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Mulher que nasceu com malformação e tirou parte do intestino faz ensaio com bolsa de colostomia à mostra
Dryelem Alves nasceu com o ânus imperfurado e teve que retirar 22 centímetros do intestino após não conseguir ir ao banheiro na 3ª gestação.

Dryelem Alves usa uma bolsa provisória de colostomia após uma cirurgia no intestino – Foto: Assis Lima/Arquivo pessoal
Por Aline Nascimento
“Isso tem que servir para alguma coisa, quando estiver melhor vou fazer um ensaio para mostrar tudo o que passei”. Foi com esse pensamento que a servidora pública Dryelem Alves, de 32 anos, deixou o Pronto-socorro de Rio Branco com uma bolsa de colostomia após uma cirurgia.
Em julho, quatro meses após o procedimento médico, ela fez um ensaio fotográfico com a bolsa à mostra para contar o drama que viveu em abril, quando passou por um parto de emergência da terceira filha e precisou fazer uma nova cirurgia para retirar parte do intestino que tinha necrosado durante a gravidez.
Sobre o ensaio, ela disse que se emocionou muito ao fazer e que vai guardar as fotos como lembrança do medo e das dificuldades que enfrentou.
“Fiquei muito emocionada no dia. Estava muito feliz. Levei os saltos para usar lá porque ainda não posso usar e tenho outras restrições, mas estava feliz de estar ali, passou um filme na minha cabeça. A ideia surgiu dentro do hospital quando passei a ver além do que estava acontecendo. Saí com meu psicológico muito abalado, tinha medo de chegar o dia das fotos e não ter condições de fazer”, relembrou.
As fotos, feitas pelo fotógrafo Assis Lima, serviram também para levantar a autoestima da servidora pública, que chegou a ficar preocupada com o que iriam achar do corpo dela após a cirurgia. Ela contou que queria mostrar que uma pessoa ostomizada pode levar uma vida normal.
“Tinha muito medo, não conseguia tomar um suco, me alimentar direito porque tinha medo de que qualquer coisa fosse prejudicar meu intestino. Tive que ter acompanhamento psicológico porque fiquei muito abalada. Saí do hospital como se eu estivesse grudada na bolsa e com o tempo percebi que ela que estava grudada em mim. Conforme o pós-operatório foi passando e eu fui tendo domínio do meu corpo, passei a me arrumar. Algumas pessoas têm uma visão errada sobre um ostomizado e podemos viver normalmente”, relatou.
Malformação
Dryelem nasceu com uma malformação rara chamada de ânus imperfurado, que é um defeito congênito no qual o ânus está bloqueado ou não tem abertura. A primeira cirurgia para corrigir a malformação foi feita ainda quando ela era criança e ficou usando a primeira bolsa de colostomia por mais de um ano.
Na fase adulta, ela contou que sempre teve o intestino preguiçoso, mas funcionava normalmente com uma alimentação saudável. As dores de cabeça começaram na primeira gestação, quando passou cerca de 20 dias sem conseguir ir ao banheiro. Ela tinha 19 anos na época e, mesmo com muitas dificuldades e tendo que tomar laxantes, passou por uma cesárea e a filha nasceu sem problemas.
Cinco anos depois, Dryelem descobriu que tinha outra anomalia rara: dois úteros, também conhecida como ‘útero didelfo’.
“Não detectaram, fiz pré-natal, PCCU. Contei a história de como tinha nascido e falou [médico] que era uma anomalia dessa minha região. Nasci com o ânus imperfurado, fístula vaginal e dois úteros. Falaram que eu não engravidaria e estou com três filhos”, destacou.

Com útero didelfo, servidora teve três filhos em Rio Branco – Foto: Assis Lima/Arquivo pessoal
Ela engravidou novamente de um menino, atualmente com 2 anos, e depois de uma menina, sua terceira filha, que hoje está com seis meses. A gravidez do segundo filho também foi marcada por problemas para ir ao banheiro, chegando a ficar dez dias sem evacuar. A situação se resolvia quando tomava fibra em pó e algumas medicações tomadas anteriormente.
Porém, na terceira gravidez, ela começou a sentir dores e ter problemas para ir ao banheiro entre o 3º e 4º mês. Ela buscou ajuda médica e contou a situação.
“Explicava que tinha tentando de tudo em casa para não buscar o hospital, tomei óleo mineral, laxante, mas vi que o negócio estava bem mais tenso. Procurei as unidades de saúde e, mesmo relatando a situação, não se atentaram para buscar uma solução e me passar exames, porque poderia ser fezes, como de fato eram, mas poderia ser um tumor”, relembrou.
Nódulo suspeito
Nessa época, Dryelem sentia um caroço do lado esquerdo da barriga. Ela afirmou que buscava as unidades de saúde, contava a situação e era orientada a tomar remédios. No sétimo mês de gestação, a terceira filha da servidora nasceu de um parto prematuro.
“A médica disse que o nódulo pode ter ocasionado, não deu certeza, mas pode ter influenciado. Passei 15 dias com ela na UTI, mais 22 no canguru e foram, ao todo, 37 dias de internação na maternidade. Quando saímos fui pesquisar que médico tinha que procurar para buscar uma solução para o meu problema.”
Ela achava que após o nascimento da filha, o nódulo que sentia na barriga iria sumir, mas não foi o que aconteceu. A servidora, então, procurou um gastroenterologista, que recomendou uma tomografia e um exame de raio-X para dar um diagnóstico completo.
“Ele [médico] falou que não era tumor. Se eu me movimentasse subia ou descia. Falou que eram fezes e, devido à demora para diagnosticar, as fezes calcificaram e pelo tamanho que estavam não iriam sair pelo método normal”, revelou.

