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Adeus, lendas! Veja atletas que se aposentaram do esporte em 2023

Em 2023, o mundo esportivo se despediu de lendas em diversas modalidades. O icônico goleiro italiano Gianluigi Buffon anunciou a saída dos gramados em agosto, o tetracampeão olímpico Mo Farrah fez sua última corrida em setembro, e o astro da NFL Tom Brady se aposentou pela segunda vez em fevereiro.
Tom Brady é o único que se aposentou duas vezes; Mo Farah e Buffon são outros veteranos que se despediram das competições
Veja a lista completa:

MARCO BERTORELLO / AFP – 19.05.2018
Gianluigi Buffon
Em agosto, aos 45 anos, o lendário goleiro italiano anunciou que estava deixando os gramados. Campeão do mundo em 2006 com a “Azzurra”, o veterano defendia havia dois anos o Parma, da segunda divisão. “Isso é tudo, amigos! Você me deu tudo. Eu te dei tudo. Vencemos juntos”, disse no anúncio.

REUTERS/Lee Smith – 10/09/2023
Mo Farah
Tetracampeão olímpico, o maratonista britânico se despediu das provas de velocidade em uma meia maratona em Newcastle, na Inglaterra. Um dos principais nomes do atletismo mundial, ele recebeu o título de Sir e se emocionou ao cruzar a linha de chegada pela última vez. “O atletismo foi o que me salvou. Sem ter algo como isso para fazer e para me sentir feliz, a vida seria bem mais difícil para mim”, disse.

Brett Davis-USA TODAY Sports via REUTERS – 08.01.2023
Tom Brady
Em fevereiro de 2022, o astro da NFL anunciou a aposentadoria, mas em 13 de março daquele ano ele voltou atrás na decisão e passou a defender o Tampa Bay Buccaneers. Em decisão definitiva, em fevereiro de 2023 o heptacampeão disse estar deixando os gramados para sempre: “Estou me aposentando. Para sempre. Não vou me alongar, você só pode fazer uma declaração emocionada de aposentadoria uma vez, e eu já fiz isso no ano passado”.

RUANO CARNEIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO – 03.12.2023
Filipe Luís
No fim de novembro, o craque do Flamengo decidiu que era a hora de deixar os gramados, aos 38 anos. “Sentimento de gratidão. Pela diretoria que apostou em mim, que veio até Madri me buscar […] Muito obrigado! Foram os melhores anos da minha vida”, declarou.

CAIO DE SOUSA/PERA PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO – 02.12.2023
Fábio Santos
Em outubro, o jogador do Corinthians afirmou que penduraria as chutarias em dezembro, quando o contrato com o clube terminaria. O lateral cumpriu a promessa. A última partida do craque na casa do Timão foi contra o Internacional, pelo Brasileirão. Em entrevista à Corinthians TV, Fábio classificou 2023 como o pior ano da carreira.

Sergio Perez/Reuters – 28.07.2021
Maria Portela
No primeiro dia de março, uma das maiores vencedoras brasileiras do judô confirmou a saída dos tatames. Dona de cinco medalhas em Mundiais, a lutadora permaneceu em alto nível por 15 anos. “Olhando para trás, depois de todos esses anos, me sinto muito grata”, disse em vídeo de despedida.

Reprodução Instagram @iamzlatanibrahimovic
Ibrahimovic
Ídolo do Milan, da Itália, o jogador sueco de 41 anos anunciou a aposentadoria do futebol com lágrimas nos olhos. “Nesta fase, muitas lembranças me prendem, muitas emoções. Quero agradecer a toda minha família e a todos que tiveram paciência comigo. E agradeço à minha segunda família, os jogadores e torcedores, do fundo do meu coração. Serei torcedor do Milan o resto da vida. Chegou a hora de dizer adeus ao futebol, mas não a vocês”, disse.

