Três anos após tremor, Haiti tem 350 mil em acampamentos

Três anos após o terremoto que destruiu a capital do Haiti e matou 220 mil pessoas, um dos principais símbolos da tragédia começa a desaparecer da vista dos haitianos. Foram extintos recentemente grandes campos onde haitianos viviam em barracas, que tomavam praças e até o estádio de futebol.

O problema, no entanto, ainda não acabou, já que, “escondidos”, ainda existem 357 mil nessas condições. E não há definição clara de quando isso vai ter fim.

Logo após o terremoto de 12 de janeiro de 2010, haitianos que perderam as suas casas foram destinados a “campos de deslocados”, que se espalharam por diversas áreas de Porto Príncipe.

Estima-se que 1,5 milhão de pessoas tenham passado a viver dessa forma nos meses após a tragédia.

Renato Machado/Folhapress
Charlie Saint Louis e sua mulher, Mone Pierre, em barraca onde vivem desde o terremoto

No segundo semestre do ano passado, o governo do Haiti concluiu um programa-piloto para tentar acabar com os campos de deslocados.

Com um investimento total de US$ 49 milhões (R$ 98 milhões), seriam feitas melhorias em 16 bairros atingidos pelo terremoto para que os moradores pudessem retornar. Além disso, seriam fechados seis campos, meta que foi superada.

Entre os fechados estão o da praça Champs de Mars (ao lado do Palácio Nacional), dois na área nobre de Pétionville, um na antiga Primatura (gabinete do primeiro-ministro e outros ministérios, que ruiu com o terremoto) e o que ocupava os gramados do Estádio Nacional Sylvio Cator. Para deixar esses locais, as pessoas receberam por um ano auxílio-aluguel.

“O programa foi um sucesso até agora, mas precisamos de mais recursos para continuar. Não temos mais a ajuda que existia logo após o terremoto”, disse Clément Bélizaire, diretor da divisão do governo haitiano responsável pelo programa.

Bélizaire afirma que existe um plano para fechar em quatro anos todos os campos de deslocados restantes, realocando as 84 mil famílias que vivem nessa situação.

O grande problema é que o investimento necessário é de US$ 84 milhões, e o governo haitiano tem apenas US$ 20 milhões para esse fim.

ESCONDER O PROBLEMA

Apesar de ter conseguido fechar alguns campos, o programa recebeu críticas –a principal, a de que os lugares escolhidos para as ações são áreas centrais ou nobres da região de Porto Príncipe.

Entidades de direitos humanos afirmam que, para mostrar resultado à comunidade internacional, desapareceram as barracas perto de hotéis, do governo e do aeroporto. Por outro lado, a alguns metros da principal via de acesso ao aeroporto, continua existindo um com cerca de 50 mil pessoas.

“Os lugares foram escolhidos estrategicamente. Por isso os campos fechados ficam perto da sede do governo ou em Pétionville, onde se hospedam muitos jornalistas que vão ao Haiti”, disse a americana Nicole Philips, do Instituto para a Justiça e Democracia no Haiti. Ela também destaca que houve poucas melhorias nos bairros.

A mesma visão têm muitos moradores dos campos de deslocados. “A preocupação do governo é só em deixar bonito do lado do palácio”, disse Edouard Louis, que vive num dos campos.

O governo haitiano rebate ao afirmar que o programa foi apenas um piloto. “Escolhemos os campos seguindo uma metodologia, porque eles não eram muito grandes. E demos preferências para desocupar praças, escolas e áreas de risco”, completa Bélizaire.

RENATO MACHADO
DE PORTO PRÍNCIPE (haiti)

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Publicado por
Alexandre Lima