Mãe de três filhos, servidora precisou retirar pedaço do intestino após não conseguir ir ao banheiro durante a 3ª gravidez – Foto: Assis Lima/Arquivo pessoal
A mãe buscou uma segunda opinião médica, que confirmou por meio de um exame de colonoscopia que o caroço era uma espécie de acúmulo de fibras no intestino que tinham calcificado. Em uma consulta com uma proctologista, ela foi orientada a se internar no pronto-socorro para uma nova cirurgia.
“Dei entrada no PS no dia 10 de abril. A parte onde estava o caroço estava necrosando, abriu uma fístula e quando me abriram tiraram um pedaço de 22 centímetros do intestino e, como estava como estava saindo fezes pela cicatriz, tiveram que me abrir para fazer uma limpeza na cavidade abdominal. Foram mais de quatro horas de cirurgia e quando acordei estava com a bolsa”, falou.
Duas cirurgias
A servidora pública passou por duas cirurgias no Pronto-socorro de Rio Branco. Os dois procedimentos foram feitos pelo cirurgião Guilherme Piassa. A primeira foi para retirar o nódulo, chamado de fitobezoar, que estava do lado esquerdo da barriga dela em formado de uma bola e dentro tinha fezes e fibras.
Segundo o cirurgião, esse nódulo estava condensado ao ponto que não conseguiria sair por baixo e causou uma obstrução intestinal em Dryelem. Essa obstrução intestinal só poderia ser revertida com cirurgia.
“Fizemos essa primeira cirurgia, conversamos muito e ela pediu se podia fazer a cirurgia pela mesma cicatriz que já tinha. Expliquei que não era o mais comum de se fazer, mas que a gente tentaria. Fizemos por essa cicatriz, retiramos esse caroço e fechamos sem tem que fazer a colostomia. Conversei muito com ela e expliquei que a parte do intestino dela onde estava o caroço estava muito espessada, com edema, inflamada e podia, depois que a gente fechou, romper”, explicou o médico.
Foi o que aconteceu. Segundo Piassa, a paciente teve uma fístula e a equipe precisou novamente levar Dryelem para a sala de cirurgia. Nesse novo procedimento foi retirada a parte inflamada, o intestino reconstruído e depois foi feita a colostomia.
“Colocamos a colostomia novamente e agora vamos fazer o acompanhamento para reconstruir o trânsito intestinal dela sem a colostomia. Agora vamos esperar mais ou menos mais um mês e meio para começar a fazer os exames para a construção. Acredito que vamos fazer ainda este ano”, garantiu.
Medo de morrer
Dryelem explica que tinha receio de usar a bolsa de colostomia, que durante a internação chegou a ouvir de uma paciente que não teria como não ser instalada a bolsa e também medo de morrer e deixar os filhos.
Quando acordou e foi para o quarto, Dryelem já percebeu que estava com a bolsa. Ela segue sendo acompanhada por um médico da Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) e a expectativa é retirar a bolsa daqui há quatro meses.
“Foi um choque, não conseguia aceitar, foi duro demais. Além disso, infelizmente, alguns profissionais de saúde não são capacitados para lidar com uma pessoa recém-ostomizada, não sabiam me passar informações, apenas me colocar medo. Não queriam fazer a limpeza da bolsa alegando que em casa eu ia ter que fazer. A psicóloga que me deu amparo. Só imaginava que minha vida não seria mais a mesma. Tinha medo de comer, beber, andar, achava que qualquer coisa poderia me levar a passar por tudo aquilo novamente. O choro era constante, via meu filho pedindo colo e não podia dar, minha caçula tomando fórmula por não poder amamentar”, lamentou.
Para Dryelem, esses transtornos, a cirurgia e o procedimento, talvez teriam sido evitados se tivessem feito exames ainda quando ela estava grávida e fosse descoberto no início que o nódulo que sentia na barriga eram fezes calcificando.
“Tenho que fazer uma nova colonoscopia para ver como ficou o pós-cirúrgico, fiz a biópsia e deu que não é nada cancerígeno, então, precisa fazer para ver como está para fazer a reversão. Não foi ruim de aceitar estar com a bolsa, foi difícil e não consigo aceitar a questão dos médicos não ouvirem. Vou pegar meus prontuários e entrar com uma ação. Alguém tem que pagar por isso, não são deuses, ficamos muito a mercê da saúde, os médicos fazem e acontecem e não sobra nada para eles. Só quem se prejudica é o pobre”, finalizou.
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Polícia Federal apreende 613 kg de cocaína em galpão de empresa de fachada em Blumenau
Droga estava escondida em bunker subterrâneo e seria enviada à Europa; um homem foi preso e investigação aponta ligação com cidadãos britânicos procurados internacionalmente

