Cotidiano
Em hospital do Acre, idoso do Amazonas com câncer no fígado recebe órgão de doadora de Rondônia: ‘Milagre’
Procedimento mobilizou forças de Saúde e Segurança de três estados para garantir que órgão chegasse ao Acre e fosse transplantado em um receptor compatível, no menor tempo possível

Elson Wanderley de França tem 61 anos e foi o 102º transplantado de fígado do Acre. Foto: Arquivo pessoal
O número 102 representa, para a numerologia, sucesso pessoal e realizações individuais. Coincidentemente, acreditando ou não nesta ferramenta, foi isto o que ocorreu com o pecuarista Elson Wanderley de França, de 61 anos. Ele é de Enviara (AM), recebeu uma nova chance de vida no Acre através do sistema de doação de órgãos e tornou-se o 102º transplantado de fígado do sistema público de Saúde do estado, tendo sido o terceiro somente em 2025.
A força-tarefa para dar uma nova chance de vida a esse paciente mobilizou os estados do Acre, Rondônia e Amazonas entre o último domingo (4) e segunda-feira (5). O relógio, neste tipo de ocasião, se torna o maior inimigo porque o fígado suporta, no máximo, entre 12 a 24 horas fora do corpo sem circulação sanguínea, de acordo com o Ministério da Saúde.
Elson sofria de cirrose e câncer no fígado desde outubro do ano passado, quando recebeu o diagnóstico em Manaus. A esposa dele, Marinês Ferreira, disse que ele entrou na fila de espera pelo fígado em dezembro.
“Através de uma ressonância, o médico detectou que ele estava com cirrose hepática e com um CA, câncer no fígado. E aí supostamente ele passaria por um transplante de fígado. E o médico encaminhou a gente para Rio Branco”, falou.

Elson Wanderley veio de avião fretado para dar tempo de fazer a cirurgia em Rio Branco. Foto: Arquivo/Fundhacre
Talvez você esteja se perguntando: ‘mas por que ele não foi para Manaus, já que ele é cidadão amazonense?’. É que a cidade de Envira fica mais próxima de Rio Branco do que da capital do Amazonas. A distância é de mais de 1,2 mil km.
Já para a capital acreana, a distância é menor: 400 km. Ainda assim, a vinda só é possível de barco ou de avião fretado.
Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) possibilita que os usuários utilizem os serviços em todo o território nacional. É comum, inclusive, que perfis compatíveis com o do doador sejam encontrados em estados diferentes.

Fígado foi captado no Hospital de Base de Porto Velho (RO) pelo Ciopaer-AC. Foto: Arquivo/Fundhacre
Generosidade
O órgão foi captado no Hospital de Base de Porto Velho e doado pela família de uma mulher que morreu na cidade rondoniense. Lá, outras três vidas também foram salvas por meio desse ato de generosidade. Após serem acionados, o helicóptero Hárpia 04 do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) saiu do Acre para captar o fígado.
Essa logística de captação do órgão, deslocamento do paciente, cirurgia e demais movimentações feitas entre a Segurança e a Saúde dos três estados levou, no total, cerca de 30 horas. Nem mesmo o tempo de chuva que encobria o estado no último fim de semana ameaçou a missão humanitária.
“Nós tivemos dificuldades somente na decolagem, porque o tempo estava fechado, mas graças a Deus deu tudo certo, deu tempo e conseguimos fazer em tempo hábil […] a gente pousou aqui com a sensação de dever cumprido”, disse o coordenador do Ciopaer, comandante Sérgio Albuquerque.

Órgão foi doado por família de Porto Velho, em Rondônia. Foto: Arquivo/Fundhacre
Órgão captado, já em solo acreano… Mas, e o paciente? Bom, Elson também já estava a caminho do Acre, vindo em um voo fretado pela prefeitura de Envira, em conjunto com a Saúde do Amazonas. A ligação veio na tarde de domingo (4), com a notícia de que ele teria que ser internado até às 11h do dia seguinte para dar certo.
“Então o governador do Acre mobilizou o governador do Amazonas, que juntamente com a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas mobilizou o prefeito da cidade de Envira e o prefeito fez o fretamento da aeronave de porte pequeno para que nós pudéssemos chegar aqui”, relembrou ela.
Fila de espera
Segundo o ‘Painel de Dados: Lista de espera e transplantes realizados’, do Ministério da Saúde, 38 pacientes – sendo 26 homens e 12 mulheres – aguardam por um transplante de fígado no estado até o último dia 12 de maio.
No geral, há 54 pessoas esperando por um órgão, sendo que destes, 14 esperam por um rim. Estes dois, além de córnea, são os únicos que a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) está habilitada para transplantar. A unidade, inclusive, é o único hospital transplantador do estado.

