fbpx
Conecte-se conosco

Brasil

Vereadores de ao menos 17 capitais terão aumento salarial em 2025

Publicado

em

Políticos de Aracaju, Boa Vista, Belém, Campo Grande, Fortaleza, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Vitória terão aumento

A Câmara Municipal de Belém aprovou em outubro um projeto de lei que propõe aumento salarial para prefeito, vice-prefeito, secretários e vereadores da capital, que já irá valer para 2025. Foto: assessoria 

Vereadores de ao menos 17 capitais terão, em 2025, aumento em seus salários, Os valores terão reajustes em Aracaju, Boa Vista, Belém, Campo Grande, Fortaleza, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Vitória.

Os salários dos vereadores são definidos pelas Câmaras Municipais, ou seja, parlamentares podem pautar e aumentar seus próprios salários.

No Brasil, os valores variam muito e consideram dois fatores principais: a quantidade de habitantes do município e o salário do deputado estadual — a legislação estabelece que os vereadores podem receber até 75% do subsídio dos deputados estaduais, dependendo da população local. A maioria das capitais que aprovaram aumentos para 2025 utilizaram esse argumento.

Além do valor não poder ultrapassar 75% do subsídio dos deputados estaduais, há também o teto constitucional. Atualmente, a remuneração máxima dos servidores públicos é de R$ 44.008,52 mensais, valor recebido pelos ministros do STF. Em fevereiro de 2025, esse valor aumentará para R$ 46.366,19.

Mas, afinal, o que faz um vereador? É de responsabilidade deles legislar, fiscalizar e representar a população do município, inclusive, discutindo onde serão aplicados recursos de impostos.

Capitais que terão aumento do salarial para vereadores em 2025

Até o dia 26 de dezembro, nenhum aumento salarial para vereadores, com validade a partir de 2025, havia sido votado em nove capitais: Rio Branco, Belo Horizonte, Goiânia, Palmas, Porto Velho, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e Teresina.

Aracaju – Sergipe

A Câmara Municipal de Aracaju aprovou dia 27 de junho de 2024 o reajuste de 4,5% no salário dos vereadores. Também houve aumento de 4% os cargos de prefeito, vice-prefeito para legislatura 2025/2028.

O subsídio (salário) dos servidores do Legislativo Municipal foi reajustado de R$ 21.880,54 para R$ 22.865,16, devido a um aumento salarial estabelecido pelo projeto de lei nº 85/2024, aprovado em abril de 2024.

Boa Vista – Roraima

A Câmara Municipal de Boa Vista aprovou, em outubro de 2023, um reajuste no salário dos vereadores, que será aplicado na legislatura 2025-2028. O novo subsídio, fixado em R$ 20.864,78, equivale a 60% do salário de um deputado estadual, representando um aumento de R$ 10.852,28 em relação ao salário atual de R$ 10.012,50.

A medida, publicada no Diário Oficial de Boa Vista e assinada pelo presidente da Câmara, vereador Genilson Costa (Republicanos), justifica o aumento pelo alinhamento com os subsídios estaduais e a necessidade de acompanhar o cenário econômico. O reajuste será financiado pelo Plano Plurianual da Câmara para 2022-2025.

Em dezembro de 2022, os vereadores revogaram uma proposta que previa um reajuste de 51,74%, que elevaria os salários para R$ 15.192,97. A proposta de 2024, que aumenta ainda mais, foi aprovada em meio a controvérsias envolvendo o presidente da Câmara. Genilson Costa foi preso pela Polícia Federal por suspeita de financiamento do tráfico de drogas para compra de votos nas eleições municipais deste ano.

Belém – Pará

A Câmara Municipal de Belém aprovou em outubro um projeto de lei que propõe aumento salarial para prefeito, vice-prefeito, secretários e vereadores da capital, que já irá valer para 2025.

