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João Vicente: A Festa que Juntava todos os Brasilienses

1959. Brasília estava prestes a ser inaugurada. Uma preocupação surgia: qual seria o futuro daquela massa de trabalhadores, os chamados “candangos” e suas famílias após a inauguração? Isso chamou a atenção de esposas de alguns políticos recém chegados à cidade. Elas, pensando nisso, iniciaram uma movimentação visando criar alguma instituição para dar assistência social a essas pessoas.
Dona Carmela Salgado, esposa do deputado Plínio Salgado se encontrou com a primeira dama, Dona Sarah e, conversa vai, conversa vem, combinaram um encontro de senhoras, esposas de outros políticos ou funcionários do governo. O encontro seria na 105 Sul. Lá juntaram treze amigas e pensarem em fazer alguns bazares para arrecadar fundos para esse fim.
Com o apoio que receberam do Arcebispo de Brasília, Dom José Newton, criaram uma entidade para prestar serviços sociais aos candangos (odontologia, consultas médicas, creche para os filhos e aulas de todo tipo), a qual chamaram de Casa do Candango, inicialmente com sede em duas salinhas na 505/6 Sul (para depois se mudarem para um terreno que receberam em doação da prefeitura de Brasília em 1962, na 601 Sul, onde está a Casa do Candango até hoje).

Mas para criar e manter a Casa do Candango teriam que acumular um valor significativo e ter uma arrecadação anual que cubrisse os altos custos. “E agora? O que faremos?” Mil debates até que Dona Yolanda (esposa de Valdir Pires, deputado da Bahia) sugeriu fazerem uma grande festa junina. Um arraial, onde as mulheres administrariam barracas com coisas típicas de seus estados de origem, já que havia mulheres de toda parte do Brasil reunidas ao redor da ideia. Seria também uma forma dos candangos lembrarem de sua cultura e sabores “Ói. Genial. Isso pode dar certo!”
Mãos à obra
As madrinhas de cada estado se empenhavam todos os anos na ideia, empolgadas para promover e destacar suas terras. Saíam em busca de produtos típicos até então pouco conhecidos na capital, tanto de artesanato e roupas, como pratos típicos: acarajé, vatapá, tacacá, salames coloniais, queijos, pinhão, moquecas capixabas, cachaças artesanais e muito mais. Delícias que esperávamos o ano inteiro para poder saborear.
As primeiras festas eram bem acanhadas e simples, com barraquinhas de madeira, na 104/5 sul, depois foi para ali atrás do Cine Brasília, até que mudaram, em 1965 para o Eixo Monumental, atrás da torre de TV, onde hoje está o Centro de Convenções. Ali a festa ficou supimpa (para usar a gíria da época) e, enfim, virou sucesso de público e conhecida nacionalmente, a ponto de Silvio Santos chegar a transmitir um de seus programas dominicais ao vivo para todo o Brasil desde o Ginásio de Esportes.


O Programa foi um pedido da primeira dama de Brasília, Sra. Edwaltriz Pitton Serejo e durou 3 horas com super lotação: Cerca de 25 mil pessoas estavam presentes. Toda a renda foi para a Casa do Candango. Chacrinha foi outro que veio para uma apresentação ao vivo para a Barraca de Minas Gerais em 1973. Artistas de todos os estados vinham se ampresentar. Me lembro de assistir, em 1979, ao primeiro show de Elba Ramalho em Brasília, para umas 100 pessoas, num barracão de madeira anexo à barraca da Paraíba.
Com a inauguração do Parque da Cidade (na época chamado de Rogério Pithon), o evento é transferido no início dos anos 1980, para um enorme pavilhão construído especialmente para a Festa dos Estados.
Ali, a festa tomou outra dimensão. Agigantou-se. Além das barracas de cada estado, havia dentro da Barraca de Brasília, uma área da Rede Globo, sempre com alguns atores globais famosérrimos como Francisco Cuoco, Tony Ramos, Elisabeth Savalla dando autógrafos. Surgiu também uma barraca internacional que vendia muamba apreendida e doada pela Receita Federal e que era uma das barracas mais procuradas. E, sabe-se lá, por que razão, havia uma barraca do Japão com um dos grandes ícone da festa, o camarão empanado. Outras atrações sempre presentes eram as barraquinhas de tiro ao alvo, a mulher que se transformava em Gorila (Monga) e até um tenda bizarra onde se pagava para ver animais com mutações como cabras com duas cabeças ou 5 pernas.

