Acre
Na Amazônia há 55 anos, padre atende pacientes usando medicina da floresta
Folha de São Paulo
Aos 88 anos, o padre e médico autodidata italiano Paolino Baldassari abre seu consultório de segunda a sexta-feira para atender a doentes que lotam a antessala, em Sena Madureira (a 140 km de Rio Branco, no Acre). Um por um, ouve os sintomas, faz perguntas e embrulha os comprimidos dados gratuitamente na receita que escreve com orientações nutricionais e chás. Com experiência de mais de meio século na Amazônia, incluindo 84 malárias e viagens de até seis meses pela mata, o padre Paolino afirma que o gado está destruindo a floresta e que os pobres “hoje são acomodados”.
Depoimento…
Estou no Brasil desde 1950. Primeiro, fiquei em São Paulo, onde estudei teologia na PUC por quatro anos. Depois, fui ser professor perto de Araranguá (SC), mas me botaram para fora porque era duro demais. Fiquei um ano. Fizeram uma festa quando saí, porque eu só dava zero, zero, zero.
De lá, fui ser padre na Amazônia. A primeira cidade foi Brasileia (AC). Naquele tempo, era mato, mato. O bispo disse: “Não pense que está na Itália, que o padre tem escritório. Não, não. Lembre-se de que o seu povo está no interior. Portanto, não faça o ninho na cidade”.
Não tinha onde dormir, me botaram na casa do prefeito. Cada família me mandava marmita durante uma semana. Eles preparavam a minha comida e eu, no fim do mês, agradecia. Tinha gente que era muito pobre. Eu dizia que não gostava de galinha, para não matarem a galinha pra mim. Queria comer como a gente comia. Para ser igual.
De Brasileia, vim pra Sena Madureira em 1963, pelo rio. Levei um tempão. Rio Acre, Purus, e depois o rio Iaco.
Por muitos anos, fiz os desobrigas [viagens a seringais, aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas para celebrar batismo, casamentos e outras cerimônias]. Fazia ciclos de dois anos. Primeiro, seis meses no rio Purus. Depois, voltava a Sena Madureira por seis meses. Em seguida, mais seis meses no rio Iaco e outros seis meses na cidade e tudo recomeçava.
Eu sofria muito no desobriga. Peguei 84 malárias. Tive muita infecção intestinal.
Sempre que voltava de um desobriga, fazia exame. Pra malária e verme, ganhei o campeonato.
MEDICINA
Na Itália, fiz um cursinho de enfermeiro. Aqui, encontrei uma região pobre, cheia de lepra, malária e febre amarela. Aí, comecei a aprender sobre medicina da floresta e consegui montar um laboratório em Sena Madureira.
No começo, atendia 130 pessoas por dia. Depois, por causa da minha saúde, veio uma ordem de não atender mais de 60. Agora, atendo apenas 20, 25 por dia. Eu não sou médico prático, me deram o título de doutor honoris causa na Universidade Federal do Acre.
Durante as viagens, tive a ideia de fazer escolas. Encontrava algumas pessoas vindas do Nordeste que sabiam ler. Eu dizia: “Você ensina ao menos a ler. Se sabe escrever, ensine a escrever também”.
Foram talvez umas cem escolas, em todo lugar fazia escolas de madeira. Nos rios, nos seringais, nas estradas.
Essas escolas acabaram. Derrubou a mata, acabou a gente. Não é como o seringal. Para derrubar a mata, havia uns 500 peões. Quando acabava a mata, pronto, mandavam todos embora. No seringal, não, alguns tinham mil pessoas. O seringalista é um pai em comparação com os fazendeiros.
Aqui, a madeira e a venda de terras acabaram com a mata. Escrevi para vários presidentes. O primeiro foi o Itamar Franco, suplicando que desse alguma coisa, porque estava um desastre de fome.
Muitos vieram para as margens do rio e plantavam feijão, arroz. Depois, começaram a descobrir o valor do gado. Agora, todo mundo tem gado. Mas com o perigo de destruir a mata. Porque o gado quer mata, mas essa terra não dá para o gado nem para a agricultura. Essa terra é boa por três anos. Depois, é uma terra dura, dura.
A solução? Mecanizar a parte que já está destruída.
