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Prefeitos do Alto Acre aderem ao Decreto Estadual e ‘Pacto sem Covid’ com restrições no comércio

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Prefeitos do Alto Acre, Polícia Militar, Procuradores, Vigilância Sanitária e Secretários de Saúde estiveram presentes.

Os gestores da regional do Alto Acre (Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri), resolveram que a partir desta quarta-feira, dia 27, estarem de acordo com o Decreto Estadual publicado na semana passada, onde determina algumas restrições e toque de recolher após as 22 horas até às 6 da manhã do dia seguinte.

Prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos.

Tais medidas passam a ser monitoradas pela Polícia Militar e Vigilância Sanitária de cada Município. A decisão partiu do Ministério Público que exigiu dos gestores tomassem tais decisões, diante dos casos de aumento de infecção causadas pelo vírus cvid-19 no Estado.

Os gestores destacaram que, não está sendo de bom agrado, tomarem tais medidas, mas está sendo necessário para que vidas sejam salvas. Mas, também cobram a parcela de responsabilidade da população, principalmente de uma minoria que teimam em ir para bares e se aglomeram sem qualquer critério, sabendo que podem estar se infectando e levando o vírus para suas casas e familiares.

Tal preocupação aumenta com o surgimento de casos relacionados à dengue, que também vem tirando vidas e lotando hospitais da regional. “De nada adianta se os moradores de nossos municípios não fizer sua parte, pois, nós estamos fazendo a nossa. Serão 15 dias até ser divulgado o novo levantamento da Saúde Estadual, onde dirá de mudamos de bandeira, enquanto isso, vamos lutar”, disse a prefeita de Brasiléia.

Prefeita de Brasiléia, Fernanda Hassem.

Prefeito de Assis Brasil, Jerry Correia, já está atuando com apoio do MP e Forças de Segurança.

O município de Assis Brasil já está atuando com o apoio das Forças Nacional e Militar do Acre e demais órgãos. Segundo o prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos, reuniões em praças públicas já estão proibidas, alguns comércios já não abrem a partir das 22 horas, além de outras determinações que sirvam para impedir a propagação do vírus.

Vice-[refeito de Epitaciolândia, Professor Soares.

Em Epitaciolândia, estarão também se adequando ao Decreto Estadual. Segundo o vice-prefeito, Professor Soares, as preocupações são as mesmas e estarão atuando para que possam frear o avanço do vírus covid-19 e a dengue. “Estaremos nos reunindo para tomar essas medidas o mais breve possível. Perdemos o nosso Secretário de Obras, o ex-vereador Kaki nesta terça-feira (26), além de uma enfermeira, não podemos ficar de braços cruzados e precisamos do apoio da população”, destacou.

Em relação as pontes que ligam Epitaciolândia e Brasiléia ao lado boliviano, ainda estão aguardando a posição do Governo Federal. O governador do Acre já fez o pedido para o fechamento e aguarda decisão de Brasília.

Veja vídeos na íntegra da reunião ocorrida na manhã desta quarta-feira (27), no centro cultural do município de Brasiléia.

 

 

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Chuva expõe abandono na Estrada do Pacífico e escancara obstáculos ao desenvolvimento regional

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Atoleiro próximo a Assis Brasil revela falhas na manutenção e levanta críticas ao DNIT pela lentidão nas obras

A manhã desta quarta-feira, 30 de julho, foi marcada por mais um capítulo do descaso com a infraestrutura da Estrada do Pacífico, no Acre. Um trecho próximo à cidade de Assis Brasil, a cerca de 10 km da área urbana, tornou-se praticamente intransitável após a chuva expor um atoleiro que quase fez tombar uma carreta carregada, gerando longas filas de veículos, entre caminhões, ônibus e carros de passeio.

