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O carro popular pode acabar no Brasil, e a culpa também é sua

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Modelo tarifário que deu origem a veículos mais acessíveis tem 28 anos, e vem perdendo apelo junto aos compradores

Foto: Divulgação

Thiago Moreno - CNN

Em fevereiro de 1993, o governo federal assinou a regulamentação do carro popular. Para ser apto a pagar apenas 0,1% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) na época, o motor do veículo não poderia ter mais que 1.000 cm³. A partir de então, as montadoras nacionais correram para se aproveitar dessa facilidade que prometia aumentar as vendas ao oferecer carros mais baratos e simples.

Foi daí que surgiram modelos como o Fiat Uno Mille, VW Gol 1000 e outros de menor sucesso, como o Chevrolet Chevette Júnior e o Ford Escort Hobby. A pressa foi tanta que, praticamente do dia para noite, carros pesados com motor 1.6 saíam das fábricas com propulsores 1.0. Com o tempo, a indústria se adaptou, e carros mais eficientes chegaram ao mercado do “carro mil”, como o Chevrolet Corsa e o Fiat Palio.

Entre o final da década de 1990 e o início do ano 2000, esse modelo fez sucesso. Em 2001, dados da Fenabrave, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, mostravam que 69,8% dos carros vendidos naquele ano estavam equipados com motores 1.0 ou menores. Mas os tempos mudaram.

Início do fim?

Em 2016, os dados mostraram que a participação dos carros 1.0 no total de vendas havia caído para 33,1%. Porém, voltou a crescer desde então. Isso não quer dizer que o consumidor retomou o interesse por esse tipo de veículo, porém. Nesse período, as montadoras começaram a investir em propulsores 1.0 turbinados, mais caros e eficientes, para modelos mais custosos.

Se o termo é “carro popular”, um modelo 1.0 turbo dificilmente se enquadra. Para evitar essa disparidade, a Fenabrave tem um enquadramento específico para carros acessíveis, chamado de “Veículos de Entrada”. Ele leva em consideração tanto o motor quanto a proposta do carro. Em 2003, pico de participação dessa categoria, eles representavam 49,1% das vendas no Brasil. No ano passado, eram apenas 12,7%.

Sinais de alerta

Além da participação baixa no mercado, os carros de entrada ou populares são cada vez mais difíceis de se encontrar. Na categoria da Fenabrave, hoje estão presentes apenas seis modelos, sendo que, entre eles, o VW up! acaba de sair de linha, logo após a Toyota ter feito mesmo com o Etios.

Agora, apenas Fiat Mobi, Renault Kwid, Volkswagen Gol e Fiat Uno são enquadrados como carros de entrada. Os dois primeiros já passaram dos R$ 40 mil, e o Gol tem versões ultrapassando os R$ 76 mil. O Uno também tem o destino incerto, e a Fiat deverá decidir sobre seu futuro até o final de 2021.

Enquanto apenas quatro carros 0 km são considerados oficialmente como “populares”, a Fenabrave classifica mais de 40 modelos como SUVs. Ou seja, para cada carro de entrada, existem 10 vezes mais utilitários esportivos sendo oferecidos no mercado.

Está cada vez mais caro produzir um carro popular

Mesmo com incentivos fiscais, os preços dos carros populares estão acompanhando o mercado e sofrendo consecutivos reajustes. Apesar de terem o propósito de democratizar o acesso a um automóvel 0 km, eles não estão livres das exigências legais, sejam elas por segurança ou por proteção ao meio ambiente.

Em 1993, um Fiat Uno Mille era bem mais do que básico. Encostos de cabeça e espelho do lado do passageiro eram considerados artigos de luxo. O motor, ainda carburado, não era nenhum exemplo de eficiência energética, muito menos de baixas emissões de poluentes.

Nas últimas décadas, itens como catalizadores e sistemas de captura de gases já começaram a pressionar os valores dos carros populares. Com metas cada vez mais restritas de emissões, as montadoras precisaram desenvolver propulsores mais modernos e tecnológicos, o que acrescentou custos ao desenvolvimento.

