, que é a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, para o caso do mogno. Essa implantação do PMFS é executada cumprindo as normas ecológicas, sociais e econômicas que compõem o plano de manejo, sendo a sua vertente econômica dada pela exploração de algumas poucas árvores. Só podemos explorar árvores acima de 60 cm de diâmetro, tendo obrigação de deixar ainda assim 15% das árvores acima de 60 cm de diâmetro e pelo menos cinco árvores acima deste diâmetro por cada unidade de trabalho de 100 hectares, isto para cada espécie. Além disso, e caso a floresta seja muito boa, temos uma limitação de retirar até 25,8 m³ por hectares num determinado ano. Como a nossa floresta cresce a 0,86 m³ por hectare a cada ano e necessito deixar sem explorar uma área explorada por 30 anos, vem que após estes anos a floresta cresceu exatamente 25,8 m³ em cada hectare e, portanto, está igual à original, garantindo pelas árvores em pé o banco de sementes e mantendo a sustentabilidade da floresta. Por isso se denomina de manejo sustentável de florestas.
Quantos metros cúbicos serão explorados e qual a estimativa de lucro da empresa?
A nossa maior árvore de mogno tirada este ano tem 58 m³. Como o aproveitamento desta árvore ronda os 50% – transformação de tora em tábua, teremos 25 m³ de madeira serrada. Caso consiga vender a US$ 3 mil terei um rendimento para esta árvore de US$ 75 mil. Este projeto é um projeto de capital intensivo e de muito longo prazo. Para a sua implementação iremos investir cerca de R$ 100 milhões, dos quais já investimos R$ 80 milhões. Os proveitos previsto com o dólar em alta, como temos no momento, e fazendo a safra de 150.000 m³ prevista para cada ano, de mais de 42 espécies comerciais, teremos um rendimento de R$ 135 milhões esperados. Como o custo de operação de exploração florestal e de serrarias se encontra rondando os R$ 60 milhões por ano, teremos um projeto que terá um break-even em 10 anos, incluindo custo administrativo, comercial, impostos etc.
A empresa obteve autorização da Comitê Técnico Científico da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites) e do Ibama para exploração de mogno. Quanto mogno foi identificado no inventário florestal e quanto será serrado anualmente?
Foi estimado -o inventário é amostral- com dimensão de exploração, ou seja, diâmetro maior que 60 cm, 120.000 m³, sendo que, por ano, exploraremos em smédia 2.000 m³, ou seja, em 30 anos iremos explorar cerca de 50% das árvores com dimensão comercial.
Embora a madeira seja muito valiosa no mercado no internacional, a legislação brasileira permite que seja exportada da Amazônia com isenção do Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços, por exemplo. Esse pode ser considerado como o principal incentivo para o empreendimento?
Esta isenção é para qualquer produto de exportação, de qualquer valor, e o incentivo à sua exportação decorre de políticas públicas. A maior motivação e incentivo para a implantação deste projeto é a possibilidade de implementá-lo de acordo com todas as normas de boas práticas de manejo florestal sustentável, da legalidade completa, de com isso estarmos a proteger do desmatamento uma área florestal enorme e trazer para uma região desfavorecida renda e condições condignas de vida para as populações.
A Agrocortex inaugurou as duas primeiras serrarias de seu complexo madeireiro no Acre, que prevê ao todo 10 serrarias. Quando todas estarão em operação?
Todas estarão operacionais até final do ano.
Por que a empresa optou por se instalar no Acre?
A área da fazenda situa-se quase na sua totalidade no estado do Amazonas. Neste sentido, a operação florestal ocorre quase na sua totalidade no Amazonas. Apesar disso, a empresa tinha duas hipóteses para implementar o seu complexo industrial: instalá-lo na fazenda, na área antrópica que fica no município de Boca do Acre, no Amazonas, ou instalá-lo em Manuel Urbano, no Acre. Por incentivo do governo do Acre e vontade nossa de partilhar investimento com a população e contribuir para o desenvolvimento da região, decidimos, com custo acrescido, montar a indústria em Manoel Urbano. Com isso partilhamos investimento com a população. Por exemplo, se tivéssemos instalado a indústria na fazenda teríamos de fazer infraestrutura que nunca seria partilhada. Por exemplo, o ambulatório. Hoje apoiamos o hospital de Manoel Urbano com maquinaria e outros insumos, investimento este que se partilha com toda a população.
