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‘Surpreende, mas não deveria’, diz virologista brasileira que assessora OMS sobre varíola do macaco

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Nigéria vive surto de varíola do macaco desde 2017
WIKIMEDIA COMMONS

Alguns países do continente africano vivem há anos surto da doença, mas ela só acendeu sinal de alerta ao se disseminar rapidamente por países ricos nas últimas semanas

Em menos de um mês, mais de 900 casos de varíola do macaco foram detectados em países fora do continente africano, onde em algumas localidades a doença é endêmica (ocorre com frequência). Autoridades sanitárias globais acenderam um sinal de alerta na tentativa de frear o avanço do surto. Para quem estuda o assunto há décadas, algo semelhante já poderia ser imaginado se o mundo olhasse com mais atenção o que acontece na África.

Em entrevista ao R7, a virologista Clarissa Damaso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e membro do Comitê Assessor da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Pesquisa com o Vírus da Varíola, é taxativa ao dizer que “as evidências estavam aí para mostrar que alguma hora isso [surto fora da África] iria acontecer, se não fosse com monkeypox [nome em inglês da varíola do macaco], [seria] com outra doença”.

As evidências às quais ela se refere são surtos em andamento em países como a Nigéria, que desde 2017 já registrou mais de 500 casos suspeitos e 200 confirmados, segundo a OMS.

“De 2009 a 2019, a República Democrática do Congo acumulou mais de 18 mil casos de monkeypox”, complementa a pesquisadora, que estuda o vírus da varíola há 35 anos.

Em seu site, o CDC (Centros para Prevenção e Controle de Doenças), dos Estados Unidos, descreve que “casos de varíola do macaco em pessoas que ocorreram fora da África estão ligados a viagens internacionais ou animais importados, inclusive casos nos Estados Unidos, bem como em Israel, Singapura e Reino Unido”.

Todavia, o surto atual mudou um pouco o que já havia sido visto sobre a varíola do macaco, a começar pela dificuldade – ou quase impossibilidade – de rastrear as pessoas que teriam viajado com o vírus da África para a Europa.

O primeiro caso recente, notificado no Reino Unido em 6 de maio, foi de um homem com histórico de viagem para a Nigéria. Alguns dias depois, outras duas pessoas que vivem juntas foram diagnosticadas com varíola do macaco, mas não tinham tido (aparentemente) nenhum contato com o caso inicial.

“O surto atual é a primeira vez que o vírus foi transmitido de pessoa para pessoa na Inglaterra, onde as ligações de viagem para um país endêmico não foram identificadas”, afirmou nesta semana a UKHSA (Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido).

Cerca de uma semana depois dos casos na Inglaterra, pacientes começaram a aparecer em serviços de saúde de Portugal com sintomas clássicos da doença: lesões ulcerativas na pele.

O mesmo ocorreu na Espanha, onde muitos dos pacientes tinham relação com um festival LGBTQIA+ nas Ilhas Canárias e com uma sauna para adultos em Madri.

Do outro lado do oceano Atlântico, o primeiro caso de varíola do macaco foi confirmado nos Estados Unidos em 18 de maio. Era um jovem que havia viajado para o Canadá, país que também confirmou casos a partir do dia 23.

Desde então, a doença já foi detectada em todos os continentes, exceto na Antártida.

“Para todo mundo, foi uma certa surpresa – não deveria ser. Para os virologistas, isso não é uma surpresa. Não é a primeira vez que monkeypox sai da África”, lembra a virologista.

O primeiro surto de varíola do macaco fora da África foi registrado nos Estados Unidos em 2003, cerca de três décadas após o vírus ter sido detectado em um humano – ele foi descoberto em 1958 em colônias de primatas.

Identificou-se que roedores importados da África como animais de estimação transmitiram o vírus para cachorros, que o passaram para humanos. Quarenta e sete casos foram confirmados em seis estados.

Posteriormente, casos esporádicos foram registrados em viajantes procedentes da Nigéria entre 2018 e 2021, nos EUA, Reino Unido, Israel e Singapura.

Para Clarissa, o aparecimento esporádico de casos fora da África pode ter feito com que o problema não fosse abordado da maneira correta.

