fbpx
Conecte-se conosco

Geral

Ecos do Silêncio: Ministério Público do Acre aprova lei de combate ao abuso sexual

Publicado

em

Tragédia familiar em Acrelândia, com o suicídio de uma jovem e a morte de seus pais, deu início ao trabalho de promotor

Por Tião Maia

Dona de um rosto com nariz pequeno, bochechas delineadas, boca bem desenhada e dentição perfeita, ela tinha o que se convencionou chamar de feições harmonizadas. Aos 15 anos de idade, com estatura além da mediana e alta para os padrões das mulheres acreanas, também tinha o corpo perfeito, ornado por cabelos incrivelmente negros e longos, realçando com olhos negros, grandes – uma beleza típica da mulher amazônida.

Enfim, uma moça muito bonita que, por compreender que a própria beleza correspondia aos exigentes padrões das passarelas de modas, sonhava em ser modelo internacional, com dinheiro, casa própria, bom carro, fama e, quem sabe, conhecer o mundo e, mais tarde, quando se aposentasse do mundo da moda, casaria, teria filhos e a própria família – ela costumava repetir isso aos muitos amigos e amigas.

A menina sonhadora e consciente de seus belos atributos físicos adorava fotografias e espelhos. Sempre com a câmera do celular em uso, ela espalhava sua beleza em fotografias aos amigos e amigas através de redes sociais.

Mas os mesmos amigos e amigas, principalmente na escola onde a moça estudava, passaram a perceber que ela, aos poucos, estava se tornando diferente. Ao invés do belo sorriso, que era quase sua marca, passara a ser uma moça triste, fechada e que já não olhava no rosto de quase ninguém, sempre cabisbaixa. Nos intervalos das aulas, preferia se isolar e pouco usava o celular e até havia deixado de usar as redes sociais, coisa muito estranha para uma jovem vaidosa em tempos de rede mundial de computadores e de relações digitais. Também já não usava maquiagem e as roupas já não eram tão coloridas. Andava com o básico, abandonara a vaidade e até deixara de tirar e enviar suas belas fotografias.

A jovem suicidou-se a poucos metros da escola onde estudava/ Reprodução

Até que, em 27 de setembro de 2018, a última fotografia da jovem quem a tirou foram peritos da polícia técnica do Instituto Médico Legal (IML). Seu corpo estava estendido no chão, irreconhecível, esmagado. A bela jovem, Giovana Mendonça de Melo, agora era um cadáver. Naquele dia, ela havia se jogado contra um carro que trafegava em alta velocidade no quilômetro 11 da BR-364, no território do município de Acrelândia, na região do Abunã, interior do Acre. A jovem suicidou-se a poucos metros da escola onde estudava e a quatro quilômetros da residência de seus pais.

A princípio, o caso seria apenas mais um suicídio de uma jovem depressiva, prática comum nos últimos tempos e motivo de preocupações do poder público ao ponto de o mês 09 de cada ano levar o nome de “Setembro Amarelo” e ser período de campanhas de prevenção contra a prática. O inquérito instaurado pela Polícia Civil de Acrelândia, com o acompanhamento da Promotoria de Justiça do município, exatamente para investigar as causas do suicídio da jovem, teria ligações com as mortes dos pais de Giovana: Nelson Luiz Bello, de 58 anos, e Deusilene Vieira, de 55, foram encontrados mortos na residência em que viviam, localizada no quilômetro 7 no Ramal Cumaru, zona rural Acrelândia, cinco meses após o suicídio da filha única de ambos.

A polícia descobriu que as mortes tinham a ver com o suicídio de Giovana porque Nelson Luiz Belo matou a esposa Deusilene a tiros de pistolas e, em seguida, suicidou-se, por enforcamento. Com a esposa morta, ele colocou uma corda no pescoço, subiu numa cadeira e a empurrou com os pés, sendo encontrado pendurado pela corda, levando consigo para o imponderável os segredos do estupro da própria filha, concluiu a polícia técnica.