Como a madeira é extraída no Amazonas, que acordos foram feitos com o governo amazonense para que a serraria ficasse no Acre?
Acordo de cooperação, que é público.
Quais os modais para o transporte da madeira? Sai de Manoel Urbano pela BR-364, passa por Rio Branco, e segue para qual porto na região sudeste?
A saída da madeira depende dos clientes. Vendemos FOB (Free on Board, Livre a Bordo do Navio) nos portos de origem, daí iremos colocar a madeira no porto que o cliente pedir. Caso peça por Paranaguá ou outro porto da região sudeste, não teremos outra alternativa que não fazer o roteiro que descreve. Caso o cliente pretenda usar o porto de Manaus ou Belém, iremos usar o Rio Purus, pois a sede da fazenda e a indústria estão na sua margem.
A empresa possui frota própria de quantos caminhões?
Só para transporte de toras da fazenda para a indústria. Possuímos 10 caminhões.
É inviável transportar tanta madeira pela rodovia Transoceânica, que liga o Brasil ao Peru, construída a pretexto de encurtar distâncias até a costa oeste dos EUA e Ásia?
Não, basta o pedido dos clientes ser para os portos do Peru. É de todo viável e interessante, visto que diminui os custos de transporte.
A área que será explorada pela pertence ao empresário Moacir Eloy Crocetta Batista, da Batisflor?
Sim.
Qual a participação dele no empreendimento?
Não é informação pública.
O senhor tem alguma informação de que a área já tem problemas com a falta de caça?
Não, pelo contrário. A caça não é ilegal no Brasil?
Existem relatos de que posseiros já observam esse problema. O que a empresa planeja para minimizar os impactos?
A Agrocortex possui o selo de certificação FSC, tendo sido auditada pela mais prestigiada instituição brasileira de certificação, que é o Imaflora. Nesse sentido, a empresa desenvolve quer ao nível social quer ao nível ecológico -e aqui a fauna tem um enorme peso inventário- monitoramento e implantação de medidas para monitorar e mitigar qualquer impacto negativo que o manejo possa eventualmente trazer. Relembro que a Agrocortex anualmente só opera sobre 5.860 hectares, que corresponde a cerca de 3% da fazenda. Assim, a cada ano, 97% da fazenda, ou seja, 184 mil hectares, ficam intocados e protegidos pelo nosso monitoramento. Além disso, temos dentro da área de manejo 18 mil hectares de preservação absoluta que usamos como base de monitoramento para fauna e entendimento da dinâmica da floresta.
Qual o tipo de compartilhamento de conhecimento tecnológico que o projeto de manejo florestal sustentável prevê com o Acre, com os trabalhadores locais?
Total. Todos os anos treinamos durante um mês todos os nossos funcionários que trabalham na floresta, treinamento esse que é dado com o apoio do Instituto de Florestas Tropicais, a mais prestigiada instituição de extensão e pesquisa sobre gestão sustentável de florestas tropicais e manejo de impacto reduzido.
O que será revertido em benefício social e econômico ou qual o compromisso social da empresa com a região e seus moradores?
O primeiro e grande benefício é a criação de postos de trabalho diretos em Manoel Urbano, que não tem qualquer perspectiva de emprego para os seus jovens a não ser no estado ou município. Com isso conseguimos reter pessoas na região, dando-lhes condições condignas de vida e um trabalho com todas as condições possíveis e exigíveis. Todos os nossos funcionário -e não terceirizamos nada- têm carteira assinada, alimentação, uniformes, seguro de saúde etc. Temos o compromisso essencial com as pessoas que vivem no entorno da área de manejo. Estas estão a ser integradas no projeto através de medidas sociais implementadas a partir de levantamento sociológico da região e implantação de atividades corretas com as populações do entorno. Privilegiamos a contratação e formação local e implementamos em parceria com a prefeitura e estado, implementamos obras de infraestrutura, com a construção da estrada de acesso ao Itaúba, apoio no lixão da cidade, apoio na pavimentação da cidade etc. Estamos numa fase de grande investimento que começou há pouco mais de um ano e já fizemos tanto. Imagine o que iremos fazer durante os próximos 30 anos, que dura o projeto.
