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Buracos, acidentes e abandono: BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul desafia motoristas
Equipe da Rede Amazônica percorreu mais de 600 km e registrou os desafios de trafegar pela rodovia

Motoristas enfrentam desafios ao trafegar pela BR-364. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Uma rodovia perigosa. O progresso desejado há anos dura pouco tempo pela BR-364. Durante dois dias, a equipe de reportagem da Rede Amazônica percorreu mais de 630 quilômetros do trecho entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Em praticamente toda a sua extensão, a rodovia apresenta problemas e atrasa a viagem de quem se arrisca a trafegar pela região. Mesmo com as manutenções, a estrada parece abandonada.
O repórter Jardel Angelim e cinegrafista José Rodinei saíram da capital logo ao amanhecer do dia.
Os buracos já começam no caminho até o aeroporto internacional e se intensificam no município do Bujari. Desse ponto até cruzeiro do sul são 618 km. Em alguns trechos, a lama já tomou de conta do asfalto. Com o período de chuvas, há pontos que ficam até escorregadios.
Além de atrasar a viagem, os buracos são um problema para os veículos. O aposentado Ademar Júnior viajava de Sena Madureira para Rio Branco. Ele não conseguiu desviar de uma das erosões e o carro acabou quebrando a barra de direção.
“Nós estávamos vindo ali, aí bateu no buraco. Você vê aí, ó, tá cheio de buraco, acabou a roda do carro. Ficamos no prejuízo, ficaram no retorno do mecânico pra poder seguir viagem,” lamentou.
Depois de muitos problemas na estrada, antes de Sena Madureira, foi possível encontrar trechos recém-reformados. Apesar do asfalto novo, a sinalização ainda não foi feita.
Quem também passa por prejuízos são os ônibus que fazem as linhas intermunicipais. A equipe encontrou dois veículos que saíram de Cruzeiro do Sul com destino a Rio Branco, às 19h do dia anterior. A previsão de chegada era de 7h, mas por causa das condições da BR, eles só desembarcaram por volta de 11h. Um atraso de 4 horas.
“A situação ainda está precária, a buraqueira é terrível, questão de horário atrasa muito, passageiros reclamam e está um caos, na verdade. Ônibus quebra, mola quebra, aí a gente acaba prejudicando as viagens do passageiro, né?,” diz o motorista Wheneson Dias.
Não precisa rodar muito para encontrar outros veículos quebrados na estrada. Dessa vez, com o pneu furado por conta dos impactos.
“É de três meses de inverno, já começa a buraqueira já e vai ficando cada dia mais ruim. Quando terminar o inverno, se não recuperar, vai ter local que a pessoa não passa direito,” afirma o empresário Admar de Souza.

Equipe da Rede Amazônica flagrou acidente ao logo da rodovia. Foto: Geisy Negreiros/ Rede Amazônica
Trecho cede quase um metro perto de Sena Madureira
Antes de chegar em Sena Madureira, um trecho da estrada acabou cedendo quase um metro. Os veículos precisam passar praticamente por meia pista. O local foi sinalizado, mas ainda sem previsão de conserto.
No caminho, a equipe encontrou a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Acre, que acompanha o trabalho dos transportes rodoviários e faz fiscalizações constantes nas Brs. As equipes estavam paradas no km-17 da 364 de Sena a Rio Branco.
O objetivo é encontrar motoristas que fazem transportes clandestinos. Com a estrada nessas condições, os cuidados para evitar acidentes devem ser redobrados e, segundo os agentes, os clandestinos não têm os cuidados, habilidades, e treinamentos necessários nesse tipo de transporte. A fiscalização ocorre em toda a extensão da BR até Cruzeiro do Sul.
“O transporte clandestino não passa de aventureiros, né? Então eles se aventuram aí colocando em vida a própria vida do condutor, né?, principalmente dos passageiros, então é muito, mais ainda perigoso essa estrada, as condições dela no momento,” avalia Júlio Figueiredo, agente de fiscalização da Ageac.
Sena Madureira e ponte do Rio Caeté
Poucos quilômetros depois, a equipe chegou em Sena Madureira, a quarta maior cidade do Acre em número de população, com 41.349 pessoas, segundo o último censo do IBGE.
Dez quilômetros à frente, a ponte sobre o rio Caeté, condenada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), está funcionando parcialmente. Uma balsa foi instalada no local no final do mês de janeiro para a travessia de veículos pesados. Os veículos leves e ônibus continuam passando pela ponte na operação pare e siga.
