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Acre

Professor e pesquisador da Ufac lidera equipe responsável por criar nova técnica de cirurgia de próstata

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Com adaptação de materiais ortopédicos, a técnica minimamente invasiva promete reduzir custos, acelerar a recuperação dos pacientes e transformar a abordagem de cirurgias em hospitais de pequenas cidades.

Em um marco significativo para a Medicina, o professor e pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac), Dr. Fernando de Assis, liderou uma equipe responsável por desenvolver uma técnica cirúrgica inovadora para a remoção da próstata. A nova abordagem não apenas reduz drasticamente os custos da operação, mas também acelera a recuperação dos pacientes, trazendo benefícios tanto para os hospitais quanto para os pacientes. O trabalho foi apresentado a profissionais da área durante um jantar científico realizado no restaurante Pão de Queijo, em Rio Branco, na última quarta-feira, 11.

A técnica desenvolvida por Dr. Fernando de Assis utiliza materiais ortopédicos, comumente disponíveis, para tornar a cirurgia mais acessível e eficaz. Segundo o médico, a principal motivação para criar essa nova abordagem surgiu da necessidade de reduzir os altos custos dos equipamentos médicos especializados, frequentemente inacessíveis para hospitais em cidades mais distantes. “Embora já exista uma técnica similar usando aparelhos caros, eu percebi que era possível adaptar materiais ortopédicos para reduzir o custo em até oito vezes”, explicou.

Além da técnica, a equipe liderada pelo Dr. Fernando desenvolveu um aparelho específico para o procedimento, a Serratus Supra, que deixa o método mais simplificado e, também, mais eficaz, que deixa a cirurgia mais limpa, com o mínimo de perda sanguínea.”A maior dificuldade é retirar a próstata da bexiga de forma que o corpo seja o menos agredido possível. Já existe uma técnica que faz isso pelo canal da urina, mas o custo é elevado, e os hospitais menores não têm esse equipamento”, destacou Fernando, acrescentando que, com essa adaptação, foi possível desenvolver uma solução viável com recursos acessíveis.

A técnica, minimamente invasiva, tem demonstrado resultados impressionantes. A incisão reduzida, de apenas meio centímetro, garante menos dor, risco reduzido de infecção e uma recuperação muito mais rápida. Enquanto os pacientes precisavam, anteriormente, de uma internação de até dez dias, agora podem ter alta no mesmo dia da cirurgia. “A técnica resulta em menos dor, menos uso de analgésicos, menor impacto no corpo e menos perda de sangue”, afirmou o médico.

O desenvolvimento dessa técnica não foi um trabalho isolado. Dr. Fernando de Assis contou com o apoio de uma equipe de colegas médicos, com quem discutiu e aperfeiçoou a ideia até chegar ao resultado ideal. “A ideia inicial foi minha, mas o apoio de muitos outros profissionais foi essencial para o sucesso dessa inovação”, destacou o médico.

Divulgação e validação internacional

Curiosamente, antes mesmo de se tornar uma publicação científica, a técnica viralizou na rede X (antigo Twitter). “Hoje, as redes sociais são uma forma rápida de compartilhar informações. O Twitter é um grande repositório de conhecimento médico, e é onde mais discutimos inovações científicas”, explicou Assis. A divulgação na plataforma permitiu que médicos de todo o mundo acessassem e validassem a técnica, contribuindo para sua rápida aceitação.

A criação dessa técnica em um estado distante dos grandes centros urbanos é um exemplo de como as necessidades locais podem gerar inovações transformadoras. “Se eu estivesse em um hospital grande, provavelmente não teria a necessidade de criar algo novo”, refletiu o médico, ressaltando que a carência de equipamentos em hospitais de cidades menores foi o fator que impulsionou a inovação.

Saiba mais sobre a técnica:

A enucleação endoscópica transuretral da próstata (EEP) é uma técnica que já tem quase 40 anos de história. Desenvolvida inicialmente na década de 1980 por Hiraoka, a técnica foi aprimorada em 1998 com a introdução do laser de Holmium, o que a tornou mais atraente para os urologistas. Desde então, a EEP tem sido um dos procedimentos preferidos para o tratamento de adenomas prostáticos, especialmente em casos de hiperplasia benigna da próstata.