Fundhacre é a unidade do estado habilitada para fazer transplantes. Foto: Gleison Luz/Fundhacre
No ano anterior, 14 transplantes foram feitos, contra 18 em 2023. Em todo o Brasil, são mais de 2,3 mil pessoas no aguardo por uma doação pelo órgão.
O Acre teve a habilitação renovada para transplante de fígado em 5 de janeiro de 2024 e faz o procedimento desde 2014.
Doação
De acordo com a legislação brasileira, mesmo com a decisão da pessoa de doar os órgãos, em caso de morte, a palavra final é da família, ou seja, não é possível garantir efetivamente a vontade do doador.
Sendo assim, o diálogo com a família e amigos é essencial para que o desejo seja respeitado, dizem os médicos que trabalham com transplantes de órgãos. Se você optar por ser um doador de órgãos, o primeiro passo é avisar a família sobre a sua vontade.
Transplante
O procedimento cirúrgico levou cerca de 10 horas e nesta segunda (12), ele se recupera bem na enfermaria da Fundhacre. Antes disso, no entanto, ele passou sete dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A cirurgia, segundo o médico Tércio Genzini, responsável técnico pelos transplantes hepáticos, foi um sucesso.
“É um paciente acompanhado no nosso serviço. Então, em uma intervenção da Sesacre, foi feito o contato com a prefeitura local e via TFD ele conseguiu um transporte aéreo, chegar aqui e aproveitar a oportunidade de cura que ele tem, que é por meio do transplante”, falou.
Milagre
Elson segue internado na enfermaria da Fundhacre, ainda sem data de retorno para Envira. No entanto, esta é a menor das preocupações dele no momento, já que segue sendo assistido pela equipe médica — inclusive para verificar a adaptação do órgão com o corpo dele.
Questionado sobre qual o sentimento dele após passar pela cirurgia e receber uma nova oportunidade de vida, ele se emocionou.

Elson Wanderley de França veio de Envira (AM), recebeu órgão de doador de RO e foi transplantado no Acre. Foto: Arquivo pessoal
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Na Baixada da Sobral, arte marcial vira ferramenta de transformação social

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Em meio aos desafios enfrentados pela periferia de Rio Branco, uma iniciativa vem se destacando como símbolo de esperança. É na Baixada da Sobral, no bairro Bahia Nova, tradicional reduto de força e resistência, que o mestre e professor de Kung Fu, Nill Figueiredo, está plantando as sementes da mudança por meio da arte.
O projeto social que ele idealizou teve sua primeira atividade nesta quinta-feira (12), na Escola Tancredo Neves. Voltado para alunos de escolas públicas e para moradores da comunidade, o programa oferece aulas gratuitas de Kung Fu e Tai Chi Chuan, além de fornecer uniformes, equipamentos de treino e luta e acompanhamento para a progressão nas graduações das artes marciais.
Mas a proposta vai muito além dos golpes e movimentos precisos. A arte marcial é usada como instrumento de disciplina, autocontrole e cidadania. Para participar, os jovens precisam manter frequência escolar, boas notas e bom comportamento dentro e fora da sala de aula. “Queremos formar não apenas atletas, mas cidadãos comprometidos”, diz o professor Nill.
A meta do projeto é alcançar 800 alunos em 12 escolas da capital acreana, ampliando o alcance nas regiões que mais precisam de oportunidades. E os primeiros resultados já são visíveis.
Maria José, moradora da região e mãe de três alunas do projeto, relata uma mudança marcante no dia a dia das filhas. “Depois que começaram no Kung Fu, ficaram mais calmas”, conta emocionada.
Em uma região muitas vezes marcada pela exclusão e pela ausência do poder público, a arte resiste. E mais do que isso: transforma. Na Baixada da Sobral, o Kung Fu está ensinando mais do que defesa pessoal — mostrando que disciplina, respeito e perseverança também podem nascer na periferia. E florescer.
O gestor da escola, Laézio Lira, espera que a prática esportiva entre os alunos melhore o nível competitivo. Segundo ele, a seletiva criou um modelo de interação saudável.
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ICMBio esclarece que operação na Reserva Chico Mendes visa apenas pecuária ilegal
Coordenadora da Operação Suçuarana nega ação contra pequenos produtores e alerta sobre fake news que distorcem objetivos da fiscalização

A gestora também chamou atenção para o impacto ambiental provocado pelas invasões e pela expansão ilegal da pecuária. Foto: internet
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (14), a gerente regional do ICMBio e coordenadora da Operação Suçuarana, Carla Lessa, reafirmou o caráter seletivo das ações de fiscalização na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. A gestora esclareceu que as intervenções têm como alvo específico pecuaristas que, mesmo após notificações formais e determinações judiciais, mantiveram atividades ilegais na unidade de conservação.
Pontos-chave da operação:
Alvo específico: Pecuaristas que ignoraram múltiplas notificações do ICMBio e decisões judiciais
Base legal: Cumprimento do plano de uso sustentável definido pelos próprios extrativistas
Dados preocupantes: Aumento de 40% no desmatamento para pastos ilegais nos últimos 3 anos
Combate à desinformação: Fake News circulando sobre suposto prejuízo a pequenos produtores
Lessa destacou que a reserva – criada em 1990 como homenagem póstuma a Chico Mendes – tem 93% de seu território preservado, mas sofre pressão crescente de grileiros. “São invasores profissionais, não moradores tradicionais”, afirmou, citando casos de propriedades com mais de 500 cabeças de gado em áreas protegidas.

