Acre
Marcio Bittar agradece empenho de Gladson Cameli em sua campanha
Após cumprir agenda extensa no Juruá no final de semana, o candidato a governador da Aliança por Um Acre Melhor, Marcio Bittar (PSDB), reconheceu o empenho do candidato ao Senado, Gladson Cameli (PP), por sua candidatura. “Ele nunca pede votos só para ele, tanto nas reuniões menores quanto nos comício para multidões, como aconteceu em Marechal Thaumaturgo”, disse Bittar nesta segunda-feira, primeiro de setembro.
Gladson Cameli repete desde o comício de Feijó, na quinta-feira, 28, que “precisa que o Acre eleja Marcio Bittar governador, para a mudança ser completa”. No Juruá o empenho dele dobra e Marcio Bittar ainda tem o reforço de sua vice, a deputada estadual Antônia Sales (PMDB), que faz campanha como sempre fez, andando pela zona rural e pelas comunidades ribeirinhas.
A agenda que começou na quinta-feira em Feijó pelo interior só termina nesta segunda-feira, em Manuel Urbano, onde acontece por volta de 9h30 uma carreata pela cidade, organizada pela militância local. Na última sexta-feira Bittar participou do debate na TV Juruá, onde saiu vitorioso por ser o único a apresentar propostas, fez caminhada pela cidade de Cruzeiro do Sul, à noite foi a uma reunião na vila Pentecostes e no sábado foi a Marechal Thaumturgo, onde participou dum comício que lotou a principal avenida da cidade; voltou no domingo, participou da Cavalgada de encerramento da Expojuruá em Cruzeiro e à tarde viajou para Porto Walter, onde participou doutro comício, igualmente lotado.
Marcio Bittar aproveitou o contato com eleitores por meio de comícios, pequenas reuniões e caminhadas para expor seu plano de governo. Disse que quer devolver o “Acre aos acreanos”, porque o Estado não pertence a um partido, nem a uma família, garantiu a construção de casas populares em todos os municípios, assegurou anistia a todas as multas impostas a agricultores pelo Imac e discutiu segurança pública com as pessoas, anunciando concurso público e assegurando que em seu governo “quem será respeitada é a polícia, não bandidos”.
Toda a agenda pelo interior Marcio Bittar cumpriu em parceria com o candidato a senador Gladson Cameli. Em todas elas os dois pediram votos um para o outro. “O Marcio Bittar me representa porque foi um deputado federal que deu demonstração de ser bom administrador, porque é primeiro-secretário do Congresso Nacional, onde comanda um orçamento de R$ 5 bi. Por isso eu peço: me elejam senador de vocês, mas elejam também o Marcio Bittar governador. Para meu trabalho ser melhor eu preciso dele governador”, disse no bairro da Várzea, em Cruzeiro do Sul, numa reunião que quase virou comício, tantas foram as pessoas presentes.
Nesta segunda-feira Bittar e Gladson participam duma carreata em Manuel Urbano, pela manhã, inauguram o comitê na cidade e à tarde voltam para Rio Branco, onde gravam programas eleitorais. Na chegada no município Marcio comentou o desespero do governo em plantar notinhas nos jornais tentando mostrar uma desunião entre ele e Gladson: “As pessoas estão casando o voto entre Gladson e Marcio e essa é uma tentativa desesperada do governo de tentar passar para as pessoas o contrário. Estamos mais do que juntos e o nosso futuro senador Gladson Cameli”, disse.
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Acre
Seca histórica e El Niño de 2023/2024 causam queda recorde na produção de castanha-da-amazônia em 40 anos
Safra 2024/2025 pode ser a pior em décadas, ameaçando sustento de comunidades extrativistas; Embrapa projeta recuperação apenas em 2026