No entanto, apesar dos avanços na tecnologia, um desafio importante persiste: a morcelacão, ou fragmentação do tecido removido, que é necessária para concluir o procedimento. Esse passo crucial é realizado com o uso de equipamentos especializados, o que aumenta significativamente o custo do tratamento, tornando-o menos acessível, principalmente em países em desenvolvimento.

O custo elevado dos equipamentos para morcelacão tem dificultado a popularização da técnica, especialmente em hospitais com recursos limitados. Embora diversas tentativas tenham sido feitas para democratizar a enucleação, o preço dos aparelhos adicionais ainda é um obstáculo considerável.

Em resposta a esse desafio, o grupo de pesquisadores e urologistas liderados pelo médico Fernando de Assis desenvolveu uma alternativa de baixo custo para a técnica. A nova técnica, chamada de morcelamento supra-púbico, utiliza materiais descartáveis e equipamentos já presentes na maioria dos hospitais de médio e grande porte, como o shaver ortopédico e a cânula de microdebridamento. Essa abordagem tem o potencial de reduzir os custos do procedimento e torná-lo mais acessível a um número maior de pacientes.

Como funciona a técnica?

A técnica de morcelamento supra-púbico consiste na inserção de um trocarte de videolaparoscopia, de 5 mm, através de uma punção na região supra-púbica, próximo ao colo vesical. Essa punção é realizada sob a visão direta do ressectoscópio, um instrumento utilizado para observar e ressecar o tecido prostático. Após a inserção do trocarte, a cânula de microdebridamento é passada por ele para fragmentar o tecido prostático de forma eficaz.

A posição do cirurgião é flexível, podendo ele trabalhar ao lado do paciente ou ao lado do primeiro auxiliar, que é o responsável por manter o ressectoscópio posicionado corretamente na fossa prostática. O morcelamento só é iniciado após garantir que não há sangramentos, ou seja, após a hemostasia completa da loja prostática.

Para realizar o morcelamento, é utilizado um shaver ortopédico com rotação de até 2400 RPM, ajustado de acordo com a densidade do tecido prostático. Em adenomas mais rígidos, a rotação é reduzida, o que facilita a aderência da cânula e torna o procedimento mais rápido e eficiente.

Impacto

Essa inovação pode ser um grande avanço, especialmente para países com poucos recursos, onde os custos com equipamentos hospitalares são um fator limitante para o tratamento eficaz da hiperplasia prostática. Ao utilizar materiais mais acessíveis e equipamentos de baixo custo, a técnica de morcelamento supra-púbico tem o potencial de aumentar a disponibilidade da EEP em hospitais públicos e privados, tornando o tratamento de problemas prostáticos mais acessível a um maior número de pacientes.

A nova abordagem ainda está sendo aprimorada, mas já apresenta resultados promissores, indicando que é possível realizar um procedimento de alta qualidade sem comprometer o orçamento hospitalar. Para os pacientes, isso pode significar não apenas um tratamento mais barato, mas também a possibilidade de um diagnóstico e tratamento mais rápidos.

Quem é Fernando de Assis?

Fernando de Assis é urologista com mestrado em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários pela Universidade Federal do Pará; doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo e Universidade da Califórnia – EUA.

Foi responsável pela criação da Equipe de Transplante de Rins do Estado do Acre no ano 2006, sendo pioneiro na realização desse tipo de transplantes no Estado do Acre.

Foi também um dos responsáveis pela criação do Hospital do Câncer do Acre (Unacon), onde ainda exerce atividades como uro-oncologista, sendo, portanto, o médico mais antigo daquela instituição.

Seu trabalho como pesquisador lhe rendeu uma publicação na revista NATURE, a mais importante revista científica na área médica. Além disso, ainda na Universidade, se destacou durante a pandemia da Covid-19 ao coordenar um grupo de alunos que confeccionaram mais de 200 mil aventais e máscaras de proteção individual que foram distribuídas para todas as unidades de saúde do estado do Acre.

É o inventor de uma nova técnica cirúrgica para operar próstatas gigantes: a Morcelação supra -púbica, o que lhe rende prestígio internacional. A técnica foi desenvolvida no ano de 2020 e conta hoje com mais de 200 casos operados no Brasil e alguns países da América Latina. Para essa técnica criou e patenteou uma lâmina de morcelação chamada Serratus Supra.