Respeitado na sociedade de Acrelândia como empresário rural, Nelson Luiz teria cometido o crime de feminicídio seguido de suicídio para evitar a condenação moral ao ser apontado como abusador sexual e causador do suicídio da filha, ocorrido meses antes.

Em janeiro de 2020, outro caso de suicídio de adulto envolvendo abusos de crianças, desta vez em Tarauacá, também interior do Acre. O suicida era pai de uma menina de 10 anos que deu à luz um menino no início do mês de abril de 2020, na Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco, no Acre. O bebê nasceu de um parto cesariano e precisou ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI) da unidade.

A gravidez da criança foi denunciada na época, em Tarauacá, pela então vereadora Janaina Furtado. O pai da menina, que não teve o nome revelado para evitar também a possível identificação da criança, era apontado como o adulto que dormia com a criança numa cama de casal, na companhia de uma outra menor mais nova, e com as quais manteria relações sexuais. A mãe das crianças havia abandonado a casa, localizada num seringal de Jordão, um dos municípios mais isolados do Acre. Um vizinho também era suspeito de abuso. Pai e vizinho foram presos e ouvidos pela polícia. Quatro meses antes de a criança dar a luz ao filho, o pai apareceu morto na cela da delegacia onde estava preso como suspeito, que teria se suicidado.

Os dois casos – o da menina de Acrelândia e o da de Tarauacá -, que já eram capazes de alarmar as sociedades dos dois municípios, chamou ainda mais a atenção do promotor de Justiça Júlio César de Medeiros, um paulistano de Araçatuba, de 35 anos de idade, que integra o Ministério Público do Acre (MPAC) desde 2014. Ele serviu inicialmente na comarca de Manuel Urbano, na região do Purus, e ali travou contato com os primeiros casos de abuso sexual contra vulneráveis. “Em Manuel Urbano, nós denunciamos, em nove meses, muito mais casos do que o que foi denunciado no período de nove anos”, disse o promotor, que depois serviria em Acrelândia e Tarauacá, onde travou contato com aquelas ocorrências trágicas de suicídios depois de abusos contra vulneráveis.

Em 3 anos, AC registra 487 estupros de vulneráveis; 92 só no primeiro semestre de 2021 e o número pode ser maior

O caso de estupro de vulneráveis no Acre é de tal tamanho que, estudos do Núcleo de Apoio Técnico (NAT) do MPAC, revelam que, nos últimos três anos, pelo menos 487 menores, caracterizadas como vulneráveis, foram estupradas no Estado. Os dados mostram que, em 2019, foram 172 casos, com registro de pequena queda em 2020, com 155 casos, e uma espécie de explosão no auge da pandemia do coronavirus, quando as famílias, por imposição das exigências sanitárias, tiveram que permanecer mais tempo em casa. Neste período do primeiro semestre de 2021, já foram registrados 92 casos, sendo que este número já é maior do que aquele registrado no primeiro semestre de 2019, com 91 casos e 61 no igual período de 2020.

O pior é que, segundo o promotor Júlio César de Medeiros, esses números na realidade podem ser bem maiores, já que os registros sobre os casos são quase sempre subnotificados. Ou seja, muito mais meninas podem ter sido abusadas sem que os casos tenham chegado ao conhecimento das autoridades e uma das estratégias é monitorar o nascimento de crianças filhas de mães adolescentes com idades dentro do princípio de que elas são ainda menores vulneráveis.

Promotor Júlio César de Medeiros/ Reprodução

“Ecos do Silêncio”, o projeto que visa dar a voz a quem sofre abusos e não tem coragem de denunciar

Chocado com os números e com as ocorrências trágicas após os abusos, como os casos de Acrelândia e Tarauacá, o promotor decidiu que era necessário fazer alguma coisa além de apenas ficar sentado em seu gabinete à espera de casos concretos para a aplicação a lei. Foi a partir dos casos concretos com os quais travou contatos que ele criou o projeto que chamou de “Ecos do Silêncio” – coincidência ou não, nome de um livro de autoria conjunta de Cassandra Pereira França, Adriana Noemí Franco, Anna Paula Njaime Mendes.

