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Candidatos a governos estaduais declaram R$ 1,1 bilhão em bens; confira patrimônios

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Edifício sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Valor é da declaração de 156 candidatos que fizeram o pedido de registro de candidatura no TSE; prazo final é na segunda-feira (15)

Os 156 candidatos a governos estaduais que fizeram pedido de registro de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até a manhã deste sábado (13) possuem juntos R$ R$ 1,1 bilhão em bens. O valor representa uma média de R$ 7,2 milhões em patrimônio por pessoa. Os valores declarados por cada candidatura vão de R$ 230, de Juliete (UP), candidata ao Governo do Rio de Janeiro, a R$ 372,9 milhões, de Argenta (PSC), candidato do Rio Grande do Sul.

Ao fazerem o registro no TSE, os candidatos precisam entregar uma série de informações, entre elas a declaração de bens. Por meio da ferramenta, é possível observar, por exemplo, o crescimento patrimonial de políticos.

Observando o valor total declarado neste ano, depois de Argenta (PSC), o segundo candidato a governo com maior patrimônio declarado é o ex-governador de Rondônia Ivo Cassol (PP), com R$ 134,4 milhões; seguido pelo governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), com R$ 109 milhões. Em quarta posição está o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), com R$ 79,8 milhões.

No caso de Ivo, em 2010, ao disputar uma vaga ao Senado, para a qual foi eleito, ele  declarou R$ 29,9 milhões em bens, o que mostra que, em 12 anos, o candidato teve um crescimento patrimonial de 349%.

Nesse mesmo período, dados declarados ao TSE mostram que o senador Eduardo Braga (MDB), candidato ao governo do Amazonas, dobrou o patrimônio, quando se observa o valor de 2010, ocasião em que ele se elegeu pela primeira vez ao Senado.

O terceiro maior crescimento patrimonial entre os candidatos que já pediram o registro no TSE é do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), apesar de o número absoluto não ser tão significativo quanto o de outros nomes que disputam governos estaduais. Em 2018, quando se candidatou ao governo pela primeira vez, ele declarou R$ 32,5 mil, e agora informou ter R$ 281,4 mil, um crescimento de 765%. Uma aplicação de renda fixa do tucano aumentou quatro vezes.

Em nota, a assessoria de Leite ressaltou que “o crescimento patrimonial é perfeitamente compatível com a renda que obteve como governador entre janeiro de 2019 e março de 2022, além de estar baseado sobre uma base muito baixa, já que em 2018 o candidato consumiu seu patrimônio investindo em estudos na Universidade de Columbia e na Fundação Getulio Vargas”.

“Ao assumir como governador, Eduardo Leite recebeu o subsídio de R$ 25,4 mil mensais. O aumento patrimonial é referente às economias que fez durante o período, equivalentes a cerca de 30% do total recebido”, afirmou, ressaltando que observando o número absoluto é possível “perceber a normalidade do patrimônio”.

O senador licenciado Sérgio Petecão (PSC-AC) é o 12º na lista, com um crescimento patrimonial de 250%. Em 2018, ele declarou R$ 1 milhão em bens; já neste ano, informou ter R$ 3,7 milhões.

Em nota, a assessoria de Ivo Cassol afirmou que a família do candidato “é pioneira em Rondônia, chegando ao estado na década de 1970”, e que “desde então, com muito trabalho, todos prosperaram e construíram o patrimônio pessoal”. A assessoria ressaltou que Ivo “se notabiliza como empreendedor”, e que grande parte do seu faturamento vem do setor de energia elétrica e pecuária.

“Todos os seus rendimentos são fruto de um trabalho árduo ao longo de décadas, junto com a sua família. Em relação ao crescimento patrimonial nos últimos anos, ele se deve ao fato de, como bom gestor, ter feito as melhores escolhas, realizado investimentos bem-sucedidos, em razão de sua grande habilidade em observar o mercado e saber definir uma estratégia de negócios”, afirmou.

Sérgio Petecão e Eduardo Braga não responderam até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

O prazo final para fazer o pedido de registro de candidatura acaba na próxima segunda-feira (15).