O problema é que as aguas do rio aumentaram de nível nessa época de inverno amazônico. diante disso, os rebocadores e a própria balsa não conseguem chegar as rampas de acesso e acabam encalhando. o resultado é que a embarcação está parada há mais de 10 dias e os veículos pesados voltaram a passar pela ponte.

BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul Tarauacá. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Nossa equipe flagrou caminhões carregados passando pela estrutura. Por conta de problemas geológicos, uma das colunas deslocou quase três metros, colocando em risco toda a sua estrutura. Segundo o Dnit, uma nova ponte deve ser construída até 2026.
Trecho crítico antes de Manoel Urbano
Seguindo viagem, parte da estrada recebeu manutenção em um trecho de menos de 5 km. Logo depois vem uma sequência de buracos e erosões. Em termos de tamanho, essa é uma das regiões com maior extensão de problemas. A velocidade de trafegabilidade precisa ser reduzida.
Nesse ponto, a BR também cedeu. O local foi interditado e funciona apenas meia pista. Antes de Manoel Urbano, essa é uma das áreas mais críticas.
O serralheiro Damião Isidro Furtado trafega pela BR desde 2014. Ele diz que nunca viu a rodovia funcionando em perfeito estado. Sempre há problemas e os serviços que são feitos não duram muito tempo. Mas, para ele, em 2025 o caso está mais grave.
“Rapaz, a situação não fica muito boa não, muito buraco, tem que ter atenção dobrada, se não, perigoso acontecer um acidente“, disse.
De fato, foi possível ver o resultado desse perigo logo em seguida. Um caminhão guindaste acabou tombando na estrada quando o motorista tentava desviar dos buracos. O veículo trafegava sentido Sena Madureira e ficou à margem da BR. O condutor ficou apenas com escoriações e o caminhão precisou ser resgatado por máquinas pesadas.

Ônibus que trafegam pela BR também enfrentam prejuízos. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Mais alguns quilômetros, passamos pelo município de Manoel Urbano, o terceiro saindo de Rio Branco pela BR-364.
Não precisa viajar muito e mais perigo à vista. Outra cratera se abriu deixando a rodovia mais estreita, bem próxima de um posto de saúde e uma escola municipal.
Manoel Urbano a Feijó: sem equipes trabalhando
Os motoristas também sofrem para trafegar de Manoel Urbano a Feijó.
Em alguns pontos, os motoristas precisam guiar os veículos de um lado a outro da via, invadindo a contramão e colocando em risco a vida de outras pessoas.
Logo após a ponte do Jurupari, esse aqui é um dos únicos trechos antes de Feijó que recebeu manutenção e que ainda está com o tráfego seguro. Uma placa indica que essa recuperação deve faz parte do lote 6 das obras e deve custar mais de R$ 170 milhões. O prazo de conclusão é até fevereiro de 2028.
Até esse ponto da viagem, desde Rio Branco, a equipe não presenciou nenhuma equipe trabalhando na rodovia. Nenhuma máquina ou operário foi visto fazendo a manutenção.
O motorista Jean Carlos saiu da capital com destino a Cruzeiro do Sul. Ele conta que até ano passado conseguia chegar ao Juruá no mesmo dia. Agora, devido às condições da estrada, precisa dormir em Feijó.
Ele faz esse percurso semanalmente. Para piorar, por conta dos buracos, o caminhão acabou quebrando. Ele vai atrasar ainda mais até o destino, mas por sorte a empresa que ele trabalha conseguiu enviar um mecânico para fazer a manutenção.
“Nós fazemos esse trajeto aí, saindo de Rio Branco, 4h, 18h tarde chega em Cruzeiro. Hoje não. hoje nós saímos no mesmo horário e tá chegando em Feijó, que é a metade da viagem. Então tá difícil. Não tem ninguém prestando serviço na estrada, né? Porque vocês estão andando nela, vocês estão vendo. Devido a estrada aí, muita mudança de marcha, marcha pesada, aí queimou o disco. Vamos ver, estamos trocando, estamos com mecânica aí. despesa total,” pontua.

BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul tem buracos ao longo da rodovia. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Após longas horas de viagem, antes de Feijó, o sol já ia se despedindo. A noite começava a chegar junto com a possibilidade de chuva, o que deixa o trajeto ainda mais perigoso, somada às condições da BR. Por volta de 17h30, passamos pelo município de Feijó, a capital nacional do açaí.
