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Acre

Ditado popular levou Lula pela primeira vez ao tribunal há 36 anos

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Jacó Bittar e Lula em audiência em Manaus em 1984 devido aos incidentes no Acre.

Do Uol

Um ditado popular fez com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisasse sair do Estado de São Paulo pela primeira vez para uma audiência de tribunal, a exemplo do que acontece nesta quarta-feira (10), em Curitiba.

O petista e outros quatro sindicalistas foram interrogados por uma auditoria militar no dia 9 de abril de 1981, em Manaus (AM), segundo documento da Fundação Perseu Abramo. A audiência obedecia à representação do então presidente da Federação de Agricultura do Acre, Francisco Deógenes de Araújo, na Polícia Federal contra eles, aos quais acusava de “incitamento à luta armada”, “apologia à vingança” e incitamento à “luta pela violência entre as classes sociais”.

Lula estava em Brasileia (AC) e participava de uma assembleia do sindicato rural da cidade em 27 de julho de 1980 com cerca de 4.000 seringueiros. Seis dias antes, o presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasileia e presidente da Comissão Municipal do PT, Wilson de Souza Pinheiro, havia sido assassinado com tiros pelas costas, enquanto assistia à TV na sede da entidade.

“Eu fui um dia de noite lá e estava um clima pesado, muita gente armada, muita polícia, um clima muito tenso. E, aí, eu fui falar e disse o seguinte: ‘Chega de trabalhador chorar a morte de companheiro. Está chegando a hora de a onça beber água'”, afirmou Lula ao site “ABC de Luta”, que reúne depoimentos históricos de sindicalistas do ABC paulista.

“Bem, eu falei isso e depois fui no bar tomar um conhaque. A Polícia Federal tem até gravadas as conversas no bar tomando conhaque. Eu voltei para São Paulo e, quando cheguei, recebi a notícia de que os trabalhadores tinham matado o suposto assassino do Wilson de Souza Pinheiro.”

Wilson de Souza Pinheiro, morto em 1980.

A frase dita na assembleia, “chegou a hora de a onça beber água”, foi interpretada como ameaça pela polícia acriana. Lula, Chico Mendes (seringueiro morto em 1988 e então vereador de Xapuri pelo PT), José Francisco da Silva (presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura no Acre), João Maia da Silva Filho (delegado da confederação em Brasileia) e Jacó Bittar (secretário do PT) foram acusados de incitar a violência e enquadrados por subversão no artigo 36 da Lei de Segurança Nacional.

Bittar e a família são donos do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (70 km de São Paulo), que teria recebido benfeitorias das empreiteiras OAS e Odebrecht e é citado em operações da força-tarefa da Lava Jato. Em abril, perícia da Polícia Federal apontou a propriedade como sendo do ex-presidente, o que foi negado por seus advogados: “A realidade incontestável é que Lula não detém a propriedade do sítio em questão. Ignoram-se provas existentes nos autos que demonstram ter sido a compra da propriedade feita por Fernando Bittar com recursos doados por seu pai, Jacó Bittar”.

A frase ‘a onça vai beber água’ era uma forma de dizer que iríamos até as últimas consequências. E aí, a polícia cismou que a frase era o recado, a senha para o pessoal matar

Luiz Inácio Lula da Silva, no site “ABC de Luta”

Frase incentivou morte?

A acusação era que a fala havia incitado trabalhadores rurais a executarem o capataz de fazenda Nilo Sergio de Oliveira, na estrada Assis Brasil-Brasileia, no Acre, um dia depois. Nilo era o principal suspeito pela morte de Pinheiro.

“O Lula em nenhum momento incentivou ninguém a matar”, afirma o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileira Rosildo Pereira de Freitas, 52, cujo pai, Antonio Medeiros Sobrinho, 76, participou dos protestos. “Havia na época uma resistência à ocupação dos ‘paulistas’ [como os seringueiros se referiam aos compradores de terra que vinham de outros Estados]. O Lula falou no sentido de que tinha que se organizar. Se ficássemos sozinhos, iríamos perder o nosso trabalho.” Os novos fazendeiros tinham o interesse de transformar as terras de seringais em pasto para pecuária, segundo Freitas.

