Apagões são forjados, diz executivo da Eletrobras-Rondônia

‘Legitimar, garantir e demonstrar a transparência, a integridade, a equanimidade, a reprodutibilidade e a excelência da Operação do Sistema Interligado Nacional’. A frase, escrita na seção “Procedimentos de Rede”, do portal do Operador Nacional do Sistema Elétrico Nacional, o ONS, parece não refletir em nada, na prática, a filosofia de trabalho do órgão diante do aumento descomunal dos cortes no fornecimento de energia elétrica para o Acre e Rondônia.

Vista aérea da termelétrica da Eletrobras-Acre, em Rio Branco: usina não suporta demanda, quando ocorrem os blecautes

E vamos mostrar por que. A começar que as desculpas esfarrapadas de que “sempre há uma ‘desinterligação’ entre as subestações de Pimenta Bueno e Ji-Paraná, em Rondônia”, como a Eletrobras-Acre costuma dizer a cada novo blecaute, não coaduna mais com a situação de desrespeito contra os seus consumidores.

Uma declaração do secretário-chefe da Casa Civil do Governo de Rondônia, Emerson Castro, citando conversa que teve com Luiz Marcelo Reis de Carvalho, diretor-presidente da Eletrobras-Rondônia, revela que os apagões na região são de propósito. O freezer que o comerciante perdeu com o pico de energia, os produtos que estragaram na geladeira, os frangos que morreram de calor nos criadouros de Brasileia e Epitaciolândia com os ventiladores desligados, isso tudo não foi mera obra do acaso, de uma pane no sistema, mas resultado de um ato deliberado dos técnicos do ONS.

Até alguns dias, só havia rumores de que isso pudesse acontecer. Agora é fato concreto, real, palpável: moradores de Rio Branco e das demais cidades acreanas interligadas pelo Linhão estão sendo passados para trás pelo ONS, porque este não tem capacidade de suprir a demanda enérgica no país.

Em sua página do Facebook, Emerson Castro menciona o diretor-presidente da Eletrobras-Rondônia, a quem trata por ‘Luis Marcelo’ como a fonte que lhe confidenciou o que vem ocorrendo.

A postagem começa: “Falei com o Luis Marcelo, presidente da Eletrobras, assim que começou o apagão (sexto em 40 dias), reclamei”.

Luiz Marcelo Reis de Carvalho, da Eletrobras-Rondônia: confissões escabrosas

E continua: “Ele me explicou o seguinte: A nossa subestação não tem capacidade pra converter a totalidade de energia gerada por Santo Antônio e Jirau”.

“O que acontece quando aumenta muito a demanda no centro sul? Cortam aqui pra que não haja desabastecimento lá, pois o impacto lá é muito superior em número de habitantes que na nossa região”, descreve Castro no post em sua página pessoal.

Mas o que é mais grave é que, segundo o chefe da Casa Civil do governo rondoniense, com base nas informações do diretor-presidente da Eletrobras-Rondônia, “o ONS (operador nacional do sistema) age sem avisar. Canaliza a energia de acordo com o monitoramento que fazem em tempo real”.

É aí que reside a imprudência de quem gerencia o sistema energético. O caso é de calamidade e deveria pautar os debates dos parlamentares acreanos em Brasília, assim como já o faz o Ministério Público do Estado do Acre, muito embora essa situação pareça ser uma do tipo a ser observada pelo Ministério Público Federal.

Para Emerson Cordeiro, “a solução paliativa a curto prazo é política: convencer o ministério [das Minas e Energia] a reativar a Termonorte”. Ele se refere a uma usina termelétrica vendida a capital estrangeiro.

Emerson Casto relembra que o fim da operação das termelétricas “foi determinado pelo governo federal por medidas de contenção de despesa, pois tem operação cara”. Mas ao que tudo parece, essa carestia está sendo repassada aos consumidore

Castro, do governo de Rondônia

s, a ponta final da linha cuja inoperância já deu as caras.

Problema se arrasta desde a interligação, em 2009
O Operador Nacional do Sistema afirma que as ocorrências de apagões são em função de ajustes no sistema que fornece energia, tanto para Rondônia e Acre, como para o sudeste.

E que “técnicos de alto conhecimento estão trabalhando para resolver o problema que tem nos afetados”.

Segundo chefe da Casa Civil do governo rondoniense, a Eletrobrás já esteve em reunião com a ONS, mas nada foi resolvido.

“Agora estamos tentando pela Casa Civil uma agenda do governador [Confúcio Moura (PMDB)] com o ministro [das Minas e Energia, Eduardo Braga]”.

Em outubro de 2010, quando o então ministro Márcio Zimmermann, de Minas e Energia, anunciou a reativação da usina termelétrica de Rio Branco, pertencente à Eletronorte, a capacidade de sua produção era de entre 30 e 50 megawatts (MW), o que já era considerado à época, bem menos que a demanda total do Acre, até então, na casa dos 150 MW.

A ideia, porém, seria garantir que, caso houvesse problemas na linha de transmissão, a termelétrica deveria responder pelo abastecimento de hospitais e rede de saneamento básico, por exemplo.

Em 2010, as desculpas que se davam a cada interrupção de energia era a de que, apesar de ter sido interligado em outubro de 2009 ao sistema nacional, as obras de duplicação desse circuito e da linha que liga o Acre e Rondônia ao restante do país não tinham sido concluídas, por atraso no processo de licenciamento ambiental estadual, em Rondônia.

E agora? Passados cinco anos, a situação do fornecimento de energia cada vez mais se deteriora.

*A definição do Sistema Interligado Nacional
Com tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial, o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários.

O Sistema Interligado Nacional é formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 1,7% da energia requerida pelo país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente na região amazônica.

*Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico Nacional

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Publicado por
Alexandre Lima