Giuseppe CACACE / AFP – 14.07.2018
Eden Hazard
Craque da seleção da Bélgica, o atacante deixou o futebol de maneira precoce, aos 32 anos. Após 16 anos de carreira, ele alcançou mais de 700 partidas profissionais e fez parte da geração de ouro da seleção belga. “Agora é hora de aproveitar com a minha família e ter novas experiências. Vejo vocês em breve, meus amigos”, justificou.

LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA – 11.09.2022
Lucas Leiva
Em março, por problemas cardíacos, o então jogador do Grêmio precisou deixar o futebol. Emocionado, ele fez o anúncio à imprensa, depois de ter ficado mais de três meses afastado do clube para cuidar da saúde. “Tem sido um período difícil. Só gratidão por todo este tempo de carreira, estou encerrando onde eu gostaria, não da forma que eu gostaria, mas tenho certeza que um novo ciclo vai se iniciar de forma brilhante. […] Minha saúde vem em primeiro lugar”, declarou.

Divulgação/SPFC
Miranda
Ídolo do São Paulo e do Atlético Madrid, da Espanha, o zagueiro de 38 anos anunciou a aposentadoria do futebol em janeiro. O comunicado foi feito pela assessoria de imprensa, e o craque publicou um vídeo nas redes sociais: “O momento chegou. A todos que torceram por mim, meu agradecimento mais especial. Muito obrigado, futebol! Fica a história”.

Jordan Jones / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP – 10/06/2023
Amanda Nunes
Uma das maiores lutadoras do UFC, a brasileira fez história na categoria e deixou o octógono com títulos do peso-galo e do peso-pena. Aos 35 anos, ela somou 18 lutas, com 16 vitórias e apenas 2 derrotas. Um dos motivos que a levaram a fazer o anúncio foi ficar mais tempo com a família. “Sou campeã dupla para sempre”, disse.

Fabrice COFFRINI / AFP
Ozil
Campeão do mundo em 2014 com a Alemanha e algoz do Brasil no 7 a 1, o meio-campista anunciou a aposentadoria da carreira, marcada por lesões. “Nestes últimos meses e semanas, depois de sofrer várias lesões, tornou-se cada vez mais claro para mim que era hora de deixar este grande mundo do futebol”, escreveu em uma publicação nas redes sociais.

REUTERS/John Sibley
Gareth Bale
Um dos maiores jogadores do País de Gales, o atacante defendia o Los Angeles Galaxy quando comunicou que estaria deixando os gramados, aos 33 anos. Multicampeão com o Real Madrid, da Espanha, o ex-atleta fez uma carta de despedida: “Eu me sinto incrivelmente feliz por ter realizado meu sonho de praticar o esporte que amo. Ele realmente me deu alguns dos melhores momentos da minha vida”, publicou em um trecho.

Reprodução Instagram @carmeloanthony
Carmelo Anthony
Astro da NBA, o jogador do Los Angeles Lakers se tornou um dos maiores cestinhas da história do basquete. Aos 38 anos, o tricampeão olímpico anunciou a aposentadoria nas redes sociais. “Agora chegou a hora de dizer adeus para a quadra, onde fiz o meu nome para o jogo que me deu propósito e orgulho, mas este é um adeus saboroso para a NBA. Estou animado com o que o futuro me reserva”, disse.

Javier Etxezarreta/EFE – 27.09.2022
David Silva
Campeão mundial com a Espanha em 2010, o meio-campista fez o anúncio aos 37 anos, em julho. “Hoje é um dia triste para mim. É o meu dia de dizer adeus àquilo que dediquei toda a minha vida para realizar. É hora de dizer adeus aos meus colegas, aqueles que tenho como família no meu coração. Muito obrigado por sempre terem feito com que eu me sentisse em casa”, comunicou nas redes sociais.