Tudo em prol da Casa do Candango. Era um tempo bom, que infelizmente não volta mais. A decadência veio no início dos anos 2000. Em 2002 e 2003 nem foi realizada. A Festa dos Estados até voltou em 2004, mas foi um último suspiro e sucumbiu definitivamente.
Mas fica a lembrança nas mentes de cada brasiliense que viveu a época e hoje se assumem também “candangos”. Desde sua primeira edição, a festa era mágica. Era o ponto máximo do ano em Brasília. Todos sacavam suas japonas, gorros e luvas para aguentarem o vento frio cortante do árido planalto central e iam felizes encarar os lacerdinhas que tingiam as roupas com o marrom avermelhado característico do nosso cerrado. E quando digo todos, eram todos mesmo. O “barato” da festa era encontrar desde o porteiro do prédio ao ministro ou deputado.

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Fonte: Nacional
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Projeto de lei federal ‘implode’ licenciamento ambiental, afirma especialista
A especialista do Observatório do Clima criticou ainda o texto por reduzir a competência e as atribuições de autoridades e instituições públicas no processo de licenciamento, a exemplo do ICMBio

Projeto de lei fragiliza controle ambiental ao permitir afrouxamento nas licenças, diz especialista. Foto: Divulgação/SSP-AM
Por Lucas Pordeus León, da Agência Brasil
O Projeto de Lei (PL) 2159/2021 que cria um marco para o licenciamento ambiental, em tramitação no Senado, “implode” o processo de licenciamentos no Brasil e seria o maior retrocesso ambiental em 40 anos, avaliou a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo.
Segundo a especialista, as mudanças realizadas no Senado não resolveram os problemas do texto que chegou da Câmara, ainda em 2021. “Essa proposta, se aprovada como está, significará o maior retrocesso na legislação ambiental dos últimos 40 anos, desde a Constituição. Ela realmente implode com o licenciamento ambiental no Brasil. A maior parte dos licenciamentos vai ficar na forma de Licença por Adesão e Compromisso (LAC). Isso significa, na prática, um autolicenciamento”, disse à Agência Brasil.
Suely Araújo sustenta que o LAC não prevê estudos ambientais pelo empreendedor. “Você só faz um documento descrevendo o empreendimento. E você não apresenta alternativas técnicas e locacionais, que estão na essência da avaliação de impactos ambientais. Você só descreve o que quer fazer”, acrescentou, destacando que o licenciamento é a principal ferramenta para a prevenção de danos ambientais.
Relatores
O Projeto de Lei 2.159 tramita de forma simultânea nas comissões de Meio Ambiente (CMA) e de Agricultura (CRA) do Senado. A matéria tem uma relatoria dividida entre o senador Confúcio Moura (MDB-RO) e a senadora Tereza Cristina (PP-MS) com apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Ao justificar o LAC, os relatores afirmam que será realizada uma fiscalização por amostragem dos empreendimentos com licença ambiental simplificada e que não será autorizada a LAC no caso de supressão de vegetação nativa.
A expectativa é que a matéria seja aprovada nas duas comissões na próxima semana antes de ir ao plenário do Senado. O senador Confúcio Moura admite que a proposta é polêmica e que tem divergências, mas acredita na capacidade de aprovação
“Esse projeto é necessário para o Brasil, que tem uma parafernália de normas em várias instâncias. Se uma obra é proposta em Minas Gerais, ela não tem as mesmas normas que no Pará. O objetivo dessa legislação é uma padronização para poder eliminar essa série de normas, muitas delas até divergentes entre os estados, no sentido de pacificação”, disse o senador na CMA nesta terça-feira (13).
Porte e impacto
A coordenadora do Observatório do Clima, Suely Araújo, critica o texto por permitir o licenciamento na modalidade LAC para empreendimentos de portes e potencial poluidor pequenos e médios, só excluindo os de grande impacto ambiental.
“[Os grandes empreendimentos] não pegam nem 10% dos processos. Ou seja, 90% dos processos de licenciamento no Brasil vão passar a ser um apertar de botão e a licença está impressa. É isso que eles estão fazendo. Os empreendimentos que têm EIA [Estudo de Impacto Ambiental], que eles estão excluindo da LAC, são aqueles empreendimentos gigantes”, disse.
