Acre
Bocalom diz que tem por Gladson o maior respeito e que Lula terá que agir como Bolsonaro
O discurso é o mesmo do debate da COP27′; prefeito também fala de como será sua relação com o governo petista e acha que Lula tem que agir igual a Bolsonaro na liberação de recursos
Por Tião Maia
Faltando poucas horas para o encerramento da COP 27, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorre no Egito, o prefeito de Rio Branco, capital do Acre, Tião Bocalom (PP), voltou ao discurso de um dos temais mais debatidos no evento: a necessidade de financiamento, pelas nações mais desenvolvidas, de ações que permitam ao homem que mora na floresta a viver com mais dignidade.
O discurso já havia sido feito pelo prefeito em Coimbra, Portugal, na semana passada, onde ele apresentou um projeto chamado de “1001 Dignidade”, que consiste na construção de casas populares em madeira que iria para fornalhas e poluir a natureza com CO2, gases capazes de impactar a atmosfera.

Em entrevista exclusiva ao ContilNet, em seu gabinete nesta sexta-feira (18), Tião Bocalom falou sobre os assuntos em voga na agenda internacional como também de suas relações com o futuro governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, de quem o prefeito de Rio Branco sempre foi adversário – um duro adversário, aliás.
No entanto, em nome do desenvolvimento, ele não só reconheceu a vitória do petismo como aposta nas relações pessoais que mantém com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmim para conseguir a captação necessária dos recursos com os quais pretende tocar obras em Rio Branco.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O senhor apresentou o projeto de construção de casas populares, batizado de “1001 Dignidades”, em Portugal, onde o senhor esteve na semana passada. Como foi a aceitação desse projeto?
Tião Bocalom – Foi uma aceitação muito boa porque, primeiro de tudo, este é um projeto que é verdadeiramente sustentável. Se fala a vida inteira no Acre de desenvolvimento sustentável. Só que esta sustentabilidade, até o presente momento, a gente não via na prática. Com este projeto nós temos o maior exemplo de um projeto sustentável aplicado na prática.
O senhor poderia, com a suas palavras, definir melhor como é e como vai funcionar este projeto?
Tião Bocalom – A gente vai pegar aqueles resíduos de madeira, que iria virar fogo e cinza, para construir casas populares.
Por que essas madeiras iriam virar cinza?
Tião Bocalom – Porque, no olhar industrial, não teria utilidade. Isso no olhar industrial. No meu olhar, de marceneiro e madeireiro, tem e aquilo que ía para o fogo vai virar moradia para quem mora mal na nossa cidade. Como ex-marceneiro e ex-madereiro, vi lá no pátio da serraria mais de dez mil metros cúbicos de madeira, que ninguém queria e que a destinação seria o fogo. Quando vi, imediatamente, percebi que muito daquela madeira poderia ter muito utilidade.

