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31 anos sem Tião Natureza: vida e morte dramática de cantor e compositor acreano

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Foto: reprodução

Sua breve vida, de apenas 31 anos, mas sempre farta e alegre, boêmia, divertida e louca, teve um final trágico que mais parece um roteiro de filme. Aliás, desde seu nascimento, sua vida daria mesmo um filme, desses à Alfred Hitchcock, o diretor inglês que passou à história por produções cinematográficas como “Rebecca”, “Disque M Para Matar” e “Psicose”, que lhe valeram o titulo imortal de “O Mestre do Suspense”.

Filho único de sua mãe numa relação fora de casamento com um pai revolucionário que desapareceu de Rio Branco após anunciar à família que estava em Cuba lutando pelo triunfo da revolução levada a cabo anos antes pela dupla Fidel Castro e Che Guevara, um filme sobre a vida daquele artista que surgira nos festivais estudantis da Capital acreana, bem a propósito, poderia ter como trilha sonora uma música de sua autoria, escrita exatamente dois meses antes de sua morte, com uma facada no peito, bem no coração, no início da madrugada do dia 31 de agosto de 1991, num barzinho no bairro Aviário, na rua de mesmo nome.

Cantor Tião Natureza/Foto: reprodução

O personagem desta vida que mais parece um filme é o acreano Sebastião Roberto Vieira Mourão, nascido no dia 20 de janeiro de 1960, em Rio Branco, que, após a participação em festivais de música na cidade, passou a ser conhecido como cantor e compositor com o nome artístico de Tião Natureza e que morreu, naquela madrugada, aos 31 anos de idade, a pouco metros de casa de sua mãe, Mafalda Mourão, com uma facada no coração. Isso dois meses depois de ter escrito a música com o sugestivo titulo de “A Faca”, na qual os versos falam de “Uma vela não acesa/Um gosto de sangue no ar…/Uma faca sobre a mesa/Eu vou para não voltar/Não esqueça do meu rosto/Um espelho a se quebrar…”.

A música foi descoberta depois da morte do artista pelo cantor e produtor musical Heloy de Castro, seu amigo e parceiro nas noites de Rio Branco daqueles anos de efervescência cultural numa cidade em formação, que a musicou, como num rock. Com a letra, segundo Castro, Tião Natureza descreveu seu próprio fim, Um fim muito próximo do que seria roteiro de um filme.

O roteiro poderia ser o seguinte: um artista popular, cantor querido na pequena cidade em que nasceu, sempre cercado de amigos e belas mulheres, então ocupando um cargo relevante de Diretor-presidente da Fundação Cultural do Governo do Estado, equivalente hoje à uma secretaria estadual de cultura, com pretensões políticas de ser candidato a deputado estadual, boêmio convicto, está se divertindo num barzinho da moda na Capital, quando é atraído para fora do ambiente.

Ali, o espera seu futuro assassino, que lhe crava uma faca no peito, um golpe tão traiçoeiro quanto violento que o objeto perfurou seu coração e só pôde ser arrancado de seu corpo, preso na cartilagens e ossos de seu peito, por peritos especializados da Polícia Técnica. O artista morre sozinho, após correr por alguns instantes e pouco menos de 200 metros, rumo a casa em que cresceu, em busca de socorro, mas caiu, aos gritos pela mãe, no pátio de uma igreja pentecostal. O artista polêmico, querido e muitas vezes odiado, após a morte, vira nome de rua, uma espécie unanimidade.

Homenagem póstuma ao artista que em vida homenageou amigos e conterrâneos como o sindicalista Chico Mendes, morto a tiro de espingarda em 1988, com a música “Ao Chico”, aquela cujos veros diz “Ecoou, pela mata a fora/ Cai a flor e a seringueira chora/ De Xapuri, chora o mundo inteiro// Morre Chico, Chico, Chico Rei Seringueiro…/

Também fez homenagens a amigos que deixaram as prisões nos últimos dos anos de chumbo da ditadura militar, com a música ”Diga lá, Rapaz”, cujos versos principais saúdam um amigo: “Ei Diga Lá, rapaz/Quanto tempo faz, que eu não te vejo/ E aquele velho amor anda as quantas há?/ E a aquela velha dor?/ Ei diga lá rapaz/ Quanto tempo faz que eu não te vejo… Diga lá, Rapaz, se você chorou e se sofreu demais…”.

