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O canto do tovacuçu-xodó: Ave rara é flagrada por biólogo em unidade de conservação do Acre e aparece em 1º registro fotográfico

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Pássaro é conhecido por hábitos furtivos, o que dificulta a captação de imagens dele em seu habitat natural. Ricardo Plácido, que atua na Secretaria de Meio Ambiente do Acre, ressalta potencial turístico da observação de pássaros no estado e a importância da preservação ambiental

Desde 2018 o biólogo Ricardo Plácido tentava fazer registros fotográficos e em vídeo do tovacuçu-xodó. Foto: Ricardo Plácido/Sema

Guiado pelo canto de uma ave rara, de hábitos discretos e especialista em fugir.Assim o biólogo Ricardo Plácido encerrou uma espera de sete anos e conseguiu fazer o primeiro registro fotográfico e em vídeo do tovacuçu-xodó, pássaro da Amazônia que habita regiões do Acre, Amazonas e Peru, no último dia 9 de janeiro.

O cenário do clique não poderia ser mais majestoso: o Parque Estadual Chandless, unidade de conservação gerida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), localizada entre os municípios de Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus e Sena Madureira. Plácido é um dos profissionais que integram o quadro da secretaria e atua no parque, onde identificou a presença do tovacuçu-xodó em 2018.

Desde então, foram várias tentativas de registrar a espécie, que só era conhecida através de exemplares taxidermizados, ou seja, recolhidos do meio ambiente após a morte. O especialista lembra que estava acompanhando um grupo de estrangeiros que fazia uma expedição, quando soube de trabalhadores do parque que o pássaro havia sido detectado em um dos trechos daquela imensa floresta.

Essa espécie em si, se sabia que existia, mas não existiam registros fotográficos ou imagens dela na natureza, ninguém conhecia. Ela ocorre no Peru e no Brasil adjacente, que seria a Acre, pelo sul, sudoeste do Amazonas. Há 10, 15 anos eles gravaram [o canto], mas ninguém nunca tinha conseguido registrar imagens do bicho. Faz tempo que ninguém encontra, e conseguimos localizar aqui no Parque Estadual Chandless. Os primeiros relatos no Brasil, foram por volta da década de 90, que ele foi ouvido lá no Alto Rio Juruá e no Alto Rio Moa, no Parque Nacional da Serra do Divisor e na Reserva Extrativista Alto Juruá. Mas não tinha documentação, só foram relatos dos pesquisadores que o ouviram”, contou.
Ave rara e furtiva

O pássaro, que tem penugem nas cores marrom, branco e algumas listras pretas, é conhecido por hábitos furtivos, o que impossibilitava a captação de imagens dele em seu habitat natural.

De acordo com o biólogo, após as primeiras detecções no final dos anos 1990, somente em 2015 um pesquisador documentou a presença do tovacuçu-xodó no município de Manoel Urbano, mas, em uma área de terra particular de manejo florestal madeireiro. Por se tratar de área privada, nunca foi possível fazer expedições para tentativa de registro fotográfico da espécie nessa região.

Em 2018, Plácido também conseguiu documentar a presença da espécie no Chandless. Geralmente, o pássaro habita o topo de árvores e é encontrado entre galhos em folhas – daí o nome científico, Grallaria eludens [itálico], do latim, “que anda e foge sobre as palafitas”.

“Nessas áreas a gente percebeu que é suscetível [à presença do pássaro]. Com essas rajadas de vento que dá aqui no Acre, que leva telhado e tudo, a gente chama de blowdown quando é na floresta. Abre uma clareira que derruba as árvores, que parece até desmatamento. E aí destruiu o ponto desse primeiro indivíduo que a gente encontrou, que até então ninguém sabia no mundo onde tinha. Só tínhamos esse ponto no mundo inteiro, que era aqui no Acre. E aí o primeiro indivíduo perdeu o seu hábitat, porque foi destruído por esse fenômeno natural”, lembrou.
Trabalho em equipe

Biólogo Ricardo Plácido precisou ser quase tão furtivo quanto o tovacuçu-xodó. Foto: Ricardo Plácido/Sema

Entretanto, não foi esse evento que fez o biólogo desistir do encontro com o tovacuçu-xodó. Para conseguir monitorar a presença da espécie na região, o especialista pediu ajuda a ribeirinhos que habitam as regiões próximas ao parque para que comunicassem a ele qualquer avistamento. Assim, ele teria melhor noção de onde focar na busca pelo pássaro.

“Aí, a gente voltou à estaca zero. Eu acionei os moradores do parque, que são ribeirinhos, para eles procurarem. Eu disponibilizei a gravação da voz dele. Até então, só tínhamos gravações de vozes dele, só o canto. E aí, virou uma caçada pela foto. A gente levou pessoas experientes lá de fora para tentar fotografar tudo, mas pelo comportamento furtivo da ave, ninguém conseguia. Ele é um petisco bom para predadores, tipo gato, cobra. Então ele evoluiu para ser um verdadeiro ninja mesmo, para fugir. E aí, é muito arisco, é uma ave muito arredia e desconfiada mesmo. Ela é medrosa, digamos assim. Ao menor sinal de movimento, ela escapa e você nem vê”, acrescentou.