O prolongamento do fenômeno El Niño, associado à baixa nebulosidade, alta radiação solar e queimadas recorrentes, provocou uma queda drástica na umidade do solo. Foto: internet
A combinação de seca extrema, temperaturas elevadas e efeitos do El Niño entre agosto de 2023 e maio de 2024 resultou na pior quebra de safra de castanha-da-amazônia em 40 anos. A perspectiva de recuperação para a próxima safra é considerada promissora, mas especialistas alertam: é urgente a adoção de medidas de adaptação para garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva.
Dados preliminares da Embrapa apontam redução que pode chegar a 60% na produção, com impactos diretos em milhares de famílias extrativistas que dependem do produto como principal fonte de renda.
“A floração da castanheira-da-amazônia ocorre no fim da estação seca e início da chuvosa, podendo durar até seis meses. Já a maturação dos frutos leva entre nove e treze meses. Todo esse processo é sensível às variações climáticas extremas”, explica Carolina Volkmer de Castilho, pesquisadora da Embrapa.
A crise climática por trás da queda
Pesquisadores identificaram uma cadeia de eventos devastadores:
- Déficit hídrico: Umidade do solo 45% abaixo da média histórica
- Estresse térmico: Temperaturas 3°C acima do normal durante a floração
- Fogo e radiação: Queimadas e baixa nebulosidade prejudicaram a frutificação
“Vimos castanheiras centenárias abortarem frutos pela primeira vez”, relatou o pesquisador da Embrapa Acre, Marcos Vinicius.
Impacto social e econômico
A queda afeta diretamente:
- 25 mil famílias extrativistas na Amazônia
- 120 cooperativas e associações de produtores
- Cadeia que movimenta R$ 280 milhões/ano no Norte do país
No Acre, estado produtor, a colheita que normalmente começa no mês de dezembro pode ser adiada e atrapalhar o cenário, já para 2026.

A Amazônia registrou, entre agosto de 2023 e maio de 2024, uma das secas mais intensas dos últimos 40 anos. Foto: internet
Estratégias de resistência
Diante do cenário, especialistas propõem:
Renovação dos castanhais: Substituição de árvores senis (acima de 300 anos)
Seguro-extrativismo: Modelo em teste no Pará para compensar perdas
Manejo adaptativo: Técnicas para reduzir estresse hídrico
Luz no fim do túnel
A Embrapa projeta uma superprodução em 2026, padrão observado após:
- A seca de 2023/2024 (+37% na safra seguinte)
- O El Niño de 2023 (recorde histórico)
Próximos passos:
- Ministério do Meio Ambiente estuda plano emergencial
- Embrapa prepara relatório técnico para o Congresso Nacional
A Riqueza da Castanha
1 árvore produz em média 200 ouriços/ano (em condições normais)
Safra 2024: estimativa de 80 ouriços/árvore
Brasil responde por 60% da produção global
Preço ao produtor pode subir (temporadas)
Fontes: Embrapa/IBGE/Conab
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Acre
Como o tráfico transformou a Amazônia na principal rota de exportação de cocaína
Explorado pelos maiores cartéis do Hemisfério Sul, o negócio envolve bilhões de dólares e conta com a parceria de facções nacionais

Vigilância: a mata fechada e rios com seus milhares de braços dificultam o patrulhamento e facilitam o crime. Foto: Bruno Kelly/
Por Laryssa Borges, de Tabatinga (Rrevista/Veja)
Lago Sacambu, Amazônia peruana, março de 2025. Uma gigantesca lona azul protege das rajadas de chuva típicas do inverno na região uma carga preciosa. Lado a lado, em montes, folhas de coca são preparadas para o início do processo de maceração.
Enquanto isso, homens armados escoltam uma estufa improvisada e posam para fotos com o símbolo da facção que tomou de assalto a chamada Rota Solimões, um emaranhado de rios navegáveis em terras brasileiras que transformou a maior floresta tropical do mundo numa imensa trilha de passagem das drogas produzidas pelos grandes cartéis da Colômbia.
À espera de ordens superiores, o bando, formado em sua maioria por rapazes que não aparentam mais que 20 anos de idade, treina tiro ao alvo entre as árvores. Um deles aparece ostentando um fuzil. O laboratório de refino está em pleno funcionamento.