Tarauacá: trechos perigosos
Continuando a viagem até Tarauacá são mais 46 km, aproximadamente. O caminho não apresenta novidades e continua cheio de contratempos. Como já estava escurecendo, nossa equipe decidiu pernoitar no município para evitar os riscos de viajar à noite.
No dia seguinte, acompanhamos a situação da ponte sobre o Rio Tarauacá que desde sua construção apresenta problemas em uma das cabeceiras, que cedeu por conta das enchentes do rio. Para que os veículos continuassem passando, um serviço paliativo foi feito e só é possível passar uma mão por vez. O governo federal começou as obras para aumentar o tamanho dessa cabeceira.
As obras iniciaram em setembro de 2023. o prazo para a conclusão inicial era maio de 2025. mas os serviços ainda estão nas bases de sustentação. Quando finalizada, a ponte vai passar de 300 para 370 metros de extensão. O investimento é de aproximadamente R$ 12 milhões.
Laércio Borges é operador de máquinas e mora bem próximo da ponte, às margens da 364. Ele acredita que a extensão do tabuleiro deveria ser maior e teme que novos problemas voltem a ocorrer.
“Se eles tivessem feito como era para fazer, hoje não estava dando esse problema, como está dando hoje, mas querendo deus, vai concluir, para chegar os 70 metros, mas não era para ser só os 70, era para ser os 400 metros, aí não tinha tanto perigo. Também porque o rio é onde a ponte, estão fazendo na cabeça dela, onde o rio passou,” afirma.
O município de Tarauacá passou a ser o 3º maior do Acre em número de população, com 43.464 pessoas, de acordo com o último censo do IBGE.

BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Tarauacá a Cruzeiro do Sul: menos problemas
Mais 230 km pela frente fica a cidade de Cruzeiro do Sul. Esse trajeto é o que possui menos problemas, mas ainda há estragos na via. A maior parte possui uma trafegabilidade relativamente mais tranquila. É nessa região que fica a terra indígena Katukina, com aldeias ao longo da BR, além de escolas e unidades de saúde.
Após dois dias de viagem, a equipe encontrou trabalhadores na estrada. O grupo informou que eles realizam o tapa buraco entre Feijó e Cruzeiro do Sul. Quando a equipe passou, não haviam máquinas em operação.
Mais alguns quilômetros com uma trafegabilidade em parte tranquila, a equipe chegou em Cruzeiro do Sul. Mais à frente, a ponte aguardada pela população de Rodrigues Alves ainda não tem previsão de construção. A travessia entre os municípios ocorre por meio de balsa.
A equipe finalizou a viagem chegando em Cruzeiro do Sul, após quase dois dias de percurso, entre algumas paradas e empecilhos pelo caminho. Essa é a segunda maior cidade do estado em número de população, com quase 90 mil habitantes. O município e toda a região do Juruá recebem um volume elevado de pessoas de todo o estado. Essa área do Acre é considerada uma das que possuem maior potencial turístico.
Com a BR-364 nesse cenário, poucas pessoas se arriscam a fazer essa viagem, o que acaba prejudicando também o abastecimento dos municípios dessa regional, uma vez que os produtos chegam em menor escala e, geralmente, com preços mais elevados.
O que diz o Dnit
O superintendente do DNIT no Acre, Ricardo Araújo, informou que nesse momento há manutenção de Sena Madureira e Feijó e de Feijó até o rio liberdade. Esse foi um dos trechos mais afetados pelas chuvas. Nessa região o DNIT garante que há oito equipes trabalhando.
“Em dezembro nós tínhamos deixado esse trecho sem nenhum buraco, mas devido a fragilidade do solo que tem ali, as fortes chuvas tem dado problema. Então a gente já adotou, desde o ano passado, já para alguns segmentos, um macadame hidráulico. Nós já fizemos ali do Caeté para frente 8 quilômetros, já fizemos no massipira até a altura, até a ponte do massipira antes, são mais 8 quilômetros. De Feijó para a direção de Tarauacá nós temos aproximadamente 4 quilômetros e vamos fazer mais 4 ainda esse ano agora com o contrato antigo,” explicou.
Para 2025 já existem três trechos licitados entre Feijó e Sena Madureira, um percurso de 60 a 70 km será feito de forma definitiva esse ano, com pedras sobre o solo.
Entre Sena e Feijó há, em média, 100 erosões. O superintendente explicou que os bueiros nesses locais danificaram a pista, devido à fragilidade do solo, mas todos serão consertados em breve. Uma nova licitação será feita para reformar 50 desses pontos críticos.

