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“Deixa o cara governar”, sugere Mourão

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O país foi governado pela esquerda e pela centro esquerda. Agora é a vez da direita e de alguns da direita extremada. “Isso é a alternância democrática.

Fonte: Valor Econômico

Nas últimas décadas, segundo o vice-presidente Hamilton Mourão, o país foi governado pela esquerda e pela centro esquerda. Agora é a vez da direita e de alguns da direita extremada. “Isso é a alternância democrática. Deixa esse pacote passar. Se provar que funciona ele será eleito em 2022 e, se não funcionar, ele irá para o lixo da história”, disse o vice presidente em entrevista ao Valor. “Deixa o cara governar!”, completou.

Mourão acredita que a escalada das tensões entre os três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – na semana passada, não terá consequências concretas. “É retórica inflamada”, resumiu ele, seja do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, seja do próprio presidente Jair Bolsonaro. A nota oficial em que o general da reserva, Heleno, em resposta à uma decisão de Celso de Mello, ministro do STF, fala em “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” foi um “desabafo” que já passou, assegurou Mourão. Bolsonaro “se irrita”. Esta é, disse o vice, “uma característica pessoal do presidente” (que, na quinta-feira, avisou que não vai cumprir “decisões absurdas” da Suprema Corte).

“A gente procura conversar com ele para ele não se irritar porque quem te irrita te domina. Ele compreende, mas tem hora que ele faz os desabafos dele”, conta Mourão.

Antes de receber o Valor no gabinete da Vice-Presidência, anexo ao Palácio do Planalto, Mourão havia passado uma hora conversando com Bolsonaro “na sala dele” no Planalto.

“Ele está mais calmo?” perguntou o repórter. “Ele está calmo hoje. É sexta-feira. Sextou!”, respondeu o vice-presidente.

A entrevista ocorreu na sexta feira e ontem, diante das manifestações da sociedade, Mourão foi consultado e enviou ao Valor a seguinte nota: “Enquanto as atribuições dos Poderes estiverem sendo respeitadas, as decisões das autoridades acatadas e a disciplina das Forças Armadas mantida, como vem acontecendo, não há qualquer ameaça ao Estado de Direito Democrático no Brasil. É preciso respeitar a liberdade de expressão, opinião e pensamento no país e, muito particularmente, não usar a defesa da Democracia para suprimir direitos e causar instabilidade.”

No comando do Conselho da Amazônia desde o fim de janeiro, Mourão tem o compromisso de reduzir ao mínimo possível as queimadas no segundo semestre deste ano, frente à explosão do dos incêndios no ano passado. Ao mesmo tempo ele tenta reconstruir as relações com países europeus que deixaram de financiar o Fundo Amazônia.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Vamos falar sobre a questão institucional. Todos estamos muito preocupados com a crescente elevação da temperatura na relação entre os Poderes.

Hamilton Mourão: Não fique, não. Fique tranquila!

Valor: O senhor não teme uma crise institucional com desfecho imprevisível?

Mourão: Outros períodos da nossa história não podem ser repetidos atualmente, porque o mundo mudou, o país mudou.

Valor: Mas…

Mourão: Falam de golpe. Isso está totalmente fora de propósito, fora de ordem e fora de foco.

Valor: Totalmente?

Mourão: Totalmente! Totalmente! Pode ter certeza disso.

Deixa esse pacote passar. Se provar que funciona ele será eleito em 2022 e, se não, irá para o lixo da história”

Valor: Os últimos acontecimentos, a nota do ministro Heleno…

Mourão: Não me preocupo com isso. Acho que muita coisa é só retórica inflamada. Acho não, é retórica inflamada de ambos os lados. Existe um clima de torcida organizada para tudo, desde o remédio [a cloroquina] até decisão…

Valor: Essa polarização não é algo assustador?

Mourão: Mas esse é um fenômeno mundial. Não é privativo do Brasil.

Valor: O senhor diz que é retórica, mas mesmo assim é um negócio complicado. O que o ministro Heleno quis dizer com “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”? E o presidente?

Mourão: Esse caso do Heleno já passou. Na sexta-feira [dia 22] ele fez um desabafo com aquele encaminhamento do [ministro do STF] Celso de Mello. E o presidente se irrita. Essa é uma característica pessoal dele. A gente procura conversar com ele para ele não se irritar porque quem te irrita te domina. Ele compreende, mas tem hora que ele faz os desabafos dele.

Valor: Desabafos?