A situação revela um cenário preocupante: a rodovia, que deveria funcionar como um corredor estratégico de integração com o Peru e a Ásia, sofre com promessas não cumpridas e ações paliativas por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pela manutenção da BR-317.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostraram a gravidade do problema. Caminhoneiros e motoristas tiveram que aguardar horas para seguir viagem, enquanto o barro jogado na tentativa improvisada de cobrir o buraco que separava trechos do asfalto deteriorado se transformou em uma barreira para poder continuar a viagem. “Se com apenas uma chuva ficou assim, imagina quando chegar o inverno?”, desabafou um internauta ao compartilhar as imagens.

Embora o DNIT tenha anunciado frentes de trabalho para recuperar os 110 quilômetros mais críticos da rodovia, os serviços têm avançado lentamente e com recursos limitados, de acordo com relatos de moradores e usuários da estrada. A frustração cresce entre os que dependem da via, vista como peça-chave para o escoamento de produção e estímulo ao comércio internacional.

Enquanto isso, o progresso permanece atolado no barro, à espera de uma solução concreta para tirar do papel a promessa de desenvolvimento pela Estrada do Pacífico.

 

 

 

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André Hassem reforça atuação do IMAC e amplia ações de educação ambiental no Acre

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Presidente do Instituto do Meio Ambiente do Acre (IMAC), André Hassem.

Presidente do Instituto do Meio Ambiente foca em parcerias e conscientização durante o verão amazônico

Durante visita ao parque de exposições Wildy Viana, em Rio Branco na noite desta terça-feira, dia 29, o presidente do Instituto do Meio Ambiente do Acre (IMAC), André Hassem, destacou a intensificação dos trabalhos do órgão neste verão amazônico, considerado um dos mais severos dos últimos anos. Em entrevista ao portal O Alto Acre, Hassem reafirmou o compromisso da instituição com ações de conscientização e educação ambiental em todo o estado.

Segundo o gestor, o IMAC está alinhado com a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) de Rio Branco para desenvolver iniciativas educativas voltadas ao combate à poluição e à preservação dos recursos naturais. A proposta é levar conhecimento e orientação às comunidades urbanas e rurais, reforçando a importância da preservação ambiental.

“Conhecer e preservar o meio ambiente é preservar a vida. Ainda temos os meses críticos de agosto e setembro pela frente, e por isso estamos com equipes mobilizadas em diversas regiões do estado”, afirmou Hassem.

Com um estande na Expoacre 2025, o IMAC apresenta uma programação voltada para informar o público sobre práticas sustentáveis, os impactos das queimadas e a importância de combater crimes ambientais. O presidente também fez um alerta sobre o aumento das queimadas urbanas e pediu a colaboração da população para evitar riscos à saúde pública e ao ecossistema.

Outro ponto abordado foi a relação com o agronegócio. Hassem reconheceu a importância do setor, mas pediu que os produtores tenham consciência ambiental, utilizando as áreas disponíveis de forma sustentável e evitando práticas nocivas, como o uso do fogo corretamente.

As ações do IMAC seguirão sendo intensificadas nas regionais do Alto Acre, capital e demais municípios, com foco na educação ambiental como ferramenta principal de mudança.

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Em projeto inédito, governo do Acre e Povo Manchineri transformam cacau nativo em potência econômica com saberes ancestrais e inovação

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Por Tácita Muniz – Fotos: Ingrid Kelly

Autonomia, preservação ambiental e o compromisso com um legado que pulsa nas mãos dos mais jovens. É assim que se desenha, hoje, a trajetória do cacau no Acre, uma cadeia produtiva que ganha força também nas terras indígenas. Na Aldeia Extrema, situada na Terra Indígena Mamoadate, o cacau nativo é mais que fruto: é símbolo de resgate, renda e protagonismo comunitário. Ali, colhe-se esperança e movimenta-se o futuro.

De acordo com dados recentes, 1.333 pessoas vivem neste território pulsante, habitado pelas etnias Manchineri, Yaminawá e pelos Mashco, grupo de indígenas em isolamento voluntário. No solo da floresta, há séculos preservado pelos saberes ancestrais, brota agora uma nova esperança: uma cadeia sustentável de renda que alcança toda a comunidade.