Com a ajuda da comunidade, Plácido soube do ribeirinho Pedro Vasquez que o canto do tovacuçu-xodó havia sido ouvido novamente no parque.Foi então que o biólogo aproveitou a expedição que estava em curso e iniciou uma operação que durou três dias, entre 7 e 9 de janeiro.

“Está tendo uma expedição científica lá [no parque], com pesquisadores de fora, que são herpetólogos, trabalham com serpentes e anfíbios. Quando se tem essas missões, a secretaria [de Meio Ambiente] dá um suporte. Eu fui pra dar um suporte a eles, mas o tovacuçu-xodó tinha sido relocalizado, reencontrado por um nosso zelador lá, que é o Pedro, que está nas imagens. Então, nesse tempo todo [desde 2018], conseguiram localizar 3 indivíduos. O primeiro sumiu, ou morreu, ou foi pra outro canto, por causa dessa rajada de vento. O segundo, aconteceu a mesma coisa, só que ele voltou. Foi esse que eu consegui filmar. Ele voltou ao local, então ele sobreviveu”, explicou.

Potencial turístico e proteção ambiental

As primeiras técnicas para fotografar o animal não foram bem sucedidas e a primeira foto, oficialmente, saiu desfocada. Mas Plácido não desistiu, e elaborou um novo plano: pediu para que Vasquez caminhasse para perto da árvore onde o pássaro estava. Enquanto isso, o biólogo estava com a câmera já preparada para o clique.

Até que a espera, não só desde 2018, mas sim de décadas, se encerrou, e o objetivo foi alcançado. Mas apenas por pouco tempo, até que o mestre das fugas fez o que mais sabe.

“Eu pedi para ele [Vasquez] dar só dois passinhos por trás da vegetação onde o bicho estava escondido, para ele sair do local obscuro que ele estava e sair numa janelinha, e eu já fiquei com a câmera apontando. Porque as outras vezes, eu vi o bicho, as fotos saíram desfocadas, quando eu tentava levantar a câmera. Só com esse mínimo movimento o bicho já fugia de novo. Era terrível, era bem desagradável conseguir. Eu fiquei engatilhado, feito um sniper. Aí, eu consegui numa janelinha, e consegui fazer dois vídeos de 30 segundos e duas fotos. Aí, eu mexi um pouquinho de nada, o bicho já se escondeu de novo”, relatou.

Parque Estadual Chandless, no interior do Acre, abriga diversas espécies. Foto: Alexandre Cruz-Noronha/Sema

Para o profissional, além do ineditismo do registro, é uma oportunidade para que o estado preste atenção no potencial turístico da observação de pássaros e também na proteção ambiental das espécies que habitam na região, especialmente no Parque Chandless.

Segundo Plácido, existem outras diversas espécies raras de animais que vivem na Amazônia e são atração para pesquisadores, especialistas e curiosos. “Eles querem ter justamente essas espécies mais raras, porque a atividade é como se fosse um álbum de figurinhas. Eles colecionam registros de várias regiões. E o Acre é um local, apesar de a gente receber visitantes [para este tipo de expedição] há 10 anos ou mais, mas é muito pouco explorado ainda. A gente tem um potencial muito grande pra trabalhar para consolidar esse tipo de turismo”, avaliou.

Nesse sentido, ele se diz grato pelo apoio dado pela Sema nos esforços para a preservação do parque e no acesso de visitantes ao local.

“Temos muitos pássaros coloridos, bonitos aqui no Acre, e que poucos brasileiros já registraram. Então, assim, a gente não atingiu nem 10% do público nacional da comunidade brasileira, quanto mais estrangeiro. Os estrangeiros vão muito mais no Peru. Mas as espécies peruanas, a maior parte também ocorre justamente aqui no Acre. Então, a gente vem tentando trazer à tona essas espécies raras, porque elas são indutoras de fluxo. E a presença dessas pessoas aqui aquece a economia local, ajuda desde o trade turístico até de hotelaria, diversos segmentos, até ribeirinhos. A ideia é formar uma cadeia, consolidar isso e ajudar o Estado”, disse.

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Ex-jogador do Flamengo, Léo Moura estará na final da Copa SEST SENAT

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A diretora do SEST SENAT Rio Branco, Daniely Vale, confirmou a presença do ex-lateral do Flamengo e ídolo do futebol brasileiro, Léo Moura, nas finais da Copa SEST SENAT, que acontecem nesta sexta-feira, 5, e sábado, 6 de dezembro, na capital acreana.

Considerada a maior competição de futebol amador do Brasil, a Copa SEST SENAT chega ao seu momento decisivo reunindo atletas e torcedores de toda a região. As semifinais das categorias masculino e feminino serão realizadas nesta sexta-feira (5), com portões abertos a partir das 15h. As finais acontecem no sábado, com programação a partir das 14h.