Confira os valores declarados até sábado (13):

Acre

 

Gladson Cameli (PP): R$ 5,2 milhões
Sérgio Petecão (PSD): R$ 3,7 milhões
Jorge Viana (PT): R$ 3,7 milhões
Márcio Bittar (União): R$ 3,3 milhões
Professor Nilson (PSOL): R$ 513,9 mil
Mara Rocha (MDB): R$ 183,5 mil
David Hall (Agir): R$ 12,5 mil

Alagoas

 

Rui Palmeira (PSD): R$ 915,1 mil
Professor Cícero Albuquerque (PSOL): R$ 557,5 mil
Luciano Almeida (PRTB): nenhum bem cadastrado

Amapá

 

Gianfranco (PSTU): R$ 265 mil
Clécio (Solidariedade): R$ 88,5 mil
Gilvam Borges (MDB): nenhum bem cadastrado
Gesiel de Oliveira (PRTB): R$ 160 mil
Jaime Nunes (PSD): R$ 35.774.294,92

Amazonas

 

Eduardo Braga (MDB): R$ 35,8 milhões
Amazonino Mendes (Cidadania): R$ 3,9 milhões
Carol Bratz (PDT): R$ 640,8 mil
Wilson Lima (União): R$ 296,8 mil
Ricardo Nicolau (Solidariedade): R$ 141 mil

Bahia

 

ACM Neto (União): R$ 41,7 milhões
João Roma (PL): R$ 5,6 milhões
Jerônimo (PT): R$ 515,2 mil
Kleber Rosa (PSOL): R$ 309 mil

Ceará

 

Capitão Wagner (União): R$ 1 milhão
Roberto Cláudio (PDT): R$ 763,1 mil
Serley Leal (UP): R$ 177,9 mil
Zé Batista (PSTU): R$ 105 mil
Elmano de Freitas (PT): R$ 72,2 mil

Distrito Federal

 

Ibaneis Rocha (MDB): R$ 79,8 milhões
Rafael Parente (PSB): R$ 9,2 milhões
Izalci Lucas (PSDB): R$ 8,7 milhões
Lucas Salles (DC): R$ 1,4 milhão
Leila Barros/Leila do Vôlei (PDT): R$ 471,2 mil
Leandro Grass (PV): R$ 285 mil
Keka Bagno (PSOL): nenhum bem cadastrado
Robson (PSTU): nenhum bem cadastrado
Coronel Moreno (PTB): nenhum bem cadastrado

Espírito Santo

 

Aridelmo (Novo): R$ 29,8 milhões
Capitão Vinícius Sousa (PSTU): nenhum bem cadastrado

Goiás

 

Ronaldo Caiado (União Brasil): R$ 24,9 milhões
Major Vitor Hugo (PL): R$ 1,5 milhão
Wolmir Amado (PT): R$ 1 milhão
Edigar Diniz (Novo): R$ 1 milhão
Gustavo Mendanha (Patriota): R$ 946,1 mil

Maranhão

 

Lahesio Bonfim (PSC): R$ 4,6 milhões
Weverton (PDT): R$ 4,2 milhões
Professor Joas Moraes (DC): R$ 1,2 milhão
Simplício (Solidariedade): R$ 570 mil
Carlos Brandão (PSB): R$ 478,7 mil
Edivaldo (PSD): R$ 192,4 mil
Frankle Costa (PCB): nenhum bem cadastrado
Hertz Dias (PSTU): nenhum bem cadastrado

Minas Gerais

 

Kalil (PSD): R$ 3,6 milhões
Carlos Viana (PL): R$ 3,6 milhões
Marcus Pestana (PSDB): R$ 1,5 milhão
Lorene Figueiredo (PSOL): R$ 123,5 mil
Vanessa Portugal (PSTU): R$ 100 mil
Renata Regina (PCB): nenhum bem cadastrado

Mato Grosso do Sul

 

Eduardo Riedel (PSDB): R$ 20,7 milhões
André Puccinelli (MDB): R$ 6,9 milhões
Carlos Viana (PL): R$ 3,6 milhões
Marquinhos Trad (PSD): R$ 2,8 milhões
Rose Modesto (União): R$ 679 mil
Adonis Marcos (PSOL): R$ 164, 9 mil
Giselle (PT): nenhum bem cadastrado

Mato Grosso

 

Mauro Mendes (União Brasil): R$ 109 milhões
Moisés Franz (PSOL): R$ 115 mil

Pará

 

Helder Barbalho (MDB): R$ 18,7 milhões
Zequinha Marinho (PL): R$ 2,3 milhões
Adolfo Oliveira (PSOL): R$ 491 mil
Cleber Rabelo (PSTU): R$ 40 mil

Paraíba

 