E o Acre e o Amazonas seguem como meros fornecedores de matéria-prima?
A Agrocortex está a construir em Manoel Urbano o maior complexo madeireiro do Brasil com 10 serrarias e 20 estufas para desdobro da madeira.
Sendo a Agrocortex movimentada pelo capital de um grupo empresarial de Portugal, é inevitável lembrar da exploração do pau-brasil quando éramos colônia. Alguma semelhança?
Caso não saiba, a primeira lei de proteção florestal foi elaborada pelos portugueses para proteger o pau-brasil da exploração predatória que os holandeses faziam, especialmente na Mata Atlântica da Bahia. Será essa só a semelhança. Eu sou brasileiro e sei que hoje em dia é muito difícil conseguir no Brasil investimento desta dimensão, a longo prazo, com enorme comprometimento com o manejo sustentável, como é este investimento. Neste sentido, tenho imenso orgulho que investidores portugueses e espanhóis tenham acreditado que é possível fazer diferente e investir as suas economias numa região remota e num projeto tão pouco conhecido como é este projeto.
Qual é a situação fundiária da área do projeto?
Área privada sem problemas fundiários nenhum.
Quantas famílias vivem nela?
Estamos a fazer o senso.
Qual é situação jurídica das famílias na área?
Posseiros.
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Acre
Sebrae e Funtac promovem 3º Encontro da Rede de Sementes do Acre

Evento acontece nos dias 8 e 9 de dezembro, no Sesc Cruzeiro do Sul
Nos dias 8 e 9 de dezembro, o Sebrae e a Funtac realizam o 3º Encontro da Rede de Sementes do Acre, em Cruzeiro do Sul. O evento objetiva a promoção do conhecimento, inovações, tecnologias e mercado, voltados para a bioeconomia de sementes florestais no Acre.
O evento acontecerá no Hotel Sesc de Cruzeiro do Sul e a programação inclui palestras e minicursos, com temas como: Restauração florestal no Acre; Coleta e comercialização de sementes nativas; e Armazenamento de sementes florestais da Amazônia.
“Este encontro é um espaço estratégico para fortalecer a bioeconomia no Acre, promover a troca de conhecimentos e ampliar as oportunidades de mercado para o público que atua neste segmento”, destacou o gestor de bioeconomia do Sebrae, Francinei Santos, ministrará a palestra “Estratégias de mercado na Rede de Sementes”, no dia 8.
Criada em 2023, a Rede de Sementes do Acre atua na estruturação da cadeia produtiva de sementes florestais nativas, com foco na restauração de ecossistemas, na conservação de espécies ameaçadas e no fortalecimento da comercialização sustentável, em parceria com instituições públicas, privadas e a sociedade civil.
A edição do Encontro em Rio Branco acontecerá nos dias 11 e 12 de dezembro. O evento conta com apoio do Ministério do Meio Ambiente, por meio do projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia, Banco Mundial, GEF, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Conservação Internacional Brasil, FGV Europe e Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

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Acre
Justiça determina que governo do Acre nomeie 20 policiais penais em Sena Madureira
De acordo com o MPAC, há insuficiência grave de policiais penais na UPEM, o que impede o cumprimento mínimo da Lei de Execução Penal (LEP)

Para o MP, há direito subjetivo à nomeação dos aprovados dentro das vagas, conforme entendimento do STF (Tema 784). Foto: captada
Saimo Martins
A Vara Cível da Comarca de Sena Madureira determinou que o Governo do Acre convoque e nomeie, em até 30 dias, pelo menos 20 aprovados no concurso da Polícia Penal (Edital 001/2023 – SEAD/IAPEN) para atuarem na Unidade Penitenciária Evaristo de Moraes (UPEM). A decisão, assinada pelo juiz Caique Cirano de Paula, atende a pedido de tutela de urgência ajuizado pelo Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) em Ação Civil Pública.
