Brasil
Rotatividade de profissionais da vacinação impacta coberturas
Aumento do número de imunizantes tornou mais complexo o serviço

Brasília (DF), 26.08.2023 – Ministério da Saúde lançou, no Zoológico de Brasília, a campanha de multivacinação no Distrito Federal. Foto: José Cruz/Agência Brasil
O pediatra Juarez Cunha entrou na rede pública de saúde de Porto Alegre em 1985 e participou dos esforços finais da eliminação da poliomielite no Brasil, doença que teve o último caso registrado em 1989 no país. Durante 15 anos atuando na ponta, em uma unidade de saúde pequena na periferia, ele conta que tinha uma equipe unida e engajada na imunização.
“Era um grupo de concursados, todos funcionários públicos do município, que construíam suas carreiras ali. Fiquei durante muito tempo em unidade de saúde, depois fui trabalhar em programas de vigilância, e depois com mortalidade infantil”, lembra o médico, que se aposentou na carreira de servidor público e atua como consultor e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “As vacinas me acompanharam em todos os 43 anos de profissão”.
A presença de trabalhadores experientes, entretanto, não é mais a regra nas salas de vacina no Brasil. A alta rotatividade de profissionais nesses postos de trabalho está entre os problemas apontados por especialistas que avaliam as causas da queda nas coberturas vacinais. As dificuldades se agravam com a complexidade cada vez maior do calendário vacinal, que chega a ter 20 vacinas atualmente, e com a crescente insegurança espalhada pelos grupos de pessoas que são contra vacinas, os antivacinistas, nas redes sociais.
“A sala de vacinação ficou uma área da unidade de saúde que tem uma demanda muito grande de formação, de rotinas. Se você tem uma alta rotatividade, isso atrapalha muito a performance desse local”, avalia Cunha.
“Quando a gente inicia com o PNI na década de 1970, a gente tinha BCG, pólio oral, tríplice bacteriana e sarampo. Eram quatro vacinas. E o registro era manual. Atualmente a gente tem uma quantidade muito grande de vacinas ofertadas e tem que alimentar os sistemas do Ministério da Saúde. E tem que ter toda a responsabilidade pela rede de frios, para que as vacinas sejam adequadamente conservadas. É um trabalho que se tornou bastante complexo”.
Lidar com toda essa logística e com as rotinas corretamente requer uma capacitação sólida, que é prejudicada quando ocorre a troca constante dos profissionais responsáveis pela vacinação. “A alta rotatividade tem diversos motivos, inclusive desvalorização dos profissionais, terceirização. A gente acaba tendo uma alta rotatividade, o que é péssimo. Quando as pessoas estão capacitadas ou seguras do que estão fazendo são deslocadas para outros locais e atividades. Isso interfere na performance das coberturas vacinais”.
Carreiras
Integrante da coordenação de epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Maria Rita Donalisio diz acreditar que esse é um problema sério a ser enfrentado para a retomada das altas coberturas vacinais.
“Com tanto investimento na produção de insumos nacionais, com o ministério garantindo a continuidade dos fluxos, garantindo a cadeia de frios, mas chega na ponta, a gente não garante a qualidade”.
A médica defende que é com o fortalecimento da atenção primária que é possível garantir a melhora desse serviço e a integralidade do cuidado. Em vez disso, ela vê uma priorização a atendimentos eventuais de casos agudos, como em unidades de pronto atendimento, onde as possibilidades de conferência da caderneta de vacinação, por exemplo, são muito menores.
“É preciso investimento em carreira, estabilidade, concurso público, para que esses profissionais possam ser treinados e cada vez mais adquirirem experiência e serem referência na vacinação. Investir nos profissionais, por meio de concursos e carreiras, por meio de remuneração justa, é investir no SUS e no PNI”, afirma.
“Não é fácil conferir uma caderneta de vacinação. É uma tarefa complexa e que precisa de treinamento”, conclui.
Insegurança
A enfermeira e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mayra Moura trabalha com a capacitação de profissionais da ponta, incluindo os da sala de vacina. Além da dificuldade de gerir o trabalho em si, ela acrescenta que profissionais pouco experientes ou mal capacitados também não transmitem segurança à população, que cada vez mais busca os postos de saúde com dúvidas espalhadas na internet.
“Se você não responder às perguntas das pessoas, e se você não acredita ou não tem segurança do que você está falando, a gente perde a oportunidade, deixa aquela pessoa ir embora e reduz a adesão da população”, afirma. “Essa rotatividade [de profissionais] é um problema crônico. O tema vacina é um tema complexo. Não que seja difícil, mas exige estudo, exige dedicação, exige tempo. E a formação desses profissionais dedica um tempo pequeno perto do que é preciso. A grande maioria sai de um curso técnico ou de uma faculdade com um conhecimento raso e básico. E quando vai trabalhar na sala de vacina precisa se capacitar. Leva tempo até ele ter prática suficiente para bater o olho em uma caderneta de vacinação e saber o que tem que fazer. Com a rotatividade, ele não tem esse tempo”.
Mayra Moura afirma que a necessidade dessa capacitação mais aprofundada também acaba afastando profissionais como técnicos de enfermagem, que muitas vezes precisam ter mais de um emprego e não dispõem de tempo para estudar o suficiente. A valorização dessas carreiras, portanto, é um caminho para melhorar a qualidade do serviço nas salas de vacina.
“Essa já é uma luta principalmente da enfermagem, com o piso salarial, que já é tentado há mais de 20 anos. Para que a gente consiga ter uma dedicação melhor ao trabalho dele e não precise ter dois ou três empregos para se sustentar. E, com isso, teria tempo para se dedicar. E a valorização não é salarial. A valorização passa por capacitação também. Passa por enxergar que o profissional precisa de uma capacitação, de uma supervisão, que precisa de atualização. Não adianta capacitar e cinco anos depois a pessoa ainda não ter uma atualização”.
Desafio
A fixação de profissionais na atenção básica é uma necessidade que está no radar do Ministério da Saúde, que tem entre suas linhas de ação o próprio programa Mais Médicos. Em entrevista à Rádio Nacional da EBC, a ministra Nísia Trindade classifica como fundamental o papel dos profissionais da ponta, que são aqueles que fazem a vacinação acontecer.
“Isso só é possível com profissionais qualificados. Sabemos que, em muitas áreas, essa rotatividade é maior, o que aumenta a nossa responsabilidade para ter planos de fixação dos trabalhadores no Sistema Único de Saúde, apoiar municípios nessa iniciativa. Temos feito isso, mas sabemos que o desafio realmente é enorme. E, principalmente, trabalhar com plano focado em educação em campo, em formação em campo.
Além da sala de vacina, a ministra sublinha também a necessidade de capacitação dos agentes comunitários de saúde e agentes de endemias, que vão a campo aumentando a capilaridade do Programa Nacional de Imunizações e do Sistema Único de Saúde.
“Nós apoiamos a formação de agentes comunitários de saúde e agentes de endemias, e agora já vamos apoiar uma segunda turma pelo Ministério da Saúde. A lei que os considera profissionais de saúde foi sancionada pelo presidente Lula no início da gestão. E, com isso, nós esperamos envolver não só esses profissionais, mas os profissionais da enfermagem, que são centrais nesse processo de avançar nessas ações de prevenção e promoção da saúde”.
Edição: Aline Leal
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Bocalom admite disputar governo do Acre em 2026, mas só como candidato de união da direita
Prefeito de Rio Branco diz que pode apoiar Mailza Assis, mas exclui aliança com Alan Rick em possível sucessão de Cameli

