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Crise na Venezuela provoca corrida por alimentos na fronteira de Roraima
Venezuelanos viajam até um dia inteiro para comprar comida em Pacaraima.
Comerciantes da cidade na fronteira temem falta de alimentos.
A crise econômica na Venezuela está provocando uma corrida de venezuelanos a Pacaraima, cidade no Norte de Roraima e na fronteira com o país. Diariamente, centenas de pessoas chegam ao município, que tem pouco mais de 10 mil habitantes, em busca de comida e remédios.
O comércio de Pacaraima, que fica a 250 km de Boa Vista, tem funcionado de domingo a domingo, e a movimentação é grande já nas primeiras horas do dia. No último sábado (16), às 9h a cidade já estava lotada de venezuelanos. Alguns viajam até um dia inteiro para comprar remédios e comida.
GALERIA: Venezuelanos cruzam fronteira com RR atrás de comida
Eles faziam filas para comprar itens básicos como arroz, farinha de trigo, óleo, macarrão, margarina e açúcar. Os mantimentos são para alimentar famílias inteiras que sofrem com o desabastecimento de alimentos na Venezuela.
Para atender à demanda dos clientes do país vizinho, lojas especializadas em eletrônicos, peças de carro e farmácias estão abrindo espaço nas prateleiras para vender alimentos. Um fardo de arroz, macarrão, açúcar e óleo pode ser comprado a R$ 100.

Venezuelanos formam fila para comprar comida em ateliêr transformado em mercado de alimentos (Foto: Emily Costa/G1 RR)
Um dia inteiro na estrada
A fronteira entre Brasil e Venezuela é marcada apenas por cancelas, e o tráfego de veículos é praticamente livre nos postos de fiscalização das polícias Federal e Rodoviária Federal. Apenas os estrangeiros que pretendem ir para outras cidades do país é que precisam pedir visto no posto da PF.
John Gundino, que mora em Aragua, a quase 1,4 mil km da fronteira com o Brasil, viajou por um dia até chegar em Pacaraima.
“Vim aqui comprar remédios para minha esposa que está doente porque também há escassez de medicamentos na Venezuela. Depois daqui, iremos atrás de comida para levar para nossa casa”, afirmou.
A comerciante venezuelana Rosa Maria, de 53 anos, tem um restaurante na cidade de Puerto Ordaz e precisou percorrer quase 700 km até Pacaraima para comprar comida. Ela diz que a falta de alimentos na Venezuela está destruindo os negócios das famílias e ameaçando a sobrevivência dos filhos.
“Vim comprar comida para minha família e para o meu restaurante em Puerto Ordaz. Na Venezuela não tem arroz, azeite, açúcar e, se tem, é com o preço muito alto e não tenho como comprar”, diz. Enquanto dava entrevista, a comerciante aguardava um táxi para levá-la de volta a cidade natal. “Serão 11h de viagem, mas vale a pena porque terei comida em casa”.
O operário Jossi Guillen, de 53 anos, também enfrentou uma longa viagem para chegar a Pacaraima. Ele saiu de Sán Felix, no Sul da Venezuela, e viajou por 10h para comprar comida e alimentar os cinco filhos que o esperam em casa.

Jossi Guillen viajou 10h para comprar comida para os cinco filhos em Pacaraima (Foto: Emily Costa/ G1 RR)
A Venezuela está passando por uma crise muito intensa. Ganho R$ 2 por dia na empresa de alumínio em que traballho. Por isso, não consigo comprar comida lá, porque quando encontramos alimentos, eles são muito mais caros do que aqui no Brasil. Então, temos que vir aqui para comprar mantimentos e conseguir sobreviver lá”, conta Guillen.
Mercados improvisados
Os comerciantes de Pacaraima dizem que, nos últimos 30 dias, aumentou muito o número de venezuelanos na cidade em busca de comida. A procura é tanta que muitos empresários da cidade resolveram vender alimentos.
Já é comum ver lojas que antes vendiam artesanatos, bijuterias, pneus e baterias de carro sendo transformadas em pequenos mercados improvisados.
“A gente não teve escolha. Tivemos de começar a vender comida também, se não as vendas caem e ficamos sem dinheiro. Os venezuelanos não querem nada além de comida, então tive de comprar uns fardos de arroz e colocar aqui na loja que antes só vendia artesanatos do Brasil. É a única maneira que temos para lucrar”, diz um comerciante que pediu para não ser identificado.
Em algumas lojas, os comerciantes retiraram os nomes das fachadas. Em outras, pacotes de açúcar dividem espaço com DVDs de jogos e eletrônicos. Até uma farmácia agora vende fardos de arroz, macarrão, açúcar e óleo a R$ 100 cada.
Na fronteira, o comércio está tão aquecido que imigrantes de outros países também investem na cidade. Uma família de descendente de árabes chegou há um mês ao município e já possui quatro mercados.
“Nasci em São Paulo, morei em Caracas e Santa Elena de Uairén. Há um mês decidi vir para Pacaraima. O comércio daqui está muito bom, enquanto que na Venezuela a situação é de escassez total. O Brasil abriu as portas e está permitindo que os venezuelanos atravessem a fronteira e venham até aqui ou a Boa Vista para comprar itens básicos que não tem no país”, diz o comerciante Ali Mohamed.
Antes da crise, era comum que os brasileiros viajassem até Santa Elena de Uairén para comprar bebibas, material de limpeza, higiene pessoal e produtos alimentícios. Os itens eram vendidos por um preço abaixo do cobrado no Brasil.
À época, a Receita Federal afirmava que esse trânsito de turistas brasileiros geravam prejuízo de milhares de reais aos cofres de Roraima. Em 2014, o presidente Nicolás Maduro proibiu os brasileiros de importar mercadorias da Venezuela.
Câmbio real x bolívar
Além de funcionar sete dias por semana para atender à demanda de estrangeiros, o comércio de Pacaraima agora se vê “internacionalizado” com o uso do bolívar, moeda da Venezuela, na compra de alimentos.
No último sábado, um real estava cotado em 350 bolívar, no câmbio feito dentro da cidade. Assim, na hora de pagar pelas compras, os venezuelanos desembolsam milhares de notas. Para agilizar as vendas, os comerciantes de Pacaraima utilizam máquinas de contar o dinheiro.