NA LINHA DE FRENTE - Almeida: “Precisamos de uma ação nacional para enfrentar essas quadrilhas”. Foto: Bruno Kelly/
Ao lado dele, há plantações de coca a perder de vista, como mostram imagens captadas por um drone. Em breve, toneladas de cocaína vão sair dessa “fazenda” e ingressar no Brasil em pequenos aviões, escondidas em fundos falsos de barcos ou disfarçadas, por exemplo, em botijões de gás.
A droga vai percorrer grandes distâncias até chegar aos portos e aeroportos, de onde, sem maiores problemas, embarcará para seu destino final, a Europa, fechando o ciclo de uma das atividades mais lucrativas do planeta.
Localizado no chamado Vale do Javari, Sacambu, onde ocorreu o flagrante do drone de uma autoridade local de segurança, é um dos inúmeros entrepostos dominados pelo narcotráfico na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, a chamada tríplice fronteira amazônica, um território de proporções gigantescas, coberto por vegetação densa, desabitado e inóspito.
Veja vídeo:
A fragilidade da vigilância e fiscalização das forças de segurança transformou a região na rota perfeita para os grandes cartéis escoarem sua produção com o mínimo risco. Os números deixam isso bem evidente. As autoridades estimam que as apreensões de droga na região representam apenas 10% do que é efetivamente traficado.
Ou seja: se essa projeção estiver correta, o que é impossível saber, passaram pela floresta brasileira somente no ano passado nada menos que 430 toneladas de cocaína. Se levado em consideração que 1 quilo da droga custa, em média, aos compradores europeus o equivalente a 260 000 reais, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o faturamento dos cartéis ultrapassou os 110 bilhões de reais.
Essa cifra impressionante uniu na Amazônia brasileira poderosos cartéis colombianos, organizações mafiosas europeias e o que hoje existe de mais deletério no submundo do crime nacional: as facções. É um novo desafio que precisa ser urgentemente enfrentado.

Posto de fiscalização: as paredes das palafitas estão cravejadas de balas disparadas pelos bandidos. Foto: Bruno Kelly/.
Vistos de cima, o tapete verde formado pela copa das árvores da floresta às vezes não permite avistar um único centímetro do solo e muito menos antever o fluxo de pessoas e embarcações que trafegam pelos rios, incluindo as que são usadas para transportar madeira, ouro, animais em extinção e, nos últimos anos, principalmente cocaína.
Apenas o Alto Solimões, que reúne as fronteiras seca e fluvial do Brasil com os vizinhos Colômbia e Peru, é duas vezes maior que Portugal. Fiscalizar uma área tão imensa parece impossível. Responsável pela vigilância na divisa, o Exército se desdobra com 9 500 soldados na região.
A proporção é de um homem para cada 72 quilômetros quadrados de área de fronteira. A situação é ainda mais crítica quando se observam outros números. As sete cidades que ficam na fronteira contam com inacreditáveis 150 policiais militares para cuidar da segurança de uma área de 213 000 quilômetros quadrados — uma região do tamanho da Inglaterra e da Escócia somadas. É impossível.
No período de seca (julho a novembro), os pequenos aviões respondem pelos grandes carregamentos que cruzam a fronteira. Por 60 gramas de ouro, equivalentes a 20 000 reais, é possível contratar uma aeronave para transportar qualquer coisa. Elas voam baixo e pousam em pistas clandestinas que, sem nenhuma vigilância ostensiva, são abertas na floresta da noite para o dia.

