Um estudo divulgado durante a COP30, em Belém, revela que cerca de 40% da cocaína consumida mundialmente circula pela Amazônia. O relatório, intitulado “Amazônia 2025: Conectividade da Amazônia para um Planeta Vivo”, foi elaborado pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA) e expõe a forte atuação de redes criminosas que operam de maneira articulada no narcotráfico, garimpo ilegal, grilagem de terras e extração clandestina de madeira.
Segundo o documento, essas organizações aproveitam a imensidão da floresta, a estrutura de rios e rotas pouco monitoradas para transportar drogas e manter outras economias ilícitas, contribuindo diretamente para a degradação ambiental. O estudo classifica essas práticas como uma das forças mais desestabilizadoras da região, agindo por meio de redes transnacionais que ignoram fronteiras.
As principais atividades criminosas incluem apropriação ilegal de terras, tráfico de drogas, exploração clandestina de madeira, tráfico de animais silvestres e mineração de ouro e minerais raros. O relatório aponta que essas práticas envolvem grupos criminosos, setores das elites políticas e econômicas e até partes de instituições públicas, alimentando um ciclo de corrupção, violência e destruição ambiental. Os impactos recaem especialmente sobre povos indígenas e comunidades tradicionais.
O narcotráfico tem avançado sobre áreas antes preservadas, abrindo novas rotas fluviais e promovendo desmatamento. Apenas em terras indígenas e unidades de conservação, há mais de 4 mil pontos de garimpo ilegal, resultando em 2.600 km² de áreas degradadas na Amazônia brasileira.
O estudo também destaca o avanço do garimpo ilegal no Peru — responsável por devastar milhares de hectares — e na Venezuela, inclusive em áreas Yanomami. Para os especialistas, ações isoladas de repressão não são suficientes, já que o problema atravessa fronteiras e faz parte de uma engrenagem regional que sustenta o crime organizado.