O gestor municipal não descarta apoiar a vice-governadora Mailza Assis (PP), mas foi categórico ao vetar qualquer aliança com o senador Alan Rick. Foto: captada
Em entrevista ao programa “Bar do Vaz” nesta quarta-feira (14), o prefeito Tião Bocalom revelou que aceitaria ser o nome de consenso da direita para o governo do Acre em 2026, mas sob uma condição: “Se for convocado, vou aceitar. Não vou me lançar, quero ser aclamado”, declarou ao jornalista Roberto Vaz.
O gestor municipal não descarta apoiar a vice-governadora Mailza Assis (PP), mas foi categórico ao vetar qualquer aliança com o senador Alan Rick:
“Só não apoio o Alan Rick”.
A decisão final dependerá do cenário eleitoral que se desenhar, com Bocalom acompanhando seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto – onde atualmente aparece à frente de Mailza nos levantamentos pré-eleitorais.
A declaração acirra o jogo sucessório no Palácio Rio Branco, mantendo em aberto as possíveis configurações para a disputa que definirá o sucessor do governador Gladson Cameli. O prefeito capitalino posiciona-se como peça-chave na articulação de um bloco oposicionista coeso para 2026.
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Bujari recebe 50 casas populares rurais do Minha Casa, Minha Vida
Município é o único do Acre contemplado em nova etapa do programa federal que prioriza agricultores familiares e comunidades tradicionais