Mourão: Deixa o cara governar! Deixa o cara governar! Se ele cometer erros, dentro do limite da responsabilidade dele, como “n” governantes já cometeram, vai chegar em 2022 e ele será julgado pelo eleitorado. É assim que se processa no sistema democrático. Mas nós entramos em uma espiral tão grande no nosso país que se você olha dos cinco presidentes do período democrático, pós 64, dois sofreram impeachment, um está condenado duas vezes e os outros tiveram processos. É uma coisa de louco isso aí.

Valor: O senhor diz “deixa ele governar”…

Mourão: Fomos governados pela esquerda e pela centro esquerda e agora é a centro direita e alguns da direita mais extremada. Isso é a alternância democrática. Deixa esse pacote passar. Se provar que funciona ele será eleito em 2022 e, se não funcionar, ele irá para o lixo da história. Deixa a turma cumprir sua tarefa. Se tem algo com o qual não se concorda, então entra com uma ação ou o Congresso bloqueia. Vamos baixar as tensões!

Valor: Mas quem mais criou tensão até agora não foi o presidente?

Mourão: Eu não vejo só dessa forma. O que vem acontecendo no Brasil é que nos últimos 30 anos os Poderes Legislativo e Executivo só sofreram desgastes. No Legislativo foram os anões do Orçamento, o mensalão, o petrolão, a máfia das ambulâncias, a máfia dos sanguessugas. O Legislativo foi totalmente contaminado por escândalos de corrupção e o Executivo, atrelado ao Legislativo pelo presidencialismo de coalizão – detesto essa expressão por que para mim todo presidencialismo tem que ser de coalizão porque senão não governa – e o Executivo também. O Judiciário ficou meio que de fora disso aí e passou a ter um protagonismo além dos limites dele, começou a legislar, a interferir em decisões que eram do Executivo, sem ser contestado. Dizem que o STF diz a última palavra, mas ele está dizendo a primeira, muitas vezes.

Valor: E as conversas do presidente com o Centrão?

Mourão: Agora o presidente mudou a forma de se relacionar com o Congresso e está buscando formar uma base. Aí sentam o dedo em cima nele: ‘Ah! Você está se unindo com o Centrão’. Com quem ele vai se unir? Aí todos criticam. Você fica entre a cruz e a espada. Se não faz está errado e se faz está errado também. O que acontece, eu vejo, é que a relação entre Executivo e Legislativo vai se harmonizar. ‘Ah, mas vai ter cargos!’ Isso faz parte, sempre fez. Compete aos organismos de fiscalização cumprir seu papel e o ministro da área ficar em cima disso aí. Para que está aí a CGU [Controladoria-Geral da União]? Quando começou a distribuição de recursos do combate à covid-19 eu chamei o Wagner [Rosário, ministro da CGU] e disse para ele montar uma força-tarefa e ficar em cima porque nós não podemos contemporizar com a bandidagem. Os bandidos estão todos aí e a gente já está vendo isso nos Estados.

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“Não pode haver discussão política dentro do quartel, onde você tem que ter uma visão monolítica clara”

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Valor: O grande debate que divide o governo, no pós-pandemia, é se vai ter recursos públicos para investimentos ou se estes terão que ser financiados pelo setor privado. Como o senhor vê essa discussão?

Mourão: Você sabe, nós não podemos caminhar para o desastre. Nós herdamos um governo sem capacidade de interferir. Temos zero de capacidade de interferir e não podemos contribuir com o desequilíbrio fiscal. Então vamos ter que buscar uma forma de voltar a induzir o funcionamento da economia com um mínimo de recursos públicos porque não temos espaço fiscal. Tenho conversado sobre isso e o governo pode botar uns R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões de mais endividamento para obras de infraestrutura. Também não se pode chegar e dizer que temos R$ 60 bilhões para investir, porque o governo não conseguiria gastar.

Valor: Como atrair o investidor privado?

Mourão: Temos que retomar a agenda de reformas que crie um ambiente de negócios mais virtuoso para que os investidores privados venham participar. Talvez tenhamos, também, que continuar o auxílio emergencial, não de R$ 600 mas de uns R$ 200. O dinheiro nas mãos dos mais necessitados volta imediatamente [para a economia] porque ele vai comprar comida, pagar uma conta de luz.

Valor: Voltando à questão política, faz sentido unir o inquérito das “fake news” com campanha eleitoral?