As autoras partem do princípio de que a sexualidade humana é inerentemente traumática, na concepção de Joyce McDougall, uma neozelandesa radicada na França e já falecida que, desde os anos 50, ficou reconhecida internacionalmente por ser uma psicanalista de casos “difíceis” e investigar temas da clínica contemporânea. Ela dizia que “se já não conseguimos alcançar uma narrativa que comporte o sexual freudiano, imagine quando estamos diante dos excessos, do que transborda, do que não tem contorno, representação, do que não tem palavra. A sessão de análise é o lugar de narrar a dor, de transformar a dor. Um sujeito que narra a própria dor, dá continência e existência ao que era apenas silêncio e trevas. No entanto, é preciso ter coragem para ser narrador da própria história, narrador dos excessos vividos, do excesso do sexual e do traumático”. A ser verdadeiro este conceito, a bela Giovana, de Acrelândia, não teve esta coragem.

Por isso, para que seu sacrifício não tenha saído em vão, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), através do promotor Júlio César de Medeiros, criou o projeto que, além de buscar a punição dos culpados e a prevenção de casos, aborda os casos de adolescentes vítimas de abuso sexual e ou com problemas de saúde mental com origem nos atos dos abusadores.

O projeto tem abrangência estadual e conta com vários parceiros, como o Conselho Tutelar, psicólogos do Creas (Centro de Referência de Assistência Social do Brasil, uma unidade responsável pela oferta de serviços de proteção básica do Sistema Único de Assistência Social, nas áreas de vulnerabilidade e risco social), Assistência Social, psicologia do Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica, criado pelo Ministério da Saúde em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a resolutividade, a abrangência e o alvo das ações), além de professoras da rede de ensino fundamental e médio, gestoras das escolas, Polícia Militar, Delegacia de Polícia Civil, Centro de Atendimento à Vítima (CAV), órgão do MPAC, e Unidades Básicas de Saúde. O objetivo do projeto é “aprimorar a efetividade da persecução cível e penal, assegurando ainda direitos e garantias a acusados e vítimas” – ou seja, identificar e punir, criminalmente, os molestadores de crianças e adolescentes e estender as punições aos pais, mães e responsáveis que se omitem nas denúncias ou na proteção dessas vítimas, “aprimorando a efetividade da persecução penal em relação ao abuso sexual infantil e, ao mesmo tempo, prevenir problemas de saúde mental nas vítimas”.

O objetivo, segundo a justificativa do projeto, que deve concorrer ao prêmio anual interno do MPAC sobre práticas originais e inovadoras dos membros do Parquet, visa a “diminuição de casos de automutilação ou tentativa de suicídio; e aumento das Notificações ao Conselho Tutelar, visando prevenir crimes de abuso sexual infantil; aumento do número de denúncias oferecidas pelo MP; aumento do número de prisões preventivas de genitores omissos do dever legal de evitar o abuso sexual infantil; aumento das comunicações dos Cartórios ao MP”.

A outra meta é o atendimento psicológico com prevenção a abusos sexuais e prevenção de problemas de saúde mental a fim de evitar o surgimento de mais casos como o de Giovana e de tantos outros que não vêm à público porque as ocorrências são subnotificadas – ou seja, por fatores diversos – medo, vergonha e outros, casos de violações de menores vulneráveis deixem de ser registrados.

O cronograma do projeto informa que seu início deu-se em Manoel Urbano em 2019, aperfeiçoado em Acrelândia em 2020 a 2021 e com continuidade em Tarauacá durante o ano de 2021, as comarcas por onde tem passado o promotor Júlio César Medeiros, na sua luta contra o abuso sexual e à pornografia infanto-juvenil. É o promotor que informa a origem de sua proposta:

“O Projeto Ecos do Silêncio é inspirado em uma importante obra literária que retrata as reverberações do traumatismo sexual, e foi planejado em virtude da instauração do Procedimento Administrativo nº 09.2018.00000738-5, o qual apura as causas de suicídio de uma adolescente em Acrelândia, a qual possivelmente era vítima de abusos sexuais desde a tenra idade. Nessa ambiência, o Projeto envolve uma série de estratégias complexas que visam, ao mesmo tempo, prevenir e combater mais eficazmente tanto o abuso sexual infantil quanto os problemas de saúde mental proveniente desse público-alvo infantojuvenil no município”.