Javier TORRES/AFP – 31.10.2023
Christiane Endler
Melhor goleira do mundo em 2021, a chilena decidiu deixar os gramados durante os Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile. Após a equipe se classificar na semifinal, em jogo contra os Estados Unidos, a veterana que acumulou participações em Copas do Mundo e Jogos Olímpicos afirmou que aquela seria a sua última partida de futebol.

Sebastião Moreira/EFE – 05.11.2017
Jô
Centroavante que defendeu o Corinthians, o jogador deixou os gramados em fevereiro. Aos 35 anos, Jô afirmou que estava se aposentando após uma passagem frustrada na Arábia Saudita. “O clube não tinha estrutura suficiente para um jogador profissional. Uma cidade árabe, bem fechada, pequena. Bati um papo com o presidente, nós dois conversamos, rescindi o contrato e eu voltei. Fiquei sete, oito dias longe. Era a hora”, disse.

REUTERS/Kai Pfaffenbach
Diego Godín
Aos 37 anos, o ídolo do futebol uruguaio comunicou ao clube argentino Vélez Sarsfield que faria a sua última partida da carreira em julho, contra o Huracán, pelo Campeonato Argentino. A intenção do atleta era retornar ao Uruguai, para se dedicar à família.

Rodrigo Jimenez/EFE – 27.09.2017
Cesc Fábregas
Em junho, o meia que somou passagens pelo Arsenal, Barcelona e Chelsa anunciou a aposentadoria do futebol, aos 36 anos. O craque foi campeão do mundo com a Espanha em 2010 e acumulou títulos na Europa.

Rafael Ribeiro/Vasco
Léo Matos
Lateral do Vasco na campanha que colocou o time de volta na Séria A, o jogador comunicou a aposentadoria aos 36 anos. O atleta defendeu clubes como Flamengo, PAOK, da Grécia, Chornomorets e Dnipro, da Ucrânia, e Olympique de Marselha, da França. “Chegou o momento de dizer adeus; obrigado, futebol, por me proporcionar tanto, por ter me dado o privilégio de conhecer o mundo, viver em lugares maravilhosos e conhecer pessoas incríveis que me ajudaram nesses 20 anos de carreira como atleta profissional”, disse.
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Liga Acreana de Capoeira realiza eleição e define sua nova diretoria para o triênio 2025/2028
A eleição foi conduzida por uma comissão eleitoral presidida pelo senhor Ozéias da Silva Figueiredo, conhecido como Mestre Caboquinho, ex-presidente da Liga Acreana de Capoeira
Por Ithamar Souza
Pela primeira vez, em 24 anos de existência, a Liga Acreana de Capoeira realizou uma eleição que não foi por aclamação. Neste pleito eleitoral, a instituição contou com duas chapas: uma composta por todos os membros do Grupo Cordão de Ouro, e a outra liderada pelo Mestre Caju, com apoio de outros grupos que integram a Liga.
A eleição foi conduzida por uma comissão eleitoral presidida pelo senhor Ozéias da Silva Figueiredo, conhecido como Mestre Caboquinho, ex-presidente da Liga Acreana de Capoeira. Ele foi auxiliado pelo secretário Adalcides Adalci Nunes de Amorim, conhecido como Mestrando Tainhas, e contou com o apoio técnico do senhor George “Nego”, presidente da UMARB (União Municipal das Associações de Moradores de Rio Branco).
Desta vez, de fato, houve uma eleição formal. A Chapa 1 foi composta por José Carlos Oliveira Cavalcante (presidente), Átila Amaral Santos (vice-presidente), Edmilson Costa de Souza (secretário) e Erica da Costa Carvalho (tesoureira). Já a Chapa 2 apresentou Eduardo Nonato de Freitas (presidente), Denilson da Silva Cosme (vice-presidente), Clemilda Duarte do Nascimento (secretária) e Gilson Robes Pereira da Silva (tesoureiro). A votação durou cerca de três horas, e logo foi anunciado o nome do novo presidente, uma vez que a Chapa 1 venceu com ampla vantagem.
A votação teve início às 9h e terminou às 12h, com participação expressiva. A Chapa 1, liderada pelo Mestre Caju, foi eleita com 98 votos válidos, enquanto a Chapa 2 obteve apenas 22 votos. Ao todo, 160 pessoas estavam aptas a votar, mas apenas 120 capoeiristas compareceram para eleger o novo presidente para o triênio 2025–2028.
A Liga Acreana de Capoeira foi criada em 2001 e teve como primeiro presidente o senhor Francisco Alexandre Almeida da Silva, aclamado naquele ano e reeleito por aclamação, permanecendo no cargo até 2006. O segundo presidente foi o senhor Ithamar da Silva Souza, conhecido como Mestrando Malvado, também aclamado em 2009 e reeleito, permanecendo até 2015. O terceiro presidente foi o senhor Francisco Nogueira de Queiroz, o Mestre Pavão, aclamado em 2015 e com mandato até 2018. O quarto presidente foi o Mestre Caboquinho, que assumiu em 2022 e comandou a entidade até 2025.
O novo presidente, José Carlos Oliveira Cavalcante, o Mestre Caju, deve permanecer no cargo até 2028, quando novas eleições deverão ser convocadas. Um novo formato de pleito deverá ser organizado para que os capoeiristas escolham seu próximo representante. Vale destacar que a Liga dá um exemplo para outras entidades gestoras do esporte e da cultura, que muitas vezes não têm a capacidade ou a disposição de realizar eleições democráticas, pois seus dirigentes se comportam como donos das instituições.
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Acre tem 2ª maior taxa de zika do país, com casos concentrados em mulheres jovens
Dados do Ministério da Saúde revelam aumento de 70% nos registros em 2025; estado só perde para Mato Grosso em incidência

