José Gustavo: a história do comerciante mais antigo de Assis Brasil

No ano de 1978, muda-se para a cidade de Assis Brasil com toda sua família. Consegue um ponto comercial no mercado da cidade onde começa a vender roupas e tecidos.

Blog do Jerry Correia - Assis Brasil/Acre

Hoje, aos 90 anos de idade, acredite, ele ainda está atrás de um balcão atendendo seus clientes todos os dias.

Aos 17 anos de idade, o jovem José Gustavo Sales arruma sua mala e se despede do seu velho pai. A mãe já falecida seria contra a decisão do rapaz de sair de seu ninho com destino a um lugar desconhecido. Nem a dor no peito ou as lágrimas nos olhos o fazem desistir do objetivo que fora traçado. Ele está certo que precisa deixar seu lugar, sua gente e suas raízes para tentar a sorte por outras bandas.

De cima do pau de arara ele contempla o que vai ficando para trás. A casinha humilde onde viveu parte de sua vida com a família, os amigos e conhecidos da pequena cidade chamada Meruoca no estado do Ceará.

Agora o garoto estava sob os cuidados de um homem desconhecido responsável por levar trabalhadores do nordeste brasileiro para a região amazônica. Fato comum naquela época em que grande contingente de nordestinos fugia da fome e da seca que castigavam aquele pedaço do Brasil.

O destino do rapaz foi o estado do Acre, mas precisamente na região do Rio Envira onde teve que aprender o ofício de seringueiro. Naquela região teve seu primeiro contato com os segredos e perigos da floresta amazônica. Foi ali também que conheceu uma linda jovem chamada Maria Matias que seria sua companheira por toda a vida e mãe de seus sete filhos.

José Gustavo decidiu sair do lugar onde estava e partir para outra região do estado. Mudou-se com sua família para outro seringal na região do Rio Purus, município de Sena Madureira. Ali trabalhou por anos na tentativa de juntar algum dinheiro para comprar seu próprio lugar. Mas, isso era praticamente impossível, pois as condições impostas pelos seringalistas eram de total exploração.

Posto de vendas da Superintendência da Borracha Assis Brasil/Acre 1983. (foto: acervo Jerry Correia)

Mais uma vez foi obrigado a procurar outro lugar para viver. Agora viaja com sua família subindo o Rio Iaco na direção do famoso Seringal Petrópolis. Ali se estabelece em uma colocação onde começa a explorar as seringueiras espalhadas pela imensidão da floresta amazônica.

O Seringal Petrópolis era também uma grande fazenda com milhares de cabeças de gado. O lugar era muito afamado e já tinha uma pequena vila com algumas dezenas de famílias. Mas toda essa prosperidade não alcançou José Gustavo e sua família que sofreram muito enquanto viveram naquele lugar.

A exploração e as precárias condições de vida fizeram com que José Gustavo deixasse o Seringal Petrópolis. Agora ele e sua família conseguem uma colocação no Seringal São Francisco, no município de Assis Brasil. Ali trabalha por alguns anos e ganha experiência nos negócios que envolviam o mercado da borracha.

Decidido a não ser mais explorado por patrão, José Gustavo consegue arrendar o Seringal São Miguel, localizado às margens do Rio Acre nas proximidades do município Assis Brasil. Com essa oportunidade, o agora seringalista, consegue fazer bons negócios e juntar algum recurso para iniciar uma nova etapa em sua vida.

No ano de 1978, muda-se para a cidade de Assis Brasil com toda sua família. Consegue um ponto comercial no mercado da cidade onde começa a vender roupas e tecidos. Foi aí que descobriu sua verdadeira paixão pelo pequeno comércio varejista.

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Os negócios prosperam e José Gustavo agora consegue comprar um ponto comercial ao lado do mercado onde trabalhava. O lugar fora vendido na época pelo senhor Vicente Bessa, grande seringalista e primeiro prefeito do município de Assis Brasil.

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O tempo passou e o senhor José Gustavo tornou-se um dos principais comerciantes da cidade.  Hoje, aos 90 anos de idade, acredite, ele ainda está atrás de um balcão atendendo seus clientes todos os dias. E isso ele faz por puro prazer, já que aquele pequeno ponto que comprou e onde trabalhou por anos, hoje é um próspero mercado administrado por um de seus filhos. Mesmo assim, seu José Gustavo resolveu montar uma pequena venda colada ao mercado da família só pelo prazer de trabalhar naquilo que gosta.

Com toda essa idade, José Gustavo continua acordando bem cedo para abrir as portas de sua loja. O lucro que busca todos os dias é receber os amigos, vender um geladinho para uma criança que sai sorrindo e continuar servindo o povo de Assis Brasil, assim como fez ao longo desses mais de 40 anos.

O senhor José Gustavo ainda tem um sonho. Ele diz que pede a Deus todos os dias que permita ele trabalhar até os 100 anos. Quer seguir o destino de seu avô que trabalhou até essa idade com muita alegria.

O futuro a Deus pertence. Mas se depender do senhor José Gustavo seu comércio continuará de portas abertas por muitos anos. O que não falta é disposição, felicidade e prazer de viver.

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Publicado por
Da Redação