Povo Manchineri ressignificou relação com o cacau e hoje alia sustentabilidade e economia, além de resgatar os jovens para dentro das aldeias. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Com o fortalecimento da bioeconomia como horizonte, o cacau nativo desponta como símbolo da potência econômica da floresta em pé, cultivada por quem há muito reconhece seu verdadeiro valor. Do chão fértil da floresta, há gerações preservadas pelos povos originários, brota agora uma fonte de renda sustentável que transforma a vida comunitária.

Seagri tem se aproximado das comunidades e se tornado apoio em cultivos que se consolidam no estado. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Protagonismo

Com o apoio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), o povo indígena Manchineri assume o protagonismo desse movimento. No início deste ano, ações pontuais trouxeram às aldeias o encontro entre saberes ancestrais e técnicas modernas: capacitações revelaram um novo tempo para os indígenas, em que o cacau se torna aliado e elo entre gerações. Mais que um fruto, ele representa renda, resgate cultural, proteção ambiental, e uma razão concreta para que os jovens permaneçam em suas terras, cultivando futuro e identidade.

Desde o início do ano, de maneira inédita, o cacau vem ganhando espaço na Terra Indígena localizada no extremo de Assis Brasil. Para os Manchineri, as capacitações revelaram o valor de um tesouro que há muito brotava silencioso em suas terras: o cacau nativo, que agora desponta como fonte de renda, cultura e preservação.

Foi durante uma simples pescaria que Lucas Artur Brasil Manchineri,  presidente da Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA), teve um olhar transformador. Ali, diante da paisagem já conhecida, vislumbrou o potencial de uma cadeia produtiva capaz de impulsionar a comunidade. Mas para concretizar esse sonho, seria preciso mais que visão: era necessária uma parceria que respeitasse os saberes indígenas e apostasse na força da floresta em pé.

Liderança na aldeia Extrema, na Terra Indígena Mamoadate, Lucas Manchineri fala em expandir cadeia do cacau, trabalhando com subprodutos. Foto: Ingrid Kelly/Secom

“Para o Povo Manchineri, o cacau é um alimento saudável que gostamos de comer bastante em nossa tradição e aqui na nossa terra indígena tem bastante cacau e nós não plantamos, é a natureza que nos dá. Quando vi, durante uma pescaria, que tinha muito cacau estragando, levei essa alternativa de cultivo para a comunidade, que logo aceitou”, destaca a liderança indígena da Aldeia Extrema.

Até então, para os Manchineri, o trabalho com o cacau era visto apenas como uma atividade de subsistência, distante da compreensão sobre o potencial econômico e da cadeia produtiva que começava a se desenhar.

O ponto de virada ocorreu durante o Fórum Indígena, realizado em Rio Branco, quando Lucas Manchineri apresentou publicamente pela primeira vez a ideia que hoje transforma a relação da comunidade com a floresta.

A Comissão Pró-Indígena (CPI-AC), segundo a liderança, foi um braço importante nas reuniões, capacitações e investimentos no trabalho. Com isso, conseguiram um recurso proveniente da Fundação Casa, que ajudou nos primeiros passos.

Conhecimento é passado de geração para geração e vai garantir o futuro dos jovens nas aldeias, estimam os mais velhos. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Seagri próxima

A partir de então, a Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri) passou a acompanhar de perto a jornada dos Manchineri, promovendo ações voltadas às boas práticas no manejo do cacau nativo. O trabalho envolve a limpeza de cipós, abertura de entradas de luz na mata, cuidado com plantas jovens, construção de trilhas para facilitar a colheita e identificação precisa do estágio ideal para a coleta dos frutos.

A primeira safra foi colhida em março deste ano, como modelo de teste e semente de um futuro promissor. Segundo Lucas Manchineri, embora o volume ainda seja modesto, a comunidade está confiante: nasce ali uma cadeia sustentável, rica em significado, e que, acima de tudo, fortalece os vínculos entre os indígenas e sua terra.