Até o momento, foram notificados 232 casos de zika vírus no Acre apenas nas 12 primeiras semanas epidemiológicas do ano. Foto: cedida
O Acre ocupa o preocupante segundo lugar no ranking nacional de zika vírus, com taxa de 14,5 casos a cada 100 mil habitantes – quase o dobro da média nacional. Os dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, atualizados até 21 de abril, mostram um crescimento alarmante de 70,67% nas notificações em relação a 2024.
Até o momento, foram notificados 232 casos de zika vírus no Acre apenas nas 12 primeiras semanas epidemiológicas do ano. Não houve registro de óbitos relacionados à doença.
O perfil dos casos mostra predominância entre mulheres (59%), especialmente na faixa etária de 20 a 29 anos. Outro dado relevante é que 87,5% dos infectados são pessoas pardas, segundo as notificações registradas.
Situação nacional
Enquanto o Mato Grosso lidera com 29,8 casos/100 mil hab., o Acre supera estados endêmicos como Bahia e Rio de Janeiro. Especialistas atribuem o crescimento a:
Condições climáticas favoráveis ao Aedes aegypti
Baixa cobertura de saneamento básico em áreas periféricas
Redução nas ações de controle vetorial pós-pandemia
“A concentração em mulheres em idade fértil é especialmente preocupante devido ao risco de microcefalia em gestantes”, alerta a infectologista Dra. Ana Beatriz Cruz. A Secretaria Estadual de Saúde informou que intensificará as ações de combate aos focos do mosquito nas próximas semanas.