Mourão: Acho que essa questão das “fake news” é choro de perdedor e isso virou moda no Brasil. O camarada perde a eleição e, como aconteceu na reeleição da Dilma, se passou não sei quanto tempo discutindo isso aí e quando foi para o tribunal, havia provas extremamente consistentes em termos de uso do poder econômico. A imprensa veiculou que a chapa havia sido absolvida por excesso de provas.

Valor: “Fake news” e impeachment têm chances de prosperar?

Mourão: Querer levar para as “fake news” e dizer que isso foi abuso do poder econômico na campanha como foi a do presidente Bolsonaro – e na minha eu gastei R$ 20 mil – é despropositado. Mas faz parte da pressão política. Querer desqualificar a eleição do presidente Bolsonaro por fatos dessa natureza é totalmente inadequado. Quanto ao impeachment, não vejo clima no Congresso para isso e, a partir do momento em que estiver azeitado o relacionamento com os partidos políticos do chamado Centrão, dificilmente evolui.

Valor: O senhor falou de uma relação mais harmoniosa entre o Executivo e o Legislativo. E com o Judiciário como fica?

Mourão: Temos que voltar a estender as pontes. Temos que reconstruir essa relação e dialogar com o Supremo. Julgo que o STF tem que entender as suas responsabilidades. Essa questão das decisões monocráticas de ministros, em temas que são extremamente controversos, é problemática. Vamos lembrar que em 2016 o Senado deu um “ippon” na decisão do [ministro do STF] Marco Aurélio de Mello de afastar o Renan [Calheiros, que era presidente da Casa]. O Senado não deu nem pelota.

Valor: Na reconstrução das relações o senhor considera importante rever o processo das decisões monocráticas?

Mourão: Isso acho que dependeria do tema e seria de foro intimo do ministro. Se for um tema de muita repercussão e alta sensibilidade, o próprio ministro encarregado deveria recorrer ao plenário. Tem que haver uma conversa e estabelecer um clima de bom senso para isso.

Valor: Quando o presidente diz “chega!” e fala que não acatará mais “decisões absurdas” do STF, o que ele está pretendendo?

Mourão: Havia um crescendo de decisões que o prejudicam. Ele nomear um diretor da Polícia Federal que está dentro dos parâmetros legais não é motivo para ninguém interferir na decisão dele. Teve a questão dos diplomatas venezuelanos e do inquérito do Alexandre de Moraes (ministro do STF). Na minha visão, os ministros ofendidos deveriam procurar a Procuradoria-Geral da República, o procurador-geral abriria investigação e, feito aquilo, entregaria para um juiz de primeira instância.

Valor: A cúpula militar está coesa apoiando as medidas e o comportamento do presidente ou há uma divisão? O senhor poderia dar um panorama e uma temperatura?

Mourão: As Forças Armadas são um bloco monolítico pelas características delas. Nós somos um grupo social e somos formados, fazemos mestrado e doutorado juntos. Isso gera um espírito de corpo e um conhecimento mútuo muito profundo. As nossas divergências de pensamento estão centradas na atividade militar, em termos de doutrina, adestramento e coisas dessa natureza. Em segundo lugar, a grande coisa do movimento de 64 e foi obra do presidente Castelo Branco, foi afastar os militares da política, ao colocar na legislação que o militar que concorre a cargo eletivo automaticamente passa para a reserva e sai fora. A gente tem uma visão muito clara: a política entrou pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia saem pela porta dos fundos. Não pode haver discussão política dentro do quartel, onde você tem que ter uma visão monolítica clara para cumprimento de tarefas e missão.

Valor: Abril foi o pior mês de desmatamento na Amazônia. Como o senhor encara isso e quais os planos do Conselho que o senhor assumiu?

Mourão: Já tínhamos os dados de que havia um aumento do desmatamento. Não vamos negar isso. O desmatamento vem crescendo desde 2012 e a razão disso é a perda de recursos do governo que, com isso, deixa de ter capacidade de fiscalizar permanentemente.

Valor: O problema é mais de falta de gente?

Mourão: De gente e de dinheiro, porque é caro. Na Amazônia você precisa de helicópteros, de barcos, de segurança. Muitas das pessoas que trabalham na ilegalidade são criminosos mesmo. O fiscal chegando lá, sem ter uma equipe de segurança, muitas vezes é ameaçado de morte ou até coisa pior. É uma ação que tem que ser continuada, não pode ser sazonal. Fizemos a primeira reunião do Conselho e decidimos iniciar uma operação para buscar deter o desmatamento e já preparar o terreno para aquilo que eu considero um objetivo factível deste ano: reduzir ao mínimo possível as queimadas do segundo semestre, que foi o grande problema que nós tivemos no ano passado.

