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Cuidadores de pacientes com Alzheimer precisam de atenção e proteção

Brasília (DF), 22/09/2023 – Natália Duarte e seu pai, Ítalo, que tem a doença de Alzheimer. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Quem passa pela rotina da doença não pode se isolar, dizem médicos
Nos encontros de palavras simples, os gestos também falam. O toque das mãos, o abraço, o olhar por todo o dia. No caminho de casa, a passada é lenta. Na sala, as novidades que chegam pela TV. Na mesa, a conversa do almoço. Depois, o jantar, o “boa noite”. Mas nem todas as palavras dão conta de traduzir. “É um privilégio que eu ainda tenha o colo do meu pai”, diz Natália de Souza Duarte, de 57 anos, para falar do paizão, Ítalo, de 90 anos, diagnosticado, desde 2019, com a doença de Alzheimer. Assim como o pai, a filha sabe que precisa ser cuidada também.
O cuidado é minucioso para tentar juntar as peças ou as fotos, em dias que a memória vai desfolhando lentamente. Este amor é feito de uma rotina, mas não trivial. Depois do diagnóstico do pai, a filha, que é professora, foi ser vizinha no mesmo prédio do pai, em Brasília. Uma atenção é para que ambos se cuidem. É importante que a filha esteja bem para melhor cuidar do pai.
“O meu pai e minha mãe sempre foram muito autônomos. Eles eram funcionários públicos aposentados”. Em 2019, a mãe de Natália adoeceu e acabou falecendo no ano seguinte por causa de um câncer. “Foi um momento muito conturbado quando houve o diagnóstico. Ele estava apresentando desorganização e perda de memória”. O irmão de Natália também se organizou com a família para apoiar o novo momento.
A progressão do Alzheimer de Ítalo tem sido lenta graças ao cuidado de profissionais, uso de vitaminas e do canabidiol.
“Além disso, temos procurado proporcionar muita atividade de socialização. Fizemos a opção de contar para ele sobre o diagnóstico”. Há momentos dramáticos no dia também com a lucidez.
Indiscutível é que a organização do dia a dia contempla manter independência e cuidado com a saúde mental e física da professora, que continua trabalhando, busca fazer atividades físicas e cuidar da saúde mental.
“No começo fica muito bagunçado. Eu adoeci depois de dois anos como cuidadora, lidando com essa situação”.

Brasília (DF), 22/09/2023 – Natália Duarte e seu pai, Ítalo, que tem a doença de Alzheimer. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Sair do isolamento
Ela viu que era necessário estar bem para cuidar do pai. Uma virada de chave ocorreu quando conheceu um coletivo, na capital, chamado Filhas da Mãe que tem por objetivo gerar um sentimento que cuidadores precisam conversar, sair do isolamento e se divertir. Passear, andar de bicicleta, fazer atividade física.
“Precisamos de uma rede de proteção e poder conversar com quem está passando pelos mesmos desafios. Comecei a terapia. Hoje eu consegui organizar a minha vida de modo que eu consigo cuidar do meu pai e consigo manter uma vida também”, afirma a professora.
Segundo o médico Einstein de Camargos, pesquisador da doença de Alzheimer da Universidade de Brasília, o cuidador deve ter muita atenção com a própria saúde. “Ele precisa fazer exercício, dormir bem, dividir as tarefas com outras pessoas, profissionais ou familiares”, afirma.
A professora de medicina Claudia Suemoto, da Universidade de São Paulo, também pesquisadora do tema, alerta para os riscos que corre o cuidador se não se cuidar também. “É importante que as pessoas não tentem abraçar o mundo porque elas vão ficar doentes”.
Ela explica que é alto o índice de depressão e ansiedade nesses cuidadores. “Muitos deles desenvolvem problemas de pressão alta, diabetes e obesidade. O isolamento é ruim para cuidadores e pacientes”.
Luta na rotina