“Hoje, em um mundo globalizado, não podemos mais ter esse tipo de coisa de que a doença é de um determinado país, é do mundo. Também não se pode ter essa concepção de que doenças da África não importam, é absurdo. As coisas só se movimentam quando afetam países desenvolvidos e em desenvolvimento. Tem que ter um olhar mais atento para o que acontece em países africanos. Com o ebola [2014-2016], foi a mesma coisa, mas foram poucos casos que saíram da África.”

Poderia ser pior

Cepa da Nigéria é menos virulenta que a encontrada na bacia do Congo

Cepa da Nigéria é menos virulenta que a encontrada na bacia do Congo – NIAID-NIH

A virologista explica que o surto atual é causado pela cepa do vírus da varíola do macaco da África Ocidental, a mesma da Nigéria, que provoca quadros leves, semelhantes aos da catapora, em adultos saudáveis.

“A nossa sorte – e não podemos nos dizer que estamos com sorte – é que a cepa que saiu da África foi a da Nigéria, que é de um vírus bem menos virulento.”

A outra cepa que circula no continente é a da bacia do Congo, que, segundo a OMS, “parece causar doença grave com mais frequência, com taxa de letalidade relatada anteriormente de até cerca de 10%”. A taxa de mortalidade da cepa da África Ocidental observada naquele continente está em torno de 1%.

Clarissa ressalta que, ainda assim, crianças, grávidas e pessoas com imunossupressão podem evoluir para quadros graves caso sejam infectadas.

Embora haja um crescimento exponencial de novos casos, a especialista chama atenção para a baixa taxa de transmissão secundária que tem sido observada em alguns países. Na prática, isso mostra que o vírus passa de uma para outras duas pessoas, em média.

“O que estamos observando também é que, tirando os países que têm sido o epicentro desse surto – Espanha, Portugal e Reino Unido –, em alguns está aumentando o número de casos, mas a maioria tem um caso ou dois. Ou seja, são pessoas que vieram [de fora], e não está havendo uma transmissão secundária intensa. É uma característica de monkeypox não ter uma taxa de transmissão secundária muito extensa”, detalha a especialista.

Esse cenário é um facilitador para frear as infecções, desde que sejam usadas as estratégias que funcionaram há mais de 40 anos para erradicar a varíola tradicional, considera a pesquisadora.

É necessário identificar as pessoas que tiveram contato próximo com o indivíduo infectado e isolá-las. Além disso, as poucas vacinas disponíveis mundialmente devem ser usadas em trabalhadores da linha de frente do atendimento dos casos e pessoal de laboratórios que realizam os exames diagnósticos.

Em comunicado recente, a OMS considera o risco geral de saúde pública global em nível “moderado”, mas faz a seguinte ressalva: “A transmissão generalizada de humano para humano já está em andamento, e o vírus pode estar circulando sem reconhecimento por várias semanas ou mais”.

Jovens e eventos sociais

Nos países onde o número de casos é significativo, autoridades têm relatado uma forte conexão da varíola do macaco com eventos sociais, como festas e bares, e pacientes majoritariamente jovens (abaixo de 40 anos).

Por ser uma doença transmitida por contato muito próximo de pele e secreções como saliva e espirro, entende-se que ambientes com grande aglomeração de pessoas estejam por trás do aumento de infectados.

Na Europa, a preocupação é que as festas de verão possam aumentar o tamanho do surto se não houver controle da transmissão nas próximas semanas.

“À medida que entramos na temporada de verão na região europeia, com reuniões de massa, festivais e festas, estou preocupado que a transmissão possa acelerar-se, pois os casos atualmente detectados estão entre aqueles que praticam atividade sexual e os sintomas são desconhecidos para muitos”, afirmou o chefe da divisão europeia de OMS, Hans Kluge, em comunicado.

Não se sabe até o momento se a predominância no público abaixo de 40 anos tem relação com uma eventual proteção oferecida pela vacina contra a varíola tradicional, aplicada até meados dos anos 1970, ou com o fato de a cadeia de transmissão envolver círculos de indivíduos mais jovens.

Muito tem se falado sobre os casos recentes terem aparecido entre homens que se identificam como gays, bissexuais ou que fazem sexo com homens, apesar de a doença já ter sido detectada em mulheres e até crianças.

Em uma transmissão ao vivo recente, o conselheiro do Programa de HIV, Hepatite e ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) da OMS, Andy Seale, ressaltou que a varíola do macaco “pode ser transmitida por contato sexual, mas não é uma doença sexualmente transmissível”.