Do lado da segurança, o carro popular foi criado em um tempo em que o uso de cinto de segurança nem era obrigatório. Hoje, sem itens como freios ABS e airbags, o carro não pode nem ser fabricado.

Em 2024, também terá início a exigência de controle de estabilidade em todos os veículos feitos por aqui. E toda a tecnologia que entra no carro gera custo.

O público está muito mais exigente

Você compraria um carro hoje sem ar-condicionado? Se você disse não está junto à maioria dos compradores. Os primeiros carros populares ainda tinham quebra-vento e, hoje, se o vidro não for elétrico, causa má impressão nos consumidores.

E ainda há a conectividade. Centrais multimídia com tela de toque é algo que se popularizou nos últimos seis anos, e apenas os mais simples dos carros populares não oferecem esse recurso.

Ao deixar os carros mais equipados, as montadoras estão fazendo mais do que atender aos anseios dos compradores. Quanto mais tecnologia embarcada, maior é a oportunidade de lucro das fabricantes. É o tal do “maior valor agregado”. De qualquer forma, mesmo que existisse um carro 0 km vendido hoje, mas com a simplicidade do Uno Mille de 1993, o seu sucesso seria improvável.

Quem não tem dinheiro, está olhando carros usados. Quem tem, não quer carro simples

Não faz muito tempo que a Fiat ofertava o Mobi em promoção por menos de R$ 30 mil, atingindo em cheio uma camada da população que, de outra forma, estaria olhando carros usados. Hoje, com a desvalorização do real e os preços partindo de mais de R$ 40 mil, essa parcela da população voltou a ser alienada da possibilidade de ter um 0 km.

Na outra ponta do espectro, quem ainda tem dinheiro o suficiente para comprar um automóvel novo estava fazendo valer cada centavo. Por exemplo: enquanto os carros populares minguam, a Porsche viveu em 2020 o seu melhor ano de vendas da história no Brasil.

As montadoras partiram para os SUVs

Sabendo que o público está de olho nos utilitários esportivos, as fabricantes viram que existe mais oportunidade de lucro nos SUVs. Maiores, exigem valores mais altos dos compradores. Ao contrário dos populares, que têm margens pequenas e exigem um volume alto de vendas para fazer sentido, os utilitários esportivos apresentam uma possibilidade de se obter mais lucro por unidade comercializada.

Tanto que a onda indiana de mini-SUVs deve chegar em breve ao nosso mercado e ser o último prego no caixão do carro popular.

Perdeu sentido?

Ter um carro novo no Brasil nunca foi barato. Se, de um lado, os métodos de produção mais modernos tornaram a fabricação mais barata, de outro, os compradores e os governos exigem cada vez mais conteúdo e puxam os valores para cima. Parece até que não há mais sentido em um “carro popular”.

Mas o termo foi criado para um tipo de veículo que tinha por missão aumentar a parcela da população apta a ter um veículo 0 km, trazendo benefícios como a redução da idade média da frota nacional. Ele nunca designou carros simples. Então, quem sabe, seja possível reviver o ano de 1993 no futuro.

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MP apura favorecimento em contrato R$ 2,5 milhões para crianças autistas da Prefeitura de Tarauacá

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O contrato investigado tem vigência de 12 meses e foi firmado com base na Ata de Registro de Preços nº 009/2025, originada do Pregão Eletrônico SRP nº 90001/2025

Diante das novas informações, o órgão decidiu acompanhar de forma contínua a execução do contrato atual e solicitou ao Núcleo de Apoio Técnico (NAT/MPAC) uma análise detalhada do processo licitatório

Jornal Extra do Acre

O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio da Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Tarauacá, através do Promotor de Justiça Dr. Lucas Ferreira Bruno Iwakami de Mattos, instaurou um procedimento administrativo para apurar a execução do contrato firmado entre a Prefeitura de Tarauacá e a empresa Centro de Diagnóstico da Família LTDA, responsável pela prestação de serviços médicos especializados para pessoas com deficiência, incluindo crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O valor do contrato é de R$ 2,5 milhões.

A medida foi publicada em portaria assinada no dia 29 de junho de 2025 e considera denúncias anônimas recebidas pelo órgão que indicam possível favorecimento na contratação da empresa, cujo representante legal, Marcos Vinícius da Silva Diniz, conhecido como “Marcão”, seria padrinho de um dos filhos do atual prefeito do município.