O ICMBio é o responsável por fiscalizar o cumprimento do plano de utilização elaborado pelos próprios moradores da reserva. Foto: captada
Carla Lessa também alertou sobre a disseminação de informações falsas nas redes sociais, que estariam distorcendo os objetivos da operação. “Não é verdade que o ICMBio está prejudicando pequenos produtores. Nosso trabalho visa proteger a reserva e garantir que ela cumpra sua função original”, afirmou.
A operação já resultou na apreensão de 1.200 animais em duas semanas, todos encaminhados para leilão público. Os recursos serão reinvestidos em ações de fiscalização e projetos sustentáveis para as 2.400 famílias extrativistas legalmente assentadas.
Próximos passos:
Intensificação do monitoramento por satélite
Parceria com MPF para ações judiciais contra invasores
Campanhas educativas sobre o plano de uso da reserva
A gestora também chamou atenção para o impacto ambiental provocado pelas invasões e pela expansão ilegal da pecuária. “Nos últimos anos, houve aumento significativo do desmatamento e da introdução de grandes rebanhos de gado, o que tem descaracterizado a finalidade da unidade de conservação”, afirmou.
Por fim, Carla Lessa pediu o apoio da sociedade para que o trabalho de fiscalização continue sendo efetivo.
“Precisamos da colaboração de todos para garantir a conservação da floresta amazônica e a proteção dos direitos das populações extrativistas que vivem na reserva”, concluiu Lessa.

A gestora esclareceu que as intervenções têm como alvo específico pecuaristas que, mesmo após notificações formais e determinações judiciais, mantiveram atividades ilegais na unidade de conservação. Foto: cedida
Destaques da entrevista:
Seletividade da ação: “Nossa atuação é cirúrgica, baseada em laudos técnicos e processos judiciais já transitados em julgado”
Proteção aos tradicionais: “As 2.400 famílias extrativistas regularizadas não são e nunca serão alvo”
Critério de atuação: Propriedades com mais de 50 cabeças de gado são priorizadas, indicando atividade comercial
Transparência: Lista completa de áreas notificadas está disponível para consulta pública
Lessa apresentou dados concretos: dos 1,3 milhão de hectares da reserva, apenas 3% estão sob conflito fundiário, concentrados em 47 áreas específicas onde se verifica desmatamento recente. “São casos flagrantes de grilagem, com documentação fraudulenta”, afirmou.
A coordenadora rebateu críticas: “Quem cumpre a lei não tem motivo para temer. Estamos cumprindo nosso dever constitucional de proteger uma unidade de conservação federal”. Ela convocou produtores irregulares a aderirem voluntariamente ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que prevê a retirada gradual dos animais sem multas.
O ICMBio/IBAMA mantém canal aberto para esclarecimentos através do Disque Denúncia Linha verde: 0800 61 8080. Novas etapas da operação estão previstas para as próximas semanas, com apoio da Polícia Federal e Força Nacional.

Segundo ela, a operação se concentra exclusivamente em áreas de pecuária ilegal, ocupadas por pessoas que desrespeitam notificações do ICMBio e decisões judiciais para desocupar o território. Foto; captada
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Larva em comida do RU da Ufac viraliza e gera revolta entre estudantes
Postagem em perfil de humor universitário mostra suposto inseto em refeição do Restaurante Universitário; comunidade reage com ironia e cobra posicionamento

Na imagem, aparece a frase “Servidos, calouros?”, acompanhada da conversa de um direct com a foto do prato. O conteúdo viralizou e foi rapidamente compartilhado em grupos de WhatsApp e perfis de estudantes.
Uma foto que circulou nesta quinta-feira (12) no perfil “Spotted UFAC” no Instagram causou polêmica ao mostrar o que parece ser uma larva em um prato de comida servido no Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal do Acre. A imagem, acompanhada da legenda irônica “Servidos, calouros?”, rapidamente viralizou entre estudantes e servidores.
Repercussão imediata:
Publicação original recebeu centenas de interações em poucas horas
Comentários ironizavam a situação: “Proteína extra no cardápio” e “Kinder Ovo do RU”
Imagem foi amplamente compartilhada em grupos de WhatsApp da comunidade acadêmica
Caso reacende críticas recorrentes sobre a qualidade da alimentação no campus
A Ufac, procurada pela reportagem, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ocorrido. O RU é um dos principais serviços de assistência estudantil da instituição, atendendo diariamente centenas de alunos com refeições subsidiadas.
Este não é o primeiro caso do tipo: em 2022, estudantes já haviam registrado queixas semelhantes sobre a presença de corpos estranhos nas refeições. A comunidade aguarda uma manifestação da administração universitária sobre as medidas de controle de qualidade que serão adotadas.
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