No entanto, o projeto aprovado em tempo recorde não foi enviado à Comissão de Economia e Finanças da Câmara, e nem está disponível em plataformas da casa, por isso não se sabe o valor proposto do aumento.

A falta de transparência gerou debate entre os próprios parlamentares e especialistas. Após a votação, os vereadores do Psol, Fernando Carneiro e Gizelle Freitas, publicaram um vídeo na rede social denunciando a votação rápida e irregularidades no processo. Uma ação foi protocolada na Justiça Estadual.

Atualmente, o salário dos parlamentares da Câmara Municipal de Belém é de R$ 18.999,19 mensais.

O g1 entrou em contato com a Câmara Municipal de Belém para apurar o valor do aumento, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.

Campo Grande – Mato Grosso do Sul

Na capital do MS, os vereadores, que anteriormente recebiam R$ 18.991,69 mensais, passarão a receber R$ 26.080,98 a partir de fevereiro de 2025, representando um aumento de 37,33% — equivalente a 75% do subsídio dos deputados estaduais de Mato Grosso do Sul.

Cuiabá – Mato Grosso

Durante uma sessão realizada em dezembro de 2023, a Câmara Municipal de Cuiabá aprovou um projeto de lei que aumenta o salário dos vereadores em 37%. Com essa mudança, os parlamentares que recebiam até R$ 18.900,00 passarão a receber R$ 26.080,98 a partir de fevereiro de 2025. No total, 18 parlamentares votaram a favor do projeto, enquanto quatro foram contra.

Segundo o projeto de lei, esse aumento tem como base a Constituição Federal, que permite que municípios com mais de 500 mil habitantes, o salário máximo dos vereadores deve corresponder a 75% do subsídio dos deputados estaduais.

Fortaleza – Ceará

Os vereadores de Fortaleza aprovaram o aumento de seus salários em 35,49%. A votação ocorreu dia 18 de dezembro. O reajuste salarial ocorreu na última semana de trabalho da Câmara Municipal.

O salário atual, de R$ 19.249,86, passará a ser R$ 26.080,98 a partir do dia 1° de fevereiro de 2025. O aumento será feito em partes, em janeiro e em fevereiro do próximo ano.

Os vereadores argumentaram que o aumento foi necessário para reajustar os salários de acordo com a inflação.

Curitiba – Paraná

Os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovaram dia 27 de novembro, em primeiro turno, um reajuste de 4,42% nos próprios salários.

A remuneração bruta passará de R$ 19.617,82 para R$ 20.484,93 a partir de 2025. Medida já foi sancionada pelo prefeito Rafael Greca (PSD). Para o presidente da Câmara, a remuneração sem os descontos mudará de R$ 23.890,26 para R$ 24.147,00.

A recomposição inflacionária dos subsídios dos vereadores de Curitiba está prevista na lei municipal 15.655, de 2020, e neste ano corresponde ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE entre outubro de 2023 e setembro de 2024. Esse reajuste se baseou no aumento dos salários dos servidores municipais, aprovado em 26 de novembro.

Florianópolis – Santa Catarina

Os vereadores de Florianópolis aprovaram um aumento de mais 48% nos próprios salários a partir da próxima legislatura. A partir de fevereiro de 2025, os parlamentares eleitos vão receber R$ 26.080,98.

A aprovação do projeto de lei número 19015/2023 ocorreu em sessão ordinária dia 13 de dezembro. Atualmente, os vereadores recebem R$ 17.539,20 mensais e com o reajuste o aumento real é de R$ 8.541,78.

A Câmara informou em nota que o projeto é uma “adequação ao art. 29, inciso VI, alínea f, da Constituição Federal, que estabelece que, em cidades com mais de 500 mil habitantes, o subsídio dos vereadores deve corresponder a 75% do valor do subsídio dos deputados estaduais de Santa Catarina, conforme fixado pela Lei Estadual nº 18.642, de 2023”.

