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‘Tive sorte de continuar vivo, agora me preocupa o clima’, diz primo de Chico Mendes

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Raimundo Mendes de Barros é primo do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988 em Xapuri, no Acre

Raimundo Mendes de Barros é primo do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988 em Xapuri, no Acre – Andre Carioba

O seringueiro Raimundo Mendes de Barros teve a sorte de continuar vivo na disputa sangrenta entre trabalhadores rurais e fazendeiros que tirou a vida de seu primo Chico Mendes nos anos 1990 no Acre.

“Achavam que com a morte de Chico íamos parar, mas avançamos extraordinariamente”, diz Raimundão, como é conhecido desde os tempos de sindicato.

“Deus foi generoso comigo. Tive Covid, tive AVC, perdi um pouco da energia, mas me sinto motivado de estar na floresta onde nasci e me criei.”

Herdeiro da militância na região amazônica (“o sangue que corria na veia de Chico corre na minha”), com passagem pela política local, o seringueiro de 79 anos mantém críticas aos latifundiários, aos pecuaristas de São Paulo, à foice e à motosserra. E incorpora temas como mudança climática ao discurso em defesa da Floresta Amazônica.

A imagem mostra um homem idoso com barba e cabelo grisalho, usando um boné vermelho. Ele está sorrindo e olhando para cima, com um fundo desfocado que sugere um ambiente interno. Ao fundo, é possível ver uma pessoa com uma camisa verde, mas não está claramente focada.

Raimundo Mendes de Barros é primo do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988 em Xapuri, no Acre

Em junho deste ano, Raimundão realizou um sonho: inaugurou uma marcenaria comunitária no coração da Reserva Extrativista Chico Mendes, a 20 km de Xapuri (AC), mesma terra em que o ícone ambientalista levou um tiro em 1988.

O Ateliê da Floresta faz arte, móveis e utensílios com resíduos de árvores que naturalmente caem, oferecendo uma nova fonte de renda e orgulho para a comunidade. Galerias de Manaus e de São Paulo encomendam produtos da marcenaria.

O projeto tem apoio do Lira (Legado Integrado da Região Amazônica), iniciativa do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) que identifica e financia iniciativas socioambientais para conservar a Amazônia.

Em quatro anos, o Lira investiu R$ 46 milhões em 50 projetos de impacto na região, com recursos do Fundo Amazônia e da Fundação Gordon and Betty Moore.

A imagem mostra três pessoas em um ambiente de construção. À esquerda, um jovem com um chapéu claro e camisa de manga longa observa com um sorriso. No centro, um homem idoso com barba e um chapéu vermelho está em pé, olhando para cima, com uma expressão pensativa. À direita, uma mulher com óculos escuros e uma blusa colorida está sentada, olhando para o homem idoso. Eles estão próximos a uma parede feita de tijolos de cor laranja, e o teto é de metal ondulado.

Raimundo Mendes de Barros com Bleno Caleb e Jannyf Christina, da SOS Amazônia, durante as obras do Ateliê da Floresta – Andre Carioba

“A luta que construímos com Chico nos libertou da escravidão e do domínio do patrão. Ele sonhava que um dia os caboclos e caboclas fossem considerados iguais aos da cidade”, afirma o seringueiro.

Raimundão faz um paralelo entre a vida na seringa à época de Chico Mendes e nos dias atuais nesta entrevista à Folha. Leia os principais trechos.

Como estão as ameaças à Floresta Amazônica? São as mesmas dos anos 1980?

Continuam sendo um problema sério. Hoje não é só fazendeiro que derruba a floresta. Os pequenos, na ânsia de botar dinheiro no bolso, destroem a mata pela foice e pela motosserra, tiram madeira de forma clandestina e criam boi. É uma febre desgraçada.

Eu vivi a violência do latifúndio com os companheiros seringueiros. Fizemos inúmeros empates, junta para tentar parar os peões que iam derrubando tudo para o pasto. Chico tinha aprendido que era possível construir poder pela luta armada, mas não queria isso. Tinha personalidade equilibrada e sabida, orientava a não agir com violência.

O sangue que corria na veia dele corria na minha. Estávamos diante de pobres, pais de família que migravam de outros estados para fazer sua sobrevivência. Só que eles tiravam a nossa, pois vivíamos da borracha e da castanha, como nossos antepassados.

Foi grande a luta. Hoje não nos preocupamos apenas com a sobrevivência, mas com a questão climática aqui na região.

Como o clima tem afetado a vida de vocês? Vivemos uma situação perigosa e que não era normal no passado. Tínhamos meses bem determinados de chuva e meses de verão, quando não chove. Agora chove muito quando é para fazer verão. Com a tiragem das árvores, o solo fica exposto ao sol e não tem folhagem para absorver a água que cai. É um transtorno danado.

As águas correm por lugares baixos, vai aterrando tudo. E aí começa a faltar água para nossas vertentes. No ano passado, elas secaram em agosto, agora em julho já está começando. Nunca tinha visto isso desde que cheguei aqui.