Segundo Daniely Vale, a participação de Léo Moura torna o evento ainda mais especial. “Ter a presença de um ícone como Léo Moura engrandece a Copa SEST SENAT e motiva ainda mais nossos atletas e o público. Estamos preparando uma grande festa, com esporte, lazer e integração para toda a família”, afirmou a diretora.

Além das partidas decisivas, o evento contará com uma programação completa para o público, que inclui apresentações de bandas locais, brinquedos para crianças — entre eles uma roda-gigante —, lanches gratuitos e sorteio de brindes.

Os destaques ficam por conta do sorteio de passagens aéreas e de uma moto Honda zero quilômetro. Durante o evento, haverá linhas de ônibus saindo a cada 30 minutos do Terminal Urbano para o SEST SENAT.

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Detran-AC notifica motoristas com risco de suspensão da CNH e exige defesa até 3 de janeiro

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Edital publicado no Diário Oficial desta quinta (4) convoca condutores autuados para apresentarem defesa prévia; ausência de manifestação pode resultar em julgamento à revelia e penalidades unificadas de multa e suspensão

O Detran informa que as defesas podem ser protocoladas pelo site oficial do órgão ou presencialmente, além das Ciretrans, dentro dos horários e prazos de atendimento. Foto: arquivo

O Departamento Estadual de Trânsito do Acre (Detran-AC) publicou nesta quinta-feira (4), no Diário Oficial do Estado, um edital de notificação que convoca motoristas autuados por infrações passíveis de suspensão do direito de dirigir a apresentarem defesa prévia até 3 de janeiro de 2026.

De acordo com o documento, proprietários, possuidores e principais condutores dos veículos listados devem protocolar a defesa por escrito ou indicar o real condutor infrator no prazo estabelecido. As autuações mencionadas geram processos administrativos que podem resultar, de forma unificada, nas penalidades de multa e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

O órgão informa que as defesas podem ser enviadas pelo site oficial do Detran-AC ou protocoladas presencialmente na sede (Estrada Dias Martins, nº 894, bairro Jardim Primavera) ou nas Ciretrans, dentro dos horários de atendimento. O edital alerta sobre as consequências da ausência de manifestação no prazo legal:

  • A não apresentação de defesa resultará em julgamento do processo à revelia;

  • Caso o proprietário ou principal condutor (pessoa física) não indique o real condutor, será considerado o infrator;

  • Defesas não apresentadas, não conhecidas ou não acolhidas permitem ao Detran-AC aplicar as penalidades cabíveis;

  • O pagamento da multa não impede a aplicação da suspensão.

A convocação reforça a importância de os motoristas regularizarem suas situações para evitar a perda temporária do direito de dirigir.

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Justiça Eleitoral absolve prefeito e vice de Porto Walter de acusação de compra de votos

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A 4ª Zona Eleitoral de Cruzeiro do Sul considerou improcedente ação que alegava captação ilícita de sufrágio nas eleições de 2024; juíza entendeu que acusações não tinham provas materiais ou testemunhais robustas

A representação havia sido proposta por Alsineis José Gonçalves da Silva, então candidato a prefeito, e pela Coligação Unidos por Porto Walter, composta por PDT, PSB, MDB e Federação Brasil da Esperança (FE Brasil). Foto: captada 

A 4ª Zona Eleitoral de Cruzeiro do Sul decidiu, nesta quinta-feira (4), pela improcedência da ação que acusava o prefeito de Porto Walter, Sebastião Nogueira de Andrade, e o vice, Guarsonio Carlos Melo de Souza, de captação ilícita de sufrágio – a chamada compra de votos – nas eleições municipais de 2024. A representação havia sido proposta pelo ex-candidato a prefeito Alsineis José Gonçalves da Silva e pela Coligação Unidos por Porto Walter (PDT, PSB, MDB e FE Brasil).

Os autores alegavam que os eleitos teriam praticado compra de votos no período eleitoral. A defesa dos representados, porém, sustentou que as acusações eram genéricas, sem comprovação e baseadas em interpretações subjetivas de vídeos anexados ao processo. A contestação afirmou que as gravações não mostravam pedidos de votos, oferta de vantagens ou qualquer participação dos acusados em condutas irregulares.

Na decisão, a juíza eleitoral Rosilene de Santana Souza concordou com os argumentos da defesa e entendeu que as alegações careciam de respaldo probatório. Segundo ela, não havia elementos capazes de demonstrar a anuência dos réus com a compra de votos. A magistrada ressaltou a necessidade de provas materiais e testemunhais robustas para justificar a cassação de mandatos.

O advogado do prefeito, Yzaahu Paiva, comemorou a decisão:

— A decisão foi dentro do que esperávamos, não havia provas da participação do prefeito em qualquer ato ilícito. O Judiciário optou por respeitar a soberania do voto.

Com o resultado, Sebastião Nogueira e Guarsonio Melo seguem mantidos nos cargos para os quais foram eleitos em 2024.

Com o resultado, Sebastião Nogueira e Guarsonio Melo seguem mantidos nos cargos para os quais foram eleitos pela população de Porto Walter em 2024. Foto: internet 

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