Ela cita as barragens de Mariana e Brumadinho, que romperam em Minas Gerais (MG), como exemplos de empreendimentos de médio porte. “Grande parte dos empreendimentos minerários, que são muito impactantes, não são classificados como grande porte e grande impacto”, completou.
Autoridades e comunidades
A especialista do Observatório do Clima criticou ainda o texto por reduzir a competência e as atribuições de autoridades e instituições públicas no processo de licenciamento, a exemplo do ICMBio, da Funai e do Ipham, o que deve afetar comunidades quilombolas e indígenas.
“Só será consultada a autoridade ligada aos quilombolas se o território estiver titulado ou quando a terra indígena estiver homologada. Só uma pequena parte dos territórios quilombolas são titulados”, comentou Suely Araújo.
Segundo a especialista, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) perderia o poder de veto que tem atualmente. “Do jeito que está no texto, o ICMBIo é ouvido, mas ele não tem mais poder de veto. Então, o ICMBIo é muito enfraquecido, assim como outros órgãos gestores de áreas protegidas”, acrescentou.
Segundo o relatório do senador Confúcio, são definidas premissas desburocratizadoras para a participação das autoridades envolvidas no processo de licitação, entre outras premissas, a participação “deve ocorrer em prazos estabelecidos; não obsta, no caso de sua ausência no prazo estabelecido, a continuidade da tramitação do processo de licenciamento ambiental nem a expedição da licença”.
Agropecuária
Outra crítica à proposta é a exclusão de licenciamento para atividades agropecuárias.O relator, senador Confúcio, argumentou que os licenciamentos variam de acordo com o tamanho do empreendimento agropecuário e do impacto ambiental.
“O pessoal vai falar que ‘passou a boiada’. Nós colocamos as tipologias dos empreendimentos bem definidos. Por exemplo, do agro, um fazendeiro que vai confinar 10 bois tem um procedimento. Um que vai confinar 50 mil bois, tem outro procedimento. É pela característica do empreendimento e o potencial poluidor”, explicou.
A ambientalista Suely Araújo diz que o projeto é “a mãe de todas as boiadas” e que a exigência de licenciamento é apenas para a pecuária intensiva, sendo permitida a isenção da licença para a pecuária extensiva – que se utiliza de grandes áreas de pastagem.
Ao negarem emendas que pretendiam incluir a pecuária extensiva entre as com licenciamento obrigatório, os relatores justificaram que “as atividades agropecuárias, no tocante à supressão de vegetação nativa e regulamentos do CAR, já são muito bem reguladas pelo Código Florestal, sendo desnecessário imputar ao produtor rural um ônus adicional”,
O relator Confúcio diz ainda que a dispensa de licenciamento ambiental para agropecuária “não exime o empreendedor de obter, quando exigível, autorização de supressão de vegetação nativa, outorga dos direitos de uso de recursos hídricos ou de outras licenças, autorizações ou outorgas exigidas em lei”.
Melhorias
Os senadores reclamam que os processos licitatórios no Brasil são lentos, cheios de regras contraditórias, e que dificultam o desenvolvimento econômico, como destacou o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA).
“Não tem país que dê conta de se desenvolver com esse tipo de morosidade. Ninguém quer fazer nada de forma irresponsável, mas chega um ponto que a coisa fica inviável. Você não pode fazer uma ferrovia porque não pode fazer a ferrovia. Você não pode fazer uma hidrovia porque não pode. Uma coisa assim é insana”, destacou.
A coordenadora do Observatório do Clima, Suely Araújo, reconhece os problemas do licenciamento, mas avalia que as mudanças propostas pelo parlamento não resolvem problemas operacionais.
“Temos problemas? Temos. Os processos demoram e poderiam ser mais previsíveis. A gente pode discutir uma série de melhorias procedimentais. No lugar de garantir mais pessoal para realizar os licenciamentos, você começa a transformar o licenciamento em um apertar de botão. Essa é a distorção”, respondeu.
Apesar de apontar que as equipes responsáveis pelos licenciamentos são pequenas, os principais problemas seriam relacionados a estudos mal feitos. “Sejam empreendedores públicos ou privados, os estudos são insuficientes, incompletos, que levam o processo a ter anos de duração”, finalizou.
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RBTrans presta esclarecimentos sobre transporte público em audiência na Câmara
Superintendente destacou necessidade de renovação da frota e transparência na gestão