João (PSB): R$ 1,4 milhão
Veneziano Vital do Rego (MDB): R$ 1,2 milhão
Pedro Cunha Lima (PSDB): R$ 977 mil
Adjany Simplício (PSOL): nenhum bem cadastrado
Major Fábio (PRTB): nenhum bem cadastrado
Nascimento (PSTU): nenhum bem cadastrado

Pernambuco

 

Miguel Coelho (União): R$ 2 milhões
Anderson Ferreira (PL): R$ 1,8 milhão
Marília Arraes (Solidariedade): R$ 1,2 mil
Danilo Cabral (PSB): R$ 980,7 mil
Raquel Lyra (PSDB): R$ 340,6 mil
Pastor Wellington (PTB): R$ 337,4 mil
Jadilson Bombeiro (PMB): R$ 210 mil
Cláudia Ribeiro (PSTU): nenhum bem cadastrado

Piauí

 

Silvio Mendes (União): R$ 1,9 milhão
Rafael Fonteles (PT): R$ 1,6 milhão
Madalena Nunes (PSOL): R$ 520 mil
Coronel Diego Melo (PL): R$ 395,2 mil
Geraldo Carvalho (PSTU): R$ 200,6 mil
Gustavo Henrique (Patriota): nenhum bem cadastrado

Paraná

 

Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD): R$ 8,8 milhões
Requião (PT): R$ 896,9 mil
Joni Correia (DC): R$ 620 mil
Professora Angela (PSOL): R$ 321,8 mil
Gomyde (PDT): R$ 88,4 mil
Vivi Motta (PCB): R$ 32,2 mil
Professor Ivan (PSTU): nenhum bem cadastrado

Rio Grande do Norte

 

Fábio Dantas (Solidariedade): R$ 1,3 milhão
Fátima Bezerra (PT): R$ 978,6 mil
Rosália Fernandes (PSTU): R$ 210 mil
Bento (PRTB): R$ 60 mil
Clorisa Linhares (PMB): R$ 1,8 mil
Nazareno Neris (PMN): nenhum bem cadastrado

Rio de Janeiro

 

Rodrigo Neves (PDT): R$ 873,8 mil
Paulo Ganime (Novo): R$ 213 mil
Cláudio Castro (PL): R$ 194 mil
Cyro Garcia (PSTU): R$ 164,8 mil
Marcelo Freixo (PSB): R$ 78,9 mil
Juliete (UP): R$ 203,99

Rondônia

 

Ivo Cassol (PP): R$ 134,4 milhões
Marcos Rogério (PL): R$ 2,3 milhões
Coronel Marcos Rocha (União): R$ 1 milhão
Pimenta de Rondônia: R$ 120 mil

Roraima

 

Antonio Denarium (PP): R$ 21,5 milhões
Rudson Leite (PV): R$ 1,2 milhão
Teresa Surita (MDB): R$ 922,2 mil
Fábio Almeida (PSOL): R$ 26 mil

Rio Grande do Sul

 

Argenta (PSC): R$ 372,9 milhões
Luiz Carlos Heinze (PP): R$ 8,3 milhões
Ricardo Jobim (Novo): R$ 7,2 milhões
Vieira da Cunha (PDT): R$ 1 milhão
Onyx Lorenzoni (PL): R$ 981,8 mil
Edegar Pretto (PT): R$ 666,5 mil
Rejane de Oliveira (PSTU): R$ 520 mil
Vicente Bogo (PSB): R$ 300 mil
Eduardo Leite (PSDB): R$ 281,4 mil

Santa Catarina

 

Jorge Boeira (PDT): R$ 7,5 milhões
Odair Tramontin (Novo): R$ 6,9 milhões
Gean Loureiro (União): R$ 3,2 milhões
Jorginho Mello (PL): R$ 2,4 milhões
Carlos Moisés (Republicanos): R$ 2 milhões
Ralf Zimmer (Pros): R$ 1,8 milhão
Décio Lima (PT): R$ 1,5 milhão
Professor Alex Alano (PSTU): R$ 301,5 mil

Sergipe

 

Fábio (PSD): R$ 1,2 milhão
Delegado Alessandro (PSDB): R$ 900 mil
Professor Aroldo Felix (UP): R$ 679,4 mil
Dr. Antonio Cláudio Geriatra (DC): R$ 509 mil
Rogério Carvalho (PT): R$ 485 mil
Niully Campos (PSOL): R$ 230 mil

