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Novo antibiótico usa método inovador para matar superbactéria

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Acinetobacter baumannii é uma bactéria resistente a muitos antibióticos Kateryna Kon/Science Photo Library

Zosurabalpina pode ser eficaz para matar a superbactéria Acinetobacter baumannii, que causa infecções graves

Amanda Musada CNN – São Paulo

Pesquisadores da Universidade de Harvard e da empresa suíça de cuidados de saúde Hoffmann-La Roche afirmam ter desenvolvido um novo tipo de antibiótico para tratar bactérias que é resistente à maioria dos antibióticos atuais e mata uma grande percentagem de pessoas com uma infecção invasiva.

A bactéria Acinetobacter baumannii pode causar infecções graves nos pulmões, no trato urinário e no sangue, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Ela é resistente a uma classe de antibióticos de amplo espectro chamados carbapenêmicos.

Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos, também conhecida como CRAB, estava no topo da lista da Organização Mundial da Saúde de “patógenos prioritários” resistentes a antibióticos em 2017.

Nos Estados Unidos, a bactéria causou cerca de 8.500 infecções em pacientes hospitalizados e 700 mortes naquele ano, conforme apontam os dados mais recentes do CDC.

A CRAB é responsável por cerca de 2% das infecções encontradas em hospitais dos EUA. É mais comum na Ásia e no Médio Oriente e causa até 20% das infecções em unidades de cuidados intensivos em todo o mundo.

A bactéria prospera em ambientes médicos, como hospitais e lares de idosos. As pessoas com maior risco de infecções são aquelas que têm um cateter, que estão num ventilador pulmonar ou que têm feridas abertas devido a uma cirurgia.

O patógeno é tão difícil de eliminar que a Food and Drug Administration dos EUA não aprova uma nova classe de antibiótico para tratá-lo há mais de 50 anos, observam os pesquisadores em seu estudo, publicado na quarta-feira (3) na revista Nature.

Zosurabalpina pode ser eficaz

Mas os cientistas afirmam que um novo antibiótico, a zosurabalpina, pode matar eficazmente a Acinetobacter baumannii.

Zosurabalpin tem sua própria classe química e tem um método de ação único, diz o Dr. Kenneth Bradley, chefe global de descoberta de doenças infecciosas da Roche Pharma Research and Early Development e um dos pesquisadores.

“Esta é uma abordagem nova, tanto em termos do composto em si, mas também do mecanismo pelo qual mata as bactérias”, disse ele.

Acinetobacter baumannii é uma bactéria Gram-negativa, o que significa que é protegida por membranas internas e externas, dificultando o tratamento. O objetivo da pesquisa era identificar e ajustar uma molécula que atravessasse as membranas duplas e matasse as bactérias.

“Essas duas membranas criam uma barreira formidável para a entrada de moléculas como os antibióticos”, disse Bradley.

Os pesquisadores começaram a desenvolver a zosurabalpina examinando cerca de 45.000 pequenas moléculas de antibióticos chamadas peptídeos macrocíclicos amarrados e identificando aquelas que poderiam inibir o crescimento de diferentes tipos de bactérias.

Depois de anos melhorando a potência e a segurança de um número menor de compostos, os pesquisadores chegaram a uma molécula modificada.

Zosurabalpina inibe o crescimento da Acinetobacter baumannii, impedindo o movimento de grandes moléculas chamadas lipopolissacarídeos para a membrana externa, onde são necessárias para manter a integridade da membrana.

Isso faz com que as moléculas se acumulem dentro da célula bacteriana. Os níveis na célula tornam-se tão tóxicos que a própria célula morre.

A zosurabalpina foi eficaz contra mais de 100 amostras clínicas de CRAB testadas, segundo a pesquisa.

O antibiótico reduziu consideravelmente os níveis de bactérias em ratos com pneumonia induzida por CRAB, dizem os pesquisadores. Também evitou a morte de ratos com sepse causada pela bactéria.