Seu assassino foi o fotografo amador Raimundo Rodrigues dos Santos, então com 47 anos. Após o crime, as investigações apontaram que o assassino era, na verdade, um velho conhecido da vítima, seu vizinho no bairro do Aviário. Testemunhas contaram que, momentos antes da facada fatal, Tião Natureza deixara o barzinho onde originalmente se encontrava, o Rios Bar, cruzou a rua e foi ao palco do Bar “O Pastelão”, para uma “canja”. Antes de subir ao palco, ele se desentendera, o que era comum em sua vida boêmia, com um dos fregueses, por volta das testemunhas, por volta das 3h:45 daquela madrugada. O que seria uma agressão de ambas as partes, foi contida por seguranças do ambiente. Tião Natureza canta, ri, abraça e se despede dos amigos e vai ao banheiro. Quando deixa o banheiro e se projeta para voltar ao Rios Bar, do outro lado da rua, recebe a facada no peito. “Santos”, aquele com o qual o artista se desentendera momentos antes, o esperava escondido na multidão.

Ferido, já sem forças, ele corre a esmo, em direção a casa da mãe, aos gritos de dor. O assassino é preso em flagrante. É codenado a 14 anos de prisão pelo Tribunal do Júri Popular. Cumpre a pena e hoje vive livre, como pequeno comerciante numa banquinha de venda de doces na frente do Colégio Acreano, no chamado Calçadão da Benjamim Constant, em Rio Branco. Ele não fala com a imprensa e é muito mais arredio ainda quando o assunto é Tião natureza.

Na época surgiram duas versões para a motivação o crime: Santos, o assassino, teria descoberto que Tião Natureza havia deflorado uma filha sua, ainda menor. Outra versão dava conta de que, na verdade, Tião Natureza, na condição de presidente da Fundação Cultural, demitira do emprego público no órgão a esposa de Santos e que, quando este foi procurar o artista, na condição de antigo vizinho em busca de recolocação da mulher, fora destratado por ele e daí criou a animosidade que resultaria no assassinato. Não se sabe qual das versões deste roteiro seria a verdadeira, havendo também possibilidade de vir a ser as duas.

No outro capítulo da história, Raimundo Borborema de Alencar, o pai de Tião de Natureza, era um político ligado a Francisco Julião Francisco Julião Arruda de Paula, advogado, político e escritor brasileiro, que liderou politicamente o movimento camponês conhecido como ligas camponesas, a partir do Estado do Pernambuco e que se estendeu por todo o Nordeste brasileiro. Ligado ao então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, que seria cassado pela ditadura militar, Julião foi deputado estadual em duas legislaturas. Eleito deputado federal por Pernambuco em 1962, foi cassado e preso em 1964. Ao ser liberado em 1965, foi incentivado a se exilar. Viajou para o México, onde permaneceu até ser anistiado em 1979. No exílio, o político teria travado contato com o acreano Raimundo Borborema, e o aconselhado a ir para Cuba, ajudar na revolução recém-chegada ao poder naquela Ilha.

Lenine Alencar, primo de Tião Natureza/Foto: reprodução

“Ele anoiteceu em Rio Branco e não amanheceu. A família só ficou sabendo que ele havia saído de Cuba num cartão postal dizendo que iria a Paris e, quando viesse a anistia, em 1979, ele voltaria ao Acre e ao Brasil”, conta o ator e diretor de teatro Lenine Alencar, filho de outro político lendário do MDB do Acre, João Borborema de Alencar, irmão de Raimundo.
Lenine só viria descobrir que era primo de Tião Natureza quando os dois artistas já eram adultos e frequentavam o mesmo bar em Rio Branco, “O casarão”. “Éramos amigos e quando nos descobrimos primos, nos aproximamos mais um pouco. Mas nunca fomos grandes amigos”, conta Lenine.

Quanto a Raimundo Borborema, seu tio, Lenine diz que ele não cumpriu a promessa de voltar ao Acre. “O que soubemos é que o Tião Natureza tinha cinco irmãos, todos eles vivendo em Manaus”, contou. Como Borborema não cumprir a promessa de retorno0, Tião natureza cresceu sem conhecer o pai, nem mesmo por fotografias.

Do primo famoso, o teatrólogo tem uma recordação: a greve que ambos dirigiram no Poder Judiciário do Acre, já que eram servidores do Tribunal de Justiça mas inconformados com a exploração, baixos salários e avida burocrática do Judiciário em empregos que ambos, numa época em que não havia ainda a exigência de concurso, foram admitidos por influência da desembargadora Miracele Lopes Borges (já aposentada), que viria a ser a presidente do Poder, irmã de Mafalda Mourão, e tia dos dois. “Fomos demitidos por causa daquela greve”,. Conta Lenine.

