Uma pesquisa realizada pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), que coleta dados sobre a presença de infecção pelo novo coronavírus nos pacientes internados em UTIs adultas na rede pública, mostra o perfil dos pacientes e o tempo em que ficam internados na Unidade de Tratamento Intensivo.
Desde março de 2020, foram coletados dados de mais de 50 UTIs pelo Brasil — 70% delas de instituições públicas e 30% privadas.
A análise estudou 3.034 pacientes com Covid-19, além de 341 suspeitos. Esses pacientes têm uma mediana de 64 anos de idade e 60,5% deles são homens. Cerca de 33,6% têm diabetes, 56,4% são hipertensos, 5,9%, fumantes e 15,5% têm alguma doença cardiovascular.
Além disso, 56% deles precisaram de ventilação mecânica com tempo mediano de uso do dispositivo de 11 dias. No geral, a duração média da internação hospitalar foi de 22 dias, com permanência média na UTI de 11,6 dias.
A pesquisa também engloba dados de mortalidade: 36,3% desses pacientes morreram em UTIs e 46,2%, em hospitais.
Sobre a percepção dos profissionais da saúde, o médico responsável pela pesquisa, Thiago Lisboa, explica que quando comparado ao período inicial da pandemia, ou a primeira onda, com os dados de agora, não se vê uma diferença na média de idade no primeiro e no segundo período, mas o que chama atenção é uma maior gravidade dos pacientes com uma faixa etária entre 40 e 60 anos.
“Isso de alguma maneira se traduz no pior desfecho desses pacientes. Então eles têm, aparentemente, uma mortalidade maior do que o período da primeira onda. Além disso, a gente tem alguns desfechos piores, como por exemplo, um aumento no tempo de hospitalização desses pacientes, então eles permanecem mais tempo na UTI, mais tempos hospitalizados, agora durante a segunda onda do que na primeira”, disse.
A CNN também ouviu o médico intensivista Joel Passos, presidente da Associação de Médicos Intensivistas do Rio de Janeiro, que diz que desde o início percentual de idosos era bem maior. Na percepção do médico, o número de pacientes com menos de 35 anos aumentou pelo menos 30% desde dezembro de 2020 e que esses pacientes tem chegado cada vez mais graves.
“O jovem resistia melhor ao processo, mas com o recuo da primeira onda, o perfil mudou. Desde o Natal, a gente vêm observando uma mudança gradual na idade. Pacientes mais jovens chegam com uma gravidade importante porque retardam a ida ao hospital por acharem que a situação não pode se agravar”, explicou Passos.
O médico também explicou que a quantidade de pacientes mais jovens contaminados é um problema na disseminação do vírus mesmo com a vacinação.
“‘É o grupo que mais se expõe às aglomerações e serão os últimos a serem vacina dos. Podemos projetar um aumento significante no número de casos nessa faixa etária.”, afirmou.