Valor: Quais foram os desdobramentos até então?

Mourão: Nós iniciamos essa operação no dia 11 de maio. Ela vem caminhando num momento difícil, porque temos grande parte dos organismos do governo empenhados na questão do combate ao coronavírus. Temos uma carência de recursos, também carreados para o combate ao vírus, mas estamos fazendo dentro da capacidade que temos. Está dando bons resultados. Elegemos áreas prioritárias. Fomos aonde estão ocorrendo os piores problemas.

Valor: O senhor esteve com os embaixadores da Alemanha e da Noruega. O que ficou acertado?

Mourão: Estive porque outra decisão do Conselho foi a reativação do Fundo Amazônia. O fundo ficou parado no ano passado porque não se concordava com a forma que ele estava sendo utilizado e extinguiu-se o Cofa, o órgão gestor do fundo. A decisão do Conselho foi reativar e iniciamos todo um trabalho de reaproximação, reconstruiu-se o plano de projetos. Ao mesmo tempo, se montou um novo plano de combate ao desmatamento ilegal porque o que tem hoje se extingue em junho. O plano é mais abrangente e atinge todos os nossos biomas. Ele vai entrar em vigor a partir de julho.

Valor: Como foi a receptividade?

Mourão: Eles querem que o país demonstre claramente o seu comprometimento com o combate às ilegalidades na Amazônia. E é isso que eu estou procurando mostrar para eles.

Valor: Quantas pessoas estão na operação?

Mourão: Em torno de 4 mil entre militares, agentes dos órgãos de fiscalização e Polícia Federal operando nos Estados de Acre, Rondônia, Mato Grosso e Pará.

Valor: A questão da gestão do fundo foi abordada?

Mourão: Nós montamos um novo fluxo de gestão, que apresentamos para os embaixadores e eles concordaram plenamente. Hoje temos um saldo de R$ 2,8 bilhões no fundo. Eu não posso aceitar, nesta penúria que nós estamos vivendo, a gente ficar com esse recurso parado.

Valor: Havia uma crítica quanto ao processo decisório, a necessidade de as decisões serem unânimes, o que na prática daria poder de veto às ONGs.

Mourão: A proposta que nós apresentamos é de dois terços do conselho como um todo, ou seja, 18 votos. Acho que é uma aprovação categórica. É o que você precisa dentro do Congresso, por exemplo, para mudar a Constituição. Havia alguns projetos que 80% dos recursos eram gastos na atividade meio e 20% na atividade fim. Durante minha vida militar, eu tive que ser gestor de convênios e sempre era assim: 10% para despesas administrativas e 90% para atividade do convênio. Na minha visão, também não é para ficar fazendo estudo. Está lotado de estudos. É para botar a mão na massa e ter resultados palpáveis.

Valor: Seriam então projetos para preservar mas ter atividade econômica sustentável?

Mourão: Quando eu falo na preservação pura e simples, estou olhando a questão da fiscalização. Precisamos ter 20 bases fixas na Amazônia para ter fiscalização e controle. Hoje temos três, fora a estrutura militar. Em cada base tem que ter uma equipe do Ibama e da ICMBio, com nove ou dez agentes, mais elementos de segurança que podem ser da Companhia de Operações Ambientais. Temos que ter 20 helicópteros funcionando. Isso custa dinheiro, R$ 500 milhões, R$ 600 milhões por ano. Sem isso vamos ficar num jogo de gato e rato.

Valor: E tem a questão da regularização fundiária, não?

Mourão: Essa é a outra face do problema. Enquanto a gente não botar CPF e CNPJ nas terras da Amazônia, não temos quem responsabilizar. Hoje temos cerca de 400 mil famílias de assentados que não têm título de terra. Eu considero fundamental que seja aprovado [o projeto que tramita na Câmara sobre o tema].

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Correios: Reestruturação, empréstimo Bilionário e Futuro Societário

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Correios: plano de reestruturação, empréstimo e abertura de capital

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Este artigo aborda correios: plano de reestruturação, empréstimo e abertura de capital de forma detalhada e completa, explorando os principais aspectos relacionados ao tema.

O Plano de Reestruturação dos Correios: Medidas e Objetivos

Diante dos persistentes déficits financeiros registrados a partir de 2022, os Correios anunciaram um abrangente plano de reestruturação. O objetivo primordial é sanear as contas da estatal e adequá-la ao dinâmico e competitivo mercado de logística. A medida mais significativa delineada neste plano prevê uma profunda alteração no regime societário da empresa, abrindo caminho para a possível abertura de capital.