Para o promotor, há a necessidade de prevenção a casos de tentativa de suicídio praticados por vítimas de abuso sexual infantil. Sobre isso, Acrelândia se destaca como um dos municípios com maior índice de suicídio no Estado do Acre. “Trata-se de uma resposta à situação de gravíssima de tentativa de suicídios, automutilações e suicídios, a fim de que o sangue derramado não tenha sido “em vão”, servindo este Projeto de Instrumento a fim de que vidas sejam preservadas, e que jovens vítimas de abuso sexual e com risco de tentativa de suicídio não fiquem “em silêncio”, diz o promotor em sua justificativa do projeto.

Presidente da Aleac, Nicolau Junior e governador Gladson Cameli/Foto: Eduardo Silva

Governo e Aleac dão efetividade à lei proposta pelo MPAC

De acordo Júlio César de Medeiros, “foi verificada a posição do Estado do Acre como destaque negativo nacional no aspecto abuso sexual infantil, razão pela qual é imprescindível a adoção de providências a fim de prevenir tais crimes e, principalmente, garantir a repressão efetiva”. A iniciativa promove seu objetivo estratégico aprimorando a persecução penal a fim de conseguir alto índice de denúncias, prisões e condenações pela prática do estupro de vulnerável, ao estimular Notificações obrigatórias pelas unidades de saúde, cartórios e atuando na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes vítimas de abuso sexual. Isso visa combater a subnotificação excessiva de estupro de vulneráveis, sobretudo, durante a pandemia do coronavírus, em que a sociedade ficou reclusa em suas próprias residências, com aumento da vigilância e controle do estuprador em relação à vítima.

O projeto, que virou lei aprovada pela Assem Legislativa do Estado do Acre (Aleac), torna obrigatória as notificações de abuso sexual, por hospitais, unidades de Saúde e cartórios, além da confecção de Relatórios Psicológicos das vítimas, a fim de aferir a credibilidade da palavra da vítima em juízo, e prevenir suicídios e/ou automutilações. Ou seja, a partir desta lei de inciativa do MPAC, toda vez que uma menor de 14 anos der a luz numa dessas unidades de saúde, o órgão ministerial tem que ser avisado. A lei mereceu elogios do presidente da Aleac, deputado Nicolau Júnior (PP) e também do governador Gladson Cameli (PP) ao sancioná-la. Com sua validação, a nova lei estadual determina aos Cartórios alinhamento à campanha nacional de prevenção à gravidez precoce e ao planejamento familiar.

O promotor Júlio Cesar Medeiros diz que o trabalho começou com o recorde de denúncias oferecidas pelo Ministério Público em Manoel Urbano e em Acrelândia. As denúncias, pela primeira vez, resultaram em prisões de genitores omissos. Para que o projeto e a própria lei tenham eficácia, é necessário, segundo o promotor de Justiça, a manutenção da proatividade e integração com Conselho Tutelar, Unidades Básicas de Saúde, Hospitais e Cartórios, além da necessidade de alinhar, com a Polícia Civil, o indiciamento de genitores omissos. “Por fim, a maior cooperação de todas ocorreu com o Centro de Atendimento à Vítima (CAV) do MNPAC, que deflagrou uma Operação de combate ao abuso sexual infantil em plena pandemia do Covid-19”, disse o promotor.

Promotor Júlio César de Medeiros/ Reprodução

AC teve aumento de 51% de estupro de vulnerável em 2021

ContilNet – Há estatísticas sobre casos de crimes sexuais contra menores no Acre?