João Pessoa – Paraíba

Em sessão extraordinária, a Câmara Municipal de João Pessoa aprovou em dezembro de 2022 um aumento salarial para os vereadores, que passará a ser de R$ 26.000,00 a partir de 2025.

A proposta estabelece, ainda, que o total da remuneração dos vereadores não poderá ultrapassar o montante de 5% da receita do município.

Parlamentares argumentaram que a correção aconteceu devido à falta de aumento nos últimos 12 anos, e às mudanças nos subsídios dos deputados estaduais da Paraíba.

Macapá – Amapá

A Câmara Municipal de Macapá aprovou por unanimidade dia 24 de outubro o projeto de lei que prevê um aumento salarial a partir de 2025 para vereadores, prefeito, vice-prefeito, secretários e o procurador-geral do município.

A medida, já sancionada pelo prefeito Dr Furlan (MDB), aumenta o salário dos parlamentares de R$ 12.015.00 para R$ 19.317,60. Vereadores argumentaram na decisão que não tinham o salário reajustado desde 2009.

Maceió – Alagoas

Os vereadores de Maceió aprovaram em novembro de 2023 o aumento dos próprios salários para 2025. O valor bruto passará dos atuais R$ 15.031,76 para R$ 18.991,68. O projeto de lei que trata do assunto já havia recebido parecer favorável das respectivas comissões da Câmara.

O projeto de lei argumentou que o reajuste equipara o salário dos vereadores a 75% do subsídio dos deputados estaduais (R$ 25.322,25), conforme o limite previsto na Constituição Federal para Câmaras Municipais de cidades com mais de 500 mil habitantes. O texto também argumenta que o valor não é reajustado desde 2013.

Manaus – Amazonas

A Comissão de Orçamento da Câmara Municipal de Manaus (CMM) votou e aprovou, dia 11 de dezembro, um Projeto de Lei apresentado pela Mesa Diretora. Esse projeto propõe aumento salarial para os vereadores eleitos para a 19ª legislatura, com mandatos de 2025 a 2028. O projeto foi sancionado pela prefeitura no dia seguinte.

O projeto prevê aumentos salariais de 37,32% para os vereadores. Agora, o salário dos parlamentares, que era de R$ 18.991,69, aumentou para R$ 26.080,98.

Segundo a proposta da Mesa Diretora, o reajuste salarial dos parlamentares municipais está vinculado ao dos deputados estaduais. Conforme consta na Lei Orgânica do Município, os vereadores devem ter o salário fixado em 75% dos vencimentos recebidos pelos parlamentares do estado.

Natal – Rio Grande do Norte

Os vereadores de Natal aprovaram em novembro de 2023 o aumento dos próprios salários, o do prefeito e também dos secretários da capital potiguar entre os anos de 2025 e 2028.

A votação, que aconteceu em regime de urgência, durou quatro minutos, e a emenda, que é um resumo do projeto, não foi lida no plenário. O salário dos parlamentares foi de R$ 19.500,00 para R$ 26.000,00 em 2025.

Assim como em outras capitais, o projeto de lei cita que o salário do vereador “não ultrapassará 75% do subsídio estabelecido para deputado estadual da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte”, segundo a Constituição Federal.

Porto Alegre – Rio Grande do Sul

Duas resoluções da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre autorizaram o reajuste salarial de vereadores, servidores públicos e do presidente do Legislativo em 3,69%. As medidas foram publicadas no Diário Oficial de Porto Alegre dia 2 de julho.

A justificativa da Mesa Diretora foi a “variação dos índices inflacionários medidos pelo IPCA”, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Com a medida, o salário dos vereadores passa de R$ 17.428,52 para R$ 18.071,63. Já o do presidente da Câmara, de R$ 21.785,65 para R$ 22.589,54.

