Resley Saab
Já faz algum tempo que quero homenagear grandes homens da história deste Estado. E começo hoje com o meu pai, Rubens Saab, pioneiríssimo da comunicação no Acre, numa época em que a população local tinha como único meio de troca de informações, a radiotelegrafia.
Se ainda hoje, nas mais recônditas regiões deste país, as figuras do padre, do juiz e do prefeito são tidas como um referencial para a população, o radiotelegrafista, na década de 70, então era uma espécie de titular de um 4º poder. Ele era o único canal de comunicação entre cidades, num mundo ainda sem televisão nem rádio e com um sistema de energia elétrica precaríssimo.
A sopa de letras, transformada em 1837 pelo americano Samuel Morse em pontos e linhas, e jogadas na atmosfera até um receptor – a distâncias intercontinentais, se preciso fosse – era o único meio de promover e obter notícias, por exemplo, de socorro médico, de anunciar calamidades públicas, ou de prestar agilidade em serviços como vacinação e transporte aéreo.
Assim como a água é vital, informação é até hoje tão essencial quanto. Agora, imagine numa Brasiléia de 1969, para onde Saab foi destacado, recém-formado radiotelegrafista de 1ª Classe pela Escola Edson, no Rio.
Neste sentido, o classifico, sem medo de errar, que ele foi à época, a personificação dos mass media atuais, como chamamos os sistemas organizados de produção, difusão e recepção da informação.
Saab era o jornalista da época, o porta-voz da comunicação e única via pela qual se faziam chegar, rapidamente, as notícias aos grandes centros (e vice-versa). Por isso, o meu orgulho por esses profissionais, e em especial, pelo meu pai.
Aliás, no século 18, o jornalismo já vivia os efeitos da revolução tecnológica, quando em 1848, jornais como o The Times, que já usava a máquina a vapor para impressão de suas edições, passaram também a incorporar o telégrafo como ferramenta de trabalho.
Aqui no Acre, Rubens se recorda, por exemplo, que intermediou a acomodação do time do Rio Branco em La Paz, para onde iriam, num amistoso entre nações. “Os jogadores não sabiam como seriam recebidos. A minha transmissão radiotelegráfica a uma estatal petroleira boliviana da época permitiu ao governo boliviano se inteirar da chegada da equipe à capital La Paz, desde um voo de Cobija”.
Foi por meio da estação de Saab, que o Palácio Rio Branco tomou conhecimento da 1ª grande inundação na fronteira, muitos anos atrás. Pedidos de remédios e o apoio do Exército recheavam também o boletim radiotelegráfico.
“Hoje, vejo meus e-mails, compartilho as vitórias do meu Botafogo online e chego à conclusão: “Haverá um dia em que o homem será teletransportado””, profetiza Saab. “A diferença é que ao invés de palavras, ele se materializará na outra ponta da linha”. Simples assim.
Mas, pela velocidade com que os sistemas evoluem, eu não acho difícil que isso aconteça, seu Saab.
Artigo publicado no último domingo, 28, no Jornal A Gazeta