BR-364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução Rede Amazônica
Sobre a ausência de máquinas trabalhando na 364 durante os dias em que a equipe passou pela rodovia, o Dnit informou que este ano os recursos ainda não chegaram como deveriam e a partir do mês de abril é que os serviços devem ser intensificados.
“Estamos pedindo aqui, ajeitando, fazendo esse tapa o buraco emergencial, que é só que a gente está com esse problema das chuvas e do recurso, mas a gente tem sinalizado e tem dado tanto cuidado e a gente vai implementar com um grande suporte que nós vamos ter, que já foi aprovado, já está licitado, já ganhou, a empresa chega até o final de abril, duas balanças para ser colocadas nessa estrada. As balanças a gente vai também restringir o peso dessas estradas, a gente pega carretas aqui com 50 toneladas acima do peso, não tem estrada que resista também a esse tipo de pavimento. Então ele estoura o pavimento, ele acaba, então não aguenta, ele estoura e vai fragilizando. Por isso também uma das causas dessas grandes erosões,” informa.
Para quem precisa trafegar na região, a alegação é que fica difícil compreender os investimentos olhando para as condições da estrada, com todos os prejuízos aparentes, com veículos danificados, acidentes e atrasos na viagem. A BR que já custou bilhões aos cofres públicos continua sem receber o progresso que a região acreana busca há anos.
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‘Esquerda precisa despertar’ para a eleição, afirma José Dirceu sobre candidatura
O petista voltou a dizer que o governo Lula está “sitiado” no atual mandato, e que a base dele tem PP, PL e União Brasil. Dirceu se prepara para disputar as eleições de 2026 concorrendo a uma vaga de deputado federal.

Ex-ministro José Dirceu alerta esquerda sobre candidatura para a Presidência da República em 2026. Foto: Lula Marques/PT
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) afirmou na segunda-feira (31) que a esquerda precisa “despertar” para a eleição. Durante um evento em São Paulo, o petista defendeu que o campo progressista vá às ruas para se opor à anistia e afirmou que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é verdadeiro candidato da direita e já foi “abraçado” pelo mercado.
“O candidato da direita chama-se Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. E a elite de São Paulo já o abraçou”, disse Dirceu, afirmando que a direita “sabe o que quer” e “nós precisamos saber o que nós queremos”.
“Nós temos que começar a pensar em uma plataforma. É preciso despertar que a eleição está aí. Em outubro começa a campanha eleitoral. Ela será em outubro do ano que vem, mas começa agora. Nós temos pouco tempo. Por isso que fazer esse ato, fazer o ato ontem (contra a anistia) nas capitais (é importante)… Nós temos que ter consciência que se nós não nos levantarmos eles nos vencerão, como já aconteceu no passado”, disse.
O ex-ministro também afirmou que há uma disputa de narrativa em curso e defendeu que o campo progressista intensifique as manifestações nas ruas e se oponha à pauta da anistia. Além disso, destacou a importância de mobilizar o eleitorado para que a eleição para a Câmara e o Senado receba a mesma atenção dedicada à eleição para a Presidência da República.
O petista voltou a dizer que o governo Lula está “sitiado” no atual mandato, e que a base dele tem PP, PL e União Brasil. Dirceu se prepara para disputar as eleições de 2026 concorrendo a uma vaga de deputado federal.
Nesta segunda-feira, Dirceu participou de um encontro na PUC-SP em repúdio ao golpe de 1964 e contra a anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. O evento, organizado pelo Grupo Prerrogativas, reuniu aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e foi marcado por críticas ao posicionamento do governo na data que marcou os 61 anos do golpe militar.
Um dos que se posicionaram foi José Genoino, ex-deputado federal do PT. “Nós estamos diante de uma encruzilhada. Eu concordo inteiramente com a opinião do Breno de que o nosso governo está pegando uma situação que ele poderia estar sendo protagonista”, disse o ex-parlamentar.
“É o filme ‘Ainda Estou Aqui’, é o processo que está no Supremo. E o processo que está no Supremo está trazendo 8 de janeiro, 2016 e trazendo 1964. Não é a visão vingativa simplesmente, não é a visão de olhar para trás. É a visão de que nós como militantes socialistas e democratas não podemos abrir mão desse processo de mudança profunda que o Brasil carece”, acrescentou.
Genoino continuou dizendo que o STF está cumprindo um papel importante, mas o campo progressista não pode delegar o seu futuro “exclusivamente a uma decisão jurídica”. “A política tem que entrar para o debate para ganhar corações e mentes para um projeto libertador”.