O superintendente da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans), Clendes Vilas Boas, compareceu à Câmara Municipal de Rio Branco para prestar esclarecimentos sobre a situação do transporte público na capital.
Na manhã desta terça-feira (13), o superintendente da RBTrans, Clendes Vilas Boas, compareceu à Câmara Municipal de Rio Branco para prestar esclarecimentos sobre os desafios do transporte público na capital. A audiência atendeu a um requerimento dos vereadores, que cobraram respostas sobre a operação do sistema e as medidas para melhorar o serviço.
Clendes enfatizou a importância da transparência com a população e reconheceu os problemas no sistema, mas afirmou que a gestão está trabalhando para solucioná-los.
“Não tem nenhum transporte no mundo que não dá problema. O importante é corrigir e melhorar o serviço”, declarou.
Um dos temas centrais foi o empréstimo em tramitação na Câmara para renovar a frota de ônibus. O superintendente afirmou que os recursos são essenciais para modernizar o transporte coletivo e garantir um serviço mais eficiente à população. “O empréstimo já foi aprovado pelo Parque Tecnológico, e agora aguardamos a decisão dos vereadores”, explicou.
A renovação da frota é apontada como prioridade para resolver os principais gargalos do sistema, como atrasos e falhas na operação. A RBTrans promete manter o diálogo com a população e o Legislativo para avançar nas melhorias.
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Brasil atinge menor índice de pobreza em 12 anos, com avanço significativo no Acre
Estudo revela que 8,5 milhões saíram da pobreza em 2024; no estado, extrema pobreza caiu 42% e renda média subiu 8,8%

A melhoria desses indicadores também é reflexo da elevação da renda média mensal da população com rendimento, que no estado subiu de R$ 2.087 em 2023 para R$ 2.271 em 2024. Foto: internet
Um estudo do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) revelou que o Brasil registrou em 2024 seus melhores indicadores sociais desde 2012, com destaque para o Acre, que apresentou uma das reduções mais expressivas nos índices de pobreza do país. Os dados mostram que:
Taxa de extrema pobreza no estado despencou de 13,2% para 7,6% (queda de 42%)
Pobreza geral recuou de 51,5% para 46,2%
Renda média mensal subiu 8,8%, de R$ 2.087 em 2023 para R$ 2.271
“Essa evolução reflete o acerto das políticas públicas integradas entre governo, iniciativa privada e sociedade civil”, afirmou Marky Brito, da Secretaria de Planejamento do Acre. O estado acompanhou a tendência nacional que tirou 8,5 milhões da pobreza e 1,9 milhão da miséria em 2024.
Os especialistas atribuem os resultados ao fortalecimento de programas sociais, geração de emprego e investimentos em educação. No Acre, a redução recorde da miséria – a menor em 12 anos – sinaliza que o estado está construindo um caminho sustentável para reduzir desigualdades e promover justiça social.
Metodologia baseada em dados oficiais
A pesquisa foi realizada com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise foi conduzida pelas coordenações de Estatística e de Estudos Sociais do IJSN.
As linhas de pobreza e extrema pobreza foram calculadas utilizando valores de renda domiciliar per capita, ajustados para 2024. Foram considerados em situação de pobreza os indivíduos com renda mensal de até R$ 692,54 e em situação de extrema pobreza os que vivem com até R$ 217,37 mensais. Esses critérios seguem referenciais do Banco Mundial e da literatura especializada.
Com base nesses parâmetros, o IJSN estimou o número de pessoas em situação de vulnerabilidade social em cada unidade da federação e calculou as respectivas taxas. O objetivo do estudo é subsidiar políticas públicas com evidências científicas, permitindo uma análise regionalizada dos avanços e desafios na superação da pobreza no Brasil.
Instituto Jones dos Santos Neves
Vinculado à Secretaria de Estado de Economia e Planejamento (SEP) do Espírito Santo, o IJSN tem como finalidade produzir conhecimento e subsidiar políticas públicas por meio da elaboração e implementação de estudos, pesquisas, planos, projetos e organização de bases de dados estatísticos e georreferenciados, nas esferas estadual, regional e municipal, voltados ao desenvolvimento socioeconômico daquele estado.