Essa transformação societária visa converter os Correios, atualmente uma empresa 100% pública, em uma companhia de economia mista. Isso significa permitir a entrada de acionistas privados, similar ao modelo de grandes estatais como Petrobras e Banco do Brasil. O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, esclareceu que a iniciativa não se configura como privatização, mas sim uma busca por parcerias estratégicas, incluindo a possibilidade de modelos societários mistos. Ele enfatizou que a mudança é crucial para dotar a empresa da flexibilidade e tecnologia necessárias para prosperar no ambiente concorrencial moderno, aguardando propostas de consultoria contratada para definir o tipo de parceria.

Além da potencial redefinição societária, o plano de reestruturação dos Correios detalha uma série de ações operacionais e de gestão para garantir a sustentabilidade financeira. Estão previstos o fechamento de cerca de mil agências próprias em todo o país, a venda de imóveis considerados não essenciais e a implementação de dois Planos de Demissão Voluntária (PDVs). A meta é ambiciosa: reduzir o quadro de funcionários em 15 mil colaboradores até 2027 e cortar despesas da ordem de R$ 5 bilhões até 2028, visando uma recuperação financeira robusta e sustentável.

Abertura de Capital: O Caminho para uma Empresa de Economia Mista

A proposta de abertura de capital dos Correios surge como um pilar fundamental do plano de reestruturação da companhia, visando transformar seu regime societário e enfrentar os déficits recorrentes desde 2022. Atualmente uma empresa 100% pública, a estatal busca no mercado de capitais uma alternativa estratégica para se adequar ao ambiente altamente competitivo do setor de logística, que exige crescente flexibilidade e investimentos em tecnologia. Este movimento representaria uma mudança substancial na estrutura de propriedade e gestão da empresa, buscando modernização e eficiência sem onerar exclusivamente o erário público.

Ao abrir seu capital, os Correios deixariam de ser uma entidade puramente estatal para se tornar uma empresa de economia mista, modelo já adotado por gigantes nacionais como Petrobras e Banco do Brasil. Isso significa que parte de suas ações seria ofertada a investidores privados na bolsa de valores, que passariam a deter participação na companhia. Tal mecanismo permite a entrada de capital fresco, essencial para financiar as modernizações necessárias, a expansão de serviços e aprimorar a infraestrutura, conferindo à empresa maior capacidade de investimento e adaptabilidade às dinâmicas do mercado.

O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, esclareceu que a iniciativa não se alinha a uma agenda de privatização, mas sim a um 'olhar sobre parcerias, inclusive societárias'. A transição para uma estrutura de economia mista é vista como um caminho para otimizar a gestão, atrair investimentos e fortalecer a capacidade de inovação, conforme as exigências do mercado logístico global. A decisão final sobre o formato e a extensão dessa abertura de capital, incluindo a porcentagem a ser ofertada, ainda aguarda as propostas detalhadas de uma consultoria contratada, que irá subsidiar a companhia a trilhar este novo modelo de governança corporativa.

O Empréstimo Bilionário e a Busca por Estabilidade Financeira

Os Correios anunciaram a captação de um empréstimo bilionário de R$ 12 bilhões, uma medida crucial para reequilibrar suas contas e enfrentar os déficits acumulados desde 2022. Desse montante, R$ 10 bilhões serão desembolsados ainda em 2025, com os R$ 2 bilhões restantes previstos para janeiro de 2026. A operação foi estruturada com um período de carência de três anos, proporcionando um fôlego financeiro estratégico à estatal em meio ao seu ambicioso plano de reestruturação.

O contrato do empréstimo foi formalizado na última sexta-feira (26) com a participação de cinco grandes instituições financeiras. O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Bradesco contribuíram com R$ 3 bilhões cada, demonstrando um engajamento significativo do setor bancário na recuperação dos Correios. Complementando o montante, o Itaú e o Santander aportaram R$ 1,5 bilhão cada, consolidando um consórcio bancário robusto para apoiar a empresa em sua trajetória de estabilização.

O presidente da companhia justificou o empréstimo como essencial para garantir a adimplência nos contratos com fornecedores, assegurar os benefícios dos empregados e honrar os tributos. Segundo ele, com as “contas em dia” e a “qualidade da operação recuperada”, a estatal espera restabelecer a confiança no mercado. Este passo é visto como fundamental para permitir que os Correios operem de forma mais eficiente e competitiva, adequando-se ao ambiente concorrencial do setor de logística.