A expectativa é fortalecer a permanência das famílias no campo, melhorando as condições de vida e estimulando o desenvolvimento das comunidades rurais. Foto: cedida
O município de Bujari, no Acre, foi selecionado para receber 50 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida na modalidade rural, destinadas a agricultores familiares, trabalhadores rurais e comunidades tradicionais.
O anúncio integra uma nova fase do programa federal que distribuiu 2.713 moradias em todo o país, sendo 1.137 unidades específicas para a zona rural.
Na região Norte, apenas três estados foram beneficiados: Acre, Amazonas e Pará. Enquanto o Amazonas e o Pará tiveram três municípios contemplados cada (Anori, Coari, Manacapuru no AM; Santa Luzia do Pará e São Sebastião da Boa Vista no PA), o Acre teve apenas Bujari incluído no programa.
A versão reformulada do Minha Casa, Minha Vida permite adaptações dos projetos às realidades locais, com o objetivo de melhorar as condições de vida no campo e fortalecer o desenvolvimento das comunidades rurais.
As novas moradias representam um avanço na política habitacional para populações que tradicionalmente enfrentam dificuldades de acesso a moradia digna no meio rural.
Veja a portaria:
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Polícia Civil realiza palestra educativa em escola de Porto Acre como parte da Operação Caminhos Seguros
As crianças puderam tirar dúvidas e conhecer um pouco mais sobre o funcionamento do trabalho da Polícia Judiciária

Crianças da Escola Novo Horizonte aprenderam sobre direitos, deveres e como se proteger de situações de risco, durante palestra da Polícia Civil na Operação Caminhos Seguros. Foto: cedida. Foto: cedida
Em continuidade às ações da Operação Nacional Caminhos Seguros, a Polícia Civil do Acre (PCAC) promoveu, na última quarta-feira, 14, um ciclo de palestras educativas para alunos e servidores da Escola Infantil Novo Horizonte, localizada na Vila do Incra, em Porto Acre. A iniciativa integra o esforço nacional voltado à prevenção e ao combate aos crimes sexuais contra crianças e adolescentes.
A atividade foi direcionada a alunos do 2º ao 5º ano do ensino fundamental e contou com a presença do delegado Leonardo Meyohas, que conduziu a palestra de forma lúdica e acessível, adaptada à faixa etária das crianças. Durante o encontro, foram abordados temas como direitos e deveres das crianças, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e orientações sobre como reconhecer e denunciar situações de abuso sexual.
Além das explicações sobre proteção e segurança, o momento foi marcado por um espaço de diálogo aberto entre o delegado e os estudantes, professores e funcionários da escola. As crianças puderam tirar dúvidas e conhecer um pouco mais sobre o funcionamento do trabalho da Polícia Judiciária, despertando o interesse e fortalecendo a confiança dos pequenos nas instituições de segurança.
A atividade foi direcionada a alunos do 2º ao 5º ano do ensino fundamental e contou com a presença do delegado Leonardo Meyohas, que conduziu a palestra de forma lúdica e acessível, adaptada à faixa etária das crianças. Durante o encontro, foram abordados temas como direitos e deveres das crianças, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e orientações sobre como reconhecer e denunciar situações de abuso sexual.
Além das explicações sobre proteção e segurança, o momento foi marcado por um espaço de diálogo aberto entre o delegado e os estudantes, professores e funcionários da escola. As crianças puderam tirar dúvidas e conhecer um pouco mais sobre o funcionamento do trabalho da Polícia Judiciária, despertando o interesse e fortalecendo a confiança dos pequenos nas instituições de segurança.

Em Porto Acre, a Polícia Civil segue com ações educativas da Operação Caminhos Seguros, promovendo informação e proteção para nossas crianças. Foto: cedida.
“A informação é uma das principais ferramentas para proteger nossas crianças. Falar sobre seus direitos de forma clara, acessível e acolhedora é fundamental para criar um ambiente seguro e consciente”, destacou o delegado Leonardo Meyohas.
A Operação Caminhos Seguros segue em andamento até o dia 30 de maio, com ações integradas entre instituições de segurança pública e órgãos de proteção social. O objetivo é fortalecer a rede de acolhimento, ampliar a conscientização da sociedade e intensificar o combate aos crimes sexuais contra menores. A operação atua em três eixos principais: prevenção, educação e investigação, alcançando escolas, comunidades e áreas de maior vulnerabilidade.

A atividade foi direcionada a alunos do 2º ao 5º ano do ensino fundamental e contou com a presença do delegado Leonardo Meyohas, que conduziu a palestra de forma lúdica e acessível, adaptada à faixa etária das crianças. Foto: cedidas
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