Após ter perfil bloqueado, prefeito de Rio Branco volta a defender tratamento precoce para Covid-19

Bocalom participou de uma sessão on-line na Câmara de Vereadores e afirmou que a rede municipal de saúde iria continuar distribuindo cloroquina e ivermectina, medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19

Mesmo após recomendação contrária de Associação Médica, Prefeito de Rio Branco defende tratamento precoce — Foto: Reprodução Rede Amazônica/Acre

Por Iryá Rodrigues

Mesmo com a orientação da Associação Médica Brasileira de que o uso de remédios sem eficácia contra Covid-19 deve ser banido, o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, do Progressistas, continua defendendo tratamento precoce para pacientes.

Bocalom chegou a ter a página no Facebook suspensa por 48 horas após postagens sobre o tratamento precoce. Após retornar para a rede social, ele voltou a defender o tema.

“Ficamos suspensos por 48 horas no Facebook por postarmos mensagens sobre o tratamento precoce. Muitas prefeituras pelo Brasil estão iniciando o protocolo de tratamento precoce contra a Covid-19. O objetivo é diminuir a letalidade e a complexidade dos casos e evitar internações. Quando não se tem comprovação científica e nenhum medicamento indicado cientificamente, as evidências médicas precisam ser respeitadas. Não se discute com as evidências. O tempo dirá quem estava certo. Enquanto a vacina não chega, vamos cuidar da forma como cada um imagina. Vamos vencer a Covid-19”, disse o prefeito na rede social.

A reportagem, o prefeito disse que como pessoa física acredita no tratamento precoce, mas como gestor público, precisa seguir as determinações do Ministério Público. E que, portanto, não adotou distribuição do chamado kit Covid nas unidades de saúde ou protocolo com uso de medicações sem comprovação científica.

“Para meu uso, eu continuo defendendo. Mas, o prefeito Tião Bocalom tem que se sujeitar à legislação. E o Ministério Público já disse que não posso comprar esses medicamentos, por exemplo ivermectina e azitromicina, com a justificativa de que é para a Covid. Posso comprar para as outras doenças como está na bula, então estou atendendo o pedido do MP. Por isso também que não implantei o protocolo de atendimento precoce. Estamos deixando relação médico-paciente, eles decidem. Mas, eu continuo achando que as evidências são muitas”, disse Bocalom.

Bocalom chegou a ter página no Facebook suspensa por 48 horas após postagens sobre tratamento precoce — Foto: Reprodução/Facebook

Compra de medicações

No último dia 9, o prefeito participou de uma sessão on-line na Câmara de Vereadores e afirmou que a rede municipal de saúde iria continuar distribuindo cloroquina e ivermectina, medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19.

Bocalom disse que toma ivermectina desde que começou a pandemia e que teve um quadro leve da Covid, e relembrou que durante a campanha para a prefeitura de Rio Branco, no ano passado, ele mantinha contato direto com as pessoas nas ruas.

O promotor de Defesa da Saúde do Ministério Público do Acre, Gláucio Oshiro, em entrevista à Rede Amazônica, criticou o discurso do prefeito e disse que tem como base experiências pessoais.

Durante sessão no dia 23, a vereadora Michelle Melo, do PDT, chegou a divulgar publicação do Diário Oficial mostrando a compra por parte da Prefeitura de mais de R$ 700 mil em medicações como azitromicina e ivermectina.

Neste sábado, o prefeito confirmou a compra, mas afirmou que a Prefeitura em nenhum momento fez a distribuição desses medicamentos no chamado kit Covid. E que elas são compradas para estarem à disposição nos postos de saúde do município para o caso de prescrição por parte dos médicos.

Entidades médicas

Em um vídeo publicado nessa sexta-feira (26), o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, e o ministro da saúde, Marcelo Queiroga defenderam a autonomia do médico brasileiro no diagnóstico e na prescrição de tratamentos.

Esse mesmo entendimento já tinha sido manifestado pelo Conselho Regional de Medicina do Acre (CRM-AC) após as declarações do prefeito de Rio Branco no início deste mês. Em nota, a autarquia afirmou que o tratamento ao paciente infectado pela Covid-19 é de autonomia do médico, que deve sempre usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente, sempre com consentimento do paciente.

“Cabe ao médico assistente a decisão acerca do tratamento mais adequado para cada paciente, desde que com a concordância deste, obtida após o devido esclarecimento sobre o nível de evidência da eficácia”, pontuou o CRM.

Já a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou um boletim, no último dia 23, no qual condena, entre outros pontos, o uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19. O posicionamento é oposto a um anterior, de julho do ano passado, quando a entidade defendeu a “autonomia do médico” ao receitar os medicamentos.

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Publicado por
G1 Acre