Apesar da significativa injeção de capital, a busca por estabilidade financeira não se encerra com este empréstimo. O presidente da estatal revelou que a companhia ainda necessita de mais R$ 8 bilhões em receitas para equilibrar completamente suas finanças. A forma de captação desses recursos adicionais, seja por meio de novos empréstimos ou por aportes diretos do Tesouro Nacional, ainda está sob avaliação e será definida ao longo de 2026, indicando um planejamento financeiro contínuo e estratégico para a sustentabilidade da empresa.

A Crise dos Correios: Causas Estruturais e Desafios do Setor Postal

Os Correios, empresa estatal de fundamental importância para a infraestrutura logística e social do Brasil, enfrentam uma crise estrutural de profundas raízes, evidenciada por déficits financeiros consecutivos, especialmente desde 2022. Esta situação crítica não decorre apenas de problemas conjunturais, mas reflete desafios inerentes à sua operação e à dinâmica em constante transformação do setor postal e de logística no século XXI. A companhia se vê pressionada por um cenário que exige modernização e agilidade sem precedentes para manter sua relevância e sustentabilidade.

Entre as principais causas estruturais, destaca-se a acirrada concorrência no setor de entregas, impulsionada exponencialmente pelo crescimento do e-commerce. Empresas privadas, muitas delas nativas digitais e altamente flexíveis, investiram massivamente em tecnologia de ponta, otimização de rotas e eficiência logística, capturando fatias significativas do mercado. Os Correios, com sua vasta capilaridade nacional, mas também com custos operacionais elevados e, por vezes, engessados por processos burocráticos e regulatórios, têm dificuldade em competir em pé de igualdade em termos de velocidade, personalização e inovação frente a esses players.

Além disso, a transição digital global impactou drasticamente a demanda por serviços postais tradicionais, como o envio de cartas, que historicamente representava uma parcela substancial da receita. Ao mesmo tempo, a necessidade de investimentos contínuos em tecnologia de rastreamento, automação de centros de distribuição e otimização de rotas para o segmento de encomendas e logística é premente. A manutenção de uma extensa rede de agências e uma grande força de trabalho, sem a correspondente otimização de processos ou receita suficiente para cobrir os custos, agrava o quadro financeiro, demandando urgentes planos de reestruturação para garantir a perenidade da empresa e sua capacidade de modernização.

Impactos e Perspectivas para o Futuro dos Correios no Brasil

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Caso Master: sigilo alimenta especulação sobre envolvidos, diz especialista

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Em entrevista ao CNN Prime Time, Cristiano Noronha detalha que o tema já está sendo politizado no âmbito local em Brasília

• Imagem gerada por IA

O caso do Banco Master, que teve sua liquidação extrajudicial decretada pelo BC (Banco Central), entrou no debate político brasileiro e está sendo explorado por diferentes campos ideológicos.

Em entrevista ao Agora CNN, o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, avalia que o sigilo imposto ao caso pelo ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a acareação por ele imposta alimentam especulações sobre quem poderia estar envolvido.

“Essa questão da determinação do sigilo, essa decisão de investigar, fazer essa acareação que foi decidida à revelia do que defendia a Polícia Federal, tudo isso acaba alimentando muito essas especulações de quem efetivamente estaria envolvido”, explica.

O especialista também comenta sobre a politização do tema: “O assunto já está sendo politizado no âmbito local em Brasília, porque a gente viu também personalidades políticas defendendo a compra do Banco Master pelo BRB, que é um banco público”, detalha.

Noronha destaca que a revelação do contrato que o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa de Alexandre de Moraes, mantinha com o Banco Master serve como munição para a oposição e relembra os diversos pedidos de impeachment do ministro.

Distância estratégica do governo

Questionado sobre a postura do governo de evitar o confronto direto e manter o discurso de autonomia do Banco Central, o vice-presidente da Arko Advice avalia que essa é uma estratégia acertada.

“Faz todo sentido o governo fazer isso, primeiro porque se distancia do problema, insiste em uma decisão absolutamente técnica que o Banco Central tomou e eventualmente não politiza ainda mais esse assunto.”

Com esse distanciamento, Noronha explica que o governo evita ser acusado pela oposição de tentar blindar atores importantes caso venha à tona o envolvimento de figuras relevantes do cenário político e jurídico.

Fonte: CNN

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