AJUDA
O governo fez tudo para os pobres, hoje dá dinheiro para ir para a aula. Infelizmente, o pobre se acomoda. Vive do governo, vive de esmola. Antes, eram escravos e hoje são acomodados. A ideia do Bolsa Família é muito boa, tirou mesmo gente da miséria. Mas, por outro lado, abriu uma porta para a gente não fazer nada. É difícil.
Quando fazia escola, era combatido pelos patrões e pelas autoridades. Agora que tenho quase 89 anos, eles compreenderam que a escola é um marco bom. Por isso, digo: eu me arrependo de ter feito o mal, mas não o bem.
Eu fiz o bem.
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Acre
Discussão no PS termina com três pessoas feridas e três policiais agredidos em Rio Branco
Uma discussão generalizada envolvendo a Polícia Militar e familiares de um casal resultou em agressões e deixou Diego Araújo da Silva, de 35 anos, Leandro Araújo da Silva, de 32, e Raimundo Felipe da Silva Ghellere, de 25 anos, feridos a tiros na noite desta sexta-feira, 19, no pátio do Pronto-Socorro, localizado na Avenida Nações Unidas, em Rio Branco.
Segundo informações da Polícia, um casal chegou à unidade hospitalar com uma criança para receber atendimento. Ao entrar no Pronto-Socorro, já no ambulatório, os dois iniciaram uma discussão, pois apenas uma pessoa poderia permanecer na sala. Diante disso, o médico plantonista pediu que o homem se retirasse do local.
Vigilantes da unidade foram acionados, retiraram o homem do hospital e o conduziram até o pátio. Familiares, insatisfeitos com o ocorrido, chegaram ao local e iniciaram uma discussão generalizada.
Uma guarnição da Polícia Militar foi acionada devido às ameaças. Ao chegar ao local, três policiais foram cercados pelos familiares, que passaram a agredir o comandante da viatura com socos, um soldado com golpes de capacete na cabeça e outro com socos, além de tentarem tomar a arma de um dos policiais.
Durante a confusão, um soldado reagiu e efetuou quatro disparos, que atingiram Diego, Leandro e Raimundo nas regiões do abdômen e das pernas.
Rapidamente, várias guarnições da Polícia Militar chegaram ao pátio do hospital, contiveram a situação e prenderam uma mulher.
Funcionários do Pronto-Socorro deixaram suas salas e conduziram os feridos até a sala de trauma, onde receberam atendimento médico.
Agentes da Polícia Civil da Equipe de Pronto Emprego estiveram no local e iniciaram as investigações. O caso ficará posteriormente à disposição da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
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Acre
Acre registra mais de 4,5 mil casos de sífilis entre 2023 e 2025, diz Sesacre
Dados oficiais revelam que Rio Branco responde por metade dos casos; especialistas alertam para subnotificação e riscos da sífilis congênita, enquanto diagnóstico e tratamento gratuitos são subutilizados

A tabela divulgada pela Sesacre também mostra que, entre os infectados, os homens aparecem em maior quantidade. A população mais atingida é formada por jovens com idade entre 15 e 25 anos. Foto: captada
O Acre registrou 4.546 casos de sífilis entre 2023 e 2025, segundo levantamento da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre). Deste total, mais de dois mil foram contabilizados apenas na capital Rio Branco. A doença atinge principalmente homens jovens, com idade entre 15 e 25 anos — público considerado prioritário para ações de prevenção.
Os números acompanham uma tendência mundial de crescimento da infecção, acendendo alerta para os serviços de saúde pública. Apesar de ser uma IST de diagnóstico simples e com tratamento eficaz, os registros permanecem elevados. Em 2024, o Brasil somou 35,4 mil diagnósticos da doença.
No estado, a preocupação maior é com a sífilis congênita, transmitida da gestante para o bebê. Josadaque Bezerra, coordenador do Núcleo de ISTs da Sesacre, reconhece uma leve melhora no cenário local, mas ressalta que o problema ainda demanda atenção.
“Precisamos melhorar bastante em relação ao nível nacional”, afirmou a coordenador do Núcleo de ISTs da Sesacre.
A Sesacre reforça a importância da população buscar atendimento médico aos primeiros sinais. Testes rápidos estão disponíveis em todas as unidades básicas de saúde, e o tratamento é gratuito. “A população é o principal ator desse processo”, destacou Bezerra.