São Paulo

 

Rodrigo Garcia (PSDB): R$ 5,1 milhões
Vinicius Poit (Novo): R$ 3 milhões
Tarcísio (Republicanos): R$ 2,3 milhões
Elvis Cezar (PDT): R$ 2,2 milhões
Fernando Haddad (PT): R$ 595 mil
Carol Vigliar (UP): R$ 205 mil
Altino (PSTU): R$ 192,5 mil
Edson Dorta (PCO): R$ 14 mil
Gabriel Colombo (PCB): nenhum bem cadastrado

Tocantins

 

Paulo Mourão (PT): R$ 6,7 milhões
Ronaldo Dimas (PL): R$ 548,2 mil
Karol Chaves (PSOL): R$ 66 mil

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Brasil

Pesquisa revela que rios do Acre passaram a ser alternativas do tráfico internacional de drogas

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Juruá e Acre, além de outros 12 rios da Amazônia, passaram a ser utilizados com mais frequência por causa da lei do abate de aeronaves. A ação do tráfico fez explodir a violência na Amazônia, incluindo o Acre

Rio Juruá banha a capital do Juruá, Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução

Tião Maia, ContilNet

O aumento na taxa de homicídios em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, o segundo maior município do Estado do Acre, no período de 2005 a 2020, foi como uma explosão em termos de violência: 595% em 15 anos.

A taxa saiu de 4,3, de 1996 a 2004, para 30, no período de 2005 a 2020, o segundo maior índice da região Norte do país. O primeiro ficou com Eirunepé, município do Amazonas, que tem uma população estimada em 33 mil habitantes. Entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes. Mas, entre 2005 e 2020, esse número explodiu: 34 homicídios a cada 100 mil habitantes – um aumento vertiginoso de 819%.

Além de terem em comum a situação geográfica, Cruzeiro do Sul e Eirunepé, embora estejam em estados diferentes, são banhadas pelo mesmo rio, o Juruá, um dos afluentes do Rio Amazonas. Assim como esses dois, existem outros quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem de rota para o tráfico que envolve Brasil, Peru, Colômbia e Bolívia. São eles: Abunã, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xié.

O resultado da pesquisa está publicado na revista Piauí deste mês, com base em estudos sobre Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira, produzido por pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com a participação do IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia.

Cerco ao transporte de droga pelo ar fez aumentar uso dos rios, mostra pesquisa

De acordo com a publicação, a hipótese para o aumento da violência que atinge pequenos municípios na região amazônica banhados por essas águas tem uma explicação: com o cerco aos aviões, intensificou-se o uso de barcos no escoamento da droga.

A mudança no transporte do entorpecente aconteceu depois de 2004, ano em que o governo brasileiro colocou em prática uma política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Com a nova lei, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.

O escoamento pela água, um meio de deslocamento mais demorado, exige uma dinâmica própria e influencia as comunidades atingidas, argumentam os estudiosos. Os longos trajetos, por exemplo, levam os criminosos a empregarem diferentes barqueiros, contratarem pessoas para fazer a segurança do carregamento, fornecer equipamentos, estocar a droga, entre outras funções. “Isso acaba trazendo a atividade ilegal para uma proximidade muito maior com a população local”, diz Rodrigo R. Soares, professor titular da cátedra Fundação Lemann no Insper e líder da pesquisa.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia. Foto: Rio Acre/Assis Brasil

Mudanças na logística fizeram explodir a violência em cidades ribeirinhas

As estimativas do estudo indicam que a mudança na logística para movimentar a droga ocasionou, entre 2005 e 2020, 27% do total de 5.337 mortes em 67 cidades da região Oeste da Amazônia margeadas pelos dezesseis “rios de cocaína”. Elas têm menos de 100 mil habitantes, estão longe das grandes cidades e do cruzamento de rodovias, o que diminui as chances de as mortes estarem relacionadas a disputas fundiárias ou desmatamento ilegal. A prevalência de óbitos acontece entre homens de 20 a 49 anos, por uso de arma de fogo ou faca.

Os estudos mostram que o Brasil possui cerca de 8 mil km de fronteira com três países que concentram o plantio de coca na região, que está dividido da seguinte forma: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%), segundo o relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês). Até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para norte-americanos e europeus, onde estão os maiores compradores.

A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. O Brasil, que até então figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro colocado, atrás de Estados Unidos e Colômbia, apontam dados da UNODC de 2021. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km².

