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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: leite de vaca ou vegetal?

O mercado de extratos vegetais, também conhecidos como leites vegetais, está na crista da onda, oferecendo bebidas feitas a partir de sementes, nozes, legumes, grãos e misturas desses ingredientes, muitas vezes comercializadas como substitutos prontos para a escolha tradicional do leite de vaca. As propagandas se apoiam no discurso de que ao beber este tipo de leite manterá você e o planeta saudáveis.
No entanto, de acordo com um estudo apresentado, e ainda não publicado, em 2023, na reunião anual da Sociedade Americana de Nutrição, EUA, nem todas as opções de leites vegetais são fortificadas para atender aos níveis de vários ingredientes nutricionais contidos nos laticínios. O estudo analisou rótulos nutricionais e ingredientes de 233 produtos vegetais de 23 fabricantes diferentes e descobriu que apenas 28 das bebidas tinham tanta ou mais proteína, vitamina D e cálcio que o leite de vaca.
Cerca de metade dos produtos pesquisados foram fortificados com vitamina D, dois terços foram com cálcio e quase 20% tinham níveis de proteínas semelhantes aos do leite de vaca. Essa informação não me preocupou, pois é fácil obter esses nutrientes de outras fontes, e o leite de vaca certamente não é perfeito e infalível. Mas, se um consumidor pensa que os leites vegetais são uma substituição direta dos laticínios, muitos deles não o são.
Na verdade, os leites vegetais trazem opções saudáveis que os laticínios nem sempre conseguem alcançar. Minha resposta inicial ao “Oh meu Deus, os leites vegetais não são tão nutritivos quanto o leite de vaca” é que isso é bobagem. Nenhum dos leites vegetais avaliados tem colesterol, todos têm baixíssimos níveis de gordura saturada e alguns têm fibras.
O leite de vaca integral tem colesterol, gordura saturada e não contém fibras. E quando se trata de laticínios e cálcio, três quartos da população mundial é intolerante à lactose e obtém cálcio em outro lugar.
Além disso, existem alternativas ao leite que são boas opções para quem busca reduzir a ingestão de calorias. Alguns são bastante baixos em calorias, inclusive, quando compara-se ao leite de vaca com baixo teor de gordura, por isso, se alguém está procurando uma bebida branca com poucas calorias, esse pode ser um motivo para eleger o extrato vegetal como uma alternativa ao leite animal.
Além disso, para aqueles preocupados com as alterações climáticas, as alternativas ao leite serão uma opção melhor e, a longo prazo, não poderemos ter saúde humana sem saúde planetária.
A Universidade de Minnesota, nos EUA, mantêm um enorme banco de dados de quase 20 mil rótulos de alimentos e nutrientes, que é frequentemente usado por pesquisadores externos para estudos nutricionais. Devido à expansão de produtos não lácteos alternativos no mercado, esse painel precisou ser atualizado e a equipe começou a pesquisar os leites vegetais à medida que eram adicionados.
Foram encontrados leites feitos de pistache, aveia, noz, avelã, amêndoa, cânhamo, linhaça, caju, arroz – que já existe há muito tempo – e coco. Não se trata de leite de coco em garrafa, mas de leite de coco na seção de “alimentos saudáveis” do supermercado.
Depois de analisar os rótulos, os pesquisadores descobriram que 170 das 233 opções de leites vegetais eram fortificadas com cálcio em níveis semelhantes à média de 300 miligramas de cálcio por copo de 240 ml encontrado no leite lácteo. Esses mesmos 170 produtos também foram fortificados com níveis semelhantes de vitamina D aos laticínios (O leite de vaca não contém vitamina D naturalmente, por isso é sempre adicionado).
Especificamente, 76% dos leites à base de aveia, 69% dos produtos à base de soja e 66% das alternativas ao leite de amêndoas foram fortificados com cálcio e vitamina D, de acordo com o estudo. A principal conclusão é que se você os consome por causa de um nutriente específico, precisa ler o rótulo porque os produtos são muito diferentes uns dos outros.
O cálcio e a vitamina D, juntamente com o potássio e a fibra alimentar, são considerados componentes dietéticos de interesse para a saúde pública para a população em geral, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A análise também investigou os níveis de gorduras saturadas nos leites vegetais em comparação aos laticínios. A gordura saturada aumenta a produção corporal de lipoproteínas de baixa densidade, ou colesterol LDL (“ruim”), que pode se acumular dentro das artérias e aumentar o risco de ataque cardíaco ou derrame. A maioria dos produtos lácteos vegetais fica entre o nível de semi e o leite desnatado em termos de gordura saturada.