Sem o empego público, os dois primos seguiram caminhos na arte e na cultura: Lenine firmou-se no Teatro e Natureza, como cantor e compositor. Paralelo a isso, o cantor tinha atividade política e em 1990 disputou, sem a vitória, o cargo de deputado estadual pelo PDS, então partido que elegeria Edmundo Pinto governador do Estado, também assassinado menos de um anos depois da morte de Natureza, que ele nomeou como presidente da Fundação Cultural.

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Jovem fica ferido após queda de moto durante suposto racha em arena esportiva de Rio Branco

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Acidente ocorreu na Arena Race, na Estrada do Quixadá; vítima foi socorrida pelo Samu e encaminhada ao Pronto-Socorro

Um jovem de 21 anos ficou ferido após sofrer uma queda de motocicleta na noite desta quinta-feira (18), na Arena Race de Esportes Radicais, localizada no km 3 da Estrada do Quixadá, na região do bairro São Francisco, em Rio Branco.

A vítima foi identificada como João Ícaro Sousa Araújo, que conduzia uma motocicleta Honda Fan 150, de cor vermelha. Segundo informações apuradas no local, o jovem participava de um suposto racha com outro motociclista quando, ao retornar pela pista, perdeu o controle do veículo e colidiu contra uma placa da Arena Race, situada no início do trajeto.

Com a força do impacto, a motocicleta atingiu a estrutura e João Ícaro foi arremessado por cima da placa, caindo violentamente ao solo. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e enviou uma ambulância de suporte básico, que prestou os primeiros atendimentos ainda no local antes de encaminhar a vítima ao Pronto-Socorro de Urgência e Emergência de Rio Branco.

No hospital, o jovem foi entregue ao setor de Traumatologia, onde foram constatados um corte no joelho direito, ferimento na cabeça e a amputação de uma unha do pé direito. Apesar das lesões, o estado de saúde do motociclista foi considerado estável.

As circunstâncias do acidente deverão ser apuradas pelas autoridades competentes.

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OAB/AC ajuíza ACP contra o Detran: “obstáculos ao exercício da advocacia”

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Foto: Kelvisson Monteiro/Detran-AC

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Acre (OAB/AC), Rodrigo Aiache, anunciou o protocolo de uma Ação Civil Pública (ACP) contra o Departamento Estadual de Trânsito do Acre (Detran-AC), em virtude de uma série de exigências que geram obstáculos ao exercício da advocacia em processos administrativos do órgão. No processo, consta ainda um pedido de antecipação de tutela.

Baseado na defesa das prerrogativas, Rodrigo Aiache argumenta que o Detran vem exigindo a apresentação de documentos originais ou cópias autenticadas e a aceitação exclusiva de assinatura eletrônica efetuada pelo GOV.BR — negando a validade de assinaturas de outras plataformas. Além disso, aponta a falta de um sistema eletrônico de protocolos, o que obriga os profissionais a realizarem o procedimento exclusivamente de forma física.

Para o presidente da Seccional acreana, existe uma grave violação do Estatuto da Advocacia, o que dificulta a defesa dos clientes.

“A Portaria 1.119 do Detran, infelizmente, ofende diversas prerrogativas e não podemos tolerar que isso aconteça. O advogado tem fé pública, não necessitando apresentar originais ou cópias autenticadas. Tentamos resolver por via administrativa, mas não houve resultado; por isso, ajuizamos o processo e não vamos retroceder”, finalizou Rodrigo Aiache.

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Governo do Acre realiza pagamento da segunda parcela do 13º salário

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

Seguindo o cronograma anunciado pelo governador Gladson Camelí, o governo do Acre efetuou, nesta sexta-feira, 19, o pagamento da segunda parcela do 13º salário dos mais de 56 mil servidores públicos estaduais, entre ativos, aposentados e pensionistas. Os valores já estão creditados nas contas, reafirmando o compromisso da gestão com a pontualidade e a valorização do funcionalismo público.

O pagamento contribui diretamente para o aquecimento da economia local neste período de fim de ano, fortalecendo o comércio e garantindo mais tranquilidade financeira às famílias acreanas.

O governador Gladson Camelí destacou que a regularidade do calendário salarial é resultado de uma gestão responsável e comprometida com os servidores públicos. “Os servidores são os grandes diamantes do Estado. Manter os salários e o 13º em dia é um compromisso inegociável, que demonstra respeito, responsabilidade e cuidado com quem dedica seu trabalho ao desenvolvimento do Acre”, ressalta.

O salário referente ao mês de dezembro seguirá o cronograma já divulgado: dia 27 de dezembro para correntistas do Banco do Brasil e dia 29 de dezembro para servidores que recebem por outras instituições financeiras.

Os contracheques estão disponíveis para consulta no site contracheque.ac.gov.br, no Portal de Serviços do Estado do Acre e no aplicativo MeuAC.

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