Embora muitas infecções sejam assintomáticas ou apresentem apenas sintomas leves, o vírus ganhou notoriedade global após sua associação a complicações neurológicas graves, como a microcefalia congênita. Foto: cedida
O que é o zika vírus?
O zika é uma arbovirose causada pelo vírus ZIKV (Zika Vírus), pertencente à mesma família dos vírus da dengue e chikungunya. Foi identificado pela primeira vez em 1947, em macacos da floresta Zika, em Uganda, e isolado em humanos pela primeira vez em 1953, na Nigéria.
Embora muitas infecções sejam assintomáticas ou apresentem apenas sintomas leves, o vírus ganhou notoriedade global após sua associação a complicações neurológicas graves, como a microcefalia congênita e a síndrome de Guillain-Barré (SGB), documentadas em surtos no Brasil e na Polinésia Francesa.
Sintomas e cuidados
Mais da metade dos infectados podem apresentar sintomas, que geralmente se manifestam de 2 a 7 dias após a infecção. Os sinais clínicos mais comuns incluem:
- Febre baixa (≤38,5 ºC) ou ausência de febre
- Exantema (erupções cutâneas) geralmente pruriginoso
- Conjuntivite não purulenta
- Cefaleia, dores musculares e nas articulações
- Cansaço e edema ao redor das articulações
- Aumento dos linfonodos (ínguas)
Apesar de normalmente apresentar um curso leve e autolimitado, o zika vírus exige atenção especial em mulheres grávidas, devido ao risco de transmissão vertical e possíveis malformações fetais.
As autoridades de saúde reforçam a importância de medidas preventivas, como o controle de criadouros do mosquito Aedes aegypti, uso de repelentes, e o acompanhamento de gestantes, para evitar novas complicações associadas à doença.
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Da bacia de roupa aos diplomas, mãe vence obstáculos e forma filho policial
Mãe solo, Maria do Socorro chegou a lavar e passar roupas para sete famílias ao mesmo tempo. De segunda a sábado, seu tempo era dividido entre tanques e ferros de passar, indo de casa em casa para sustentar os filhos

“Ela nos ensinou sobre dignidade, trabalho e fé”, atesta Wellington Mota sobre a mãe, Maria do Socorro. Foto: Joabes Guedes/PMAC
A dona de casa Maria do Socorro Mota carrega no corpo as marcas de uma vida difícil. Aos 63 anos, seu olhar sereno e resiliente revela a história de uma mulher que nunca se rendeu. Com pouco estudo, abandonada pelo marido e sem muitas opções, sustentou os dois filhos lavando e passando roupas.
Lutou com dignidade para impedir que a pobreza apagasse os sonhos que tinha para sua família. Hoje, celebra algumas vitórias: venceu um câncer e vê os filhos ganhando a vida com honestidade, longe das armadilhas da periferia, onde cresceram. O mais velho, Wellington Mota, de 34 anos, formou-se em três faculdades – Filosofia, Jornalismo e Direito – e está prestes a realizar um sonho que também é dela, o de tornar-se oficial da Polícia Militar do Acre (PMAC).
Sua trajetória é feita de coragem, fé e da força silenciosa de quem nunca deixou de lutar. “Apesar de ter somente a quinta série, ela nos ensinou sobre dignidade, trabalho e fé. Foi quem me mostrou que era possível sair daquele lugar sem me tornar um daqueles que nos cercavam”, diz o aluno-oficial, com voz embargada.
Foi em 2005 que o mundo de Socorro desabou, quando o marido vendeu a casa da família e partiu pra nunca mais voltar, deixando Wellington, então com 13 anos, e o caçula, de apenas 6. Sem ter para onde ir, mudou-se para um aluguel modesto em outro bairro de Rio Branco.
Para sobreviver, vendeu móveis e utensílios. Em pouco tempo, já não conseguia pagar o aluguel, e os três passaram a morar de favor na casa de uma tia, dividindo um quarto e uma cama de casal. O bairro era um dos mais violentos da época. “Era um lugar muito difícil. Vi amigos sendo aliciados, morrendo, desaparecendo”, recorda o militar.