Comerciante usa máquina para contar notas da moeda venezuelana usada na compra de comida (Foto: Emily Costa/G1 RR)
Risco de desabastecimento
Muitos comerciantes ouvidos pelo G1 relatam dificuldades para comprar fardos de alimentos não-perecíveis. Eles dizem que algumas empresas da capital Boa Vista pararam de vender comida para eles.
“Tem comerciante que tá comprando arroz do Sul do país, porque em Boa Vista não consegue mais comprar. Acredito que as empresas estão limitando a venda para que Roraima também não fique sem comida, como a Venezuela está”, diz um comerciante.
Silvia de Souza, que é dona de uma lanchonete, também relata dificuldade para comprar itens para vender. Ela diz que o intenso vai e vem de venezuelanos está “secando” os estoques da cidade.
“A gente sabe que eles têm fome, mas ao vendermos tudo o que temos a eles, também podemos ficar sem. Os preços dos itens que os venezuelanos mais compram, que são arroz, trigo, óleo e margarina, estão mais altos, porque estão ficando mais raros no mercado local e já são difíceis de achar em fardo até lá em Boa Vista”, conta Silvia.
Criminalidade e reforço policial
Apesar dos lucros gerados com as vendas aos venezuelanos, os comerciantes reclamam dos furtos que têm ocorrido na cidade. Há relatos também de mulheres venezuelanas que estariam indo a Pacaraima se prostituir.
“De vez em quando, acontece de alguém sair correndo, pegar alimentos e fugir. Não são assaltos, com uso de armas. São crimes cometidos por venezuelanos que não têm dinheiro para comprar comida”, diz Silvia.

Desabastecimento esvaziou as ruas de Santa Elena de Uiarén, cidade venezuelana na fronteira com Pacaraima (Foto: Emily Costa/ G1 RR)
Procurada pela reportagem, a assessoria da Polícia Militar informou ter reforçado o policiamento na fronteira e realizado ações em parceria com o Serviço de Inteligência da Polícia Civil para combater crimes como contrabando e descaminho.
“Além disso, o Sistema de Videomonitoramento implantado recentemente no município tem sido fundamental para reforçar a segurança em áreas de fronteira, oferecendo suporte às equipes que atuam no policiamento ostensivo dos municípios e garantindo à população uma atuação mais preventiva”, diz a nota.
O G1 também tentou contato com o prefeito de Pacaraima, Altemir da Silva (PSDB), para saber como o município tem controlado o movimento de turistas, mas não obteve retorno.
Além dos pedidos legais, a PF tem percebido o aumento “sensível” de venezuelanos em situação ilegal em Roraima. Reflexo disto é que só nos últimos 12 meses, mais de 300 venezuelanos foram deportados do estado.
Em uma dessas ações, cerca de 60 venezuelanos foram devolvidos ao país vizinho. Parte deles pedia esmolas nas ruas e semáforos da capital roraimense, o que é incompatível com a entrada de estrangeiro do Brasil na condição de turista.
Em julho de 2015, a PF encontrou 16 mulheres venezuelanas trabalhando em casas de prostituição em Boa Vista. À época, a polícia informou que elas tinham vindo por conta própria a Roraima, onde se prostituiam e pagavam 20% do que ganhavam aos donos das casas.
Refugiados
Dados divulgados pela PF mostram que os pedidos de refúgio de venezuelanos cresceu 110% em Roraima. Em 2015, a polícia recebeu 234 pedidos de refúgio, enquanto que só nos primeiros sete meses deste ano, recebeu 493 pedidos de venezuelanos que querem morar em Roraima.
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Polícia Federal apreende 613 kg de cocaína em galpão de empresa de fachada em Blumenau
Droga estava escondida em bunker subterrâneo e seria enviada à Europa; um homem foi preso e investigação aponta ligação com cidadãos britânicos procurados internacionalmente