Recife – Pernambuco

Os vereadores do Recife aumentaram os próprios salários para R$ 23,4 mil, por meio de um decreto legislativo aprovado em abril de 2023. A iniciativa foi da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Segundo a proposição, o reajuste vale a partir de janeiro de 2025, quando começa a nova legislatura.

Os parlamentares, que atualmente recebem R$ 18.980 mensais, vão começar a receber R$ 23.428,64 a partir de 2025. O decreto nº 11/2023 foi aprovado em discussão única. Por ser decreto legislativo, o projeto não precisou ser sancionado pelo prefeito João Campos (PSB).

Na justificativa do aumento, a Mesa Diretora afirma que o valor equivale a 75% do salário dos deputados estaduais. Em nota, a Câmara Municipal disse que “o valor do reajuste não altera os recursos do município que são repassados pela prefeitura à Câmara, nem fere a Lei de Responsabilidade Fiscal”.

São Paulo

Os vereadores da cidade de São Paulo aprovaram dia 12 de novembro, em votação única, o aumento do próprio salário a partir de 2025. A votação do projeto de resolução foi simbólica, ou seja, não houve voto nominal.

Conforme a proposta, o valor mensal para a próxima Legislatura será de R$ 24.754,79 a partir de 1º de janeiro de 2025 e R$ 26.080,98 a partir de 1º de fevereiro. Isso porque o salário dos vereadores está atrelado ao dos deputados estaduais, que já aprovaram um aumento para fevereiro.

O valor que passará a ser pago aos vereadores em fevereiro representa um acréscimo de 37,33% em comparação ao salário atual dos parlamentares, que é de R$ 18.991,68. Aprovado em votação única, o projeto é promulgado logo após a aprovação, não precisando ser sancionado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Vitória – Espírito Santo

A Câmara de Vitória aprovou aumento de salário e também do número de vereadores na capital. Os dois projetos foram aprovados no começo de maio de 2023. Com as novas medidas, o salário dos vereadores muda de R$ 8.966 para R$ 17.680, e o número de parlamentares passa de 15 para 21.

As mudanças passam a valer em 2025, no próximo mandato. Os dois projetos foram votados em sequência. Com o aumento do número de vereadores e dos salários, o gasto anual da Câmara deve aumentar mais de R$ 8 milhões a partir de 2025, incluindo o custo com mais seis gabinetes.

Comentários

Continue lendo

Brasil

Pesquisa revela que rios do Acre passaram a ser alternativas do tráfico internacional de drogas

Publicado

em

Juruá e Acre, além de outros 12 rios da Amazônia, passaram a ser utilizados com mais frequência por causa da lei do abate de aeronaves. A ação do tráfico fez explodir a violência na Amazônia, incluindo o Acre

Rio Juruá banha a capital do Juruá, Cruzeiro do Sul. Foto: Reprodução

Tião Maia, ContilNet

O aumento na taxa de homicídios em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, o segundo maior município do Estado do Acre, no período de 2005 a 2020, foi como uma explosão em termos de violência: 595% em 15 anos.

A taxa saiu de 4,3, de 1996 a 2004, para 30, no período de 2005 a 2020, o segundo maior índice da região Norte do país. O primeiro ficou com Eirunepé, município do Amazonas, que tem uma população estimada em 33 mil habitantes. Entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes. Mas, entre 2005 e 2020, esse número explodiu: 34 homicídios a cada 100 mil habitantes – um aumento vertiginoso de 819%.

Além de terem em comum a situação geográfica, Cruzeiro do Sul e Eirunepé, embora estejam em estados diferentes, são banhadas pelo mesmo rio, o Juruá, um dos afluentes do Rio Amazonas. Assim como esses dois, existem outros quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem de rota para o tráfico que envolve Brasil, Peru, Colômbia e Bolívia. São eles: Abunã, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xié.

O resultado da pesquisa está publicado na revista Piauí deste mês, com base em estudos sobre Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira, produzido por pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com a participação do IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia.