Júlio Medeiros – Infelizmente, nosso estado é marcado por altos índices de abuso sexual infantil. Mais especificamente, segundo o Observatório de Análise Criminal do Núcleo de Apoio Técnico do Ministério Público, houve um aumento de 51% de estupro de vulnerável no primeiro semestre de 2021, quando comparado ao mesmo período de 2020, totalizando 92 casos apenas nesse curto período. Apenas para se ter noção, em frequência absoluta, foram 177 casos durante o ano de 2019; e 155 casos de estupro de vulnerável ocorridos em 2020. É óbvio que esse aumento exponencial tem relação direta com o auge da pandemia do Covid-19 no Acre, o qual impôs consequentemente maior rigor no isolamento social. Como resultado, observamos uma verdadeira “pandemia da criminalidade”, sobretudo, em ambiente doméstico.

Outro ponto interessante é que esses delitos sexuais, em regra, são praticados na clandestinidade, geralmente pelo próprio pai ou padrasto, ao passo em que o agressor passou a ter maior controle e vigilância sobre a vítima, durante esse período. Consequentemente, além do aumento exponencial de abusos sexuais durante a pandemia, entendo que houve uma subnotificação excessiva, causando aquilo que se chama de “cifra negra”, que são os crimes praticados que sequer chegam ao conhecimento das autoridades competentes, tais como: Conselho Tutelar, Polícia e Ministério Público.

ContilNet – As pessoas mais violadas por este tipo de crimes são meninas não é?

Júlio Medeiros – Sim, as vítimas do crime de estupro de vulnerável são crianças e adolescentes menores de 14 anos. É importante destacar que esse crime não pode jamais ser tolerado. Temos um caso de estupro de uma criança de 03 anos, em Jordão, e sabemos como é a luta das mulheres indígenas contra essa prática, e neste caso, inclusive, pedimos a condenação do agressor a penas severas. Todavia, é válido frisar que meninos também sofrem abuso sexual, e isso precisa ser melhor apurado, e informado à sociedade, bem como deve ser realizado o primeiro atendimento de forma humanizada, seja na Delegacia de Polícia ou mesmo no momento de se realizar eventual exame no Hospital, a fim de se evitar qualquer comportamento discriminatório.

ContilNet – O senhor escreve em seu projeto sobre um crime ocorrido em Acrelândia em que, em seguida ao suicídio da jovem, o pai se suicidou após, ao que parece, matar a mãe. O senhor poderia falar um pouco sobre este episódio? Quando foi isso e qual conclusão da polícia sobre o caso?

Júlio Medeiros – Esse episódio extremamente grave, em que uma jovem se suicidou, e logo após o pai se suicidou após matar a mãe da jovem a tiros de pistola, chamou muita atenção para um tema que é justamente as reverberações traumáticas advindas de um abuso sexual, e o quanto isso pode ser severo com a saúde mental das vítimas. Neste caso específico, por exemplo, já existia um Inquérito Policial investigando a prática de estupro de vulnerável contra aquela vítima, sem que ainda tivesse sido apontado o autor do crime. Caso similar ocorreu em Tarauacá, onde uma criança de 10 anos engravidou, e diante da possibilidade da realização do exame de DNA, o pai da vítima se suicidou. Esse, inclusive, é o grande diferencial do Projeto “Ecos do Silêncio: Reverberações do Traumatismo Sexual Infantil”, pois ele visa, ao mesmo tempo, combater o abuso sexual infantil e prevenir problemas de saúde mental, com diversas ações e estratégias, sem que nenhuma delas possa ocorrer de forma isolada.

ContilNet – O senhor está concorrendo ao prêmio interno do MPAC. Espera ganhar?

Júlio Medeiros – O objetivo do projeto não é ganhar prêmio, mas sim impactar a sociedade, e defender a integridade das nossas crianças e adolescentes; se ele for premiado, é apenas uma mera consequência, algo supérfluo. O que realmente importa são os resultados em prol dos nossos infantes, pois sabemos e sentimos na pele o quanto é importante preservar uma infância sem traumas sexuais, sem automutilações e sem tentativas de suicídio. Para tanto, as ações do projeto não podem ficar “caladas”, elas devem ter uma abrangência estadual e, sim, que bom se tivesse uma abrangência nacional, porque sabemos como esse tema é caro: são milhares de crianças violentadas em nosso país, todos os anos. Inclusive, há a previsão no projeto do desenvolvimento da campanha “Tudo tem o seu tempo” visando a conscientização das adolescentes sobre gravidez precoce, introduzindo o tema: “Adolescência 1º, gravidez depois”, a fim de realizar um alinhamento institucional à estratégia nacional deflagrada por parte da ministra Damares Alves. Um outro ponto bem importante é divulgar a possibilidade não apenas de denúncia, mas de prisão preventiva de genitores omissos, pois sabemos que os pais das vítimas têm o dever jurídico de impedir o abuso, quando há ciência do crime, e possibilidade de agir, sendo que, para tanto, basta acionar o Conselho Tutelar, a Polícia Civil ou o Ministério Público. Precisamos cobrar com mais rigor as responsabilidades dos pais.