Carregamento: a polícia apreendeu 5 toneladas de cocaína que estavam escondidas no meio da floresta. Foto: Polícia Militar do Amazonas/Divulgação
É em terra firme, porém, que se tem a exata dimensão do desafio de combater o tráfico na região. Por segurança — ou ausência dela —, os traficantes preferem usar as estradas pluviais para entrar no Brasil. Alguns dos afluentes dos rios navegáveis nascem na Colômbia e no Peru e chegam aos estados do Amazonas e do Acre. Além disso, no período das chuvas (dezembro a junho), as cheias produzem ramificações que ficam completamente cobertas pela vegetação. Elas são usadas pelas quadrilhas como rotas alternativas. São milhares de pequenas estradas que nem sequer constam nos levantamentos cartográficos, o que dificulta a vigilância que já inexiste.
Para patrulhar a tríplice fronteira, a PM que cuida da fronteira, além dos míseros 150 homens, conta com uma única lancha blindada (que, há duas semanas, estava estragada), uma cota mínima de combustível e um estoque de munição que não resiste a um rápido tiroteio. Pelo lado dos traficantes, a situação é oposta. Eles usam armas capazes de abater um helicóptero, dispõem de embarcações à prova de balas, fuzis de última geração e até submarinos improvisados. VEJA visitou o Vale do Javari e as cidades de Tabatinga, Atalaia do Norte, Benjamin Constant e Letícia — os principais municípios da fronteira.
No trajeto, não é raro detectar drones dos grupos criminosos sobrevoando e mapeando a movimentação das forças de segurança, inclusive do Exército. “Precisamos de uma ação nacional para enfrentar essas quadrilhas”, diz Vinicius Almeida, secretário de Segurança Pública do Amazonas. “O que o governo do estado pode fazer tem feito, mas nós somos muito pequenos em relação ao crime”, completa.
Tabatinga, na divisa com a Colômbia, é um exemplo das mudanças provocadas na região pela cocaína. Por mais que incomode, a cidade não consegue se livrar do estigma de capital do narcotráfico amazônico. Há olheiros de facções criminosas em cada esquina. No movimentado porto do município, a fiscalização das embarcações e dos transeuntes é praticamente nula.
Não existem rodovias. Por isso, as lanchas e canoas são responsáveis pelo transporte de suprimentos oriundos de Manaus e dos países vizinhos. O movimento é frenético. As autoridades sabem que grandes quantidades de drogas passam por ali, mas falta braço para a polícia reprimir de forma séria o negócio. “Em uma cebola pequena, cabem 50 ou 60 gramas de droga, mas imagina num saco de 20 quilos de cebola.
Agora estão também recheando tambaqui com cocaína e armazenando em frigoríficos. Congelado, não tem cão farejador que descubra”, explica um policial. Também não há cães farejadores para tanta demanda. As vistorias, quando ocorrem, são apenas por amostragem.
Até pouco tempo atrás, o município de 70 000 habitantes era palco de uma violenta disputa pela exclusividade do transporte de drogas na região. Execuções de rivais faziam parte da rotina da cidade. “Nas brigas de facções, os mortos acabavam desmembrados e jogados no rio para apagar os vestígios”, diz Jonatas Soares, comandante do 8º Batalhão da PM em Tabatinga.

Tabatinga: a “capital” da tríplice fronteira vive rotina de medo com a presença das facções. Foto: Bruno Kelly/
Em 2020, o Comando Vermelho assumiu o controle das rotas fluviais da Amazônia depois de uma guerra sangrenta com outras organizações. Com a consolidação do monopólio, as mortes violentas em Tabatinga, que atingiram o índice de 74 para cada 100 000 habitantes, uma das mais altas do país, diminuíram.
Em contrapartida, o tráfico explodiu. Em uma das dezenas de ruas esburacadas e malcuidadas da cidade, delegados, policiais militares, o juiz e o chefe do Ministério Público moram todos em um único condomínio de muros altos e monitorado por câmeras. Questão de segurança. Na esquina do endereço mais sensível do município, porém, uma pichação com o símbolo do “CV” deixa claro quem dá as cartas na região. A facção, aliás, tem seu próprio capo na fronteira. Trata-se de Kellison Rego da Silva, conhecido como “Loirinho” ou “Itália”. Reza a lenda que foi ele quem comandou o extermínio dos grupos rivais há alguns anos.
Jurado de morte, o traficante usa o nome falso de Emilio Gonzales da Silva e se esconde em Letícia, cidade colombiana separada de Tabatinga apenas por uma rua. Os inimigos — os que restaram — oferecem uma recompensa de 500 000 reais por informações sobre o paradeiro dele. O prêmio também será pago, diz o cartaz, se alguém entregá-lo morto.

Garavito: “Antes, tínhamos Pablo Escobar. Hoje os chefes são mais discretos”. Foto: Bruno Kelly
O que se passa em Tabatinga, hoje, Letícia já experimentou há mais de três décadas. A cidade colombiana também abrigou um cartel que usava os rios brasileiros como corredor para levar cocaína à Europa.
A diferença agora é que naquela época eram carregamentos esporádicos, em volumes menores e os personagens que comandavam as operações eram outros. Chamava a atenção na cidade as dezenas de casas de câmbio e o sofisticado comércio de bebidas importadas e produtos eletrônicos que destoavam do perfil de pobreza dos moradores.
Em Tabatinga, esse consumo sofisticado ainda não é tão nítido, mas, recentemente, foi percebido um crescimento fora do normal de grandes lojas varejistas. No ano passado, a polícia prendeu empresários da cidade por suspeitas de lavar dinheiro do tráfico para o Comando Vermelho.
Os novos comandantes vêm ampliando suas conexões. Nos arquivos da polícia colombiana há registros de que a facção brasileira estabeleceu uma parceria com dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que abandonaram a guerrilha, se juntaram aos cartéis e atualmente administram plantações de coca na fronteira.
“Os traficantes em geral não ficam aqui na região da tríplice fronteira. Eles vêm, fecham os negócios e vão embora”, diz Santiago Garavito, comandante da Polícia Nacional da Colômbia em Letícia. “Antes, tínhamos personalidades como Pablo Escobar. Hoje, os chefes têm perfil mais discreto”, acrescenta. Uma curiosidade: no auge do poderio do cartel de Medellín, nos anos 1980, Letícia chegou a abrigar duas casas usadas pelo próprio Escobar. Trinta anos depois de sua morte, ainda é possível identificar as ruínas de uma delas, curiosamente instalada próxima ao prédio da Polícia Nacional.