Por se tratar de resíduos, não há riscos dessas casas construídas virem a ser de má qualidade?
Tião Bocalom – Não, não há riscos. Aquela madeira, apesar de resíduo, é de alta qualidade. É cumaru-ferro, é ipê, jatobá, cedro, cerejeira. Então, não tem nada a ver o fato de ser madeira de resíduo. Um exemplo: uma peça, uma tora de três metros de cumprimento, dar para aproveitar pelo menos um metro de madeira boa. Fora disso, há uma madeira também, que já está serrada e praticamente beneficiada, que ficou fora do padrão internacional de exportação e que foi refugada. Então, nós vamos aproveitar essa também. As nossas casas terão qualidade e muito melhor que as casas construídas em madeira em governos passados.
Por que, na sua avaliação, aquelas casas construídas no passado são de qualidade inferior?
Tião Bocalom – Porque foram construídas com a madeira branca, que não deveriam ser utilizadas neste tipo de obra. As nossas casas não terão madeira branca. As casas feitas no passado levam muita madeira que gente chama de brancal – é que a tora tem o âmago, que é mais resistente, e, na parte de fora, tem o brancal, que é perto da casca. Esta madeira não presta para obras que se pretende perene. Por isso, muitas das casas de madeiras construídas por aí – é só andar nas casas para ver – estão quase caindo, comidas pelos cupins e sendo furadas pelo que chamamos de caronche. O caronche fura onde a madeira é branca e não atinge onde a madeira é boa. Então, não é porque seja de resíduo que esta madeira não é boa. Pelo que vi lá na madeireira, de cada quatro meto de refugo, a gente pode aproveitar um.
Quando o senhor falou desse projeto em São Paulo e em Portugal como foi a recepção à ideia?
Tião Bocalom – A recepção do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, me encheu de alegria porque, segundo ele, ali estava um verdadeiro projeto sustentável. E sustentável porque a gente vai deixar de queimar dez mil metros cúbicos de madeiras, que virariam fumaça e gases na atmosfera. E é sustentável porque, muito mais que uma casa, isso vai dar dignidade às pessoas. Uma família só atinge a dignidade quando ela tem um teto para morar. Por isso, a gente criou esse projeto com o nome de “1001 Dignidade” porque o objetivo é este: oferecer dignidade àquelas pessoas que não têm um teto decente para morar. E é 1001 porque há um recorde mundial, de construção de mil casas num único dia, no governo Ires Rezende, lá em Goiás, há 20 anos atrás, e nós vamos buscar bater esse recorde, construir 1001 casas. Além do viés ambiental e social, temos também esse desafio de bater esse recorde.

Em Portugal, o senhor repetiu um discurso muito difundido aqui pelo senhor e seus seguidores da necessidade de preservação da Amazônia, mas, em primeiro lugar, focado no ser humano. Como é isso?
Tião Bocalom – O que eu falei agora em Portugal foi a mesma coisa que falei na COP do ano passado, na Suécia. Eu falei que, primeiro de tudo, o mundo precisa entender que há uma floresta com árvores e bichos, mas que tem, principalmente, seres humanos. O ser humano precisa ser sustentado de forma econômica. O ser humano que vive na floresta amazônica, viveu, até algumas décadas atrás, da exploração da seringa. Ele cortava a seringa, o patrão vinha e pagava pela borracha que ele produzia e entregava a ele a mercadoria necessária à alimentação: o arroz, o feijão e outros produtos. Por isso, ele não precisava desmatar.
Acontece que hoje a seringa nativa não rende mais nada, não tem valor comercial por ter sido substituída pela seringa cultivada. Por isso, este ex-seringueiro tem que fazer alguma coisa para sustentar a família dele. Então, ele desmata dois ou três hectares todos os anos para plantar o mínimo para não deixar sua família passar fome porque hoje ele não tem mais dinheiro para comprar esses produtos. Foi essa mesma ideia que eu levei no ano passado. Falei em Portugal sobre isso e disse mais: que é preciso acabar com essa ideia que o nosso agricultor, seja ele família ou assentado, é desmatador, é criminoso.
A verdade é que sempre se tratou esse pequeno agricultor como criminosos. Quantas vezes não vimos imagens de homens do Exército ou da Polícia Federal, de metralhadoras a tiracolo, descendo de helicópteros no meio da floresta para prender ou punir trabalhadores por desmates de pequenas áreas? Esta pessoa desmata por necessidade de sobrevivência. E, no entanto, para toda a área internacional, na Amazônia só existe o macaco e outros bichos. Mas, acima de tudo, existe o ser humano, que precisa de ajuda imediata. Penso que quem vai a esses encontros internacionais, como líder desta região, tem que ir com informações verdadeiras sobre o que é a Amazônia verdadeira.