“Muitas doenças podem se espalhar por contato sexual. Você pode ter uma tosse ou um resfriado por meio de contato sexual, mas isso não significa que sejam doenças sexualmente transmissíveis. Tipicamente, você precisa de uma troca de fluidos vaginais ou sêmen, que têm um elemento de contágio para transmitir a doença [quando é sexualmente transmissível].”

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Diante do que tem sido observado mundialmente nos últimos dias, Clarissa entende que em algum momento deve haver um caso importado de varíola do macaco aqui.

O país tem condições de testar casos suspeitos, acrescenta ela, mas é preciso treinar os profissionais de saúde para identificar sintomas e, mais do que isso, investigar a situação epidemiológica.

Na prática, isso significa verificar se aquele indivíduo esteve em algum local onde há casos, teve contato com alguém daquelas localidades ou se existe alguma maneira de ter tido contato, como, por exemplo, em uma festa.

“Monkeypox não existe no Brasil até hoje. Então, se uma criança em uma cidade do interior, sem contato com ninguém que veio de fora, começa a ter um quadro parecido, e os pais não têm nada, eu não consigo pensar na possibilidade de ser monkeypox. […] O primeiro caso a aparecer certamente vai ter que ter contato com alguém de fora”, esclarece a virologista da UFRJ.

O fato de ser um vírus conhecido há décadas, com baixa taxa de mutação, para o qual há vacinas, ainda que em quantidade limitada, e alguns medicamentos antivirais disponíveis tranquiliza especialistas como Clarissa. “Eu acho que não há motivo para pânico.”

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Suspeito preso por levar 11 fuzis para a Penha foi liberado da prisão pela Justiça 12 dias antes

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Leandro Rodrigues da Silva, de 38 anos, tinha sido preso pela Polícia Rodoviária Federal no dia 15 de janeiro com 30 kg de drogas, mas foi solto na audiência de custódia no dia 18.

Fuzis seriam levados para o Complexo da Penha. Foto: Divulgação

Leandro Rodrigues da Silva, de 38 anos, foi preso pela Polícia Federal, na madrugada desta quinta-feira (30), dirigindo um carro que levava 11 fuzis, de calibres 5,56 e 7,62, para o Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio.

A prisão de Leandro aconteceu 12 dias depois dele ser liberado em uma audiência de custódia, em Campos dos Goitacazes, no Norte Fluminense. Ele havia sido preso por tráfico de drogas.

Morador da Zona Oeste do Rio, com ensino médio completo e se apresentando como motorista de aplicativo, Leandro foi preso no dia 15 de janeiro por policiais rodoviários federais, quando dirigia um Ford Fiesta, no quilômetro 203, da BR-101, em Casimiro de Abreu, no Norte Fluminense.

No veículo, os policiais rodoviários encontraram:
  • 31,5 kg de maconha distribuídos em 41 tabletes em um saco preto;
  • 1.439 frascos de líquido de cheirinho de loló;
  • Dois galões de líquido semelhante a cheirinho de loló;
  • 2 pacotes com pinos transparentes vazios;
  • R$ 1.874 em dinheiro.

Levado para a 121ª DP (Casimiro de Abreu), Leandro mudou a versão de que tinha pegado a droga em Casimiro de Abreu. Ele contou que o carro foi abastecido na Linha Vermelha e seguia para Macaé. Em nenhum momento, segundo o Ministério Público, alegou estar fazendo uma corrida de aplicativo ou falou em entregador ou destinatário.

Leandro ficou preso por dois dias e, às 10h09 do dia 18 de janeiro, foi levado para a audiência de custódia. Na ocasião, o juiz Iago Saúde Izoton decidiu pela soltura de Leandro contrariando o MP, que pediu a conversão da prisão em flagrante para preventiva.

Em suas alegações, o magistrado informou que “a prisão preventiva se revela excepcional”:

“Na espécie, a despeito de a quantidade de droga apreendida com o custodiado não poder ser considerada pequena, é certo que a quantidade de droga não pode ser analisada isoladamente das demais circunstâncias que constam nos autos… não se vê anotação prévia por qualquer delito pendendo em desfavor do custodiado. Some-se a isso o fato de o custodiado não ter sido preso na posse de arma de fogo e de munições”.

