A coleção de quadros e miniaturas de motos exposta em todos dos cômodos da casa guarda a memória e aumenta o sofrimento da família de Francisco Mardens, de 40 anos, que morreu em um acidente de trânsito na Argentina, na terça-feira (1).
O corpo do servidor público ainda não chegou à cidade de Cruzeiro do Sul, interior do Acre, onde ele morava, e os familiares aguardam com muita comoção para providenciar o enterro.
O corpo de Renato Lima Brosoni, de 33 anos, vítima do mesmo acidente, também ainda é aguardado pela família na capital do estado.
Mardens fazia a viagem dos sonhos. Ele e um grupo de amigos pretendia cruzar quase todos os países da América pilotando motocicletas de altas cilindradas e, ao chegar na Argentina, dois deles foram atropelados por uma caminhonete.
Para a família, o condutor do carro foi imprudente, por isso, a justiça argentina deve ser acionada para responsabilizar o motorista que ainda tirou a vida de um passageiro da caminhonete.
“O que sabemos foi que foi imprudência do motorista da caminhonete que invadiu a pista que eles estavam trafegando. Eu acredito que isso é fato, porque o Mardens era muito atencioso em tudo que fazia e eles não tiveram tempo de se defender. Inclusive, um advogado de lá que está ajudando a família mandou vídeo com provas que tinha bebida dentro do carro. Esse advogado que se prontificou em apoiar a família está cuidando do caso e vai tomar providências”, contou Maria Sirlene Souza, mulher de Mardens.
O sofrimento das famílias das vítimas se tornou ainda maior pela demora para o translado dos corpos. Sirlene conta que os últimos dias dela e dos dois filhos foram de angústia.
Primeiro foi necessário o apoio de amigos para conseguir arrecadar fundos para os elevados custos com o transporte. Segundo, a burocracia fez com que a chegada dos corpos fosse adiada por várias vezes.
Por último, o sepultamento que estava marcado para esta quinta-feira teve que ser adiado mais uma vez por conta do estado que os corpos se encontravam e a necessidade de passar por um novo processo de embalsamento.
“Isso é algo totalmente desumano para a família. A gente entende que existe a burocracia mesmo, mas, quando a gente achava que estava tudo certo, quando chegou no Brasil, houve um problema com a embaixada brasileira. Sem falar também na empresa aérea, que uma hora tinha voo, outra hora não tinha. E a gente ficou aqui nessa angústia sem saber o que fazer. Agora há pouco recebemos uma informação de que foi feito um novo procedimento, sobre o odor dos corpos, pois deve ter exalado algum mau cheiro e foi preciso fazer novo embalsamento para trazer”, contou.
De acordo com a família, a previsão é que os corpos cheguem ao Acre na noite desta quinta-feira (10). “Estamos crentes que isso aconteça, pois já não suportamos mais. Isso aumenta nosso sofrimento”, lamenta a mulher.
Enquanto isso, Sirlene se emociona ao falar dos sonhos do marido que há 19 anos decidiu conhecer o mundo em cima de uma moto. Ele já tinha participado de 4 excussões com amigos em países vizinhos e partiu para a última viagem, depois que montou mais um quadro e deixou na parede da casa como uma lembrança que será preservado pela família que guarda ainda centenas de peças de vários modelos de motos que eram colecionados pelo servidor público.