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Tráfico de drogas rende milhões e impulsiona ações do Talibã no Afeganistão
Agência da ONU estima que produção de ópio em 2017, recorde do país, movimentou até US$ 6,6 bilhões; para especialistas, Talibã lucra até US$ 400 milhões ao ano

Reuters
Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) em 15 anos de esforços para privar o Talibã de lucroar com o comércio de ópio e heroína produzidos no Afeganistão.
No entanto, a estratégia – que envolvia ações desde a erradicação da papoula até ataques aéreos a plantações e a laboratórios suspeitos – falhou.
Enquanto os EUA encerram sua guerra mais longa, o Afeganistão continua sendo o maior fornecedor de opiáceos ilícitos do mundo, o que não deve mudar no futuro próximo já que o Talibã está prestes a assumir o controle total do país, disseram funcionários e especialistas norte-americanos e da ONU.
Destruição generalizada durante a guerra, milhões de pessoas desalojadas, cortes de ajuda externa e perdas de gastos locais por tropas estrangeiras que deixaram o país alimentam uma crise econômica e humanitária que provavelmente deixará muitos afegãos dependentes do comércio de narcóticos para sobreviver.
Essa dependência ameaça trazer mais instabilidade à medida que o Talibã, outros grupos armados, chefes militares tribais e funcionários públicos corruptos disputam os lucros e o poder das drogas.
Alguns funcionários dos Estados Unidos e das Nações Unidas temem que a queda do governo do Afeganistão crie condições para uma produção ilícita ainda maior de opiáceos, um benefício potencial para o Talibã.

“O Talibã conta com o comércio de ópio afegão como uma de suas principais fontes de renda”, disse César Guedes, chefe do escritório de Cabul do Escritório de Drogas e Crime da ONU (UNODC), à Reuters.
“Uma maior produção permitirá a venda de drogas com preço mais barato e atraente e, portanto, maior acessibilidade”, completou.
“Este é o melhor momento para esses grupos ilícitos se posicionarem [para expandir seus negócios], disse Guedes, ao falar sobre a tomada de Cabul pelos insurgentes, no domingo (15).
O Talibã proibiu o cultivo de papoula em 2000, enquanto buscava legitimidade internacional, mas enfrentou uma reação popular e mais tarde mudou sua postura, de acordo com especialistas.
Apesar das ameaças representadas pelo comércio de drogas ilícitas do Afeganistão, os Estados Unidos e outras nações raramente mencionam em público a necessidade de abordar essas vendas – estimadas pelo UNODC em mais de 80% dos suprimentos globais de ópio e heroína –, observaram os especialistas.
“Ficamos paralisados ??e, infelizmente, permitimos que o Talibã se tornasse provavelmente a maior organização terrorista não designada financiada do mundo”, disse um funcionário dos EUA com conhecimento do comércio de drogas no Afeganistão.
“Os EUA e parceiros internacionais continuaram a se retirar [do país] e não abordaram o cultivo de papoula”, disse o funcionário sob condição de anonimato. “O que todos vão descobrir é que isso explodiu.”
Questionado sobre essa questão, um funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que o país continuaria a apoiar o povo afegão, “incluindo os esforços contínuos contra o narcotráfico”, mas se recusou a dizer como a ajuda continuaria se o Talibã se consolidar no poder.

Policiais do Afeganistão destroem plantação de papoula em fiscalização na cidade de Qalat Foto: Brian Wagner
Aumento no cultivo de papoula
Os fazendeiros afegãos avaliam muitos fatores ao decidir a quantidade de papoula que vão plantar. São questões que variam desde a precipitação anual e o preço do trigo – principal cultura alternativa à papoula – até os preços mundiais do ópio e da heroína.
No entanto, mesmo durante as secas e escassez de trigo, quando os preços do cereal dispararam, os agricultores afegãos cultivaram papoula e extraíram goma de ópio, que é refinada em morfina e heroína.
Nos últimos anos, muitos instalaram painéis solares de fabricação chinesa para alimentar poços de águas profundas.
Três dos últimos quatro anos viram alguns dos níveis mais altos de produção de ópio do Afeganistão, de acordo com o UNODC. Mesmo com a pandemia de Covid-19, o cultivo de papoula aumentou 37% no ano passado, segundo relatório divulgado em maio.
Os narcóticos ilícitos são “a maior indústria do país, com exceção da guerra”, disse Barnett Rubin, ex-assessor do Departamento de Estado para o Afeganistão.