Uma das medidas para inibir o tráfico veio em 2004 com a chamada Lei do Abate. A medida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma longa discussão no Congresso e com as Forças Armadas. A lei sinalizava que o governo estava disposto a “combater, com as armas adequadas, a invasão de nossas fronteiras por quadrilhas internacionais de narcotraficantes”, afirmou o então ministro da Defesa, José Viegas Filho.

Àquela altura, o país montava uma infraestrutura própria para agir nesse campo – havia pouco controle sobre o espaço aéreo da Amazônia, o que facilitava voos carregados de drogas vindos de países andinos. Em 2002, o Sistema de Vigilância da Amazônia e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam) entraram em operação sob a justificativa de aumentar a vigilância e o controle do tráfego aéreo, das fronteiras, monitorar comunicações clandestinas, rotas de tráfico e contrabando, além de identificar pistas escondidas e garimpos ilegais. Anos mais tarde, em 2005, o Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) iniciava suas atividades em Manaus.

Assim que a Lei do Abate passou a valer, a FAB diz ter registrado uma redução imediata de 32% no número de voos irregulares. O primeiro relato de interceptação de avião suspeito veio a público em 2009, quando uma aeronave vinda da Bolívia foi alvo de disparos de advertência pelos militares brasileiros após o piloto se negar a obedecer. Depois dos tiros, o avião, que carregava 176 kg de pasta base de cocaína, pousou numa estrada de terra em Rondônia.

O estudo liga a interdição aérea ao volume da droga apreendida. Com a migração de parte do comércio ilegal para os rios e estradas, o Brasil dobrou a quantidade de cocaína detida por mar, terra e ar entre 2004 e 2005: foi de 7,7 toneladas para 15,7 toneladas, segundo estatísticas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) à época.

No entanto, a estratégia usada para dificultar o tráfico de drogas pelo ar pode ter estimulado um novo problema. Segundo o estudo dos pesquisadores brasileiros, a geografia da floresta favoreceu a rápida adaptação do narcotráfico. A análise indica que a violência nas cidades ao longo das vias acessadas mudou de padrão depois da Lei do Abate. O estudo também aponta o aumento de mortes por overdose, sinalizando maior presença de drogas em circulação. “Observamos que diversos municípios com zero casos de overdose antes de 2005 passaram a ter episódios esporádicos desde então”, afirmam os pesquisadores, alertando ainda para a provável subnotificação de casos.

Existem quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”. Foto: Reprodução

Disputa pelo monopólio do tráfico na região entre facções criminosas

Os pesquisadores alertam que é praticamente impossível enfrentar o problema numa região do tamanho da Amazônia, maior que a União Europeia, apostando só na presença ostensiva da polícia ou das Forças Armadas. “Tem que pensar em algum uso de tecnologia que seja capaz de acompanhar isso e gerar alertas que acionem uma reação”, sugere a pesquisa, citando drones, radares móveis e melhor coordenação entre os órgãos de fiscalização e autoridades dos países vizinhos. Outra ação vital é oferecer às comunidades locais alternativas que gerem renda, preservem a floresta e o modo de vida tradicional, a fim de evitar o envolvimento dos moradores com o narcotráfico e impedir possível “entrincheiramento de algum grupo criminoso ali na região que consiga um monopólio”.

A disputa pelo monopólio do tráfico de drogas na Amazônia sugerida pela pesquisa foi diagnosticada pelo Fórum de Segurança Pública em um relatório de 2022, citado no estudo sobre os “rios de cocaína”. A análise do Fórum abordou o interesse de facções do Sudeste, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, de São Paulo, pelo controle da região entre 2015 e 2016. O relatório cita ainda que “algumas facções locais compreenderam melhor os mecanismos de funcionamento das redes ilegais através da Amazônia”.

Esse fenômeno suscitou o surgimento de organizações regionais, como a Família do Norte, no Amazonas. Cientes disso, os estudiosos do Insper e da USP compararam os homicídios ocorridos após 2015, tentando identificar algum aumento de óbitos a partir da interferência das facções. Os números mostram que a taxa de mortes se manteve similar durante todo o período a partir de 2004, quando a restrição aérea foi implementada.

Por fim, os pesquisadores ressaltam que, além dos esforços brasileiros para conter o crime organizado, é imprescindível uma cooperação internacional, “principalmente na região andina, para garantir uma abordagem coordenada ao tráfico de cocaína, com maior troca de informações e práticas de segurança transnacional”.