ContilNet – Há projetos semelhantes no país?

Júlio Medeiros – Esse projeto foi inspirado em uma obra literária, e aperfeiçoado com dezenas de ações e estratégias, a partir da análise do caso concreto acima citado, envolvendo o suicídio de uma linda jovem. Não há projeto semelhante, ao menos que tenhamos ciência, que trate no país um problema tão grave com esta amplitude e abordagem específica em relação ao aperfeiçoamento da persecução penal e, ao mesmo, prevenindo problemas de saúde mental, seja com a implantação do CAPS, com a designação de psicólogo para atender as demandas específicas do Conselho Tutelar ou mesmo com a deflagração de Operação de combate ao abuso sexual infantil, e conjunto com o Centro de Apoio à Vítima (CAV) do MP, em pleno auge da pandemia do coronavírus, como, de fato, foi realizada em Acrelândia, em julho de 2020. O que há de semelhante são ações como a implantação de Fichas de Notificações no ambiente escolar, e nas Unidades Básicas de Saúde, o que no nosso projeto ainda foi aperfeiçoado, inclusive, com a aprovação da lei estadual determinando aos Cartórios de todo o Acre que informem o Ministério Público sobre o registro de nascimento por genitores menores de 14 anos, remetendo a Certidão.

Comentários

Continue lendo

Geral

Mulher que teve moradia arrastada durante enxurrada no ano passado recebe casa do governo e se emociona: ‘Sonho realizado’

Publicado

em

Reconhecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, a moradia adequada também foi prerrogativa reforçada pela Constituição Federal brasileira em 1988.

Para além das quatro paredes, o lar deve ser um ambiente seguro e que atenda a necessidades como saneamento básico e dignidade a qualquer cidadão. Nos últimos anos, com a implantação da Secretaria de Estado de Habitação e Urbanismo (Sehurb), o governo do Acre busca reduzir o déficit habitacional de mais de 23,9 mil unidades – um desafio que está sendo enfrentado com a parceria do governo federal.

Janaira recebeu casa nova do governo e se emocionou. Foto: Neto Lucena/Secom’

Um passo importante foi dado nesta sexta-feira, 26, com a entrega de 19 casas no Conjunto Habitacional Jequitibá. Na ocasião, foi assinada a ordem de serviço para a construção de mais 383 casas na Cidade do Povo, também em Rio Branco, dividida em três lotes.

Conheça a história de Janaira da Silva

A entrega da chave da nova moradia para Janaira da Silva significa mais do que um lar, é o pontapé para recomeçar. Em abril do ano passado, ela passou por um momento bastante difícil: teve a casa, localizada no bairro Conquista, na capital, levada pela enxurrada do Igarapé São Francisco.

Mãe de três filhos, de 15, 11 e 2 anos, ela conta que as águas subiram muito rápido e a casa, que construiu juntando madeira por madeira, rapidamente foi invadida e levada.

“Subiu em um piscar de olhos e saí arrastando meus filhos, um pela mão, o outro amarrei num cinto e o menor, que na época tinha um ano, no braço. Deixei meus filhos na principal e, quando voltei para tentar pegar alguns documentos, a casa estava toda encoberta”, relembra.

Tudo o que Janaira tinha se foi com as águas naquele dia. O primeiro momento foi de desespero, ela não acreditava no que estava passando e se esforçava para imaginar como seria sua vida com os três filhos, já que tinha ficado apenas com a roupa do corpo.