É grave para nós, filhos natos da floresta, que temos consciência de que a floresta é fonte de sobrevivência.

“É um transtorno danado”. Raimundo Mendes de Barros sobre os efeitos da mudança do clima em Xapuri (AC)

Raimundão faz um paralelo entre a vida na seringa à época de Chico Mendes e nos dias atuais nesta entrevista à Folha

O que vocês têm feito para encarar as ameaças da foice e do clima? Eu estou aqui bem ao lado de uma fazenda de um grupo de pecuaristas, vendedores de carne de São Paulo. Cultivar castanha, borracha, óleo da copaíba, água de jatobá e açaí nos dá condição de continuarmos aqui na floresta. Sem apoio a esses nossos produtos, as pessoas se desestimulam e partem para ser peão de fazenda, boia-fria.

Há alguns anos, nossa comunidade discutiu manejo comunitário, mas o sonho mesmo era reaproveitar restos de árvores que apodrecem na floresta. É a madeira que cai nos temporais, que morre com a faísca da chuva ou com a queda natural.

Queremos a floresta viva e nada melhor que atuar com marcenaria. Achamos um parceiro, a SOS Amazônia, que se sensibilizou com o Ateliê da Floresta.

Como vocês reaproveitam esses resíduos das árvores? Na minha colocação [área em que mora a família de Raimundão dentro da reserva] tem 9 estradas de seringa, 500 hectares de floresta, tem bastante árvore morta. Eu não uso de ambição, sou do coletivo, de fazer junto. Vamos na mata, cortamos aquelas que estão caídas e trazemos para a marcenaria. De lá sai material de decoração, de cozinha, gamela, colher, escumadeira, garfo, pilão para pimenta, uma variedade de objetos.

E esse projeto tem mantido a juventude na terra? Tem 14 pessoas trabalhando no Ateliê. Estamos formando artesãos, criando uma profissão, aumentando renda e colocando mais um trocado na cesta. Mas ainda assim é uma situação delicada para os pais da floresta. Muitos de seus filhos vão para a cidade. Só um dos meus vive comigo, os outros se foram.

Apesar das questões territoriais e ambientais, a vida melhorou para as famílias?

Cheguei aqui há 44 anos. O analfabetismo era demais, não sabíamos o que era saúde, não recebíamos uma assistência, era isolamento total do poder público. Só nos “alumiávamos” com a luz do querosene ou com o leite da seringa dentro da lata com areia. Só os patrões da borracha compravam e vendiam mercadoria.

A luta que construímos com Chico nos libertou da escravidão, do domínio do patrão e da violência do latifúndio perverso. Ele sonhava que um dia os caboclos e caboclas fossem considerados iguais aos da cidade. Hoje temos escola, geladeira, televisão e nossos filhos vão à faculdade. Temos a barriga cheia. Avançamos extraordinariamente.

“Eu não uso de ambição, sou do coletivo, de fazer junto” – Raimundo Mendes de Barros sobre a metodologia do Ateliê da Floresta

E qual o balanço que o senhor faz da vida ao completar 79 anos? Deus foi generoso comigo. Dei conta do sindicato, da câmara [foi vereador de Xapuri por quatro mandatos] e da família. Tive oito filhos. Fui a lugares como Itália, Alemanha e Estados Unidos para falar da nossa situação e ganhar aliados.

Tive Covid, tive AVC, perdi um pouco da energia, mas me sinto motivado de estar na floresta onde nasci e me criei. Tive a sorte de continuar vivo.

Raio-X

Raimundo Mendes de Barros, 79, conhecido como Raimundão, é seringueiro e extrativista. Atuou na Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública), foi presidente do sindicato de trabalhadores rurais da região e vereador por Xapuri (AC) durante quatro mandatos, tendo os direitos desses trabalhadores como plataforma política. Braço direito de Chico Mendes, seu primo, seguiu lutando pela preservação da floresta mesmo após sua morte, em 1988.

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Bolsonaro volta a centro cirúrgico para tratamento de soluços, diz Michelle

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Em publicação, Carlos Bolsonaro reclamou sobre impedimento de visita de mais de um filho no mesmo horário

O ex-presidente Jair Bolsonaro • Wilton Junior/Estadão Conteúdo

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro postou neste sábado (27) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao centro cirúrgico para realizar um procedimento que visa tratar suas crises de soluço.

“Peço que intercedam em oração por mais esse procedimento, para que seja exitoso e traga alívio definitivo. Já são nove meses de luta e de angústia com soluços diários”, escreveu Michelle em publicação no Instagram.

Em publicação separada, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) comentou sobre a realização da operação e reclamou sobre impedimento de visita de mais de um filho no mesmo horário.

“Meu pai volta à mesa de cirurgia novamente! Meu irmão, [Jair Renan Bolsonaro] está aguardando no hospital para mais informações pois não é possível visita de mais de um filho no mesmo horário. Pra que isso, Meu Deus?!”, escreveu Carlos na rede social X, antigo Twitter.