Cocaína estava armazenada em um bunker de empresa de fachada em Blumenau. Fot: captada
A Polícia Federal (PF) apreendeu 613 quilos de cocaína durante uma operação de combate ao tráfico internacional de drogas em Blumenau, no Vale do Itajaí (SC). A ação contou com apoio da Polícia Militar de Santa Catarina e resultou na prisão de um homem suspeito de integrar a organização criminosa.
A droga estava escondida em um bunker no subsolo de um galpão pertencente a uma empresa de exportação de ligas metálicas, que funcionava como fachada para o esquema. Segundo as investigações, o local era usado para o preparo e armazenamento da cocaína antes do envio para a Europa.
Durante a operação, a PF também cumpriu um mandado de busca em um endereço residencial em Florianópolis ligado ao suspeito, onde foram apreendidos veículos, embarcações, joias e documentos. O inquérito aponta a existência de uma estrutura criminosa internacional com base em Santa Catarina, que contava com suporte logístico de brasileiros e liderança de cidadãos britânicos com histórico de tráfico na Inglaterra e procurados internacionalmente.
A investigação continua para identificar outros integrantes do esquema, que já tinha rotas estabelecidas para o narcotráfico transatlântico.
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Exame toxicológico para primeira CNH é vetado pelo governo federal
Medida que exigia resultado negativo para condutores de motos e carros foi rejeitada com argumento de aumento de custos e risco de mais pessoas dirigirem sem habilitação; novas regras do Contran para tirar CNH sem autoescola, no entanto, podem alterar contexto

Na justificativa do veto, o governo argumentou que a exigência aumentaria os custos para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e poderia influenciar na decisão de mais pessoas dirigirem sem habilitação. Foto: captada
O governo federal vetou a exigência de exame toxicológico para obter a primeira habilitação nas categorias A (motos) e B (carros de passeio). A medida, que seria incluída no Código de Trânsito Brasileiro, foi rejeitada com a justificativa de que aumentaria os custos para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e poderia incentivar mais pessoas a dirigirem sem a documentação obrigatória.
O veto, no entanto, pode ter perdido parte de sua sustentação após o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editar resolução que permite a retirada da CNH sem a obrigatoriedade de cursar autoescola, reduzindo significativamente o custo total do processo de habilitação.
Outro ponto do projeto que virou lei, e também relacionado aos exames toxicológicos, permite que clínicas médicas de aptidão física e mental instalem postos de coleta laboratorial em suas dependências — desde que contratem um laboratório credenciado pela Senatran para realizar o exame. O governo também vetou esse artigo, alegando riscos à cadeia de custódia do material, o que poderia comprometer a confiabilidade dos resultados e facilitar a venda casada de serviços(exame físico e toxicológico no mesmo local).
As decisões refletem um debate entre a busca por maior segurança no trânsito — com a triagem de possíveis usuários de substâncias psicoativas — e o impacto financeiro e logístico das novas exigências para os futuros condutores.
Assinatura eletrônica
O terceiro item a ser incluído na lei é o que permite o uso de assinatura eletrônica avançada em contratos de compra e venda de veículos, contanto que a plataforma de assinatura seja homologada pela Senatran ou pelos Detrans, conforme regulamentação do Contran.
A justificativa do governo para vetar o trecho foi que isso permitiria a fragmentação da infraestrutura de provedores de assinatura eletrônica, o que poderia gerar potencial insegurança jurídica diante da disparidade de sua aplicação perante diferentes entes federativos.
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Caixa de som que ficou três meses no mar é achada intacta e funcionando no litoral gaúcho
Equipamento JBL, resistente à água, foi encontrado na Praia do Hermenegildo após provavelmente cair de um navio a 300 km dali; aparelho ligou normalmente

A caixa de som, projetada para ser resistente à água, sobreviveu à corrosão salina por todo esse período. Ao ser ligada, o equipamento funcionou normalmente. Foto: captada
Uma caixa de som à prova d’água da marca JBL passou cerca de três meses no mar e foi encontrada intacta e ainda funcionando na Praia do Hermenegildo, no extremo sul do estado. A descoberta foi feita por um morador que passeava de quadriciclo na orla na última segunda-feira (30) e avistou o equipamento entre algas e areia.
Acredita-se que a caixa tenha caído de um container durante um transporte marítimo em agosto, próximo à Praia de São José do Norte, a cerca de 300 quilômetros dali. Apesar do longo período submerso e da exposição à água salgada, que acelera a corrosão, o aparelho resistiu e ligou normalmente quando testado.
O caso chamou atenção pela durabilidade do produto, projetado para ser resistente à água, e pela jornada incomum — percorrer centenas de quilômetros à deriva no oceano e ainda chegar em condições de uso à costa gaúcha. A situação virou uma curiosidade local e um exemplo inusitado de “sobrevivência” tecnológica.

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