“A descoberta de medicamentos que tenham como alvo bactérias Gram-negativas nocivas é um desafio de longa data devido às dificuldades em fazer com que as moléculas atravessem as membranas bacterianas para atingir alvos no citoplasma”, escreveram os investigadores.

“Compostos bem-sucedidos normalmente devem possuir uma certa combinação de características químicas.”

A zosurabalpina está agora na fase 1 de ensaios clínicos para avaliar a segurança, tolerabilidade e farmacologia da molécula em humanos, segundo os autores do estudo.

Ameaça à saúde mundial

Ainda assim, a ameaça da resistência antimicrobiana à saúde pública continua a ser enorme a nível mundial devido à falta de tratamentos eficazes, afirma o Dr. Michael Lobritz, chefe global de doenças infecciosas da Roche Pharma Research and Early Development, que também participou na investigação.

A resistência antimicrobiana ocorre quando germes como bactérias e fungosevoluem o suficiente para serem capazes de sobreviver aos encontros com os medicamentos concebidos para matá-los.

Cerca de 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo morreram diretamente de resistência antimicrobiana em 2019, de acordo com uma análise de 2022 publicada na Lancet.

Em comparação, o HIV/Aids e a malária causaram 860.000 e 640.000 mortes, respectivamente, naquele ano.

Nos EUA, ocorrem mais de 2,8 milhões de infecções resistentes a antimicrobianos a cada ano. Como resultado, mais de 35.000 pessoas morrem, segundo o Relatório de Ameaças à Resistência aos Antibióticos de 2019 do CDC.

Nas últimas décadas, foram desenvolvidos mais antibióticos para tratar infecções Gram-positivas, que são normalmente menos prejudiciais e menos resistentes aos antibióticos do que as bactérias Gram-negativas, disse Lobritz.

“Essas bactérias Gram-negativas têm acumulado resistência a muitos dos nossos antibióticos de primeira linha preferidos há muito tempo”, disse ele, e a zosurabalpina é um antibiótico único contra um patógeno “muito formidável”.

Embora sejam necessárias mais pesquisas e a zosurabalpina ainda esteja a anos de distância do uso clínico, é um desenvolvimento extremamente promissor, diz o Dr. César de la Fuente, professor assistente da Universidade da Pensilvânia.

“Pode levar vários anos”, disse de la Fuente, que não esteve envolvido na nova pesquisa.

“No entanto, penso que, do ponto de vista acadêmico, é emocionante ver um novo tipo de molécula que mata bactérias de uma forma diferente. Certamente precisamos de novas formas inovadoras de pensar sobre a descoberta de antibióticos, e penso que este é um bom exemplo disso.”

Os pesquisadores dizem que a abordagem usada para inibir o crescimento da Acinetobacter poderia ajudar com outras bactérias difíceis de tratar, como a E. coli.

“Funciona bloqueando a criação ou formação desta membrana externa”, disse Bradley, acrescentando que este processo é partilhado por todas as bactérias Gram-negativas.

Ao compreender a biologia por trás deste processo, futuros pesquisadores poderão aprender como inibir o crescimento de outras bactérias usando diferentes moléculas modificadas, diz ele.

A única desvantagem, observam os pesquisadores, é que a molécula modificada funcionará apenas contra as bactérias específicas que ela foi projetada para matar.

No entanto, de la Fuente diz que este método de modificação de moléculas para atingir uma bactéria específica poderia ser melhor para a nossa saúde geral, já que muitos antibióticos de amplo espectro são conhecidos por matar bactérias boas, particularmente no nosso intestino e na nossa pele.

“Durante décadas, estivemos obcecados em criar ou descobrir antibióticos de amplo espectro que matassem tudo”, disse ele.

“Por que não tentar criar antibióticos específicos e mais direcionados, que abordem apenas o patógeno que está causando a infecção e não todas as outras coisas que podem ser boas para nós?”

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Desembargador decide adotar inovação legislativa do CPC conhecida como ope legis

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O desembargador Roberto Barros decidiu rever a própria decisão ao analisar agravo interno, impetrado pelo advogado Alisson Freitas Merched, que apontou como motivo do recurso a “inovação legislativa”, ope legis. A decisão, datada do dia 10, aponta a inexigibilidade momentânea do “recolhimento do preparo recursal”, o pagamento de custas com o processo.