Antes de Genoino, o jornalista Breno Altman recebeu aplausos de petistas e da plateia ao criticar o silêncio do governo em relação ao aniversário do golpe. O governo não organizou nenhum ato oficial para a data. Pelo X (antigo Twitter), Lula afirmou que o dia 31 de março serve para “lembrarmos da importância da democracia, dos direitos humanos e da soberania do povo” em eleger representantes políticos. Sem citar Bolsonaro, o petista afirmou que “ameaças autoritárias” insistem em sobreviver no país.
Para petistas ouvidos pela reportagem, a declaração de Lula foi insuficiente e protocolar. Eles defendem que o governo deveria ter se empenhado em trazer à tona o que foi o golpe militar de 1964, por meio, por exemplo, de um pronunciamento oficial.
Ao Estadão, Dirceu minimizou a ausência de um ato oficial do governo, ressaltando que o importante é que não houve nenhuma mobilização das Forças Armadas. O organizador do evento, Marco Aurélio de Carvalho, defendeu o governo, afirmando que Lula segue comprometido com a democracia e a defesa das instituições.
Coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio citou a criação do Observatório da Democracia pela Advocacia-Geral da União (AGU) e destacou que o Ministério dos Direitos Humanos reinstalou a Comissão de Mortos e Desaparecidos e ordenou a correção das certidões de óbito de vítimas da ditadura.
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PL ameaça com obstrução para pressionar votação de projeto da anistia a golpistas
O líder do PL na Câmara avalia que a movimentação já teve resultados, mas “vai complicar o andamento da Casa” quando houver uma obstrução completa

Plenário da Câmara: PL ameaça obstruir votações para pressionar por votação de projeto de anistia para golpistas. Foto: Kayo Magalhães/Agência Câmara
O PL (Partido Liberal) ameaça uma “obstrução de verdade” na Câmara dos Deputados nesta semana caso o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), não dê andamento ao projeto de lei (PL) que concede anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A obstrução é usada por parlamentares para impedir ou atrasar votações.
Ao Estadão/Broadcast Político, o líder do partido, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que a mobilização formada na semana passada “foi só o início”, mas diz confiar que Motta acene à bancada nesta terça-feira (1º).
Os deputados governistas minimizam o poder de pressão do partido e avaliam que a estratégia não deve barrar projetos de interesse da administração federal.
O Placar da Anistia do Estadão, levantamento exclusivo para identificar como cada um dos deputados se posiciona sobre o tema, mostra que mais de um terço dos 513 apoia a anistia. São 192 votos a favor da anistia até o momento.
A oposição entrou em obstrução parcial logo após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) réu por tentativa de golpe de Estado. O PL não entrou formalmente na obstrução. Alguns deputados da legenda apoiaram o movimento, mas Sóstenes Cavalcante teria evitado o instrumento oficialmente porque o colega Altineu Côrtes (PL-RJ) estava na presidência das sessões.
O líder do PL na Câmara avalia que a movimentação já teve resultados, mas “vai complicar o andamento da Casa” quando houver uma obstrução completa. Ele afirma que a sigla desistirá da obstrução se Motta pautar o requerimento de urgência para o projeto.
“Só faremos obstrução caso o governo tenha feito alguma pressão ao presidente Hugo Motta, no sentido de não pautar a urgência. Vamos conversar e faremos a obstrução caso necessário”, disse. Apesar das incertezas, o líder do PL diz acreditar que Motta vai ceder: “Honestamente, não acho que será necessário (entrar em obstrução completa). O Hugo Motta é um cumpridor dos seus compromissos”.
A expectativa do PL é de que Motta paute no Colégio de Líderes da quinta-feira (3), o pedido de urgência. Isso deve ser decidido em uma reunião nesta terça com os líderes que apoiam o texto.
Caso a oposição siga obstruindo, a pauta da semana pode ser afetada. A lista inclui a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em caso de nascimento ou adoção de filho, incentivos para a fabricação de itens de saúde e a revogação de dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) derrogados pela Constituição. Essas discussões têm sido adiadas por falta de acordo.
Porém, para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, o poder de pressão é limitado. “Eles vão obstruir, e a gente vai esticar a sessão até votar, igual temos feito. Vamos continuar construindo maioria para derrotar a obstrução, mesmo que demore mais a votar”, afirmou.
