Acre

Mais de 30 mil moradores de unidades de conservação do Acre vivem com saneamento precário

Mais de 30 mil pessoas enfrentam problemas de água, esgoto ou lixo; em algumas áreas, índice chega a 99,97% da população, segundo dados do IBGE

A pesquisa “Áreas protegidas na Amazônia Legal: um retrato ambiental e estatístico” mostra que 53% dos residentes enfrentam múltiplos problemas simultâneos de saneamento. Foto: captada 

Um retrato alarmante das condições de saneamento nas unidades de conservação do Acre foi revelado pelo Censo 2022 do IBGE: mais de 30 mil moradores dessas áreas protegidas vivem com algum tipo de precariedade em serviços básicos. Dos 34 mil habitantes das UCs, 32.059 pessoas – equivalente a 92% da população – enfrentam dificuldades no abastecimento de água, destinação de esgoto ou coleta de lixo.

A situação é ainda mais crítica quando se excluem as habitações indígenas do tipo “maloca”: nesses casos, 99,97% dos moradores convivem com alguma forma de precariedade sanitária. A pesquisa “Áreas protegidas na Amazônia Legal: um retrato ambiental e estatístico” mostra que 53% dos residentes enfrentam múltiplos problemas simultâneos de saneamento. A maioria desta população se declara parda (72,5%), enquanto 14,5% são brancos, 7% pretos e 6% indígenas.

O estado possui 11 unidades de conservação federais. Os moradores incluem comunidades tradicionais, indígenas, entre outros grupos. Foto: captada 

Perfil das carências
  • Problemas de saneamento: 92% dos moradores
  • Múltiplas precariedades: 53% (mais de um problema)
  • Excluindo malocas: 99,97% com alguma deficiência
Características demográficas
  • Pardos: 72,5%
  • Brancos: 14,5%
  • Pretos: 7%
  • Indígenas: 6%
Contexto territorial
  • Unidades de conservação federais: 11 no Acre
  • População: Comunidades tradicionais, indígenas e outros grupos

Estes resultados fazem parte da pesquisa Áreas protegidas na Amazônia Legal : um retrato ambiental e estatístico. Em julho deste ano, o IBGE divulgou, pela primeira vez, um levantamento sobre os moradores dessas áreas.

Esses dados se referem a moradores de domicílios particulares permanentes ocupados. Na análise que exclui domicílios particulares permanentes do tipo “habitação indígena sem paredes ou maloca”, o cenário é ainda mais dramático: 99,97% conviviam com alguma forma de precariedade, o que representa mais de 16 mil pessoas.

Outras 13,4 mil (80%) relataram enfrentar mais de um problema de saneamento.

Os números revelam o paradoxo da conservação ambiental no Acre: enquanto as unidades protegem a floresta, suas populações humanas carecem de serviços básicos. A situação exige políticas públicas que conciliem proteção ambiental com dignidade para os moradores tradicionais.

A situação exige políticas públicas que conciliem proteção ambiental com dignidade para os moradores tradicionais. Foto: captada 

Para o presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), que vive na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes. Para ele, estas informações são cruciais para resolver problemas antigos, como a regularização de ocupações.

“Na [Reserva] Chico Mendes, a gente estima que deve ter mais ou menos 10 mil moradores dentro dela. Desses 10 mil moradores, eu acredito que entre 500 a mil, são pessoas que estão vivendo totalmente ilegal e a gente precisa resolver esse problema. Tanto nós, representando a sociedade civil, como o próprio governo precisa resolver o problema da nossa unidade para que ela volte a se regularizar”, ressaltou durante o lançamento da pesquisa Censo Demográfico 2022: Unidades de Conservação.

Este recorte do Censo foi lançado em auditório da Universidade Federal do Acre (Ufac). No estado, de acordo com os dados, a maioria dos moradores de UCs coleta água de fontes ou nascentes, rios e poços rasos: são 27,2 mil pessoas nesta categoria.

Em relação ao esgotamento sanitário, o maior número é o de moradores que utilizam fossas rudimentares ou buracos para o descarte: 12,8 mil pessoas.Outro dado preocupante é que 8 mil moradores declararam não terem banheiro ou sanitário.

A expectativa é que os dados ajudem a direcionar políticas públicas mais eficazes.

Do total de 34 mil habitantes nas UCs, 32.059 enfrentam fragilidades nos serviços básicos – o equivalente a 92% desta população. Foto: captada 

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Marcus José