De janeiro a abril deste ano, sete ex-servidores da extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam) morreram no Acre, segundo a Associação DDT e Luta Pela Vida. A última ocorreu no dia 14 de abril. Em todas as mortes, um fato em comum: as vítimas tiveram contato direto com o pesticida Diclorodifeniltricloroetano (DDT), usado para conter o mosquito da malária na região amazônica nas décadas de 70 a 90 no Acre. Com isso, já são 247 mortes contabilizadas.
O número de mortes registradas esse ano já é superior ao de 2014, quando 11 ex-guardas da Sucam morreram, segundo Aldo Moura, de 63 anos, responsável pela associação e pelo levantamento. O representante destes homens que eram chamados de “guardas mata-mosquitos”, por terem protagonizado uma verdadeira guerra contra o mosquito da malária, acompanha passo a passo o estado de saúde dos ex-companheiros de trabalho. Aldo também fala do futuro como se aceitasse a condenação à morte por antecipação.
“É um quadro irreversível, isso nós já sabemos. Estamos esperando a vontade de Deus e que assim seja feito. Ano passado perdemos 11 companheiros, este ano, ainda no quarto mês, já se foram sete. É um número que vem crescendo todos os anos. É uma batalha diária, porque as instituições se negam a aceitar a nossa contaminação”, lamenta.
A última morte registrada em Rio Branco, segundo a associação, foi a de Francisco Carlos Ovides , de 68 anos. Após desenvolver doença respiratória, não suportou duas paradas cardíacas no dia 14 de abril. Desemparo é a única palavra que o filho, Francisco Carlos Ovides, consegue encontrar para definir os últimos meses de vida do pai.
“Ele teve complicações no pulmão e passou a ter crises constantes e não resistiu. Trabalhou mais de 20 anos com o DDT e a situação é essa: descaso total. Teve duas paradas, na segunda, não suportou”, lamenta o filho após 15 dias da morte do pai.
O G1, em fevereiro, visitou as casas de alguns dos servidores que integram a chamada “lista da morte” e retratou como vivia alguns deles. Um dos que morreram foi Raimundo Gomes da Silva, de 82 anos. Depois de meses em cima de uma cama, seus órgãos pararam no dia 7 de março. Morreu no colo do filho mais velho. Na época da matéria, ele dava sinais de que sua morte estava anunciada.
“Muita humilhação, a gente é muito humilhado. É aquele ditado, ‘Deus dá, Deus tira’. Nunca olharam para a gente durante todo esse tempo e nisso já se foram mais de 200 [funcionários]. Tenho certeza que não escapo, não saio mais dessa. Na próxima viagem, eu vou embora e já preparei meus filhos”, disse entre lágrimas, na época.
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