PROCURA-SE - Kellison: o traficante é apontado como o capo do Comando Vermelho na fronteira com a Colômbia. Foto Art
Sem condições de se contrapor aos novos comandantes que vêm ampliando suas conexões e poderio, as autoridades, às vezes, precisam contar com a sorte. Em agosto do ano passado, os cartéis sofreram um duro golpe. Em Benjamin Constant, cidade a 20 quilômetros de Tabatinga, a polícia apreendeu numa única tacada 5 toneladas de cocaína pura.
A droga pertencia a um grupo colombiano e estava no fundo falso de embarcações construídas no meio da floresta. Em uma situação normal, ninguém encontraria o local no meio da selva. O ruidoso barraco provocado por um desentendimento amoroso entre os traficantes, no entanto, levou a polícia amazonense até onde os barcos estavam sendo preparados. Lá, para surpresa geral, encontraram 3 toneladas de cocaína.
Já seria uma das maiores apreensões de todos os tempos no estado, mas havia mais. A equipe se preparava para retornar quando um dos policiais resolveu se afastar do grupo, à procura de lugar mais reservado, uma moita. No caminho, viu o que parecia ser uma caixa coberta por uma lona. Havia lá mais 2 toneladas da droga.
A maior carga de cocaína já apreendida na selva abalou os alicerces da quadrilha. “Combater o crime na floresta é um desafio. Como é impossível colocar um policial em cada metro da fronteira, enfrentamos os criminosos com inteligência”, diz Humberto Freire, diretor da Amazônia e do Meio Ambiente da Polícia Federal, que trabalha para tirar do papel o Centro de Cooperação Policial Internacional, que reunirá em Manaus investigadores dos nove países que compõem a Amazônia Legal.

Pichação do CV: para deixar claro quem dá as cartas em Tabatinga. Foto: Silvia Izquierdo/AP/Imageplus
A PF, por questões de segurança, não revela o tamanho de seu efetivo na Amazônia. Os federais têm uma delegacia em Tabatinga, usam informações de satélite para tentar localizar laboratórios, acionam as Forças Armadas para, se preciso, abater aviões de traficantes e dar apoio logístico às operações, mas também não têm estrutura suficiente para fazer frente aos bandidos. O tráfico, o contrabando, o garimpo, a exploração clandestina de madeira e a pesca ilegal se misturam na floresta.
O Lago Sacambu, na Amazônia peruana, por exemplo, está na região onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados, em junho de 2022, enquanto investigavam crimes ambientais. A poucos quilômetros do local da tragédia fica um dos quatro postos de fiscalização fluvial que existem ao longo do Rio Javari. É uma palafita cravejada de balas que não deixa os fiscais da Funai, os policiais e os soldados do Exército esquecerem que os criminosos que cruzam o rio costumam atirar primeiro.Continua após a publicidade
A expansão do grande tráfico na floresta tem produzido sequelas visíveis e invisíveis. A mais notória é o fortalecimento do Comando Vermelho. Com ramificações em 24 estados da federação, estima-se que a facção movimente algo em torno de 30 bilhões de reais por ano. Além de partilhar os rendimentos do tráfico internacional, ela recolhe pedágios das embarcações, alicia indígenas e comunidades ribeirinhas e não hesita em eliminar quem atravessar seu caminho.