A estimativa mais alta na história da produção de ópio pelo país foi estabelecida em 2017, com 9.900 toneladas avaliadas em cerca de US$ 1,4 bilhão (R$ 7,3 bilhões), ou cerca de 7% do PIB do Afeganistão, relatou o UNODC.
Quando o valor das drogas para exportação e consumo local são considerados com os precursores químicos importados, o UNODC estimou a economia geral de opiáceos ilícitos do país naquele ano em até US$ 6,6 bilhões (R$ 34,6 bilhões).
O Talibã e as autoridades públicas há muito se envolvem no comércio de entorpecentes, disseram os especialistas, embora alguns questionem a extensão do papel e dos lucros dos insurgentes.
As Nações Unidas e Washington afirmam que o Talibã está envolvido em todas as frentes, desde o plantio de papoula, extração de ópio e tráfico até a cobrança de “impostos” de cultivadores e laboratórios de drogas e de contrabandistas por carregamentos com destino à África, Europa, Canadá, Rússia, Oriente Médio e outras partes da Ásia.
Alguns desses carregamentos são lançados através da fronteira fortemente patrulhada com o Irã com catapultas rudimentares, relatou David Mansfield, um importante pesquisador do comércio de drogas ilícitas do Afeganistão.
Funcionários da ONU relataram que o Talibã provavelmente ganhou mais de US$ 400 milhões entre 2018 e 2019 (cerca de R$ 2,09 bilhões) com o comércio de drogas.
Um relatório do Inspetor Geral Especial dos EUA para o Afeganistão (SIGAR) de maio de 2021 estimou que até 60% da receita anual do grupo tem origem nos narcóticos ilícitos.
Alguns especialistas contestam esses dados.
Mansfield diz que seus estudos de campo mostram que o máximo que o Talibã pode ganhar com opiáceos ilícitos é cerca de US$ 40 milhões (R$ 209 milhões) anuais, predominantemente com impostos sobre a produção de ópio, laboratórios de heroína e remessas de drogas.
Para ele, os insurgentes ganham mais dinheiro cobrando taxas sobre importações e exportações legais em postos de controle de beira de estrada.
Washington gastou cerca de US$ 8,6 bilhões entre 2002 e 2017 para estrangular o comércio de drogas do Afeganistão de modo a acabar com essa fonte de renda para o Talibã, de acordo com um relatório de 2018 do SIGAR.
Além da erradicação da papoula, os Estados Unidos e aliados apoiaram ataques de interdição e programas de cultivo alternativo, ataques aéreos a supostos laboratórios de heroína e outras medidas.
“[Esses esforços] realmente não tiveram muito sucesso”, disse à Reuters o general aposentado do Exército dos EUA Joseph Votel, que liderou o Comando Central dos EUA de 2016 a 2019.
Em vez disso, dizem os especialistas, eles alimentaram a raiva contra o governo de Cabul e seus apoiadores estrangeiros – e a simpatia pelo Talibã – entre os fazendeiros e trabalhadores que dependem da produção de ópio para alimentar suas famílias.
O Talibã aprendeu essa lição com a proibição do cultivo de papoula em 2000, disse a estudiosa do Brookings Institution, Vanda Felbab-Brown.
Apesar de um declínio acentuado na produção, a proibição desencadeou “uma enorme tempestade política contra o grupo e foi uma das razões pelas quais houve deserções tão dramáticas após a invasão dos EUA”, disse ela.
Portanto, dizem os especialistas, é improvável que o Talibã proíba o cultivo de papoula caso se consolide no poder desta vez.
“Um futuro governo [do Talibã] precisará agir com cuidado para evitar alienar seu eleitorado rural e não provocar resistência e rebelião violenta”, disse Mansfield.
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Dono do Banco Master e ex-presidente do BRB depõem à PF nesta terça
A investigação sobre fraude bilionária envolvendo o Banco Master colhe, nesta terça-feira (30), os depoimentos do dono do Master, o banqueiro Daniel Vorcaro, do ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e do diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Ailton de Aquino.