Ana Castro cuidou da mãe com Alzheimer por 12 anos e criou o grupo Filhas da Mãe, de apoio a cuidadores – Foto Divulgação/Acervo Pessoal
Foi o aprendizado de amor diário que mexeu com a jornalista Ana Castro, uma das criadoras do coletivo brasiliense Filhas da Mãe, há quase cinco anos. O projeto já foi homenageado com o Prêmio Marielle Franco de Direitos Humanos, no Distrito Federal, neste ano. O grupo criou ainda o Guia de Serviços Públicos para Pessoas Idosas com Demências e para Cuidadoras/es no Distrito Federal.
Ana cuidou da mãe, Norma, por 14 anos, após o diagnóstico de Alzheimer. Mesmo depois da morte da mãe, resolveu manter o ativismo e lutar por pessoas que viram suas vidas mudarem muito.
Norma tinha três cursos superiores, e isso garantiu resistência cognitiva para que o quadro evoluísse com menos velocidade. Mas tudo mudou muito. “Nasceu o meu neto. Enquanto ele aprendia a falar, andar e comer, minha mãe desaprendia comer, falar e andar”.
Hoje, aos 68 anos, Ana Castro defende que haja atenção profissional também para quem cuida de pessoas com a doença. “A gente aprende muito com a troca fralda, o horário do remédio. Custa muito caro no Brasil você cuidar de uma pessoa com demência”, afirma.
O grupo atua no acolhimento das cuidadoras e na troca de informações sobre serviços públicos e particulares. O coletivo, que promove saraus e desfiles de Carnaval (falando de Alzheimer), também luta por políticas públicas e para dar visibilidade às demandas de pacientes e cuidadores.
“Nós conseguimos, juntamente com o Fórum de Defesa do Idoso aqui do Distrito Federal, aprovar uma lei na Câmara Legislativa, sobre a política distrital de tratamento das pessoas com demência e cuidadores. Infelizmente essa lei ainda não foi implementada no DF. A gente tem até uma audiência pública para cobrar”.
Uma das iniciativas está marcada para a manhã deste domingo (24), na Avenida W3, na Asa Sul. Trata-se da caminhada da memória, com atividades gratuitas.
O grupo tem a preocupação de divulgar fatores de risco para a doença, como está no panfleto que o coletivo distribui.
A Associação Brasileira de Alzheimer reúne, em sua página, iniciativas voltadas a cuidadores e pacientes, a fim de diminuir o isolamento de quem passa por essa situação.

Grupo Filhas da Mãe, de cuidadores, formou um bloco de carnaval e luta por políticas públicas – Foto Divulgação.
Fora do manual
A rotina atual de Ana Castro não é como a de antes e, segundo ela, o processo deixa marcas. Ela se recorda de quando a mãe olhava, pelo celular, imagens da sua cidade natal, Santa Marta da Purificação (BA), e conta histórias que ficaram. “Eu era uma cuidadora, uma personal palhaça. Essas sacadas que a gente vai descobrindo não tem em manual médico”.
Para a jornalista, há posturas, dicas e informações que não estão em nenhum manual e cita, como exemplo, a importância de se manter o bom humor no dia a dia. Ela conta que levava para a mãe materiais com texturas diferentes e comidas de consistências variadas.
“O cuidar está nos detalhes. Está na maciez do tecido, está na delicadeza de servir. Está nas cores da mesa. Então eu fui fazendo isso e as pessoas me ensinando e eu compartilhando”. Foi assim que Ana nunca mais parou de cuidar.
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Nova lei prevê até 12 anos de prisão para furto e roubo de cabos de energia, dados e telefonia
A proposta, já aprovada pelo Congresso Nacional, chega para reforçar a segurança da infraestrutura crítica do país, como redes elétricas e sistemas de comunicação, que são alvos frequentes de quadrilhas especializadas

A legislação também obriga que os órgãos reguladores dos setores de energia e telecomunicações definam critérios para atenuar ou até extinguir punições administrativas a empresas afetadas por essas ações criminosas. Foto: captada
Já estão em vigor as novas penas para furto ou roubo de cabos, fios e equipamentos relacionados à geração de energia elétrica e telecomunicações. A lei foi sancionada nessa segunda-feira (28) pelo presidente Lula e publicada no Diário Oficial da União desta terça.
O texto prevê o aumento da pena para dois a quatro anos de prisão e multa no caso de furto de fios, cabos ou equipamentos utilizados para fornecimento ou transmissão de energia elétrica ou de telefonia ou para transferência de dados, bem como equipamentos ou materiais ferroviários ou metroviários.
Se o roubo ou furto for cometido contra quaisquer bens que comprometam o funcionamento de órgãos da União, de estado ou de município ou de estabelecimentos públicos ou privados que prestem serviços públicos essenciais, a pena é maior: reclusão de seis a 12 anos, mais multa.
No caso de receptação de fios, cabos ou equipamentos utilizados para fornecimento ou transmissão de energia elétrica ou de telefonia, transferência de dados, ou de cargas transportadas em modais logísticos ferroviários ou metroviários, a nova pena prevista é de quatro a oito anos de prisão.
Para Fernando Soares, diretor de Regulação da Conexis Brasil Digital, sindicato que reúne as empresas de telecomunicações e de conectividade, a nova lei representa um ganho para a sociedade.
Na cidade do Rio de Janeiro, no primeiro semestre deste ano, a concessionária de energia elétrica Light contabilizou 115 ocorrências de furtos de cabos de energia, o equivalente a 87,5 quilômetros de fiação vandalizada. A companhia estima o prejuízo de R$ 11,5 milhões no período, 20% a mais que as perdas financeiras devido a furtos em 2024.

