Justiça determina que policial penal que matou mulher com tiro na cabeça vá a júri popular

Quenison Silva de Souza, de 39 anos, diz que tiro foi acidental durante dicussão — Foto: Arquivo pessoal

Por Aline Nascimento

A Justiça do Acre expediu sentença de pronúncia determinando que o policial penal Quenison Silva de Souza, indiciado por matar a companheira Erlane Cristina de Matos, de 35 anos, vá a júri popular pelo crime de feminicídio.

A decisão é da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco e foi divulgada na segunda-feira (10).

Erlane foi morta com um tiro na cabeça em março deste ano. O casal brigou depois de chegar da casa de um amigo. O sobrinho de Erlane, de 13 anos, que estava passando uma temporada com o casal, ouviu a briga e é testemunha no processo.

No último dia 24, o servidor público foi interrogado na primeira audiência de instrução e julgamento do caso. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a audiência ocorreu por videoconferência.

Além do réu, ao menos dez testemunhas de acusação e defesa também foram ouvidas na audiência que durou cerca de quatro horas.

Na decisão, a juíza de Direito Luana Campos, responsável pela sentença, destacou que as provas comprovaram que o policial é o responsável pela morte da companheira. Além disso, a juíza acrescentou que ficou comprovado também que o crime foi praticado com motivo torpe uma vez que o acusado teve uma crise de ciúmes e matou a mulher.

“Desta forma, verifica-se pelos elementos colhidos, inclusive o depoimento do próprio acusado, que ele e a vítima tiveram uma discussão antes do crime. O depoimento do adolescente que estava na casa é claro ao esclarecer que ouviu o casal discutindo e barulhos dentro do quarto sendo que logo após ouviu o barulho de um disparo de arma de fogo”, detalhou.

A defesa disse que recebeu a pronuncia com muita tranquilidade e destacou que a decisão da juíza não leva em consideração análise do mérito em sim, mas apenas os indícios de autoria e materialidade, o que, para a defesa, é um ponto incontroverso.

“Chegamos ao final dessa primeira fase convictos de que estamos diante de uma tragédia familiar e não de um feminicídio. Esperamos provar isso em solo sagrado do tribunal do júri”, afirmou o advogado do policial, Maxsuel Maia.

O advogado frisou que não vai recorrer da decisão da 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Relembre o caso

Quenison Silva de Souza foi preso no dia 12 de março e indiciado por feminicídio por matar a companheira, Erlane Cristina de Matos, de 35 anos, com um tiro na cabeça. O crime ocorreu na noite de 11 de março na casa do casal no bairro Estação Experimental, na capital acreana.

À polícia, Souza afirmou que o tiro foi acidental. O policial foi denunciado pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) à Justiça pelo crime de feminicídio.

A reportagem teve acesso a um relatório psicossocial feito por uma psicóloga do Tribunal de Justiça que aponta o seguinte:

“Seus sentimentos são de intensa dor e arrependimento no que diz respeito ao ocorrido. Se sente culpado e em extrema vergonha perante sua família e seus amigos. Não consegue aceitar que uma tragédia como essa teve sua pessoa como responsável, pois sempre foi muito responsável com sua arma e com suas obrigações de esposa e pai de família”.

O servidor público permanece preso no Complexo Prisional Francisco d’Oliveira Conde (FOC), em Rio Branco, desde o dia do crime. Ele chegou a ser internado no Hospital de Saúde Mental (Hosmac), mas a Justiça determinou que ele voltasse ao presídio.

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Publicado por
G1 Acre