A medida foi tomada após uma série de inspeções do Ministério Público, através do promotor Júlio César Medeiros, da Defensoria Pública e do próprio Judiciário apontarem um cenário crítico na unidade prisional, marcado por déficit de servidores, violações de direitos básicos e risco iminente à segurança.
Déficit de servidores e violações de direitos básicos
De acordo com o MPAC, há insuficiência grave de policiais penais na UPEM, o que impede o cumprimento mínimo da Lei de Execução Penal (LEP). Entre as violações identificadas estão a irregularidade no banho de sol — que chega a ocorrer apenas uma vez por mês — precariedade no fornecimento de água, problemas na qualidade da alimentação, ausência de equipe de saúde adequada e inexistência de Grupo de Intervenção, único caso no Estado.
Relatórios da Defensoria Pública e do Juízo da Execução Penal reforçaram a grave situação, caracterizada pelo Ministério Público como expressão local do Estado de Coisas Inconstitucional reconhecido pelo STF no sistema prisional brasileiro.
Concurso com vagas abertas e aprovados sem nomeação
O concurso da Polícia Penal previa 261 vagas, e 308 candidatos concluíram o curso de formação. No entanto, apenas 170 foram convocados até agora. Para o MP, há direito subjetivo à nomeação dos aprovados dentro das vagas, conforme entendimento do STF (Tema 784).
O diretor da unidade informou que seriam necessários, no mínimo, 30 novos servidores, sendo 16 para formação do Grupo de Intervenção e 12 para reforçar a equipe educacional.
Decisão determina ações imediatas
Na decisão, o juiz afirma que não há violação ao princípio da separação dos poderes, uma vez que o Judiciário apenas determina o cumprimento de obrigações legais já previstas. O magistrado destacou a urgência diante do risco à integridade física de internos e servidores, além das violações massivas de direitos fundamentais.
Segundo ele, o Ofício nº 7.499/SMCRI00, expedido pelo Juízo da Execução Penal e que estabeleceu prazos curtos para regularização do banho de sol, atendimento em saúde e fornecimento de água potável, evidencia a gravidade da situação. O juiz ressaltou que a normalização dessas atividades depende diretamente de efetivo de segurança suficiente para garantir a movimentação dos presos e a ordem interna. Ele apontou que a privação crônica de banho de sol, a ausência de assistência à saúde e as falhas no fornecimento de água elevam o risco de instabilidade interna a níveis perigosos. A falta de um Grupo de Intervenção, conforme observou o Ministério Público, transforma a UPEM em uma “bomba-relógio”, ameaçando a segurança de servidores, internos e da população. O magistrado concluiu que, diante do histórico de violência, rebeliões e evasões no sistema prisional acreano, o Poder Judiciário, provocado pelo Ministério Público e apoiado em recente atuação da Defensoria Pública, não pode se omitir frente à evidente falha do Poder Executivo na implementação das políticas penitenciárias necessárias.
O Estado deverá adotar uma série de medidas no prazo de 30 dias, conforme determinação judicial. Entre elas está a nomeação de pelo menos 20 policiais penais aprovados e formados no concurso, para atuação imediata na Unidade Penitenciária Evaristo de Moraes (UPEM). Também deverá ser criado e capacitado um Grupo de Intervenção, composto por no mínimo 16 policiais penais.
A decisão determina ainda que as vagas de estudo oferecidas aos internos sejam ampliadas de 40 para 80, além da obrigatoriedade de garantir banho de sol diário com duração mínima de duas horas, conforme prevê a Lei de Execução Penal (LEP). Outro ponto imposto é a regularização do fornecimento de água potável, que deverá ocorrer pelo menos três vezes ao dia, com horários fixos divulgados em todos os blocos da unidade.
O magistrado ainda determinou que o Estado realize a manutenção preventiva do sistema de bombeamento de água, assegurando uma reserva técnica para situações emergenciais. Em caso de descumprimento das medidas, foi fixada multa diária de R$ 10 mil, limitada a 30 dias.
“Realize a manutenção preventiva do sistema de bombeamento de água, a fim de garantir o fornecimento de água potável, no mínimo, três vezes ao dia aos internos, em horários fixos, com fixação do cronograma de liberação de água sendo afixado em todos os blocos, com manutenção de reserva técnica de água para situações emergenciais. Fixo, a título de astreintes, multa diária no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), limitada a 30 (trinta) dias”, diz a decisão.