Embora não seja abordado na pesquisa retrocitada, o leite de castanhas tem uma boa quantidade de ácidos graxos essenciais, tanto N-6 (ômega-6) quanto N-3 (ômega-3), em comparação com a gordura altamente saturada do leite de vaca. Assim, o leite de castanhas terá um efeito melhor nos níveis de colesterol no sangue e provavelmente será preferível para o risco de doenças cardiovasculares.
Os ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 são essenciais para a saúde e devem ser obtidos a partir dos alimentos porque não podem ser sintetizados no corpo.
O estudo também analisou a quantidade de fibra nos leites vegetais. O brasileiro médio consome cerca de 15 gramas de fibra por dia; no entanto, as diretrizes dietéticas recomendam a obtenção de 25 a 30 gramas de fibra por dia a partir de alimentos, e não de suplementos.
Se você consumisse 3 xícaras de extratos vegetais ao longo do dia, poderia atingir metade de suas necessidades de fibra. No entanto, como profissional que estuda o microbioma, eu ainda não recomendaria leites vegetais para obter fibras. Eu oriento que as pessoas busquem diretamente nos legumes, grãos integrais, frutas e vegetais.
O leite de vaca é naturalmente um pouco doce devido a um açúcar natural chamado lactose. O leite de aveia é semelhante, pois as enzimas decompõem os amidos e outros açúcares complexos em maltose, uma forma natural de açúcar. Outros leites vegetais podem não ser naturalmente doces, e algumas marcas avaliadas usavam açúcares adicionados para compensar.
Cerca de um terço dos extratos vegetais contém açúcar ou adição de açúcar em quantidades que são mais semelhantes ao leite de vaca aromatizado. O leite de vaca com chocolate, por exemplo, contém 25 gramas de açúcar, enquanto o leite vegetal sabor morango contém 29 gramas.
Em seguida, a equipe analisou os níveis de proteínas. Apenas 38 das 223 alternativas vegetais ao leite de vaca continham um nível superior ou igual aos 8 gramas de proteína normalmente encontrados em cada copo de 240 ml de leite de vaca, concluiu o estudo. Em média, os leites vegetais contêm cerca de 2 gramas de proteína. As melhores fontes encontradas nos leites vegetais foram nos produzidos a partir de soja e ervilha com níveis entre 6 a 10 gramas por porção de 240 ml. A maioria dos ocidentais obtém muitas proteínas de diversas fontes, então isso geralmente não é um problema.
Por exemplo, é também interessante lembrar que a quantidade de cálcio e proteína é muito menor no leite humano do que no leite de vaca. Como o leite humano é geralmente considerado a forma ideal de nutrição, há razões para acreditar que o leite de vaca deveria ser o padrão ouro?
Tem mais curiosidade sobre o tema em pauta? Seguem links de 03 estudos publicados que podem trazer ainda mais informações sobre a decisão de eleger um dos leites ou os dois na sua rotina alimentar:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36386959/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37803557/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36003838/
Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente.
Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.
* Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.
CRN-1 2970.
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Fonte: Nacional
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Oposição critica excessos em decisão e pressiona por impeachment de Moraes
Parlamentares cobram reação do Senado e avanço de processo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, que decretou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro

Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) • Antonio Augusto/STF
Parlamentares de oposição afirmam haver uma “escalada autoritária” no país após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O grupo pressiona pelo avanço de um processo de impeachment no Senado contra Moraes.
“Diante do agravamento dessa escalada autoritária, o Senado Federal tem a obrigação institucional e moral de agir. É urgente a abertura imediata de um processo de impeachment”, afirmaram líderes da oposição em nota oficial.
Além da prisão domiciliar, Moraes também determinou que Bolsonaro está proibido de usar o celular, direta ou indiretamente, por intermédio de terceiros. Também não poderá receber visitas.
Segundo o ministro, o ex-presidente tem feito “reiterado descumprimento das medidas cautelares”. A decisão foi determinada depois de Bolsonaro participar de uma chamada de vídeo com o seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), durante manifestação em Copacabana, no domingo (3), no Rio de Janeiro.
“Bolsonaro não foi preso por corrupção, por desvio de verbas, por rachadinhas ou por roubar aposentados. Foi preso por assistir, de um celular alheio, manifestações pacíficas em sua defesa. Isso é inaceitável”, afirmaram parlamentares aliados do ex-chefe do Executivo.
À CNN, Flávio Bolsonaro disse que o Brasil vive “oficialmente uma ditadura” após a determinação de Moraes. Para o senador, a intenção do ministro é “se vingar de Bolsonaro”
Na mesma linha, a líder da minoria na Câmara, deputada Caroline De Toni (PL-SC), afirmou, em nota, ser “clara a tentativa de retaliação e vingança, incompatíveis com o Estado Democrático de Direito”.