Dados alarmantes:
- Total de casos (2023–2025): 4.546
- Rio Branco: mais de 2 mil notificações
- Faixa etária mais vulnerável: 15 a 25 anos
- Gênero mais afetado: Homens
- Casos de sífilis congênita (2024): 65 no estado
Tendência nacional e local:
O crescimento acompanha uma tendência mundial de aumento da sífilis, infecção sexualmente transmissível (IST) com diagnóstico simples e tratamento gratuito no SUS. Em 2024, o Brasil registrou 35,4 mil casos.
Fala da autoridade:
“O Acre teve uma leve melhora em relação a outros anos, mas, comparado ao nível nacional, precisamos avançar”, afirmou Josadaque Bezerra, coordenador do Núcleo de ISTs da Sesacre.
Orientação à população:
- Procure uma UBS ao notar sintomas
- Testes rápidos estão disponíveis em todas as unidades
- Tratamento é gratuito e deve ser feito até o fim
- Uso de preservativos é a principal forma de prevenção
A Sesacre planeja intensificar campanhas educativas nas escolas e unidades de saúde, com foco nos jovens e gestantes – grupo crítico para prevenir a sífilis congênita.
Dado importante: A sífilis não tratada pode causar complicações graves, como cegueira, paralisia e danos neurológicos. A transmissão vertical (mãe-bebê) é a mais preocupante.
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Acre
Headscon Acre projeta games da Amazônia Legal para a Gamescom Alemanha e a Gamescom LATAM
Realizada no Acre desde 2023, a Headscon Acre se consolida como uma das principais plataformas de visibilidade e acesso ao mercado para criadores de games da Amazônia Legal. Em sua edição de 2025, o evento sediou a segunda edição da Mostra Competitiva de Games da Amazônia Legal com premiação de aproximadamente R$ 60 mil. Essa é uma iniciativa do Instituto Gamecon que conecta estúdios da região a grandes vitrines internacionais, como a Gamescom Alemanha e a Gamescom LATAM.
A Mostra teve sua primeira edição em 2024 e, em 2025, ampliou o alcance da proposta ao reunir 10 jogos finalistas da região Norte, com produções do Acre, Amazonas, Pará e Amapá. Os vencedores garantiram vagas em delegações oficiais para a Gamescom Alemanha e para a Gamescom LATAM, com apoio para participação nos eventos e acesso direto a publishers e agentes do mercado global.
Na edição de 2025, o prêmio de Melhor Jogo (Júri Técnico) ficou com Catventure: The Curse of the Dark Tower, do Retrocat Studios (PA). Já o Melhor Jogo pelo voto do Júri Popular foi conquistado por Carbon-0, desenvolvido pelo estúdio Moonlight Games, do Acre.
O projeto acreano também recebeu reconhecimento pela força narrativa e pelo diálogo com temas ambientais e sociais. Para o desenvolvedor André Lucas Lima Siqueira, o jogo é uma forma de dar visibilidade à região por meio da linguagem dos games.
“Temos algumas empresas que estão causando mal ao mundo, com poluição, desperdício de recursos. Nosso jogo acompanha Ícaro e sua irmã Maria na busca pelo pai desaparecido, enquanto descobrem o que estava acontecendo. O objetivo é mostrar um pouco da nossa região na gameplay e evoluir o jogo até termos locais daqui jogáveis. A gente quer mostrar o nosso estado e a nossa região nesse jogo”, afirma André Siqueira.
Porta de entrada para o mercado internacional
Além dos vencedores, todos os finalistas da Mostra recebem material oficial de apresentação e participam de ações voltadas ao networking e à circulação profissional. A participação na Gamescom Alemanha e na Gamescom LATAM representa, para muitos estúdios amazônicos, o primeiro contato direto com o mercado internacional.
Ao longo de três edições realizadas no Acre, em 2023, 2024 e 2025, a Headscon tem fortalecido o ecossistema de games da Amazônia Legal. Após a primeira edição da Mostra Competitiva, Ciro Facundo, representante do estúdio acreano K Games, foi um dos selecionados para apresentar seu trabalho na Gamescom, na Alemanha, destacando que a região produz jogos com qualidade técnica, identidade cultural e potencial competitivo no cenário global.














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