Foram colhidos 50 quilos de cacau, gerando R$ 2,8 mil em receita para a comunidade. Pode parecer pouco, mas esse resultado representa o primeiro passo de um movimento que não tem retorno, um projeto que cresce com raízes firmes e que, segundo a Seagri, desponta como uma das grandes promessas da agricultura no Acre.

“Foi a resposta que eu precisava para que a gente apostasse no cacau. Porque a gente viu o resultado, gerando rendimento para a comunidade e uma forma de que nossos jovens possam trabalhar e ficar nas aldeias”, esclarece a liderança.

A primeira safra de cacau foi colhida em março, ocasião em que os coletores da Terra Indígena puderam aplicar boas práticas de manejo com o apoio técnico do agrônomo Marcos Rocha, chefe da Divisão de Produção Familiar e coordenador do Programa Estadual do Cacau. Ele permaneceu na comunidade por mais de 30 dias, oferecendo orientação direta, esclarecendo dúvidas e fortalecendo o trabalho já iniciado pelos indígenas.

Para os próximos passos, os planos são ambiciosos: conquistar a indicação geográfica do cacau nativo da Terra Indígena, ampliar os negócios e explorar os potenciais derivados do fruto, como o licor. A meta para o próximo ano é colher mil quilos de cacau, o que pode gerar uma receita estimada em R$ 52 mil, reflexo de um trabalho que une tradição, técnica e visão de futuro.

“É sustentável, você não precisa destruir em canto nenhum. A natureza dá o recurso dela e também uma renda para o povo Manchineri. É diferente de outras pessoas que querem destruir a floresta”, reforça Lucas Manchineri.

Comunidade se envolve em todos os processos da colheita e comercialização do cacau. Foto: cedida

Referência nacional e internacional

O governo do Acre vem construindo uma articulação sólida com o povo Manchineri por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri). A comunidade indígena passou a integrar a rota do cacau no estado, sendo reconhecida pela equipe técnica como uma das regiões com maior densidade do fruto nativo.

Essa abundância se transformou num elo entre saberes ancestrais e o conhecimento técnico, conduzido por uma equipe que atua com sensibilidade e valoriza as raízes da agricultura tradicional.

O trabalho com os Manchineri, por seu caráter pioneiro, tem potencial para se tornar referência nacional e internacional. Mas essa trajetória não é simples: envolve uma logística desafiadora, vencida por quem compreende que sustentabilidade não se mede apenas por números, mas pela dignidade, pela permanência nas terras e pela qualidade de vida que floresce com respeito à floresta.

Chegar à Aldeia Extrema, onde se desenvolve o trabalho com a comunidade Manchineri, exige bem mais que vontade: envolve diálogo, articulação e uma logística desafiadora. A Seagri deu início às conversas com as lideranças indígenas, abrindo caminho para que a equipe técnica pudesse, enfim, entrar em campo.

O trajeto, aliás, é um capítulo à parte. São mais de cinco horas de viagem por estrada entre Rio Branco e Assis Brasil, cruzando paisagens intensas e emblemáticas, como a Reserva Extrativista Chico Mendes, até alcançar a comunidade de Icuriã, porta de entrada para uma parceria que finca raízes profundas na floresta.

Logística até a terra indígena envolve rodovia, rios e estradas de barro que cortam a Reserva Extrativista Chico Mendes. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Logística

A partir da comunidade Icuriã, o trajeto segue pelo sinuoso Rio Iaco, levando de 8 a 10 horas, dependendo da época do ano. Durante os dias em que a equipe da Agência de Notícias e da Seagri navegou pelo manancial, o nível da água estava especialmente baixo, marcando menos de um metro, com trechos que chegavam a apenas 74 centímetros.