Diarista que perdeu a casa lembra de como ficou desolada no ano passado. Foto: Neto Lucena/Secom

Quando as águas baixaram, da casa da diarista havia sobrado três tocos de madeira. Ela conta que conseguiu localizar o terreno ao encontrar um garfo, em que tinha gravado suas iniciais. “A sensação era de desespero. Olhei para o céu e perguntava a Deus o que eu ia fazer. Fui para o abrigo e as pessoas começaram a ajudar muito também”, relata.

Foi em uma das visitas do governador às áreas atingidas que Janaira encontrou Gladson Cameli. Entre lágrimas, contou sua história e foi consolada. Ao final, ele se comprometeu a auxiliá-la e foi o que aconteceu, ao ser amparada pelo Estado a partir dali.

“Só pensava em como seria minha vida a partir daquele dia, sem casa, separada e com três filhos. Mas, o governador disse que ia me ajudar de todas as maneiras que pudesse e acreditei”, conta.

Por muitas vezes, Janaira disse que chegou a ter pesadelos com o dia em que perdeu sua casa e precisou de acompanhamento psicológico para continuar. “Eu sempre lembrava, tenho certeza que Deus que me fazia lembrar que o Gladson Cameli tinha dito que ia me ajudar. E isso mostra como os políticos podem mudar a vida das pessoas”, destaca.

Enquanto esperava ser sorteada para ganhar a casa, ela e os filhos moraram no bairro Apolônio Sales, com ajuda do aluguel social. Com apoio do Estado e de outras pessoas, Janaira, que há um ano havia perdido tudo, se reergueu mais forte. Com o dinheiro das diárias, começou a cursar Direito, conseguiu a casa própria e agora tem um lar.

Família diz que nova casa é sinônimo de recomeço. Foto: Neto Lucena/Secom

‘Sonho realizado’

Ao conhecer a nova casa, Janaira se emocionou e não pôde conter as lágrimas, mas agora o que transborda é a alegria, o sentimento de recomeço, vida nova, e o incentivo para continuar sonhando e se tornar, daqui alguns anos, “doutora”. Ao ver a habitação, disse, impressionada: “Parece casa de filme.”

Hoje ela carrega a chave de uma casa com dois quartos, banheiro e toda a estrutura adequada para viver com os três filhos. É um novo capítulo para ela, para Wagner Vitoriano, Douglas Vitoriano e Arthur Mezenga Vitoriano. Os filhos que foram carregados pela mãe no dia da enchente, hoje seguravam firme a mão dela para conhecer a nova morada.

Entre um cômodo e outro, sorrisos e cochichos revelam planos para o novo lar. Ainda emocionada, a diarista fala da sensação de receber a chave da propriedade: “Parece coisa de filme, um sonho realizado. A casa é linda por dentro e por fora, perfeita. Nunca imaginei que fosse assim, por isso dizem que quando Deus vai te dar as coisas, faz bem melhor do que a gente sonha.”

Janaira e os filhos conferem cada detalhe da casa nova. Foto: Neto Lucena/Secom

Nada passou despercebido aos olhos atentos e encantados de Janaira. Combustível para voltar a sonhar. “Tive muito apoio do governo para chegar onde cheguei. Agora é reconstruir e construir de novo, com sonhos maiores. Quero continuar estudando e me formar”, planeja.

Daqui pra frente, quer focar também nos estudos dos filhos. Ela observa como a presença do Estado pode impactar na vida das pessoas. “O governador falou que ia me ajudar e cumpriu com a palavra dele. Os nossos governantes podem realizar sonhos, basta se colocar no lugar do outro, que nem o governador se pôs a ajudar muita gente. Eu, que fiquei sem nada, agora estou com tudo de novo”, conta animada e sem tirar os olhos da casa.

Com três filhos, diarista planeja focar na faculdade de Direito. Foto: Neto Lucena/Secom

Mais de 1,6 mil unidades

A realidade habitacional do Acre está começando a mudar com a construção de casas populares, tanto com recursos próprios do Estado, como também com investimento federal.