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Acre
Acre tem 152 obras federais paradas, com R$ 1,2 bilhão paralisados durante governo Lula, aponta TCU
Dados atualizados até abril de 2025 mostram que saúde e educação concentram maior número de obras interrompidas; causas das paralisações não são detalhadas no painel do tribunal

O Ministério das Cidades reúne 31 obras suspensas, impactando projetos de habitação e urbanização. O DNIT contabiliza 12 interrupções em frentes relacionadas à malha viária e logística estadual. Foto: captada
O Acre convive com 152 obras federais paralisadas, que somam cerca de R$ 1,2 bilhão em investimentos represados, segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU) atualizados até abril de 2025. As áreas de saúde e educação são as mais afetadas, com 50 e 32 obras interrompidas, respectivamente.
O levantamento, foi consultado na última quarta-feira (3), não detalha os motivos das paralisações, mas revela um cenário crítico para a infraestrutura e os serviços públicos no estado. No Ministério da Saúde, as obras paradas incluem unidades básicas, estruturas intermediárias e equipamentos que, se concluídos, ajudariam a desafogar o sistema hospitalar e ampliar o acesso à população.
Já o Ministério da Educação tem paralisadas 32 obras, como escolas, creches e outros equipamentos essenciais para regiões com carência de vagas e infraestrutura limitada.
Outros órgãos também aparecem com números expressivos: o Ministério das Cidades tem 31 obras suspensas (habitação e urbanização), e o DNIT contabiliza 12 paralisias que afetam a malha viária e a logística estadual. Completam a lista o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (11 obras), Ministério do Esporte (9), Funasa (3), Ministério da Agricultura e Pecuária (2), além do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos e o Ministério do Turismo, com 1 obra cada.
A falta de detalhamento sobre as causas — que podem incluir entraves administrativos, questões jurídicas, falhas de execução ou falta de repasse de recursos — dificulta a análise e a busca por soluções para retomar investimentos essenciais ao desenvolvimento do estado.

A leitura das informações revela que os setores de saúde e educação, pilares essenciais do atendimento direto à população, concentram o maior número de obras interrompidas no estado. Foto: captada
O Ministério da Educação, com 32 obras que incluem escolas, creches e outros equipamentos educacionais. A interrupção desses projetos impacta diretamente a expansão da oferta de ensino e o atendimento a crianças e jovens em regiões onde a carência por infraestrutura permanece elevada.
O levantamento do TCU também aponta paralisações em outras pastas relevantes. O Ministério das Cidades acumula 31 obras interrompidas, incluindo projetos de urbanização e habitação. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) aparece com 12 obras, afetando frentes ligadas à malha viária e logística do estado.
Distribuição por pasta ministerial
- Saúde: 50 obras paralisadas (unidades básicas, estruturas intermediárias)
- Educação: 32 obras (escolas, creches, equipamentos de suporte)
- Cidades: 31 obras (habitação e urbanização)
- DNIT: 12 obras (malha viária e logística)
- Integração Regional: 11 obras
- Esporte: 9 obras
Impactos diretos
- Saúde: Sistema hospitalar não é desafogado
- Educação: Déficit de vagas e infraestrutura permanece
- Logística: Transporte de insumos e atendimento a municípios isolados comprometido
Falta de transparência
- Causas: Painel não detalha motivos das paralisações
- Entraves: Dificuldade em identificar problemas administrativos, jurídicos ou financeiros
Apesar do impacto econômico e social gerado pela interrupção dos investimentos, o painel do TCU não detalha os motivos que levaram cada projeto à condição de paralisação, deixando abertas questões sobre problemas contratuais, falhas de execução, falta de repasses ou entraves administrativos.
As paralisações refletem um problema crônico na execução de obras públicas no Acre, estado historicamente dependente de investimentos federais. A falta de explicações oficiais sobre as causas das interrupções dificulta a busca por soluções e prolonga o sofrimento da população que aguarda por serviços essenciais.




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