Cerco ao transporte de droga pelo ar fez aumentar uso dos rios, mostra pesquisa

De acordo com a publicação, a hipótese para o aumento da violência que atinge pequenos municípios na região amazônica banhados por essas águas tem uma explicação: com o cerco aos aviões, intensificou-se o uso de barcos no escoamento da droga.

A mudança no transporte do entorpecente aconteceu depois de 2004, ano em que o governo brasileiro colocou em prática uma política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Com a nova lei, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.

O escoamento pela água, um meio de deslocamento mais demorado, exige uma dinâmica própria e influencia as comunidades atingidas, argumentam os estudiosos. Os longos trajetos, por exemplo, levam os criminosos a empregarem diferentes barqueiros, contratarem pessoas para fazer a segurança do carregamento, fornecer equipamentos, estocar a droga, entre outras funções. “Isso acaba trazendo a atividade ilegal para uma proximidade muito maior com a população local”, diz Rodrigo R. Soares, professor titular da cátedra Fundação Lemann no Insper e líder da pesquisa.

Uma versão resumida em português foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a Amazônia. Foto: Rio Acre/Assis Brasil

Mudanças na logística fizeram explodir a violência em cidades ribeirinhas

As estimativas do estudo indicam que a mudança na logística para movimentar a droga ocasionou, entre 2005 e 2020, 27% do total de 5.337 mortes em 67 cidades da região Oeste da Amazônia margeadas pelos dezesseis “rios de cocaína”. Elas têm menos de 100 mil habitantes, estão longe das grandes cidades e do cruzamento de rodovias, o que diminui as chances de as mortes estarem relacionadas a disputas fundiárias ou desmatamento ilegal. A prevalência de óbitos acontece entre homens de 20 a 49 anos, por uso de arma de fogo ou faca.

Os estudos mostram que o Brasil possui cerca de 8 mil km de fronteira com três países que concentram o plantio de coca na região, que está dividido da seguinte forma: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%), segundo o relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês). Até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para norte-americanos e europeus, onde estão os maiores compradores.

A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. O Brasil, que até então figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro colocado, atrás de Estados Unidos e Colômbia, apontam dados da UNODC de 2021. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km².

Uma das medidas para inibir o tráfico veio em 2004 com a chamada Lei do Abate. A medida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma longa discussão no Congresso e com as Forças Armadas. A lei sinalizava que o governo estava disposto a “combater, com as armas adequadas, a invasão de nossas fronteiras por quadrilhas internacionais de narcotraficantes”, afirmou o então ministro da Defesa, José Viegas Filho.

Àquela altura, o país montava uma infraestrutura própria para agir nesse campo – havia pouco controle sobre o espaço aéreo da Amazônia, o que facilitava voos carregados de drogas vindos de países andinos. Em 2002, o Sistema de Vigilância da Amazônia e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam) entraram em operação sob a justificativa de aumentar a vigilância e o controle do tráfego aéreo, das fronteiras, monitorar comunicações clandestinas, rotas de tráfico e contrabando, além de identificar pistas escondidas e garimpos ilegais. Anos mais tarde, em 2005, o Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) iniciava suas atividades em Manaus.

Assim que a Lei do Abate passou a valer, a FAB diz ter registrado uma redução imediata de 32% no número de voos irregulares. O primeiro relato de interceptação de avião suspeito veio a público em 2009, quando uma aeronave vinda da Bolívia foi alvo de disparos de advertência pelos militares brasileiros após o piloto se negar a obedecer. Depois dos tiros, o avião, que carregava 176 kg de pasta base de cocaína, pousou numa estrada de terra em Rondônia.

O estudo liga a interdição aérea ao volume da droga apreendida. Com a migração de parte do comércio ilegal para os rios e estradas, o Brasil dobrou a quantidade de cocaína detida por mar, terra e ar entre 2004 e 2005: foi de 7,7 toneladas para 15,7 toneladas, segundo estatísticas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) à época.