No cronograma, além da assinatura da ordem de serviço para a construção de 383 casas, mais 15 unidades devem ser entregues no Conjunto Santa Cruz, também construídas com recursos próprios.

“Tivemos a felicidade, junto com o governador, de ir a Brasília e conseguir um ‘plus’ no programa Minha Casa, Minha Vida. Nós tínhamos mil unidades destinadas para o estado e, com a nossa ida lá, o governador articulou com o ministro e conseguimos mais 614 unidades, sendo 1.416 na capital, cem em Xapuri e cem em Cruzeiro do Sul”, informa Egleuson Santiago, secretário de Habitação e Urbanismo.

Governo tem focado na construção de casas populares para reduzir o déficit habitacional do estado. Foto: Neto Lucena/Secom

Para expandir as construções nas outras cidades, o governo está fazendo um levantamento, pois é necessário detectar as áreas que são da União ou do governo do Estado.

“O governo federal também está com um programa de desburocratização de áreas que são da União e estão subutilizadas no centro da cidade ou próximo das cidades, dos municípios onde já há infraestrutura. A gente está com esse dever de, neste momento, identificar essas áreas, que serão usadas exclusivamente para habitação de interesse social. Não tendo essas áreas nos municípios, a gente vai para outra opção, que seria a identificação de área para desapropriação; o governo desapropria e a gente inclui no programa Minha Casa Minha Vida. Então, temos um longo caminho para percorrer, mas temos o horizonte na frente, já em vista. Para que todos os municípios sejam contemplados no futuro”, garante o gestor.

Comentários

Continue lendo

Geral

Polícia Federal apreende 5 quilos de cocaína e detém dois adolescentes na BR-364

Publicado

em

Na noite de quinta-feira, 25, a Polícia Federal realizou uma importante apreensão de cerca de 5 quilos de cocaína em um ônibus que transitava pela BR-364, entre as cidades de Sena Madureira e Rio Branco. A droga estava sendo transportada por dois adolescentes, que foram encaminhados à Polícia Civil para as devidas providências.

A ação foi conduzida pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) da Polícia Federal, que atua de forma incansável no combate ao tráfico de drogas e outras atividades criminosas. A apreensão dessa quantidade significativa de cocaína representa um duro golpe para as organizações criminosas envolvidas no tráfico de entorpecentes.

A Polícia Federal, em conjunto com outras forças de segurança, tem intensificado seus esforços para coibir o tráfico de drogas e garantir a segurança da população.

 

Comentários

Continue lendo

Geral

PCAC prende dois em Sena Madureira, um por participação em homicídio e outro por descumprimento de medida protetiva

Publicado

em

Na última quinta-feira, 25, a equipe de investigadores da Delegacia de Sena Madureira realizou uma operação bem-sucedida que resultou no cumprimento de dois mandados de prisão. Os alvos da ação policial foram identificados como E.O.N., de 32 anos, e V.S.M., também de 32 anos e conhecido pelo apelido de “Bebê”.

O primeiro mandado foi executado contra E.O.N., indivíduo com extensa ficha criminal na Comarca de Sena Madureira. Entre os crimes pelos quais responde, destacam-se um homicídio qualificado, uma tentativa de homicídio simples, dois furtos, um disparo de arma de fogo em via pública e participação em organização criminosa. Os investigadores vinham trabalhando na captura de Evaneldo há meses e finalmente conseguiram detê-lo na tarde da última quinta-feira, na Rua Beira Rio, localizada no Bairro Vitória, em Sena Madureira.

O segundo mandado foi cumprido contra V.S.M., vulgo “Bebê”, capturado na Rua Isaac D’Ávila, na mesma localidade. A prisão ocorreu devido ao descumprimento de medida protetiva de urgência, configurando o crime previsto no artigo 24-A da Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha.

Ambos os indivíduos foram conduzidos à Delegacia de Sena Madureira e, posteriormente, encaminhados à Unidade Prisional Evaristo de Moraes, onde permanecerão à disposição da Justiça para responder pelos crimes que lhes são imputados.

Comentários

Continue lendo