Na análise dela, é muito difícil que a mobilização do PL interfira na proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda, prioridade do governo neste ano. Também vice-líder do governo, Alencar Santana (PT-SP) diz crer que a obstrução não deve pressionar Motta. “Não podemos nos render à chantagem, ainda mais para uma pauta antidemocrática”, afirmou.
Outro governista ouvido reservadamente considera que as ameaças do PL “não preocupam nada”. O deputado avalia que o plenário estava desmobilizado na semana passada, mas não pela atuação dos críticos ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e sim pela semana amena na Casa, com a ausência de Motta, que viajou com o presidente da República ao Japão.
Segundo o parlamentar, uma mudança no regimento da Casa em 2021, na gestão de Arthur Lira (PP-AL), esvaziou instrumentos de obstrução que antes estavam disponíveis.
Na opinião de um deputado próximo a Motta, a obstrução parcial foi eficaz em uma “semana morta”. Com o retorno de Motta a Brasília, o cenário muda: a obstrução pode atrapalhar mais as comissões, mas pouco o plenário.
Apesar da pressão, o presidente da Câmara tem um caminho estreito para satisfazer o PL. Estão na mesa três possibilidades. Uma seria pautar a urgência, o que iria contra a promessa de Motta de evitar esse regime quando não há consenso. Outra possibilidade seria instalar a comissão especial, alternativa considerada a mais demorada pelo deputado. Uma terceira via seria devolver o texto à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Em entrevista ao Estadão na sexta-feira (28), o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que a Câmara pode criar uma crise institucional com o STF se der andamento à anistia para um julgamento que ainda está no início.
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Declaração pré-preenchida do IR está disponível ao contribuinte
Adeclaração pelo celular e feita por meio do aplicativo do Meu Imposto de Renda, sem a necessidade de baixar o programa no computador

Receita Federal libera declaração pré-preenchida do Imposto de Renda. Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
Após duas semanas com informações parciais, a declaração pré-preenchida do Imposto de Renda Pessoa Física está disponível com dados completos a partir desta terça-feira (1º). O atraso ocorreu por causa da greve dos auditores-fiscais da Receita Federal.
Também a partir desta terça, está disponível a declaração pelo celular e pelo Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC). Alternativas ao programa gerador do Imposto de Renda, os dois recursos de preenchimento também atrasaram por causa da greve.
Além de acelerar o preenchimento da Declaração do Imposto de Renda, a versão pré-preenchida dá prioridade no recebimento da restituição.
Com todos os dados disponíveis, os contribuintes terão acesso automático às seguintes informações:
• Declaração do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (Dirf);
• Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias (Dimob);
• Declaração de Serviços Médicos e de Saúde (Dmed);
• Carnê-Leão Web.
• rendimentos isentos decorrentes de moléstia grave;
• códigos de juros;
• restituições recebidas no ano-calendário.
• saldos bancários;
• investimentos;
• imóveis adquiridos;
• doações realizadas no ano-calendário;
• criptoativos
• contas bancárias e ativos no exterior;
• contribuições para a previdência privada.
Na etapa inicial de entrega da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física 2025, a Receita fornecia a declaração pré-preenchida apenas com os dados da Dirf, da Dimob, da Dimed e do Carnê-Leão Web. Outros dados foram acrescentados nos últimos dias, mas a declaração pré-preenchida ainda não estava completa.
Declaração por celular
Adeclaração pelo celular e feita por meio do aplicativo do Meu Imposto de Renda, sem a necessidade de baixar o programa no computador. O site do e-CAC também foi atualizado para permitir o preenchimento e o envio on-line.
A Receita Federal pretende substituir o programa gerador da declaração (PGD), baixado nos computadores, pelo preenchimento on-line e por dispositivos móveis. No entanto, o Fisco ainda não forneceu uma data para a descontinuidade do PGD.
“A gente tem investido muito forte na solução do Meu Imposto de Renda. Em algum momento vamos acabar com o PGD em prol dessa solução online, que é mais segura”, afirmou o supervisor nacional do Imposto de Renda, José Carlos Fonseca, durante a apresentação das regras, no mês passado.
Prazo
O prazo de envio da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física 2025 começou em 17 de março e vai até 30 de maio, às 23h59min59s.
A Receita recomenda aoscontribuintes que tenham toda a documentação em mãos para comparar com os dados fornecidos na pré-preenchida. Em caso de divergências, o contribuinte deve preencher as informações dos documentos.
A Receita Federal espera receber, neste ano, 46,2 milhões de declarações. O número representa alta de quase 7% em relação ao número de entregas em 2024.
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