O presidente Luiz sancionou uma lei que aumenta significativamente as penas para crimes como furto, roubo e receptação de fios, cabos e equipamentos utilizados na transmissão de energia elétrica, dados e telefonia em todo o país. Foto: captada
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Deputada Carla Zambelli é presa na Itália

Carla Zambelli concede entrevista coletiva na sede do PL em São Paulo após ser condenada a dez anos de prisãoImagem: Nino Cirenza – 15.mai.2025/Ato Press/Estadão Conteúdo
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa hoje, segundo o Ministério da Justiça. Ela foi condenada a dez anos de prisão por invadir os sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
O que aconteceu
Zambelli foi detida na Itália. O STF decretou no dia 5 de junho a prisão da deputada, e desde então, ela estava foragida da Justiça brasileira e na lista de procurados da Interpol.
Deputado italiano avisou polícia italiana sobre paradeiro de Zambelli. Angelo Bonelli publicou no X às 16h45 que a deputada estava em um apartamento em Roma e que já havia comunicado a polícia.
Deputada deve ser extraditada e trazida de volta ao Brasil, onde começará a cumprir a pena em regime fechado. A prisão não será mais preventiva, mas já a definitiva: quando ela saiu do país, no final de maio, o relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, considerou que ela tentava fugir da lei e decretou sua prisão preventiva.
Prisão da deputada pegou a cúpula do PL de surpresa. Lideranças do partido de Zambelli foram informados pela reportagem sobre a detenção.
O UOL está em contato com o advogado de Carla Zambelli, representado pelo advogado Fábio Pagnozzi. O espaço segue aberto para manifestação.
Relembre o caso
Zambelli contratou um hacker para invadir os sistemas do CNJ e inserir um mandado de prisão falso contra Moraes, assinado por ele mesmo, segundo a denúncia. Ela foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão e à perda do mandato.
Após a condenação, deputada anunciou nas redes sociais que havia saído do país. Segundo apurou o UOL, ela deixou o Brasil no fim de maio pela fronteira com a Argentina, foi para os Estados Unidos e depois para a Itália, país onde tem cidadania.
Governo italiano disse que não sabia o paradeiro da deputada. No dia 13 de junho, a administração da premiê de extrema direita Giorgia Meloni declarou que Zambelli desembarcou nos arredores de Roma no dia 5 de junho, às 11h40, vinda de Miami, mas que o alerta vermelho da Interpol só foi publicado horas depois, às 16h24 do mesmo dia.
A deputada chamou de “ilegal” e “autoritária” a ordem de Moraes para prendê-la. “Nossa Constituição é clara: um deputado federal só pode ser preso em flagrante e por crime inafiançável. Nada disso ocorreu”, disse, em nota enviada à imprensa no último dia 5.
Moraes também determinou o bloqueio de passaportes, contas bancárias, salário e verbas de gabinete pagos pela Câmara. Ele também mandou que as redes sociais bloqueassem os perfis de Zambelli em território nacional, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. As plataformas cumpriram a ordem, mas o X questionou a decisão.
Licença na Câmara
A parlamentar está afastada desde 29 de maio, quando pediu a primeira licença para tratamento de saúde. Depois, Zambelli solicitou mais 120 dias para “tratar de interesse particular”.
Deputada terá que pagar multa por atraso em devolução do apartamento funcional. Ela devolveu o apartamento funcional em que morava em Brasília no último dia 15, com 11 dias de atraso. Segundo a presidência da Casa, a multa diária é R$ 283,53, equivalente a 2/30 de R$ 4.253, o valor mensal do auxílio moradia.
Captura rápida. O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca, afirmou ao UOL que a captura de Zambelli poderia levar meses. Além do caso de Zambelli, a embaixada tem, segundo Mosca, mais 15 casos pendentes de solicitação de extradição.
Fonte: UOL
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Recompensa de US$ 25 milhões, chefe de cartel e narcoterrorismo: entenda acusações contra Maduro e por que os EUA querem prendê-lo
Departamento de Justiça dos EUA divulgou cartaz com recompensa milionária pela prisão do presidente da Venezuela. O governo americano acusa Maduro de liderar cartel classificado como terrorista e facilitar outros cartéis que os EUA dizem ameaçar a segurança nacional