Para o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), em publicação nas redes sociais, a prisão domiciliar do ex-presidente “é fruto da insegurança jurídica semeada por quem deveria zelar por uma Justiça imparcial”.
“Os excessos, as injustiças e o autoritarismo judicial só instigam ainda mais o ódio e a divisão social, contribuindo para a instabilidade do país”, afirmou Mourão, que foi vice-presidente no governo Bolsonaro.
Como a CNN mostrou, a oposição quer uma reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para pressionar por medidas contra Moraes na retomada dos trabalhos legislativos a partir desta terça-feira (5).
O Senado é a Casa responsável por processar e julgar ministros do STF por eventuais crimes de responsabilidade. Moraes já é alvo de quase 30 pedidos do tipo. Cabe ao presidente do Senado dar encaminhamento à denúncia.
Deputados aliados de Bolsonaro se reuniram nesta quarta (5), na casa do líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS). Parlamentares do grupo também devem realizar uma entrevista à veículos de comunicação para falar sobre o assunto ainda nesta terça.
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Déficit comercial dos EUA diminui para US$ 60,2 bilhões em junho
Trump emitiu na semana passada, uma enxurrada de avisos informando dezenas de parceiros comerciais sobre os impostos de importação mais altos

Porto de Los Angeles, EUA • 22/11/2021 – REUTERS/Mike Blake/File Photo
O déficit comercial dos Estados Unidos diminuiu em junho devido a uma queda acentuada nas importações de bens de consumo, na mais recente evidência das marcas que o presidente Donald Trump está causando no comércio global com a imposição de tarifas sobre produtos importados.
O déficit comercial geral diminuiu 16% em junho, para US$ 60,2 bilhões, informou o Departamento de Comércio nesta terça-feira (5).
Dias após informar que o déficit comercial de mercadorias caiu 10,8%, atingindo o valor mais baixo desde setembro de 2023, o governo disse que o déficit total, incluindo serviços, também foi o mais baixo desde setembro de 2023.
As exportações de bens e serviços totalizaram US$ 277,3 bilhões, abaixo dos mais de US$ 278 bilhões em maio, enquanto as importações totais foram de US$ 337,5 bilhões, contra US$ 350,3 bilhões em maio.
A diminuição do déficit comercial contribuiu fortemente para a recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA durante o segundo trimestre, relatado na semana passada, revertendo as perdas do primeiro trimestre, quando as importações aumentaram à medida que os consumidores e as empresas anteciparam as compras para superar a imposição das tarifas por Trump.
A economia expandiu no segundo trimestre a uma taxa anualizada de 3% após contrair 0,5% nos primeiros três meses do ano, mas o número mascarou indicações subjacentes de que a atividade está enfraquecendo.Trump emitiu na semana passada, antes do prazo autoimposto de 1º de agosto, uma enxurrada de avisos informando dezenas de parceiros comerciais sobre os impostos de importação mais altos a serem adotados sobre suas exportações de mercadorias para os EUA.
Fonte: CNN
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Negociador do Japão irá aos EUA buscar acordo sobre tarifas automotivas
Akazawa deve pressionar o presidente Donald Trump a assinar decreto que colocará em vigor o corte acordado nas tarifas sobre as importações de automóveis japoneses

Negociador-chefe de tarifas do Japão, Ryosei Akazawa • 18/04/2025. REUTERS/Issei Kato/File Photo
O principal negociador de tarifas do Japão, Ryosei Akazawa, disse que partiria para Washington nesta terça-feira (5) para buscar pressionar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assine um decreto que colocará em vigor o corte acordado nas tarifas sobre as importações de automóveis japoneses.
No mês passado, os Estados Unidos concordaram em reduzir as tarifas existentes sobre as importações de automóveis japoneses para 15%, em comparação com as taxas que totalizavam 27,5% anteriormente, mas não foi anunciado um prazo para que a mudança entre em vigor.
Os impostos sobre outros produtos japoneses serão reduzidos de 25% para 15% a partir de quinta-feira (7).
“Vamos pressionar os Estados Unidos para garantir que um decreto seja assinado sobre a tarifa acordada para automóveis e componentes automotivos o mais rápido possível”, disse Akazawa ao Parlamento.
Referindo-se ao problema de que os produtos podem ser afetados por várias tarifas, Akazawa também disse que o Japão quer garantir que os produtos que já são tarifados em mais de 15% sejam isentos da taxa adicional de 15%.
Fonte: CNN
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