A Amazônia não é o que eles pensam. Tanto é que, quando acabei de dar minha palestra lá em Portugal, fui muito parabenizado pelo prefeito de Coimbra e em seguida o assessor de assuntos internacionais da Prefeitura local veio até a mim e disse: prefeito, isso o que o senhor disse, a gente não conhecia. O que conhecemos é uma outra realidade, que é o que pregam para nós, que lá só tem árvores, água e bichos.
As pessoas que vivem lá, para nós, quem desmata, vai ganhando dinheiro. Foi quando eu ressaltei: se você for a Santa Rosa do Purus, na fronteira com o Peru, lá você vai encontrar pessoas que, quando adoece, tem que viajar quatro, cinco dias ou até uma semana deitado numa rede carregada por duas pessoas. Isso para poder chegar a um barco e daí viajar mais ou sete horas para chegar a Sena Madureira, para ter contato com um médico. Se ele não morrer, chega ao hospital. Se morre é enterrado na floresta, no meio do caminho. Uma realidade que vocês, europeus, não conhecem, de seres humanos que vivem lá do mesmo jeito que vocês vivem aqui e que nós vivemos nas cidades brasileiras. Então, a gente tem que respeitar esse pessoal que está lá dentro. Lá não só tem bichos, macacos outros animais. Lá tem seres humanos, e é muita gente. São esses os guardiões da floresta que vocês querem. Só que eles não têm condições de continuarem dentro das florestas morrendo de fome.
Na sua avaliação, como é possível equacionar isso?
Tião Bocalom – A primeira coisa, que precisa ser feita, e que eu falo isso desde o ano passado, quando participei da COP na Escócia, é que precisamos tratar melhor o ser humano que vive na floresta e acabar com essa história de que a floresta pode sustentar quem vive lá porque isso não é verdade.
O senhor então propõe que quem vive lá na floresta, o chamado guardião da floresta, precisa ser sustentado por alguém, notadamente por quem defende a floresta como está, em pé. De onde se vai tirar o dinheiro para isso?
Tião Bocalom – Olha, o mundo está dizendo que a floresta tem que permanecer em pé. Se o mundo quer assim, tem que pagar por esse serviço. É o que estamos correndo atrás disso. Quando eu falei isso na Copao ano passado, ninguém deu muita bola e até a imprensa ficou de nariz virado. Mas quando uma índia equatoriana falou a mesma coisa que eu disse. Quando ela falou, então todos deram atenção e começaram a falar a mesma coisa.

Mudando de assunto: como é que o senhor acha que vai se dar sua relação com o governador do Estado, de quem o senhor uma hora é aliado e na outra não é, e com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que é seu adversário em potencial do ponto de vista ideológico?
Tião Bocalom – Com o governador Gladson Cameli eu não tenho nenhum problema. O governador é do meu partido, foi reeleieto e por ele temos o maior respeito. Vamos procurar trabalhar juntos, sem o menor problema. Com relação ao Governo Federal, entendemos que o presidente Lula vai ter que fazer aquilo que fez o presidente Jair Bolsonaro ao longo desses seus quatro anos de mandato.
Anteriormente, governadores e prefeitos só tinham acesso a recursos se fossem ligados a partidos do lado deles. O Bolsonaro acabou com isso e liberou recursos independentemente dos partidos dos prefeitos e governadores. O projeto está aprovado? ele perguntava. Se estava, mandava o dinheiro sem procurar saber se o governador ou o prefeito era do PT, PCdoB ou de qualquer que fosse o partido. O que a gente quer – e aqui eu falo como vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos – é que o novo governo trate os municípios como o Bolsonaro vinha tratando.
O senhor confirma uma boa relação que o senhor teria com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e se isso o ajudaria na captação de recursos junto ao Governo Federal?
Tião Bocalom – Nossa relação é ótima desde quando, em 2006, eu deixei de ser deputado para ser candidato a governador e poder dar palanque para ele aqui no Ace. A partir daí nossa relação sempre foi respeitosa.
O senhor acha que isso pode ajudar a sua administração na captação de recursos em Brasília?
Tião Bocalom – Não tenho dúvida. O Geraldo é uma pessoa muito sensata e é uma pessoa que quando é amigo é de fato amigo.
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Acre
Vídeo: Trabalhador é alvo de atentado a tiros e facada no Segundo Distrito de Rio Branco
Vítima foi atacada ao chegar em casa no loteamento Praia do Amapá e conseguiu buscar socorro por conta própria
O trabalhador Jaércio Martins, de 38 anos, foi vítima de uma tentativa de homicídio na noite desta segunda-feira (26), no loteamento Praia do Amapá, no Segundo Distrito de Rio Branco.
De acordo com testemunhas, Jaércio chegava em frente à própria residência, dirigindo um caminhão, quando foi surpreendido por integrantes de uma organização criminosa. Os suspeitos efetuaram vários disparos de arma de fogo contra o veículo, na tentativa de atingir a vítima.
Na sequência, um dos criminosos se aproximou e desferiu um golpe de faca que atingiu o peito esquerdo do trabalhador. Após o ataque, os suspeitos fugiram do local.
Mesmo ferido, Jaércio conseguiu se deslocar até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Segundo Distrito, onde recebeu os primeiros atendimentos. Em razão da gravidade do ferimento, ele foi transferido por uma ambulância de suporte avançado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Pronto-Socorro de Rio Branco.
Segundo a equipe médica, o estado de saúde da vítima é considerado estável. A Polícia Militar não chegou a ser acionada para atender a ocorrência.
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Sesacre aponta números e ações que marcaram a saúde pública do Acre em 2025