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Com repasses de R$ 32,5 milhões, Acre chegou a 98% de execução de recursos da Lei Paulo Gustavo, diz governo federal

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Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais

Maior parte dos recursos foi destinada a projetos de audiovisual. Foto: Lucas Dutra/FEM

O Acre foi um dos estados que mais se destacou na execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo, com mais de 98% do montante recebido sendo investido na cultura local. Ao todo, o estado e seus 22 municípios executaram R$ 32,5 milhões, sendo R$ 23,86 milhões direcionados ao setor audiovisual e R$ 8,68 milhões para diversas outras manifestações culturais, como música, dança, pintura e artes digitais.

Entre os municípios acreanos, Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais e R$ 1,27 milhão em outras áreas culturais. As cidades de Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá e Feijó também se destacaram na execução dos recursos, contribuindo para o fortalecimento da cultura no estado.

A Lei Paulo Gustavo, sancionada em 2022, foi criada para apoiar o setor cultural durante a pandemia de Covid-19. Inspirada no legado do humorista Paulo Gustavo, que faleceu em decorrência da doença, a lei destinou recursos a estados, municípios e ao Distrito Federal, com o objetivo de ajudar artistas e produtores culturais a manterem suas atividades durante a crise. Com uma execução recorde, a lei se consolidou como o maior investimento direto na cultura na história do Brasil, promovendo o fortalecimento da economia criativa e a valorização das expressões culturais locais.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, fez questão de ressaltar a importância da Lei Paulo Gustavo para o desenvolvimento cultural e social do Brasil. “A lei é responsável pelo desenvolvimento econômico, social e artístico ao injetar recursos financeiros nos municípios e estados, gerando emprego, renda e dignidade para o nosso povo. A cultura está diariamente na vida dos brasileiros, e por isso leis de incentivo, como a Paulo Gustavo, são fundamentais para fomentar e evidenciar a diversidade da nossa gente e as diferentes formas de se fazer cultura”, afirmou.

Em nível nacional, os recursos da Lei Paulo Gustavo somaram R$ 3,93 bilhões, o maior investimento na história do país para o setor cultural. Com uma execução recorde de 95% dos recursos, a lei se consolidou como um importante pilar de apoio à cultura, especialmente em um momento tão desafiador como a pandemia de Covid-19.

O Acre, ao lado de outros estados que também se destacaram, como o Espírito Santo e o Paraná, é exemplo de como a aplicação desses recursos tem gerado impacto positivo na economia e na vida das pessoas. A execução eficiente no estado mostra como é possível investir em cultura e fortalecer a identidade local, ao mesmo tempo em que se geram novas oportunidades para a população.

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Governo Federal propõe expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado

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Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional

Modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Foto: internet

O Governo Federal anunciou a criação de uma proposta legislativa que visa expandir o acesso ao crédito consignado para os cerca de 42 milhões de trabalhadores com carteira assinada (CLT) no Brasil, especialmente aqueles com dificuldades de acesso a este tipo de financiamento. A principal novidade da proposta é a criação de uma plataforma que permitirá aos bancos e instituições financeiras consultar diretamente o perfil de crédito dos trabalhadores por meio do eSocial, o sistema eletrônico obrigatório que reúne informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais dos empregados de todo o país.

O crédito consignado, uma das modalidades de empréstimo mais populares no Brasil, tem as parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento do devedor. Essa modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Atualmente, a legislação permite que trabalhadores com carteira assinada acessem o crédito consignado, mas a exigência de convênios entre empresas e bancos dificulta a adesão de pequenas e médias empresas, limitando o acesso ao serviço.

O projeto foi discutido em uma reunião com o presidente Lula, os ministros Haddad e Luiz Marinho, além dos presidentes de cinco dos maiores bancos públicos e privados do país, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Durante o encontro, ficou claro que a proposta busca eliminar a necessidade de convênios entre as empresas e os bancos, facilitando a oferta de crédito para trabalhadores de diversos setores, independentemente do porte da empresa em que trabalham.

Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional, conforme indicou o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

As regras sobre o limite do crédito consignado, como o teto de 30% da renda mensal do trabalhador comprometida com o empréstimo, deverão permanecer inalteradas. Além disso, os trabalhadores poderão utilizar até 10% do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a multa por demissão sem justa causa para o pagamento das parcelas, caso se desliguem da empresa.

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