No entanto, a estratégia usada para dificultar o tráfico de drogas pelo ar pode ter estimulado um novo problema. Segundo o estudo dos pesquisadores brasileiros, a geografia da floresta favoreceu a rápida adaptação do narcotráfico. A análise indica que a violência nas cidades ao longo das vias acessadas mudou de padrão depois da Lei do Abate. O estudo também aponta o aumento de mortes por overdose, sinalizando maior presença de drogas em circulação. “Observamos que diversos municípios com zero casos de overdose antes de 2005 passaram a ter episódios esporádicos desde então”, afirmam os pesquisadores, alertando ainda para a provável subnotificação de casos.

Existem quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”. Foto: Reprodução

Disputa pelo monopólio do tráfico na região entre facções criminosas

Os pesquisadores alertam que é praticamente impossível enfrentar o problema numa região do tamanho da Amazônia, maior que a União Europeia, apostando só na presença ostensiva da polícia ou das Forças Armadas. “Tem que pensar em algum uso de tecnologia que seja capaz de acompanhar isso e gerar alertas que acionem uma reação”, sugere a pesquisa, citando drones, radares móveis e melhor coordenação entre os órgãos de fiscalização e autoridades dos países vizinhos. Outra ação vital é oferecer às comunidades locais alternativas que gerem renda, preservem a floresta e o modo de vida tradicional, a fim de evitar o envolvimento dos moradores com o narcotráfico e impedir possível “entrincheiramento de algum grupo criminoso ali na região que consiga um monopólio”.

A disputa pelo monopólio do tráfico de drogas na Amazônia sugerida pela pesquisa foi diagnosticada pelo Fórum de Segurança Pública em um relatório de 2022, citado no estudo sobre os “rios de cocaína”. A análise do Fórum abordou o interesse de facções do Sudeste, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, de São Paulo, pelo controle da região entre 2015 e 2016. O relatório cita ainda que “algumas facções locais compreenderam melhor os mecanismos de funcionamento das redes ilegais através da Amazônia”.

Esse fenômeno suscitou o surgimento de organizações regionais, como a Família do Norte, no Amazonas. Cientes disso, os estudiosos do Insper e da USP compararam os homicídios ocorridos após 2015, tentando identificar algum aumento de óbitos a partir da interferência das facções. Os números mostram que a taxa de mortes se manteve similar durante todo o período a partir de 2004, quando a restrição aérea foi implementada.

Por fim, os pesquisadores ressaltam que, além dos esforços brasileiros para conter o crime organizado, é imprescindível uma cooperação internacional, “principalmente na região andina, para garantir uma abordagem coordenada ao tráfico de cocaína, com maior troca de informações e práticas de segurança transnacional”.

Comentários

Continue lendo

Brasil

Com repasses de R$ 32,5 milhões, Acre chegou a 98% de execução de recursos da Lei Paulo Gustavo, diz governo federal

Publicado

em

Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais

Maior parte dos recursos foi destinada a projetos de audiovisual. Foto: Lucas Dutra/FEM

O Acre foi um dos estados que mais se destacou na execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo, com mais de 98% do montante recebido sendo investido na cultura local. Ao todo, o estado e seus 22 municípios executaram R$ 32,5 milhões, sendo R$ 23,86 milhões direcionados ao setor audiovisual e R$ 8,68 milhões para diversas outras manifestações culturais, como música, dança, pintura e artes digitais.

Entre os municípios acreanos, Rio Branco foi o grande protagonista, com R$ 3,15 milhões aplicados em projetos audiovisuais e R$ 1,27 milhão em outras áreas culturais. As cidades de Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá e Feijó também se destacaram na execução dos recursos, contribuindo para o fortalecimento da cultura no estado.