O percurso é marcado por balseiros e constantes encalhamentos de embarcações, o que torna a viagem ainda mais longa e desafiadora. Tudo isso é enfrentado pelas equipes do governo em nome de uma diretriz clara da gestão de Gladson Camelí: diminuir desigualdades e construir pontes físicas e simbólicas, com os povos originários.

O trabalho técnico, conduzido com respeito e escuta, foi realizado em plena sintonia com a comunidade Manchineri, consolidando um elo de colaboração que busca melhorar efetivamente a qualidade de vida local.

Os indígenas participam de todas as etapas: do manejo da floresta à quebra, fermentação e secagem das amêndoas. O cacau nativo, que brota espontaneamente no coração da mata, é comercializado para grandes empresas, especialmente aquelas voltadas à produção de chocolate gourmet. No mercado, esse cacau é reconhecido como um dos mais nobres e valorizados para criações de alta qualidade.

Esse projeto está dentro da chamada Rota do Cacau, onde a Seagri identifica áreas com potencial de cacau nativo e cacau plantado.

“No caso dos Manchineri, a gente fez uma parceria com a associação deles e identificamos, segundo as informações deles, no mesmo momento, de que existia um grande potencial. A partir disso, planejamos um campo e viemos fazer esse mapeamento, onde nós identificamos a quantidade de planta por área, o tamanho, a quantidade de frutos por planta, o potencial produtivo e o que isso representa em termos de valorizar a floresta com geração de renda e dar dignidade para essas famílias da Aldeia Extrema”, pontuou Marcos Rocha.

O envolvimento direto com a comunidade, valorizando a essência coletiva do povo Manchineri, foi o alicerce dessa iniciativa. O trabalho teve como princípio fortalecer a participação ativa dos moradores, com atenção especial à inclusão de jovens e mulheres, protagonistas no processo de transformação social e econômica que vem florescendo na Terra Indígena.

“Com 15 minutos que formamos o grupo de trabalho, os jovens Manchineri já estavam mexendo no GPS e tirando ponto de coordenada geográfica. A gente envolveu os jovens ensinando as boas práticas de manejo florestal com o cacau nativo deles”, completa.

Há também o lado social do fortalecimento da cadeia do cacau nativo: a oportunidade para que os jovens fiquem dentro dos territórios. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Fortalecendo vínculos

Para Marcos Rocha, o trabalho desenvolvido com os Manchineri, além de pioneiro, atravessa camadas profundas da realidade comunitária. Envolve desde a integração efetiva do Poder Público até questões ambientais e sociais. A cadeia do cacau surge como uma nova economia, capaz de fortalecer os vínculos dos indígenas com suas raízes, evitando que os jovens deixem suas aldeias em busca do contexto urbano e fazendo com que muitos deles retornem ao lar.

Essa, segundo ele, é hoje uma das maiores preocupações dos povos indígenas: garantir que os mais jovens permaneçam em suas comunidades, pois é nessa permanência que vive e se perpetua a cultura ancestral.

“Esse cacau nativo não representa só o produto em si, mas é uma luta pelo território, pelo envolvimento dos jovens para que não saiam da comunidade para vender mão de obra para fazendas ou outros serviços que vão perdendo a sua cultura”, destaca ao frisar que o cacau representa, ao mesmo tempo, sustentabilidade, geração de renda e principalmente dignidade para a comunidade.

“Envolve as mulheres e principalmente os jovens e isso tem que ser um produto diferenciado em termos do mercado, porque não é simplesmente o produto em si”, pontua Rocha.

A Seagri acompanha de forma integral todas as etapas da cadeia produtiva do cacau nativo, desde o inventário florestal da espécie, passando pelo manejo sustentável, colheita e fermentação, até chegar à comercialização. Neste primeiro ciclo, a pasta atua como intermediária na compra inaugural do cacau colhido pelos Manchineri. No entanto, o propósito maior é transferir gradualmente todo o processo às mãos indígenas, promovendo autonomia plena da comunidade na gestão dessa riqueza natural.