O contrato investigado tem vigência de 12 meses e foi firmado com base na Ata de Registro de Preços nº 009/2025, originada do Pregão Eletrônico SRP nº 90001/2025. A contratação foi publicada no Diário Oficial em 5 de maio deste ano. Segundo a portaria, a empresa passou a ser responsável pela avaliação e tratamento de pessoas com deficiência por meio de uma equipe multidisciplinar, em atendimento às demandas da Secretaria Municipal de Saúde.

O MPAC destaca, no documento, que o Procedimento Administrativo anterior sobre o tema foi arquivado por perda de objeto, uma vez que os atendimentos voltaram a ser ofertados no município. No entanto, diante das novas informações, o órgão decidiu acompanhar de forma contínua a execução do contrato atual e solicitou ao Núcleo de Apoio Técnico (NAT/MPAC) uma análise detalhada do processo licitatório, visando identificar eventuais irregularidades ou direcionamento.

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Mãe denuncia ‘calvário’ por atendimento à filha com paralisia cerebral no Acre: “É uma luta desumana”

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Cansada da espera, a mãe redigiu um documento à mão e protocolou junto à Sesacre pedindo que o Estado se responsabilizasse por possíveis danos à visão da filha causados pela negligência

“Me perguntaram por que eu havia feito denúncia sobre a cadeira de rodas que nunca chegou, sobre as fraldas que ela tem direito e nunca recebeu, e sobre a consulta oftalmológica”, contou.

Dell Pinheiro

A jornalista e servidora pública Dryelem Alves usou as redes sociais para expor o drama enfrentado diariamente ao tentar garantir atendimento médico especializado para sua filha, Laís Loren, de apenas quatro anos, diagnosticada com paralisia cerebral. Em um longo e emocionado desabafo, ela revelou o calvário vivido há quase dois anos para conseguir uma simples consulta com oftalmologista pediátrico na rede pública de saúde do Acre.

“É um desabafo de uma mãe atípica”, iniciou Dryelem, visivelmente cansada, referindo-se ao processo burocrático e ineficiente que tem enfrentado. Segundo ela, Laís foi encaminhada pela neurologista para avaliação com oftalmo pediatra, mas ao chegar à consulta agendada na Fundação Hospitalar, descobriu que o profissional sequer existe no Estado, nem na rede pública, nem na privada.

“A médica nos disse que o atendimento necessário para a minha filha não existia no Acre. Recorremos ao TFD (Tratamento Fora de Domicílio), mas a Secretaria de Saúde recusou o pedido”, relatou. A negativa, segundo Dryelem, foi dada mesmo após insistência da profissional que atendeu Laís. A família então retornou à Fundação acompanhada de uma assistente social, que garantiu que haveria atendimento por meio de uma equipe rotativa. “Isso foi no início de 2023. Até hoje, nada”, lamentou.

Cansada da espera, a mãe redigiu um documento à mão e protocolou junto à Sesacre pedindo que o Estado se responsabilizasse por possíveis danos à visão da filha causados pela negligência. A solicitação, segundo ela, nunca foi respondida.

Com a falta de retorno, Dryelem buscou a Ouvidoria do Ministério Público. Somente meses depois, recebeu uma ligação da Promotoria de Saúde. “Me perguntaram por que eu havia feito denúncia sobre a cadeira de rodas que nunca chegou, sobre as fraldas que ela tem direito e nunca recebeu, e sobre a consulta oftalmológica”, contou.

A esperança reacendeu quando a mãe recebeu, recentemente, uma ligação informando que havia conseguido, enfim, uma consulta para a filha. “Achei que o Ministério Público do Acre (MPAC) tinha conseguido resolver. Mas quando chego lá, a médica me dá mais um encaminhamento, para que eu vá até a Fundação pegar outro encaminhamento, e só então, quem sabe, ser atendida por uma médica que faz cirurgia de estrabismo, que aí talvez encaminhe para uma oftalmo pediatra”, explicou, inconformada.