Segundo o magistrado, a mudança de entendimento é baseada no argumento de que taxas podem ser descontadas na fase de execução de honorários advocatícios, cobrados judicialmente.

“A decisão retratada pautou-se na premissa de que a isenção de custas depende, invariavelmente, de provocação da parte e deferimento judicial (sistemática da Gratuidade de Justiça), todavia, o § 3º do art. 82 do CPC introduziu no ordenamento uma regra de diferimento legal automático (ope legis), de natureza cogente e objetiva”, escreve o desembargador.

Roberto Barros ainda apontou como “formalismo excessivo” em uma situação em que os próprios honorários possuem “natureza alimentar”.

A inovação legislativa é prevista no § 3º do art. 82 do Código de Processo Civil (CPC), atualizado na Lei nº 15.109/2025.

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Estudantes de aldeia indígena em Assis Brasil celebram formatura do ensino fundamental

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A professora Maria Francisca Saraiva destacou a importância do momento para a comunidade. Segundo ela, a formatura é a concretização de um sonho coletivo, construído com esforço, perseverança e fé na educação como instrumento de transformação social

Estudantes da Escola Indígena Nossa Senhora da Conceição celebram a primeira formatura do 9º ano do ensino fundamental na Aldeia Peri, em Assis Brasil. Foto: cedida

Levar educação pública de qualidade a todos os acreanos, independentemente da distância ou das dificuldades de acesso, é um compromisso permanente do governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE). Esse compromisso ganhou um significado histórico na última semana, na Aldeia Peri, localizada no município de Assis Brasil, onde, pela primeira vez, 30 estudantes da Escola Indígena Nossa Senhora da Conceição concluíram o 9º ano do ensino fundamental.

O feito representa muito mais que uma formatura. Para chegar até a comunidade, o acesso exige uma viagem terrestre de cerca de 70 quilômetros pelo ramal Icuriã, seguida por aproximadamente uma hora e meia de deslocamento fluvial em barco. Um percurso que simboliza os desafios enfrentados diariamente para garantir que o direito à educação chegue aos locais mais remotos do estado.

A professora Maria Francisca Saraiva destacou a importância do momento para a comunidade. Segundo ela, a formatura é a concretização de um sonho coletivo, construído com esforço, perseverança e fé na educação como instrumento de transformação social. A educadora também ressaltou a visita da equipe do Núcleo da SEE em Assis Brasil como um gesto significativo para a aldeia.

Ao todo, 30 alunos concluíram o Ensino Fundamental, marcando um novo capítulo para a educação indígena no interior do Acre. Foto: cedida

A coordenadora da Representação da SEE em Assis Brasil, Sandra Lopes, celebrou o marco histórico. “É algo inédito: uma turma de 30 alunos se formando no 9º ano do ensino fundamental, pela primeira vez na comunidade, com muita garra e determinação. Esses estudantes desejam seguir estudando e ingressar no ensino médio em 2026, o que mostra que a educação abre caminhos e amplia horizontes”, afirmou.

Durante a cerimônia, também houve homenagens à liderança local, com destaque ao senhor Francildo Matias de Sousa Manchineri, vice-liderança da comunidade, que assumiu com responsabilidade e compromisso a continuidade do trabalho educacional após a partida do professor Artur, mantendo vivo o sonho coletivo de acesso à educação.

Mesmo com acesso por ramal e via fluvial, o governo do Acre garante o direito à educação de qualidade nas comunidades mais remotas. Foto: cedida

Representando os estudantes, Sebastião Salomão Manchineri, o aluno mais velho da turma, emocionou a todos ao falar em nome da classe. “Somos profundamente gratos. A luta e o esforço da união das lideranças tornaram possível a conclusão de um ciclo tão importante. Esta conquista não representa apenas o fim de uma etapa, mas a prova de que a educação transforma realidades e constrói futuros. Nosso respeito e gratidão a todos que acreditaram e lutaram para que este momento se tornasse realidade”, declarou.