Foto: Reprodução
A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) divulgou um balanço destacando números e ações que marcaram a saúde pública acreana ao longo de 2025. De acordo com os dados apresentados, o ano foi caracterizado pela ampliação do acesso aos serviços e pela interiorização dos atendimentos especializados.
Entre os principais resultados, a Sesacre informou a realização de mais de 27 mil atendimentos por meio do programa Saúde Itinerante, que levou serviços de saúde a municípios do interior do estado. Outro dado destacado foi a execução de mais de 12 mil cirurgias pelo programa Opera Acre.
O balanço também aponta a retomada de centros cirúrgicos, ampliação da oferta de exames, fortalecimento da rede hospitalar e avanços considerados históricos na área da oncologia. Segundo a secretaria, houve ainda recorde de atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ao longo do ano.
A Sesacre mencionou, ainda, a implantação de programas voltados ao atendimento de urgência e à redução da mortalidade, como o Conecta Coração e o AVC – Segundos Importam, voltados para situações críticas em que o tempo de resposta é determinante.
Os dados foram divulgados em um vídeo publicado nas redes sociais da secretaria, que apresenta um resumo das ações realizadas em 2025 e projeta a continuidade das iniciativas para o próximo ano.
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Nível do Rio Acre se aproxima dos 11 metros após fortes chuvas na capita

Foto: David Medeiros
As fortes chuvas que atingem Rio Branco nas últimas horas provocaram alagamentos em diversos pontos da cidade e elevaram rapidamente o nível do Rio Acre. Entre as áreas mais afetadas estão a Estrada do Calafate, a região da Igreja da Pista do Poço e a Baixada da Sobral, especialmente nos bairros Boa União e Plácido de Castro, onde a água invadiu várias residências.
Durante acompanhamento ao vivo feito pela equipe, foi constatado que, apesar de uma breve trégua na chuva, o volume de água nos rios segue aumentando. Imagens mostram que o nível do Rio Acre se aproxima dos 11 metros e continua em elevação, embora, até o momento, a Defesa Civil Municipal ainda não tenha divulgado boletim oficial atualizado.
Na região da Ponte Metálica, a força da correnteza chamou atenção pelo grande volume de balseiros descendo pelo rio, indicando que a chuva atingiu toda a bacia hidrográfica.
Mesmo diante da situação de risco, moradores dos dois lados do rio aproveitaram a cheia para pescar. Durante a transmissão, duas pescadoras foram flagradas capturando peixes da espécie pintado. Segundo elas, apesar de alguns peixes serem pequenos, a pescaria rendeu o suficiente “para garantir o caldo”.
Outro episódio inusitado chamou a atenção durante a cobertura. Um homem foi visto dormindo sobre um dos pilares da Ponte Metálica, próximo à marca de medição do Rio Acre, onde há registro histórico de até 16 metros. Mesmo com o fluxo intenso de veículos sobre a ponte, o homem permaneceu dormindo tranquilamente, despertando surpresa entre os que acompanhavam a transmissão.
A equipe segue monitorando, em tempo real, os pontos de alagamento pela capital acreana. Novas informações sobre o nível do Rio Acre e ações da Defesa Civil devem ser divulgadas a qualquer momento.







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