De acordo com o relato coletado pela fundação, logo após a morte de Nilo, foram feitas prisões em massa na região, com 15 trabalhadores encarcerados em dois municípios. “Correm notícias de que líderes rurais estão sendo torturados e, diante disso, trabalhadores passam a se entregar à polícia, assumindo coletivamente a responsabilidade pela morte de Nilo”, afirma documento da Fundação Perseu Abramo, de 1981.

“Houve muita pressão por parte da Justiça”, diz Freitas. “O seringueiro não tinha costume de ver polícia, e muitos se entregavam para evitar que outros colegas fossem ameaçados. Arrancaram unhas, bateram [na prisão]. Foi uma tragédia muito grande.”

Os cinco juízes da Conselho da 12ª Auditoria Militar negaram, por unanimidade, o pedido de prisão preventiva “feito de surpresa, à última hora”, segundo a fundação, pelo procurador Olímpio da Silva Pereira Júnior. Pereira recorreu ao Supremo Tribunal Militar, e Lula foi julgado pela ação no dia 1º de março de 1984.

Então um dos líderes da campanha por eleições diretas para presidente no país, o petista atraiu para a capital do Amazonas personalidades como a cantora Fafá de Belém e a atriz Dina Sfat, morta em 1989. Lula foi defendido pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal e vice-prefeito de São Paulo entre 1989 e 1992. Por unanimidade, o Conselho Permanente de Justiça do Exército absolveu o ex-presidente.

“A frase ‘a onça vai beber água’ é um ditado popular. Era uma forma de dizer que iríamos até as últimas consequências. E aí, a polícia cismou que a frase era o recado, a senha para o pessoal matar”, afirmou o petista ao site “ABC de Luta”. “Aí, eu fui julgado em Manaus, mas fui absolvido, acho que pelo Superior Tribunal Militar. Essa frase a gente utilizava como forma de motivar, de mexer com o brio do pessoal.”

A represália contra os seringueiros, afirma Rosildo Rodrigues Freitas, continuou até a morte de Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988, com tiros de escopeta quando saía para tomar banho em sua casa. Dois anos depois, a Justiça condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira –pai e filho, respectivamente– a 19 anos de prisão pelo assassinato. A morte de Pinheiro nunca foi elucidada. “A gente sabia de onde tinha vindo [os assassinos]. Fizeram até churrasco no dia. Mas, até hoje, nenhuma pessoa foi punida”, afirma Rosildo.

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Acre

Ministério Público do Acre emite nota sobre morte de ativista Moisés Alencastro

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Recebemos com extrema cautela a informação veiculada pela mídia acerca da hipótese de que o homicídio de Moisés Alencastro tenha decorrido de latrocínio, especialmente diante do cenário do crime tal como descrito nas próprias reportagens.

As lesões constatadas na vítima, notadamente múltiplas perfurações por arma branca e indícios de tentativa de degolamento, não se mostram, em um primeiro exame, compatíveis com a dinâmica típica desse tipo de delito patrimonial, sugerindo, ao contrário, violência exacerbada e desnecessária ao fim de subtração de bens.
Trata-se de padrão de agressão que, com frequência, revela desprezo pela condição da vítima e se associa a crimes praticados por motivação de ódio, fenômeno que infelizmente se repete em contextos diversos, como nos assassinatos de mulheres e na eliminação violenta de pessoas homossexuais. Típica ação de homofobia.
Moisés Alencastro era servidor público comprometido com o enfrentamento dessas formas de violência, atuando no âmbito do Ministério Público do Estado do Acre, junto ao Centro de Atendimento à Vítima, justamente na defesa da dignidade humana e da responsabilização penal adequada dos agressores.
Sua morte não pode ser tratada como mais um episódio banal de violência. Ela expõe, de forma dolorosa, a realidade que ainda vivemos e reforça a necessidade de avanços concretos na construção de uma sociedade mais tolerante, livre de toda discriminação, preconceito e homofobia , fundada no respeito à condição humana de todos.
Espera-se que os fatos sejam rigorosamente apurados, com a correta definição jurídica do crime e a responsabilização penal proporcional à gravidade da conduta, para que essa morte não permaneça impune — como o próprio Moisés sempre defendeu em sua atuação institucional.