Educação indígena como prioridade

Para o secretário de Estado de Educação e Cultura, Aberson Carvalho, o momento reafirma o compromisso do governo com uma política educacional inclusiva, respeitosa e adaptada às especificidades dos povos indígenas.

“Garantir educação de qualidade às comunidades indígenas exige um trabalho diferenciado, sensível às culturas, aos territórios e às realidades locais. O que vimos na Aldeia Peri é a prova de que, com planejamento, compromisso e valorização dos profissionais da educação, é possível superar distâncias e transformar vidas. Essa formatura representa o fortalecimento da educação indígena no Acre e reafirma que nenhum estudante ficará para trás, independentemente de onde viva”, destacou o secretário.

Estudantes celebram a conclusão de uma etapa e sonham com o ingresso no ensino médio em 2026. Foto: cedida

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Cortes no orçamento de 2026 ameaçam funcionamento da Ufac, diz Andifes; cenário é crítico

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Os cortes agravam um cenário já considerado crítico. Caso não haja recomposição, o orçamento das universidades federais em 2026 ficará nominalmente inferior ao executado em 2025, mesmo sem considerar os efeitos da inflação e os reajustes obrigatórios de contratos

A associação alerta que o cenário atual representa “comprometimento do pleno desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão nas universidades federais”

Vitor Paiva

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) manifestou preocupação com os cortes promovidos pelo Congresso Nacional no orçamento das Universidades Federais durante a tramitação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026. Segundo a entidade, as reduções afetam diretamente o funcionamento das instituições e comprometem ações essenciais de ensino, pesquisa e extensão.

De acordo com análise preliminar da Andifes, o orçamento originalmente previsto no PLOA 2026 para as 69 universidades federais sofreu um corte total de R$488 milhões, o que representa uma redução de 7,05% nos recursos discricionários. A entidade informa que os cortes “incidiram de forma desigual entre as universidades e atingiram todas as ações orçamentárias essenciais ao funcionamento da rede federal de ensino superior”.

A Andifes destaca que a situação é mais grave na assistência estudantil, considerada estratégica para a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Apenas nessa área, o corte alcançou cerca de R$100 milhões, equivalente a uma redução de 7,3%. Para a associação, a medida “compromete diretamente a implementação da nova Política Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)”, instituída pela Lei nº 14.914/2024, e coloca em risco avanços relacionados à democratização do acesso e da permanência no ensino superior público.

Segundo a entidade, os cortes agravam um cenário já considerado crítico. Caso não haja recomposição, o orçamento das universidades federais em 2026 ficará nominalmente inferior ao executado em 2025, mesmo sem considerar os efeitos da inflação e os reajustes obrigatórios de contratos, especialmente os relacionados à mão de obra. A Andifes ressalta ainda que o quadro se torna mais preocupante diante de reduções semelhantes nos orçamentos da Capes e do CNPq.

No texto, a associação alerta que o cenário atual representa “comprometimento do pleno desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão nas universidades federais”, além de ameaçar a sustentabilidade administrativa das instituições e a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A entidade também aponta que a restrição orçamentária impõe entraves ao desenvolvimento científico e, consequentemente, à soberania nacional.

A Andifes reconhece o diálogo mantido com o Ministério da Educação, afirmando que a pasta tem demonstrado sensibilidade diante da gravidade do cenário. No entanto, reforça que “os cortes aprovados pelo Congresso Nacional exigem ações imediatas de recomposição, sob pena de comprometer o funcionamento regular das universidades federais e limitar o papel estratégico dessas instituições no desenvolvimento científico, social e econômico do país”.

Por fim, a associação informou que seguirá atuando junto ao Governo Federal e ao Congresso Nacional em defesa da recomposição do orçamento das universidades federais e da pesquisa científica, da valorização da educação superior pública e do cumprimento do compromisso constitucional do Estado brasileiro com a ciência, a educação e a redução das desigualdades sociais e regionais.

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