INTELIGÊNCIA - Em breve: Centro Internacional vai reunir em Manaus investigadores de nove países. Foto: Polícia Federal/Divulgação
Os métodos que estão dando certo na floresta foram importados do Rio de Janeiro e se alastram pelo país. No Amazonas, as autoridades identificaram uma comunidade indígena que foi escravizada pela facção. Os índios fazem pequenos trabalhos para os traficantes em troca do oxi, um subproduto da cocaína com poder de destruição superior ao crack. Quase 80% de todos os 1 049 homicídios registrados no estado têm relação com o comércio de drogas. Para que as engrenagens funcionem em benefício das quadrilhas, a corrupção também marca presença.
Recentemente, a Polícia Federal prendeu um agente da própria instituição que facilitava a passagem dos carregamentos no aeroporto de Manaus. “A droga por onde passa vai deixando um rastro de destruição. A tríplice fronteira vive uma realidade que nós todos brasileiros olhamos de costas”, adverte Vinicius Almeida.
Veja vídeo:
O caso é reconhecido como de altíssima gravidade também entre as autoridades do Ministério da Justiça em Brasília. A droga transportada pela chamada “hidrovia do crime” na Amazônia atravessa o país em direção aos portos e gera lucros estratosféricos para as facções organizadas, as mesmas que espalham o terror hoje pelas grandes metrópoles do Brasil.
A omissão do poder público durante anos a esse movimento vai cobrar um preço caro: será preciso um esforço inédito para enfrentar de verdade essa chaga no meio da floresta. Não vai ser à base de um soldado para cada 72 quilômetros quadrados de área de fronteira que a guerra contra o crime será vencida.

ISFARCE - Flagrante: os botijões de gás escondiam tabletes de cocaína. Foto: Polícia Militar do Amazonas/Divulgação
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Acre
Cruzeiro do Sul perde seu maior construtor de escolas: morre aos 86 anos o ex-prefeito Pedro da Silva Negreiros
Ícone da educação e da redemocratização no Vale do Juruá, seu legado transformou gerações; velório ocorre na Câmara Municipal
A manhã deste domingo (13) entrou para a história de Cruzeiro do Sul com a partida de Pedro da Silva Negreiros, ex-prefeito que faleceu aos 86 anos vítima de parada cardíaca. Nascido em 20 de fevereiro de 1939 no Seringal Boa Vista, às margens do rio Paraná dos Mouras, Negreiros foi o arquiteto do maior projeto educacional do município nos anos 1980-90.
Da seringa à prefeitura: uma trajetória épica
Sua vida refletia a própria história do Acre:
- 1985: Assumiu como prefeito interino durante a transição democrática
- 1989-1992: Eleito pelo voto direto, transformou a educação municipal
- Legado: Construiu mais escolas que todos os antecessores juntos
“Meu pai acreditava que só a educação tira o seringueiro da invisibilidade”, emocionou-se a filha Maria Rosemere, secretária de Educação na gestão 2017-2020.
O homem por trás do cargo
Casado por 62 anos com a professora Carminha Silva Negreiros, deixou três filhos que seguiram seu exemplo no serviço público. Francisca das Chagas (Simone) lembra:
“Em casa, ele era o mesmo homem simples da roça – só trocava o facão pela caneta quando ia trabalhar”.
Repercussão e homenagens
O governador Gladson Cameli destacou: “Deixa um legado de amor e trabalho que marcará para sempre nossa história”. A prefeitura de Cruzeiro do Sul decretou luto oficial de três dias, enquanto a Câmara Municipal prepara sessão solene póstuma.
Últimas informações:
Velório: Câmara Municipal de Cruzeiro do Sul a partir das 14h
Sepultamento: Segunda-feira (14), no Cemitério Municipal
Homenagem Permanente: Biblioteca Municipal será rebatizada em sua memória
O Legado de Negreiros em Números
18 escolas construídas em sua gestão
72% aumento no IDEB municipal entre 1989-1992
1º prefeito a equipar todas as unidades com merenda escolar
Último gestor nascido em seringal a comandar a cidade
O governador Gladson Cameli se manifestou nas redes sociais com uma mensagem de pesar:
“Recebi com tristeza a partida do senhor Pedro da Silva Negreiros, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, homem simples, de coração generoso e profundamente comprometido com sua terra e seu povo. Deixa um legado de amor, trabalho e dedicação que marcará para sempre nossa história. Minha solidariedade à dona Carminha e filhos.”
A cidade perde não apenas um ex-prefeito, mas um de seus filhos mais ilustres, homem de fala mansa, convicções firmes e uma vida dedicada ao bem comum.
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