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é alvo dos Estados Unidos, que estabeleceu uma recompensa de US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões) pela sua prisão. Maduro é acusado pelo governo americano de chefiar um cartel classificado como terrorista.
O Departamento da Justiça dos EUA divulgou na segunda-feira (28) um cartaz com o rosto do venezuelano e as acusações contra ele. A divulgação do cartaz coincide com o aniversário de um ano da reeleição de Maduro, em um pleito controverso e sem transparência, amplamente repudiado pela comunidade internacional.
A designação de Maduro como narcoterrorista e a recompensa pela sua prisão, feitas em 2020 e intensificadas ao longo dos anos, ocorre em meio a abusos de poder do líder venezuelano, mas têm efeito mais político que prático.
Outros dois altos oficiais de Maduro são procurados pelos EUA, também com recompensas milionárias por informações que levem às suas prisões:
- Diosdado Cabello Rondón, ministro do Interior, Justiça e Paz, e considerado nº 2 do chavismo—recompensa de US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões);
- Vladimir Padrino López, ministro da Defesa —recompensa de US$ 15 milhões (cerca de R$ 84 milhões).
Entenda nesta reportagem as acusações contra Maduro e por que ele é alvo de prisão pelos EUA:
Acusações
Maduro é acusado pelos EUA de “conspiração para o narcoterrorismo, para a importação de cocaína, e para o uso e transporte de armas e objetos destruidores para fomentar crimes relacionados a drogas”.
Os EUA acusam o presidente venezuelano de liderar o “Cartel de Los Soles” (ou “Cartel dos Sóis”, em português), designado como organização terrorista internacional pelo governo Trump na última sexta-feira (25). Além disso, o regime Maduro é acusado de apoiar e facilitar as operações de outros cartéis que os EUA afirmam ameaçar sua paz e segurança nacional, como o Tren de Aragua e o mexicano Cartel de Sinaloa.
Acusações de terrorismo contra o presidente de um país têm fundo político, e ocorrem contra Maduro porque os EUA não o reconhecem como legítimo presidente venezuelano e o consideram um ditador. Entre outros abusos para se manter no poder está a contestada eleição de 2024.
As acusações de narcoterrorismo e de organização terrorista contra Maduro e o Cartel de Los Soles, respectivamente, foram feitas com base em um decreto assinado pelo presidente George W. Bush em setembro de 2001, dias após o atentado às Torres Gêmeas.
O decreto de Bush filho permite ao governo americano bloquear bens e impedir transações econômicas dentro dos EUA para indivíduos ou organizações designadas como terroristas, além de buscar retaliações com órgãos multilaterais internacionais para obstruir as operações ilícitas.
Mesmo assim, as rusgas entre EUA e Venezuela não começaram com Maduro e têm raízes ideológicas. Antes estável, a relação entre os dois países azedou a partir da chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999, que implementou a revolução bolivariana no país e passou a adotar discurso crítico aos EUA e ao neoliberalismo —modelo econômico adotado pelos americanos. Antes, de Chávez, a Venezuela era um dos principais fornecedores de petróleo para os EUA.
Alvo antigo
No poder na Venezuela desde 2013 após a morte de Hugo Chávez, o regime Maduro é marcado por forte repressão, denúncias de corrupção e eleições amplamente contestadas por parte da oposição e da comunidade internacional.
Os EUA acusam formalmente Maduro de narcoterrorismo desde março de 2020, durante o primeiro mandato de Trump, e nesse momento já passaram a oferecer uma recompensa por informações que levassem à sua prisão —inicialmente de US$15 milhões (cerca de R$75 milhões na época).
Esse valor foi aumentado para US$25 milhões em janeiro de 2025, durante governo Biden, como retaliação à posse de Maduro para um novo mandato como presidente.
A reeleição de Maduro, em julho de 2024, é considerada o mais notório abuso de poder de Maduro, em que aliados em altos cargos o mantiveram no poder e o auxiliaram a perseguir opositores —entre eles a líder opositora Maria Corina Machado, escondida e brevemente presa, e o candidato Edmundo González, exilado— e repreender protestos contrários a seu governo.
Com aliados em toda a máquina pública venezuelana, Maduro busca se perpetuar no poder, já que a constituição venezuelana permite desde 2009 que um presidente concorra indefinidamente a eleições.
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