A Lei Paulo Gustavo, sancionada em 2022, foi criada para apoiar o setor cultural durante a pandemia de Covid-19. Inspirada no legado do humorista Paulo Gustavo, que faleceu em decorrência da doença, a lei destinou recursos a estados, municípios e ao Distrito Federal, com o objetivo de ajudar artistas e produtores culturais a manterem suas atividades durante a crise. Com uma execução recorde, a lei se consolidou como o maior investimento direto na cultura na história do Brasil, promovendo o fortalecimento da economia criativa e a valorização das expressões culturais locais.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, fez questão de ressaltar a importância da Lei Paulo Gustavo para o desenvolvimento cultural e social do Brasil. “A lei é responsável pelo desenvolvimento econômico, social e artístico ao injetar recursos financeiros nos municípios e estados, gerando emprego, renda e dignidade para o nosso povo. A cultura está diariamente na vida dos brasileiros, e por isso leis de incentivo, como a Paulo Gustavo, são fundamentais para fomentar e evidenciar a diversidade da nossa gente e as diferentes formas de se fazer cultura”, afirmou.

Em nível nacional, os recursos da Lei Paulo Gustavo somaram R$ 3,93 bilhões, o maior investimento na história do país para o setor cultural. Com uma execução recorde de 95% dos recursos, a lei se consolidou como um importante pilar de apoio à cultura, especialmente em um momento tão desafiador como a pandemia de Covid-19.

O Acre, ao lado de outros estados que também se destacaram, como o Espírito Santo e o Paraná, é exemplo de como a aplicação desses recursos tem gerado impacto positivo na economia e na vida das pessoas. A execução eficiente no estado mostra como é possível investir em cultura e fortalecer a identidade local, ao mesmo tempo em que se geram novas oportunidades para a população.

Comentários

Continue lendo

Brasil

Governo Federal propõe expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado

Publicado

em

Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional

Modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Foto: internet

O Governo Federal anunciou a criação de uma proposta legislativa que visa expandir o acesso ao crédito consignado para os cerca de 42 milhões de trabalhadores com carteira assinada (CLT) no Brasil, especialmente aqueles com dificuldades de acesso a este tipo de financiamento. A principal novidade da proposta é a criação de uma plataforma que permitirá aos bancos e instituições financeiras consultar diretamente o perfil de crédito dos trabalhadores por meio do eSocial, o sistema eletrônico obrigatório que reúne informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais dos empregados de todo o país.

O crédito consignado, uma das modalidades de empréstimo mais populares no Brasil, tem as parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento do devedor. Essa modalidade oferece juros mais baixos em comparação com outros tipos de crédito, sendo amplamente utilizada por servidores públicos, aposentados e pensionistas do INSS. Atualmente, a legislação permite que trabalhadores com carteira assinada acessem o crédito consignado, mas a exigência de convênios entre empresas e bancos dificulta a adesão de pequenas e médias empresas, limitando o acesso ao serviço.

O projeto foi discutido em uma reunião com o presidente Lula, os ministros Haddad e Luiz Marinho, além dos presidentes de cinco dos maiores bancos públicos e privados do país, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Durante o encontro, ficou claro que a proposta busca eliminar a necessidade de convênios entre as empresas e os bancos, facilitando a oferta de crédito para trabalhadores de diversos setores, independentemente do porte da empresa em que trabalham.

Para viabilizar essa nova modalidade de crédito, o governo deve editar uma Medida Provisória (MP) ainda em fevereiro, embora o prazo exato ainda não tenha sido definido. Existe também a possibilidade de enviar um projeto de lei para o Congresso Nacional, conforme indicou o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

As regras sobre o limite do crédito consignado, como o teto de 30% da renda mensal do trabalhador comprometida com o empréstimo, deverão permanecer inalteradas. Além disso, os trabalhadores poderão utilizar até 10% do saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a multa por demissão sem justa causa para o pagamento das parcelas, caso se desliguem da empresa.

Comentários

Continue lendo