Cocaína estava armazenada em um bunker de empresa de fachada em Blumenau. Fot: captada
A Polícia Federal (PF) apreendeu 613 quilos de cocaína durante uma operação de combate ao tráfico internacional de drogas em Blumenau, no Vale do Itajaí (SC). A ação contou com apoio da Polícia Militar de Santa Catarina e resultou na prisão de um homem suspeito de integrar a organização criminosa.
A droga estava escondida em um bunker no subsolo de um galpão pertencente a uma empresa de exportação de ligas metálicas, que funcionava como fachada para o esquema. Segundo as investigações, o local era usado para o preparo e armazenamento da cocaína antes do envio para a Europa.
Durante a operação, a PF também cumpriu um mandado de busca em um endereço residencial em Florianópolis ligado ao suspeito, onde foram apreendidos veículos, embarcações, joias e documentos. O inquérito aponta a existência de uma estrutura criminosa internacional com base em Santa Catarina, que contava com suporte logístico de brasileiros e liderança de cidadãos britânicos com histórico de tráfico na Inglaterra e procurados internacionalmente.
A investigação continua para identificar outros integrantes do esquema, que já tinha rotas estabelecidas para o narcotráfico transatlântico.
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Exame toxicológico para primeira CNH é vetado pelo governo federal
Medida que exigia resultado negativo para condutores de motos e carros foi rejeitada com argumento de aumento de custos e risco de mais pessoas dirigirem sem habilitação; novas regras do Contran para tirar CNH sem autoescola, no entanto, podem alterar contexto

Na justificativa do veto, o governo argumentou que a exigência aumentaria os custos para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e poderia influenciar na decisão de mais pessoas dirigirem sem habilitação. Foto: captada
O governo federal vetou a exigência de exame toxicológico para obter a primeira habilitação nas categorias A (motos) e B (carros de passeio). A medida, que seria incluída no Código de Trânsito Brasileiro, foi rejeitada com a justificativa de que aumentaria os custos para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e poderia incentivar mais pessoas a dirigirem sem a documentação obrigatória.
O veto, no entanto, pode ter perdido parte de sua sustentação após o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editar resolução que permite a retirada da CNH sem a obrigatoriedade de cursar autoescola, reduzindo significativamente o custo total do processo de habilitação.
Outro ponto do projeto que virou lei, e também relacionado aos exames toxicológicos, permite que clínicas médicas de aptidão física e mental instalem postos de coleta laboratorial em suas dependências — desde que contratem um laboratório credenciado pela Senatran para realizar o exame. O governo também vetou esse artigo, alegando riscos à cadeia de custódia do material, o que poderia comprometer a confiabilidade dos resultados e facilitar a venda casada de serviços(exame físico e toxicológico no mesmo local).
As decisões refletem um debate entre a busca por maior segurança no trânsito — com a triagem de possíveis usuários de substâncias psicoativas — e o impacto financeiro e logístico das novas exigências para os futuros condutores.
Assinatura eletrônica
O terceiro item a ser incluído na lei é o que permite o uso de assinatura eletrônica avançada em contratos de compra e venda de veículos, contanto que a plataforma de assinatura seja homologada pela Senatran ou pelos Detrans, conforme regulamentação do Contran.
A justificativa do governo para vetar o trecho foi que isso permitiria a fragmentação da infraestrutura de provedores de assinatura eletrônica, o que poderia gerar potencial insegurança jurídica diante da disparidade de sua aplicação perante diferentes entes federativos.
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Caixa de som que ficou três meses no mar é achada intacta e funcionando no litoral gaúcho
Equipamento JBL, resistente à água, foi encontrado na Praia do Hermenegildo após provavelmente cair de um navio a 300 km dali; aparelho ligou normalmente

A caixa de som, projetada para ser resistente à água, sobreviveu à corrosão salina por todo esse período. Ao ser ligada, o equipamento funcionou normalmente. Foto: captada
Uma caixa de som à prova d’água da marca JBL passou cerca de três meses no mar e foi encontrada intacta e ainda funcionando na Praia do Hermenegildo, no extremo sul do estado. A descoberta foi feita por um morador que passeava de quadriciclo na orla na última segunda-feira (30) e avistou o equipamento entre algas e areia.
Acredita-se que a caixa tenha caído de um container durante um transporte marítimo em agosto, próximo à Praia de São José do Norte, a cerca de 300 quilômetros dali. Apesar do longo período submerso e da exposição à água salgada, que acelera a corrosão, o aparelho resistiu e ligou normalmente quando testado.
O caso chamou atenção pela durabilidade do produto, projetado para ser resistente à água, e pela jornada incomum — percorrer centenas de quilômetros à deriva no oceano e ainda chegar em condições de uso à costa gaúcha. A situação virou uma curiosidade local e um exemplo inusitado de “sobrevivência” tecnológica.



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