Em 2024, Mota foi convocado para o Curso de Formação de Oficiais (CFO), em Minas Gerais. Foto: Joabes Guedes/PMAC
Recomeço no caos
Mãe solo, Maria do Socorro chegou a lavar e passar roupas para sete famílias ao mesmo tempo. De segunda a sábado, seu tempo era dividido entre tanques e ferros de passar, indo de casa em casa para sustentar os filhos. Como patrão, um dos que testemunharam a luta de perto foi o capitão da reserva remunerada da PMAC, Waldir Mendonça.
“Dona Socorro sempre foi honesta, trabalhadora e amorosa. Ela não criou apenas filhos, formou homens de caráter”, diz Mendonça, com satisfação. E relata que a relação entre a mãe e os filhos sempre foi marcada por respeito e cumplicidade: “Ela nunca mediu esforços. Sempre os apoiou, incentivou. É o papel de mãe, não é? E a relação deles é linda. Filho que honra a mãe abre portas para o sucesso”, verifica.

Waldir Mendonça, um dos patrões de dona Socorro: “Ela não criou apenas filhos, formou homens de caráter”. Foto: Joabes Guedes/PMAC
Waldir também relembra os conselhos que deu ao filho mais velho: “Sempre dizia ‘estude, meu filho. O resto vem com o tempo’. E foi o que aconteceu. Quando a chance apareceu, ele agarrou. Olha ele agora, graças a Deus, firme e bem”. Para Mendonça, a formação militar de Mota está apenas no começo: “A academia é o primeiro passo. Se seguir com dignidade e comprometimento, vai longe; dona Socorro soube educá-lo muito bem”.
Educação como legado
Em meio às dificuldades, dona Socorro constantemente repetia: “Enquanto eu estiver viva, vou dar estudos para meus filhos”. Wellington levou isso a sério, sabendo equilibrar o estudo com o trabalho para ajudar a mãe. Foi estagiário, lavou carros e, em 2012, prestou concurso para a Polícia Militar, ingressando como soldado no ano seguinte.

Dona Socorro viu com orgulho o filho se formar em três faculdades. Foto: Joabes Guedes/PMAC
Foi em 2019 que veio mais uma dura batalha: a mãe foi diagnosticada com câncer. “Eu não sabia o que fazer. Pedi afastamento da PM para acompanhá-la em Porto Velho. A faculdade estava prestes a cancelar minha matrícula. Aí veio a pandemia, que suspendeu as aulas e me permitiu continuar”, conta.
Em 2024 foi convocado para o Curso de Formação de Oficiais (CFO), promovido pelo governo do Estado, que seria ministrado em Minas Gerais. A notícia comoveu dona Socorro, mas não pôde acompanhá-lo: estava em tratamento no Acre.
“Pensava no meu filho. Lutei e sempre mantive a fé de que ele viria terminar a formação aqui na nossa terra”, diz, com os olhos marejados. “Hoje estou curada. Meu filho voltou pra terminar o curso aqui e vai ser oficial; não tenho nem palavras: esse era o grande sonho dele”.

Socorro Mota chegou a lavar roupas para sete famílias ao mesmo tempo. Foto: Joabes Guedes/PMAC
Colhendo os frutos
Wellington hoje é pai de dois filhos, um de 3 anos e outro de 10 meses. O irmão, Antônio Correia, hoje tem 27 anos e é pai de uma criança de 8. Eles buscam passar adiante os valores que receberam.
“Tudo o que sou devo a ela. Se meus filhos têm uma referência hoje, é porque ela não deixou nossa história ser apagada”, afirma Wellington, que mantém contato diário com a mãe. “Se não posso ir eu ligo. Não passo um dia sem ouvir sua voz. Ela é meu norte”, conta.
O militar reconhece, acima de tudo, o papel da mãe em acreditar na educação: “Só tenho a agradecer. Seu esforço, perseverança e visão de futuro foram essenciais. Mesmo sem estudo, ela viu na educação nosso caminho. Nunca desistiu de nós. Hoje colhemos os frutos de seu suor, de tudo que enfrentou, do trabalho duro para nos dar um futuro digno. Minha gratidão a essa guerreira, que é exemplo para todos nós”.

Wellington bate continência para a matriarca: “Exemplo para todos nós”. Foto: Joabes Guedes/PMAC