Segundo o chefe da divisão técnica responsável pelo acompanhamento da iniciativa, a parceria ainda está em seus primeiros capítulos. Como já antecipou Lucas Manchineri, a comunidade está motivada e comprometida em se tornar uma referência nacional quando o assunto é cacau nativo, fruto que nasce espontaneamente no coração da floresta e carrega em si um potencial singular: econômico, ambiental e profundamente cultural.

“Eles estão muito animados, eles querem seguir com esse trabalho, então a Seagri vai continuar com essa ação que tem o apoio da comunidade e vamos seguir com a segunda colheita, já visualizando os subprodutos, como o licor, e futuramente a indicação geográfica, pois já temos o diferencial da marca Manchineri”, revela.

Da floresta ao mundo, cacau nativo do Acre chama atenção de fazedores de chocolate gourmet. Foto: cedida

Impacto econômico e social e elo de relações

Dos mais velhos aos mais jovens, o olhar é convergente: o cacau é o novo tesouro da Amazônia. Em sua cadeia produtiva, ele conecta a preservação das tradições, a sustentabilidade ambiental e o acolhimento social, raízes que se entrelaçam no cotidiano das comunidades.

Nunca antes um governo esteve tão próximo da comunidade, enfrentando obstáculos logísticos, cruzando rios e estradas, e fazendo questão de estar presente na ponta, onde o futuro começa a ser cultivado pela força dos saberes ancestrais.

Dionísio Napoleão Manchineri, 62 anos, vê essa dinâmica como agregadora. “Eu acho importante porque une os mais novos e os mais velhos e com a ajuda do Marcos ficamos ainda mais animados.”

Para Edmilson Manchineri, trabalhar com os jovens e tendo o apoio técnico para o crescimento da cadeia, é o que mais os motiva. “Para mim foi ótimo, pois temos que trabalhar com os jovens e isso aqui é um conhecimento que vai passar de geração para geração”, enfatiza.

Aos 17 anos, Junilson Sebastião Manchineri, é um dos mais jovens da turma e que se encantou ao aprender a usar o GPS. A parte do manejo, para ele, foi onde se encontrou. “Quero trabalhar com isso. É muito interessante”, completa.

Todo o trabalho da Seagri é feito com a participação massiva da comunidade, como o mapeamento dos pés de cacau nas áreas estudadas. Foto: Ingrid Kelly/Secom

O poder do conhecimento

Entre cantorias e risadas, Lázaro Manchineri se destaca como um dos mais entusiasmados da equipe. Líder nato, é ele quem coordena os trabalhos, anima os companheiros com brincadeiras e distribui apelidos, criando um ambiente leve e profundamente coletivo, traço característico do povo Manchineri.

A caminhada até os pés de cacau é marcada por alegria e união. Em suas palavras, Lázaro ressalta o valor do conhecimento e, sobretudo, do reconhecimento de uma potencialidade: “Só podemos desenvolver algo quando sabemos que ela existe.”

Antes da parceria com a Seagri, conta ele, não imaginava a dimensão da riqueza que a floresta oferecia de tempos em tempos.

“Através da Seagri, nós agora estamos tendo o conhecimento de como trabalhar com o cacau dentro da nossa terra indígena. A Seagri nos ajudou a reconhecer o valor econômico desse recurso da natureza”, frisa.

Guardiões da floresta e defensores ferrenhos da preservação, Lázaro Manchineri conta que seu povo sempre cuidou da floresta e reconheceu sua potencialidade em diferentes culturas, mas também destaca que a orientação técnica é uma aliada importante para o aproveitamento dessa cadeia e manutenção dos pés nativos.

Os Manchineri também vislumbram um novo desdobramento para o futuro da cadeia do cacau: iniciar o plantio utilizando sementes nativas da própria floresta. A proposta não apenas fortalece a economia da comunidade, mas amplia os impactos positivos sobre o meio ambiente, já que o processo envolve o reflorestamento de áreas e a regeneração natural do território.