A partir daí, o magistrado determinou que Leandro se apresentasse diante do juiz todo dia 10 de cada mês. Após a decisão do juiz, a promotora Luíza Klöppel, do Ministério Público estadual recorreu.

O MP apontou a gravidade do caso envolvendo o transporte da droga e o risco de que Leandro voltasse a delinquir.

Os 11 fuzis apreendidos pela PF tinha a marca de uma caveira semelhante ao personagem Justiceiro — Foto: Divulgação

12 dias depois da liberdade, os fuzis

Na noite de quarta-feira (29), os policiais federais da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE) iniciaram uma vigilância na serra, na altura do município de Paulo de Frontin em busca de uma moto que transportava material ilícito.

Ao encontrarem a BMW, presenciaram o momento em que o ocupante repassou duas malas ao motorista de um Nissan preto. O veículo foi seguido pelos policiais até um posto de gasolina onde foi feita a abordagem.

O motorista do carro era Leandro Rodrigues da Silva. O da moto, Gutenberg Samuel de Oliveira. Ambos foram presos e os veículos apreendidos.

O carregamento tinha 8 fuzis, de calibre 5.56 e 3 fuzis calibre 7.62, além dos veículos utilizados no transporte das armas. Todas as armas com a marca de uma caveira semelhante ao personagem Justiceiro, da Marvel.

De acordo com as investigações preliminares, o arsenal teria como destino os complexos da Penha e do Alemão, onde está baseada a chefia da facção Comando Vermelho.

A PM aprendeu, em 2023, 13 fuzis com o selo de uma caveira semelhante ao personagem Justiceiro, dos quadrinhos da Marvel — Foto: Reprodução

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Argentina corta taxas e Brasil volta a ter maior juro real do mundo

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País comandado por Javier Milei caiu da primeira para a terceira posição, após seu Banco Central reduzir suas taxas de juros em 3 pontos percentuais. Topo agora está com Brasil e Rússia.

Presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Ciro De Luca/ Reuters

O Brasil passou a ter o maior juro real do mundo. Na noite de quinta-feira (30), o Banco Central da Argentina, antiga líder do ranking, promoveu um novo corte em sua taxa básica de juros e tirou o país da primeira posição.

A autoridade monetária reduziu suas taxas de 32% para 29% ao ano. Segundo a instituição, essa redução é consequência da “consolidação observada nas expectativas de menor inflação.”

A Argentina encerrou 2024 com uma inflação anual de 117,8%. Apesar de ainda estar bastante alta, houve uma forte desaceleração em relação aos 211,4% registrados em 2023.

Com a taxa de juro real é calculada, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, o juro real argentino caiu para 6,14%. O país passou, então, para a terceira colocação no ranking.

Quem assume a ponta é antigo vice-líder, o Brasil. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar mais uma vez a Selic em 1 ponto percentual, levando o juro nominal a 13,25% ao ano, e o juro real a 9,18%.

Na segunda posição vem a Rússia, com uma taxa de juros real de 8,91%.

Veja abaixo os principais resultados da lista de 40 países.

Ranking de juros reais
Taxas de juros atuais descontadas a inflação projetada para os próximos 12 meses

Alta da Selic

Na última quarta-feira (29), o Copom anunciou sua decisão de elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, para a casa de 13,25% ao ano.

Na decisão anterior, em dezembro, a autoridade monetária já havia elevado a taxa básica em 1 ponto percentual, para a casa de 12,25% ao ano. A decisão marca a quarta alta seguida da Selic.

Juros nominais

Considerando os juros nominais (sem descontar a inflação), a taxa brasileira permaneceu na 4ª posição.

Veja abaixo:

  1. Turquia: 45,00%
  2. Argentina: 29,00%
  3. Rússia: 21,00%
  4. Brasil: 13,25%
  5. México: 10,00%
  6. Colômbia: 9,50%
  7. África do Sul: 7,75%
  8. Hungria: 6,50%
  9. Índia: 6,50%
  10. Filipinas: 5,75%
  11. Indonésia: 5,75%
  12. Polônia: 5,75%
  13. Chile: 5,00%
  14. Hong Kong: 4,75%
  15. Reino Unido: 4,75%
  16. Estados Unidos: 4,50%
  17. Israel: 4,50%
  18. Austrália: 4,35%
  19. Nova Zelândia: 4,25%
  20. República Checa: 4,00%
  21. Canadá: 3,25%
  22. Alemanha: 3,15%
  23. Áustria: 3,15%
  24. Espanha: 3,15%
  25. Grécia: 3,15%
  26. Holanda: 3,15%
  27. Portugal: 3,15%
  28. Bélgica: 3,15%
  29. França: 3,15%
  30. Itália: 3,15%
  31. China: 3,10%
  32. Coreia do Sul: 3,00%
  33. Malásia: 3,00%
  34. Cingapura: 2,98%
  35. Dinamarca: 2,60%
  36. Suécia: 2,50%
  37. Tailândia: 2,25%
  38. Taiwan: 2,00%
  39. Suíça: 0,50%
  40. Japão: 0,50%

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De volta à planície: ex-presidentes da Câmara contam como é deixar o poder e analisam desafios do novo comando

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Deputados que já comandaram a Casa analisam desafios do próximo presidente. Próxima eleição da cúpula da Câmara está marcada para 1º de fevereiro.

Sucessão de Arthur Lira no comando da Câmara será decidida no dia 1º de fevereiro. Foto: Reprodução

No dia 1º de fevereiro, a Câmara dos Deputados elegerá um novo presidente para comandar o colegiado pelos próximos dois anos.

Com isso, Arthur Lira (PP-AL) retornará à planície, termo comumente utilizado no Congresso para se referir aos deputados sem acesso aos cargos da mesa diretora, instalada no centro do plenário. Quem se senta à mesa, tem visão completa dos deputados que estão no plenário, abaixo, por isso o termo “planície”.

A reportagem ouviu cinco ex-presidentes da Câmara que responderam às mesmas perguntas sobre o que a saída desse cargo representou em suas trajetórias. João Paulo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Rodrigo Maia não deram entrevistas.

Os políticos ouvidos pela reportagem foram eleitos para o cargo, ou seja, não estão incluídos aqueles que assumiram após a saída do titular.
Estranhamento

A experiência da maioria mostra que o dia seguinte após deixar o cargo pode ser seguido de estranhamento pelo poder perdido.

“Claro que a mudança é brusca e que você tem que passar por um período de adaptação, porque você não pode criar ilusão que o poder é seu”, diz Aldo Rebelo, que ocupou o posto entre 2005 e 2007 pelo PCdoB.

“Você ocupou a maior função da Câmara e depois você vai ter dificuldade de ser outra coisa. Todo mundo vai dizer que você já foi presidente, aí você não pode ser líder, você não pode ser presidente de comissão, porque você já foi tudo”, avalia Rebelo.

Rebelo presidia a Câmara em 2007, quando Lula tomou posse para o segundo mandato à frente da Presidência da República. Foto: Moreira Mariz/Agência Senado

Uma saída é recorrer às antigas amizades, conta Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara pelo PT entre 2007 e 2009.

“É óbvio que é outra rotina, mas no meu caso, eu tive uma condição que abrandou muito essa mudança. Eu já tinha sido líder de bancada, líder de governo, quando assumi a presidência. Então eu tinha os meus contatos, as amizades.”

Entre os políticos, há desconforto em retornar para os trabalhos da Casa sem ocupar um cargo decisório.

“Eu reconheço que, toda vez que um presidente sai e precisa voltar para o plenário, fica uma situação talvez um pouco desconfortável”, afirma Michel Temer, presidente da Casa em três ocasiões.

Segundo ele, seu processo foi mais simples por ter deixado o comando da Câmara pela primeira vez, em 2001, para assumir a presidência do MDB, e na segunda vez, em 2010, ser vice-presidente da República, na chapa de Dilma Rousseff.

Em dezembro de 2010 mostra Michel Temer, presidente da Câmara fazendo seu discurso de despedida da Casa após ser eleito vice-presidente do Brasil. Foto: Agência Brasil/Arquivo

“Realmente, como se costuma dizer, quando você volta para a planície, você pode ter algumas dificuldades. Mas no meu caso, especialmente, tendo em vista as circunstâncias da presidência do partido, eu logo tive uma grande atuação política. Não senti tanta falta”, diz.

Uma saída, segundo Marco Maia, presidente da Câmara pelo PT entre 2011 e 2013, é não entrar no cargo com expectativa de prolongação de poder.