O ciclo de encaminhamentos e a falta de resolutividade indignam a mãe. “Por que desgastar o tempo dos profissionais, do paciente, pra fazer uma consulta, pra um encaminhamento, pra ir pra outra consulta, pra pegar outro encaminhamento?”, questiona. “É enxugar gelo. Quem sabe até os 15 anos da Lore, a gente consiga um oftalmo pediatra no Acre”, desabafou.

Alves ainda relatou que procurou novamente o MPAC, mas foi orientada a aguardar até 20 de agosto por uma resposta. “Não que esses 30 dias façam tanta diferença depois de quase dois anos esperando, mas é desgastante”, afirmou indignada.

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Expoacre: Uma Vitrine do Acre para o Brasil e para o Mundo

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Se Parintins, no Amazonas, conseguiu transformar um festival folclórico em uma potência turística e cultural, por que o Acre não pode sonhar com a criação do maior festival indígena do mundo?

Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco, 

A Expoacre é muito mais do que uma tradicional feira agropecuária. Ela representa a força do povo acreano, a riqueza da nossa terra e o potencial de um estado que busca crescer com inovação, mas sem abrir mão de suas raízes. Em seus 50 anos de história, a feira se consolidou como um espaço de celebração, negócios e identidade cultural.

Mais do que um evento anual, a Expoacre é uma verdadeira ferramenta de desenvolvimento econômico. Durante sua realização, a economia local ganha novo fôlego: empregos são gerados, o comércio se fortalece, o agronegócio ganha visibilidade, e os setores de serviços e indústria se aquecem. Pequenos, médios e grandes negócios encontram na Expoacre uma vitrine para suas marcas e produtos, expandindo mercados e parcerias.

Mas o potencial da Expoacre vai além. Ela deve — e pode — ser uma vitrine do Acre para o Brasil e para o mundo. Um palco onde apresentamos nossa cultura, nossa produção, nossa diversidade e a força do empreendedorismo local. Um espaço de identidade, onde se encontram a tradição rural e urbana, as raízes indígenas, a cultura popular e o espírito acolhedor do nosso povo.

Acabei de voltar de uma viagem ao Rio Grande do Sul, onde passei pelo Vale dos Vinhedos, por Gramado e por outras regiões encantadoras. Lá, pude ver com meus próprios olhos o potencial que o turismo tem para transformar um lugar para melhor — gerar riqueza, criar empregos e permitir que os municípios dependam cada vez menos de recursos públicos. Mas para isso acontecer, é preciso agir agora. Precisamos de políticas públicas que incentivem o turismo e, principalmente, vencer o preconceito que ainda existe em relação ao investimento em festivais turísticos e culturais.

A cada ano, turistas de diversas partes do mundo percorrem nossas florestas, visitam aldeias, se conectam com nossas manifestações étnicas, religiosas e espirituais. Esse fluxo existe e cresce, mas ainda é subestimado. Está na hora de olharmos para essa riqueza com mais ousadia.

Se Parintins, no Amazonas, conseguiu transformar um festival folclórico em uma potência turística e cultural, por que o Acre não pode sonhar com a criação do maior festival indígena do mundo? Temos tudo: os povos originários, a tradição viva, a espiritualidade, a arte ancestral e, acima de tudo, um povo que sabe acolher.

A Expoacre pode ser o embrião dessa nova visão. Um espaço onde o turismo de base comunitária, a cultura indígena e os saberes tradicionais ganhem protagonismo. Onde o Acre se apresente ao mundo como um destino autêntico, transformador e emocionante.

Além disso, a Expoacre simboliza a união de forças. Governo, prefeituras, entidades empresariais, universidades, imprensa, Sebrae, FIEAC e sociedade civil se unem para realizar um evento que é do povo e para o povo. É essa união que faz da feira um sucesso — e que pode projetar o Acre para novos horizontes.

Fortalecer a Expoacre é fortalecer o Acre. É reafirmar que temos muito a oferecer e que estamos prontos para crescer com orgulho da nossa história e coragem para inovar. A Expoacre pode — e deve — ser a ponte entre o que somos e o que queremos ser.

Marcello Moura é empresário, presidente do CDL Rio Branco e idealizador do movimento CIDADANIA EMPREENDEDORA.

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