“A nossa riqueza está dentro da terra indígena, sem precisar ser derrubada. E, além de tudo, dando trabalho para os nossos jovens que estão animados para trabalhar com isso”, destaca.

Com apoio da Seagri, uma estufa foi montada dentro da terra indígena para a secagem do café. Foto: cedida

O cacau do Acre para o mundo

O cacau, ao lado de outras cadeias produtivas consolidadas no Acre, será destaque central durante a Expoacre em Rio Branco, que começa neste sábado, dia 26, no Parque de Exposições Wildy Viana. O evento promete ser vitrine das ações da Seagri no fortalecimento da bioeconomia regional, além de palco para debates, trocas de experiências e articulações futuras.

Entre os destaques, estará representado o pioneirismo da ação desenvolvida na Terra Indígena Mamoadate, especialmente na Aldeia Extrema. Sirlande Manchineri prepara-se para compartilhar relatos sobre o impacto das parcerias institucionais e como esse trabalho colaborativo tem transformado a realidade da comunidade, provando que tradição e inovação podem caminhar juntas.

“O que quero mostrar é que estamos animados em trabalhar com o cacau, que estamos organizados com nossa associação, e que é algo que vem gerando renda para os nossos jovens e deixando-os na aldeia. Muitas vezes a gente tinha que sair daqui para ir trabalhar nas fazendas no Peru, mas agora não. Com esse projeto do cacau, estamos vendo os jovens interessados em trabalhar, porque ganhamos melhor com o cacau do que nas fazendas e, por isso, estamos animados”, finaliza.

O cacau que brota espontaneamente no coração da floresta amazônica, protegido pelos povos indígenas e disputado pela fauna, que também contribui para sua regeneração, é hoje responsável pelo aroma e sabor de chocolates apreciados ao redor do mundo. Esse fruto nativo, que nasce longe das plantações convencionais, dá início a um processo que começa dentro das comunidades, com apoio do governo, e culmina em uma cadeia produtiva que une desenvolvimento econômico e sustentabilidade.

É a força da floresta em pé transformada em riqueza compartilhada, revelando ao mundo que o cacau do Acre não apenas tem qualidade excepcional, mas carrega em si a história, a cultura e o futuro de uma região que avança sem abrir mão de suas raízes.

Da floresta, brota um recurso natural que vai movimentar a economia dentro das comunidade indígenas. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Do chão da mata ao mercado global

A Rota do Cacau no Acre é um conjunto de ações que busca mapear, fortalecer e integrar os elos da cadeia produtiva do cacau. A iniciativa conecta produtores rurais, extrativistas, comunidades indígenas, agroindústrias, universidades e o poder público em uma rede que tem como objetivo impulsionar a produção sustentável e agregar valor ao cacau nativo.

Desde a produção e beneficiamento até a comercialização e exportação, a rota busca oferecer capacitação técnica, infraestrutura, certificações e abertura de mercados, tudo isso alinhado à conservação da floresta.

A Rota do Cacau é um projeto desenvolvido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Universidade Federal do Acre (Ufac), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Acre (Idaf), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), prefeituras, cooperativas e associações de produtores.

Segundo o secretário de Estado de Agricultura, Luiz Tchê, a cadeia produtiva do cacau nativo desponta como uma das maiores apostas estratégicas da gestão, não apenas pelo seu potencial econômico, mas pelo impacto social, cultural e ambiental que representa para o Acre.

“O cacau nativo é uma das nossas maiores apostas. Ele representa não apenas um produto com alto valor de mercado, mas um símbolo de desenvolvimento sustentável, que respeita a identidade cultural e ambiental do Acre”, declarou Tchê.

Este ano, a Seagri vai lançar o programa de incentivo à cultura cacaueira no Acre, o que vai incentivar e promover a cultura no estado. O programa deve conectar produtores, empreendedores e instituições públicas para a valorização do produto.

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