Irmã de ex-prefeito e secretário estão entre alvos de operações da PF que apuram desvio de recursos em Cruzeiro do Sul

Irmã de ex-prefeito e secretário estão entre alvos de operações da PF que apuram desvio de recursos em Cruzeiro do Sul — Foto: Arquivo

Por Iryá Rodrigues

O secretário Administração da prefeitura de Cruzeiro do Sul, João Pereira, e a irmã do ex-prefeito Ilderlei Cordeiro, a advogada Idelcleide Cordeiro, estão entre os alvos das operações da Polícia Federal deflagradas, simultaneamente, nessa terça-feira (25).

Além deles, os empresários e irmãos Manu Cameli e Sandro Cameli foram alvos dos mandados de busca e apreensão. A informação foi confirmada pelo advogado de Manu, Mainard Holanda.

“Ele [Manu Cameli] foi alvo dessa operação, exclusivamente, a respeito de venda de cestas básicas, que ele participou de uma licitação emergencial agora em 2021, sagrou-se vencedor e, consequentemente, entregou essas cestas básicas. Ele colocou preço de mercado. Na busca na residência dele não encontraram nada, ele que entregou toda documentação em mãos à Polícia Federal quando foi prestar os esclarecimentos”, disse o advogado.

Areportagemtentou contato com Idelcleide pelo telefone informado no registro da OAB mas não obteve resposta até última atualização desta matéria. O irmão da investigada, ex-prefeito da cidade, disse que não conhece o advogado dela e que ela está sem telefone. A reportagem também não conseguiu contato com a defesa de Sandro.

O secretário João Pereira foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (26), conforme decreto publicado no Diário Oficial do Estado. Quem assume a pasta, cumulativamente, é o chefe do gabinete do prefeito, Ney Williams Salgado Mazzaro. A nomeação dele foi publicada também na edição desta quarta do DOE.

As operações deflagradas nessa terça foram denominadas de “Jumper” e “Súplica”. Com relação à Jumper, foram cumpridos 42 mandados judiciais nas cidades de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, e na capital acreana Rio Branco. Além de alvos nas cidades de Manaus (AM), Brasília (DF), Pindamonhangaba (SP), São José dos Campos (SP), Salvador (BA) e Serrinha (BA).

Operação da Polícia Federal investiga desvio de recursos públicos de quase R$ 25 milhões em Cruzeiro do Sul – Foto: Arquivo/Polícia Federal

Operação Jumper

A ação investiga supostos desvios de recursos públicos, nos quais dois termos de colaboração firmados pela Prefeitura de Cruzeiro do Sul com a Fundação Cultural e de Comunicação Valença (FCCV), envolveu o repasse de aproximadamente R$ 25 milhões. Três pessoas foram presas, uma em Cruzeiro do Sul e outras duas na Bahia.

Em nota, o prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, que era vice-prefeito na gestão de Ilderlei Cordeiro, afirmou que as operações tratam-se de investigação sobre supostas ilegalidades feitas na gestão passada, e que existe também investigação sobre contratos referentes a enchente no ano de 2017.

Ele afirmou ainda que, com relação à sua gestão, iniciada este ano, há ainda investigação contratos feitos para aquisição de serviços durante a cheia. (Veja nota completa mais abaixo). O G1 também entrou em contato com a FCCV e aguarda resposta.

De acordo com a investigação, os desvios ocorriam por meio de notas fiscais fraudulentas emitidas por empresas indicadas por agentes políticos e integrantes do esquema criminoso, e figuravam como prestadoras de serviços, sem que houvesse uma contraprestação legítima. Nos últimos anos, em outros estados, a FCCV recebeu cerca de R$ 90 milhões.

“As fraudes se iniciavam pela falsificação de documentos que por sua vez ensejava na fraude dos procedimentos de contratações, possibilitando assim que o grupo criminoso adentrasse na máquina pública e permitisse o desvio de recursos públicos, em detrimento do grupo criminoso e dos agentes públicos envolvidos”, disse o delegado da PF, Thiago Souza.

Investigação

Ao todo, foram 12 meses de investigações, da PF. Até que fosse deflagrada a operação que tem como objetivo desarticular supostas organizações criminosas que praticavam crimes de peculato, corrupção passiva e ativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, dentre outros. Além de coletar provas que possam comprovar ou mesmo alterar as hipóteses criminais apontadas nas investigações.

Segundo a Polícia Federal, os mandados foram expedidos pela Justiça Federal, em Cruzeiro do Sul, sendo 29 de busca e apreensão, quatro de prisão, oito de sequestro de bens móveis e um mandado de afastamento cautelar do cargo público. Além disso, foram bloqueados os ativos financeiros dos principais envolvidos no valor de aproximadamente R$ 6 milhões.

Ao todo, nove veículos foram apreendidos e levados para a delegacia e um servidor público do município de Cruzeiro do Sul afastado das funções. As prisões são duas na Bahia e uma em Cruzeiro de Sul e uma em São Paulo.

A operação Jumper foi nomeada desta forma devido a palavra, em inglês, que significa saltador, o que remete ao modus operandi da organização criminosa investigada, que “salta” de município para município, estado para estado, na tentativa de envolver agentes políticos e servidores à organização e, com isso, ampliar o montante de recursos públicos que poderá ser desviado, ocultado, dissimulado e movimentado em prol de seus membros.

Operação investiga desvio de recursos públicos — Foto: Arquivo/Polícia Federal

Nota da prefeitura de Cruzeiro do Sul

Sobre as operações desencadeadas nessa terça-feira, 25, pela Polícia Federal, gostaria de deixar bem claro que – pelo que foi divulgado – trata-se de uma ampla investigação sobre supostas ilegalidades feitas na gestão passada, referentes a um contrato firmado com a Fundação Cultural e de Comunicação Valença (FCCV). Existe também uma investigação sobre contratos referentes a enchente no ano de 2017.

Quanto a nossa gestão, iniciada em 2021, o que sabemos até agora é que existe, também, uma investigação sobre contratos feitos para aquisição de serviços durante a cheia desse ano. E sobre esse assunto, quero deixar claro que considero fundamental que exista tal investigação, já que estamos buscando trabalhar com honestidade e transparência. Os maiores interessados que se investigue, somos nós mesmos. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para ajudar a justiça a elucidar essa questão.

Diante dos fatos divulgados, tomaremos as medidas necessárias de forma imediata, não descansaremos até que tudo esteja plenamente esclarecido.

Nós acreditamos na política séria e feita com o intuito de cuidar da cidade e das pessoas. Na enchente desse ano fizemos um trabalho que muito me orgulha. Enfrentamos todos os desafios e tratamos das mais diversas situações vividas por milhares de pessoas que, naquele momento, precisavam de uma mão estendida. Agora, a busca pela transparência e pelo uso correto do dinheiro público é algo que não abrimos mão.

Espero que se investigue e que logo tenhamos uma conclusão rápida de todos os fatos. Ninguém é culpado de véspera e ninguém está acima da justiça.

Zequinha Lima

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Publicado por
G1 Acre