“Quando você tem a compreensão de que o mandato de um presidente de um poder é passageiro e, portanto, não é uma coisa pra vida toda, você encara isso com mais tranquilidade, com mais calma, com mais eficiência”, diz. “A grande sacada, a grande saída para mim neste caso está exatamente em você entender e compreender que o poder é efêmero.”

A dificuldade de reposicionamento depois da saída do comando da Casa também aflige Arthur Lira. Ele é cotado para assumir um cargo na Esplanada dos Ministérios do presidente Lula, mas há impasse sobre sua adesão completa ao governo.

Papel como ex-presidente

O grupo é uníssono sobre a relevância de um ex-presidente da Câmara. Para Aécio Neves, presidente da Casa de 2001 a 2002 pelo PSDB, a experiência é útil para os sucessores.

“Eu sou constantemente procurado, independentemente de estar ou não nas vitrines ou nos holofotes”, afirma. “O que busco hoje é dar serenidade, tranquilidade e dar minha contribuição sem precisar estar à frente, como já estive no passado, das decisões, dos principais embates.”

Para ele, não estar à frente das decisões demanda, muitas vezes, maturidade. “[É importante] encontrar o seu espaço e não ficar disputando permanente holofotes. É um exercício de maturidade que todos os homens públicos devem buscar em determinado momento da sua trajetória.”

Chinaglia afirma que a forma como o presidente atua impacta no tamanho da influência após a saída do cargo. “Depende de como você chegou, de como você se elegeu e de como você saiu. Se o cara for respeitado pelo que ele pensa, se cumpre com a palavra, ele se mantém influente”, afirma.

O tempo, contudo, nem sempre é aliado. “É evidente que, com o tempo, muitos que conviveram com você em determinadas funções deixaram de ser parlamentares. Com o tempo, é natural que vá diluindo esse poder”, diz Chinaglia.

Câmara e Senado: Poder Legislativo federal tem eleições internas no começo do ano legislativo, em fevereiro. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Desafios

Os ex-presidentes da Casa destacam o novo protagonismo da Câmara em relação ao Orçamento, com influência cada vez maior do Poder Legislativo em detrimento do Executivo.

Para alguns, há excessos na nova atuação. “Eu acho que há um certo, digamos, exagero na volúpia do Congresso sobre nacos do Orçamento”, afirma Aécio.

“[Hoje] o Congresso influencia cada vez mais decisivamente na definição da alocação das verbas públicas. Eu acho que essa é uma diferença fundamental, [antes] o Congresso se preocupava em legislar e conectar-se com a sociedade.”

Marco Maia afirma que a discussão sobre o orçamento tem tamanho maior que as outras pautas da Casa, e que por isso os deputados buscam atuar mais como “executores do que legisladores”.

O desgaste pelas quedas de braço do Legislativo com o Executivo e com o Judiciário é apontado pelos ex-presidentes como um desafio importante para o próximo ciclo da Câmara.

“Restabelecer os limites das atribuições de cada um dos poderes é o maior desafio do próximo presidente da Câmara. Sobretudo, garantir uma relação harmoniosa entre os poderes, definindo limites”, diz Aécio.

O então deputado Aécio Neves foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, em 2001 — Foto: Divulgação

Marco Maia também defende a importância de moderação neste momento. “O presidente da Câmara deve ser um produtor de equilíbrio. Ele não é quem tensiona, ele não é quem disputa, ele não é quem se atribui a si a papéis que não são do Legislativo. O papel dele é equilibrar”, afirma.
A avaliação, no entanto, não descarta o incômodo causado pela atuação dos outros poderes. “[O maior desafio] é encontrar um caminho para uma relação de harmonia, porque nós não temos mais essa harmonia, o Supremo [Tribunal Federal] virou uma espécie de superpoder ou o poder de tudo. Não é mais o poder judiciário, ele é o poder de tudo”, diz Maia.

Para Chinaglia, o desafio do momento é defender a democracia, impondo respeito à Casa, mas viabilizando a construção de acordos. Já Temer destaca a importância da regulamentação total da reforma tributária, iniciada no ano passado.

“Verificar quais as reformas que, embora tenham sido feitas, ainda demandam atualização. Porque de tempos em tempos, você precisa atualizar as reformas que foram feitas, como por exemplo, a da Previdência, acho que esse é um desafio para o próxi

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