O procedimento se trata do bloqueio anestésico do nervo frênico, localizado na região da coluna cervical e que se estende até o diafragma. A intervenção visa aliviar os soluços do ex-presidente.

O tratamento é considerado invasivo pela equipe médica que acompanha Bolsonaro, mas é visto como seguro. Em caso de dificuldade respiratória, seria necessário o suporte ventilatório artificial, até passar o efeito do anestésico.

Na quinta-feira (25), o ex-presidente passou por uma cirurgia para tratar de uma hérnia inguinal. A operação não tinha relação com as crises de soluço.

Questionados sobre o que poderia ser feito neste sentido, os médicos do ex-presidente afirmaram que optariam por otimizar seus remédios e dieta num primeiro momento.

Ajustes nas medicações foram feitos na sexta-feira (26), mas Bolsonaro seguiu tendo crises ao longo da última noite.

 

 

Fonte: CNN

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Moraes mandou prender condenados por trama golpista sem ouvir PGR ou PF

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Advogados criticam decisão “de ofício” de ministro do STF

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de mandar prender condenados pelo plano de golpe neste sábado (27) foi tomada “de ofício”, ou seja, sem provocações da PGR (Procuradoria-Geral da República) ou da PF (Polícia Federal).

De acordo com Moraes, a determinação teve o objetivo de evitar novas fugas de condenados, como ocorreu como ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques, preso no Aeroporto Internacional de Assunção, no Paraguai nessa sexta-feira (26).

Sob reserva, advogados de condenados da trama golpista veem a criação de um “precedente perigoso” na ordem de prisão domiciliar e um “adiantamento” do cumprimento da pena por conta do comportamento de outros condenados.

Os presos neste sábado ainda aguardam o chamado trânsito em julgado, ou seja, o esgotamento de todos os recursos.

Para um dos advogados ouvidos pela CNN Brasil, no Direito Penal, a responsabilidade não pode ser extrapolada para terceiros por causa da atitude de um condenado ou de um réu em específico.

Foi determinado o cumprimento de pelo menos dez mandados de prisão nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Bahia, Tocantins e no Distrito Federal.

Todos terão que usar tornozeleira eletrônica e estão proibidos de usar redes sociais e se comunicar com demais investigados.

A decisão também impõe a entrega de todos os passaportes em até 24h, a suspensão de documentos de porte de arma de fogo e a proibição de visitas, salvo dos advogados.

Fontes da PF confirmaram à CNN Brasil que não houve pedido a Moraes. Procurada, a PGR não respondeu. A reportagem tenta contato com o ministro do STF.

 

 

Fonte: CNN

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Novo reforço do Lyon, Endrick chega à França e bate recorde nas redes sociais

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Atacante ex-Palmeiras pertence ao Real Madrid e está emprestado ao clube francês até julho de 2026

Endrick posa com a camisa do Lyon • Divulgação/Lyon

Endrick já está em sua nova casa. O atacante de 19 anos viajou para a França nessa sexta-feira (26), onde passará a integrar o elenco do Lyon a partir de segunda-feira (29), emprestado pelo Real Madrid até o fim da atual temporada europeia, no meio de 2026.

O jogador publicou em suas redes sociais a chegada a Lyon ao lado da esposa, Gabriely Miranda, e dos seus dois cachorros em um jatinho, após uma parada para férias na Suíça.

Antes mesmo de se apresentar ao novo clube, o ex-atleta do Palmeiras já causa furor entre torcedores franceses e brasileiros. O vídeo de “boas-vindas” que anuncia sua chegada ao Lyon bateu recorde de visualizações na conta do clube no Instagram. Em menos de 24 horas, na véspera de Natal, a publicação havia acumulado 14,7 milhões de visualizações.

O vídeo do clube mais visto na rede social, até então, era de um drible do meio-campista Tyler Morton em um treino, em alusão a Ronaldinho Gaúcho, com um total de 2,9 milhões de visualizações, ou seja, quase cinco vezes menos que a publicação sobre a chegada de Endrick.

O jornal espanhol Marca destacou neste sábado a “Endrickmania” que tomou conta de Lyon.

O novo camisa 9 do Lyon conta com forte apelo midiático nas redes sociais. Com mais de 15,3 milhões de seguidores no Instagram, ele supera estrelas da NBA como Kevin Durant e James Harden, além de estrelas que atuam no futebol francês, como o português Vitinha e o brasileiro Marquinhos, ambos do Paris Saint-Germain.

A expectativa é de que o atacante seja apresentado na próxima segunda e que esteja disponível para estrear no duelo com o Monaco, em 3 de janeiro, pelo Campeonato Francês.

No dia 11 de janeiro, a equipe visita o Lille, pela Copa da França.

O Lyon está na quinta posição no Campeonato Francês, dez pontos atrás do líder Lens. Na Europa League, a equipe faz grande campanha, ocupando a primeira posição na tabela da competição continental.

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