Destacamos, ainda, a plena confiança no rápido e eficiente trabalho desempenhado pela Polícia Civil na elucidação do caso, inclusive, com a devida qualificação a ser dada ao crime. Desde o primeiro momento, a instituição tem empenhado esforços grandiosos para o enfrentamento deste delito, de modo a dar à sociedade a pronta resposta que se espera.

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Acre

Acidente entre moto e caminhonete deixa casal ferido em Sena Madureira

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Um acidente de trânsito envolvendo uma motocicleta e uma caminhonete deixou um casal ferido na tarde desta terça-feira (23), no município de Sena Madureira, no interior do Acre.

A colisão aconteceu na rua Augusto Vasconcelos, esquina com a rua Maranhão, nas proximidades da 4ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran). Conforme informações preliminares apuradas no local, o condutor da caminhonete teria avançado a via preferencial e atingido a motocicleta onde o casal trafegava.

Com o impacto, o condutor da moto, identificado inicialmente apenas como professor Fábio, foi arremessado e caiu dentro de um bueiro. A passageira, sua esposa — ainda não identificada oficialmente — caiu sobre a calçada e também ficou ferida.

Vídeos enviados à reportagem registram o momento exato da colisão e o atendimento prestado às vítimas logo após o acidente.

Policiais militares do setor de trânsito estiveram no local para isolar a área e controlar o fluxo de veículos, possibilitando o trabalho da perícia. O casal foi socorrido por uma equipe do Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Hospital João Câncio Fernandes para atendimento médico.

Até o fechamento desta matéria, não havia informações oficiais sobre o estado de saúde das vítimas. As circunstâncias do acidente serão apuradas pelas autoridades competentes.

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Acre

Governo do Acre antecipa salário dos servidores ativos para quinta-feira (25)

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Pagamento estava previsto para o dia 27; aposentados já receberam nesta terça (23). Medida busca facilitar compras de fim de ano e movimentar economia local

O crédito em conta estará disponível no próprio dia 25 para os servidores que recebem pelo Banco do Brasil. Nos demais bancos, o valor será creditado no dia seguinte, 26. Foto: cedida 

O governo do Acre antecipou o pagamento dos servidores públicos ativos para esta quinta-feira (25), três dias antes da data original, que seria 27 de dezembro. A medida segue a antecipação já concedida aos aposentados, que receberam nesta terça-feira (23). A decisão foi anunciada pelas Secretarias de Administração (Sead) e da Fazenda (Sefaz).

O valor será creditado no dia 25 para quem recebe pelo Banco do Brasil. Para os demais bancos, o depósito ocorrerá na sexta-feira (26). O governador Gladson Cameli afirmou que o objetivo é ajudar os servidores a se organizarem para as compras de fim de ano e fortalecer a economia local.

— A medida ajuda os servidores a se organizarem, comprarem os presentes, honrarem seus compromissos e celebrarem este período com mais tranquilidade — disse Cameli.

Os contracheques já estão disponíveis para consulta no site contracheque.ac.gov.br, no Portal de Serviços do Estado e no aplicativo MeuAC. A antecipação deve movimentar o comércio e os serviços no estado, especialmente nos setores de alimentação, vestuário e presentes, em um período tradicionalmente movimentado pelas festas de final de ano.

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