Os depoimentos à Polícia Federal (PF) serão tomados no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), a partir das 14h.
As oitivas são parte de inquérito, no STF, que apura as negociações sobre a venda do Banco Master ao BRB, banco público do Distrito Federal (DF).
O BRB tentou comprar o Master pouco antes do Banco Central (BC) decretar a falência extrajudicial da instituição, e apesar de suspeitas sobre a sustentabilidade do negócio.
Paulo Henrique Costa foi afastado da presidência da instituição por decisão judicial.
Em novembro, o ex-presidente do BRB e Daniel Vorcaro foram alvos da Operação Compliance Zero, que investiga a concessão de créditos falsos. As fraudes podem chegar a R$ 17 bilhões em títulos forjados.
As oitivas dos investigados foram determinadas pelo ministro Dias Toffoli e serão realizadas individualmente. Inicialmente, o ministro do STF queria uma acareação entre os envolvidos. Porém, Toffoli definiu, dias depois, que a acareação só deve ocorrer caso a PF ache necessária. Acareação é quando os envolvidos ficam frente a frente para confrontar versões contraditórias.
Apesar do diretor do Banco Central não ser investigado, seu depoimento foi considerado pelo ministro Toffoli de “especial relevância” para esclarecer os fatos, uma vez que o BC é a instituição que fiscaliza a integridade das operações do mercado financeiro.
A defesa do banqueiro Vorcaro informou à Agência Brasil que não vai se manifestar sobre o depoimento porque o processo corre em sigilo.
A defesa do ex-chefe do BRB, Paulo Henrique Costa, por sua vez, informou que não se manifesta antes do depoimento.
O Banco Central também não se manifestou em relação ao depoimento do diretor de fiscalização da instituição.
BRB quis comprar Master
Em março deste ano, o BRB anunciou a intenção de comprar o Master por R$ 2 bilhões – valor que, segundo o banco, equivaleria a 75% do patrimônio consolidado do Master.
A negociação chamou a atenção de todo o mercado, da imprensa e do meio político, pois, já na época a atuação do banco de Daniel Vorcaro causava desconfiança entre analistas do setor financeiro.
No início de setembro, o Banco Central (BC) rejeitou a compra do Master pelo BRB. Em novembro, foi decretada falência da instituição financeira.
Compliance Zero
A Operação Compliance Zero é fruto das investigações que a PF iniciou em 2024, para apurar e combater a emissão de títulos de créditos falsos.
As instituições investigadas são suspeitas de criar falsas operações de créditos, simulando empréstimos e outros valores a receber. Estas mesmas instituições negociavam estas carteiras de crédito com outros bancos.
Após o Banco Central aprovar a contabilidade, as instituições substituíam estes créditos fraudulentos e títulos de dívida por outros ativos, sem a avaliação técnica adequada.
O Banco Master é o principal alvo da investigação instaurada a pedido do Ministério Público Federal (MPF).
Na nota, o BRB afirmou que “sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando, regularmente, informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central sobre todas as operações relacionadas [às negociações de compra do] Banco Master”.
Fonte: Conteúdo republicado de AGENCIA BRASIL - NOTÍCIAS
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Acre terá R$ 5,7 bilhões em obras e 3 mil casas pelo Minha Casa, Minha Vida até 2027
Investimentos do Novo PAC vão da nova Maternidade de Rio Branco ao linhão elétrico entre Feijó e Cruzeiro do Sul; transferências federais ao estado cresceram 29% em relação a 2022

Serão investidos R$5,7 bilhões para acelerar a saúde, a educação, a cultura, a sustentabilidade, o transporte e a infraestrutura do Acre, segundo publicação. Foto: captada
O Acre terá R$ 5,7 bilhões em investimentos até 2030 por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), abrangendo setores como saúde, educação, cultura, sustentabilidade, transporte e infraestrutura. Além disso, até 2027, a expectativa é de que 3 mil acreanos recebam a chave da casa própria por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal.
Entre as principais obras previstas estão a construção da nova Maternidade de Rio Branco, no Segundo Distrito; o linhão de transmissão de energia entre Feijó e Cruzeiro do Sul, com 277 quilômetros de extensão; e a restauração da BR-364. Até 2030, serão 250 empreendimentos em todo o estado.
Em 2024, o governo federal transferiu R$ 9,9 bilhões para complementar o orçamento do estado e das prefeituras acreanas, valor 29% maior que o repassado em 2022, último ano do governo Bolsonaro.
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Acre cria sistema e centro integrado para monitoramento ambiental e combate ao desmatamento
Lei sancionada pela governadora em exercício Mailza Assis formaliza estruturas já existentes na Secretaria de Meio Ambiente; governo garante que não gerará aumento de despesas

A publicação, assinada pela governadora em exercício Mailza Assis (PP) foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE). Foto: captada
Foi sancionada nesta terça-feira (30) a lei que cria o Sistema Integrado de Meio Ambiente e Mudança do Clima (SIMAMC) e o Centro Integrado de Inteligência, Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (CIGMA) no Acre. A publicação, assinada pela governadora em exercício Mailza Assis (PP), também institui o Grupo Operacional de Comando, Controle e Gestão Territorial, com foco no fortalecimento do combate ao desmatamento e às queimadas.
Segundo o governo, a medida não implica aumento de despesas, uma vez que o CIGMA já está em funcionamento dentro da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), carecendo apenas de institucionalização legal. A lei visa integrar e otimizar ações de monitoramento, inteligência e gestão territorial no estado, ampliando a capacidade de resposta a crimes ambientais.
A publicação ocorreu no Diário Oficial do Estado (DOE) e representa mais um passo na estruturação da política ambiental acreana, em meio a discussões nacionais sobre clima e preservação.


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