Atualmente é coordenador do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas do Acre e professor de Urologia da Universidade Federal do Acre. Também é preceptor do Programa de Residência Médica na Fundhacre.

Anne Nascimento
Jornalista

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Rio Acre segue acima da cota de transbordo e atinge 15,32 metros em Rio Branco

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Mesmo sem chuvas nas últimas 24 horas, nível do rio continua elevado e é monitorado pela Defesa Civil

Foto: Sérgio Vale

O nível do Rio Acre permanece elevado em Rio Branco e continua acima da cota de transbordo. De acordo com boletim divulgado pela Defesa Civil Municipal, na medição realizada às 5h21 da manhã desta segunda-feira (29), o manancial atingiu 15,32 metros.

Ainda segundo a Defesa Civil, na última aferição feita à meia-noite, o rio marcou 15,24 metros, o que representa um aumento de 8 centímetros em relação às medições anteriores, confirmando a tendência de elevação.

Nas últimas 24 horas, não houve registro de chuva na capital acreana, com acumulado de 0,00 milímetro no período. A elevação do nível do rio é atribuída ao volume de água proveniente das cabeceiras e afluentes.

A cota de alerta do Rio Acre é de 13,50 metros, enquanto a cota de transbordo é de 14,00 metros, ambas já superadas. A Defesa Civil Municipal segue monitorando a situação e acompanhando a evolução do nível do rio, mantendo as equipes em prontidão para atendimento às áreas de risco.

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Acre recebe novo alerta de chuvas intensas com risco potencial

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Em dias de chuva é preciso redobrar as medidas de segurança ao conduzir veículos. Foto: Eduardo Gomes/Detran

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um aviso de chuvas intensas com grau de perigo potencial para o Acre. O alerta teve início às 9h23 desta segunda-feira (29) e segue válido até 23h59 de terça-feira (30).

De acordo com o Inmet, estão previstas chuvas entre 20 e 30 milímetros por hora, podendo chegar a até 50 milímetros por dia, acompanhadas de ventos intensos, com velocidade variando entre 40 e 60 km/h.

Apesar de classificado como de baixo risco, o aviso aponta possibilidade de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos em áreas urbanas e descargas elétricas durante o período de instabilidade.

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Mais de 360 pessoas estão em abrigos municipais após cheias em Rio Branco

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Prefeitura atualiza situação e informa que Rio Acre atingiu 15,32 metros, com tendência de subida

A Prefeitura de Rio Branco divulgou, na manhã desta segunda-feira (29), a atualização mais recente sobre a situação dos abrigos montados para atender famílias afetadas pelas cheias do Rio Acre e dos igarapés da capital. De acordo com o boletim das 6h, um total de 364 pessoas, pertencentes a 135 famílias, estão acolhidas em seis pontos diferentes da cidade.

Segundo o levantamento, a Escola Municipal Álvaro Vilela Rocha abriga 14 famílias, somando 51 pessoas. Na Escola Municipal Anice Jatene, são 16 famílias, com 56 pessoas acolhidas. A Escola Municipal Maria Lúcia atende 13 famílias, totalizando 38 pessoas. Já a Escola Estadual Georgete Kalume recebe oito famílias, com 31 pessoas, enquanto a Escola Estadual Marilda Gouveia abriga nove famílias, reunindo 58 pessoas.

O maior número de desabrigados está concentrado no Centro de Cultura Mestre Caboquinho, onde 75 famílias estão acolhidas, totalizando 130 pessoas.

Em publicação nas redes sociais, o prefeito Tião Bocalom (PL) informou que esta é a última atualização das 6h da manhã e destacou que, na medição mais recente, o nível do Rio Acre atingiu 15,32 metros, apresentando tendência de elevação de aproximadamente um centímetro por hora.

O gestor ressaltou ainda que a atuação da Defesa Civil Municipal tem sido contínua no enfrentamento da situação e reafirmou o compromisso da gestão com o cuidado às famílias atingidas pelas alagações.

“Já enfrentamos outras alagações antes e nosso cuidado com a população sempre foi grande e presente, a ponto até de render um prêmio nacional à nossa Defesa Civil Municipal. Seguiremos trabalhando com fé e coragem para ajudar a nossa gente. Vamos juntos!”, afirmou o prefeito.

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