Acre

Advogada apontada como ‘pombo-correio’ de facção ocupava cargo no governo do AC e foi afastada

Governo informou que Glenda Fernanda Santos Menezes foi afastada sem ônus desde as denúncias, até conclusão das investigações. Ela trabalhava no administrativo da Agência de Negócios do Acre desde abril deste ano.

Advogada apontada como ‘pombo-correio’ de chefes de facção é afastada de cargo na Anac, diz governo — Foto: Arquivo pessoal

A advogada Glenda Fernanda Santos Menezes, que foi presa no último dia 30 de novembro suspeita de agir como “pombo-correio” para facção criminosa, foi afastada do cargo na Agência de Negócios do Acre (Anac). A informação foi confirmada ao g1, nesta quarta-feira (6), pelo governo do estado.

Conforme o governo, a advogada era contratada em regime CLR desde o dia 1 de abril deste ano e atuava no setor administrativo do órgão. O afastamento de Glenda, segundo a nota, é sem ônus.

“Glenda Menezes trabalha no setor administrativo da Agência de Negócios do Acre (Anac S.A.) desde 1 de abril de 2023, contratada no regime CLT e, desde as denúncias envolvendo seu nome, foi afastada de suas funções, sem ônus, até que sejam concluídas as investigações e adotadas todas medidas legais cabíveis”, diz a nota.

A defesa da advogada, Naíza Queiroz, disse que não foi informada do afastamento dela na Anac e que ela tem, inclusive, o apoio da diretora presidente da Anac.

“Entende ser medida de praxes, tendo em vista tratar-se de afastamento, e não exoneração, sobretudo se tem em vista que a própria diretora-presidente da Anac afirmou ser a mesma uma excelente profissional. No mesmo sentido, afirma a defesa que a advogada Glenda Fernanda de Menezes tem total apoio de sua família, amigos e colegas de classe, de forma a comprovar que situações isoladas não afetaram sua carreira e seu profissionalismo construído ao longo destes anos, como ficará provado no decorrer do processo.”

Além de Glenda, outros três advogados foram alvos da operação da Polícia Civil suspeitos de intermediar a transmissão de mensagens dos chefes da organização criminosa para membros das ruas. Dos quatro advogados presos, três estavam no Acre e um no Espírito Santo (ES).

Segundo as investigações, as ações tinham como finalidade manter a condução e organização dos trabalhos criminosos, tendo em vista que os chefes estão cumprindo pena em presídios.

Advogados suspeitos de agirem como “pombos-correio” foram presos — Foto: Reprodução

Quem são os advogados?

 

  • Juliana Sousa Pereira;
  • João Figueiredo Guimarães;
  • Eronildo Macambira Braga Junior;
  • Glenda Fernanda Santos Menezes.

 

Em pesquisa no Cadastro Nacional dos Advogados (CNA), todos estão em situação regular. O advogado João Figueiredo Guimarães, de 74 anos, foi condenado a mais de 7 anos por tráfico de drogas. Ele foi flagrado pela Polícia Federal tentando entrar no Complexo Penitenciário de Rio Branco com quase meio quilo de entorpecente e cartas em outubro de 2021.

Em audiência de custódia, as prisões foram mantidas. No caso de João Figueiredo, ele segue em prisão domiciliar.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos advogados.

Em material obtido pelo g1, é possível ver troca de mensagens entre os advogados e chefes de uma facção criminosa que atua no estado. Os informes eram repassados aos advogados para que eles pudessem passar para outros membros. Um dos advogados até revela negociação de assumir um posto dentro da organização criminosa.

Prints mostram troca de mensagens entre advogado e membro de facção criminosa — Foto: Reprodução

Operação

 

A operação foi chamada de “Cupiditas” , que no latim significa ganância – em alusão aos investigados que a todo tempo se utilizavam de garantias e direitos para ascenderem na organização criminosa. Na ação, foram cumpridos mandados judiciais no Acre e Espírito Santo.

“Também foi apurado que um desses advogados teve contato direto, a mando dos principais líderes da organização no Acre, com importante liderança dessa organização no Rio de Janeiro, com a finalidade de pleitear demandas em nome daqueles.”

O delegado da Polícia Federal Felipe Fachinelli, em coletiva, disse que muitos detalhes do esquema estão me sigilo para não atrapalhar as investigações. Os nomes dos advogados não foram divulgados.

“Eles agiam como pombo-correio, uma conduta que é de extrema importância pros líderes da organização criminosa, porque eles estão encarcerados. E, a partir do momento que eles estão encarcerados, eles estão sem contato nenhum com o mundo afora. A partir do momento que algumas pessoas, utilizando sua prerrogativa constitucional, dos seus privilégios, começam a fazer esse leva e traz, de forma que esses pombos-correio começam a dar voz às lideranças que estão presas, e começam a dar ordem das lideranças, as diretrizes das lideranças”, disse.

Segundo a PF, foram cumpridos 5 mandados de busca e apreensão, sendo 5 no Acre e dois no Espírito Santo (ES) e mais cinco prisões, sendo três no Acre e duas em ES. A investigação ocorre desde janeiro.

Três advogados suspeitos de serem ‘pombos- correio’ de chefes de facção são presos no Acre — Foto: Asscom/PF-AC

“Nós garantimos todas as prerrogativas e direitos dos advogados. Os advogados, pela condição de advogado, têm alguns direitos e algumas prerrogativas. Todos os mandatos de busca, apreensão e prisão cumprido tinham representante da OAB para atestar a idoneidade e legitimidade desses mandatos. Tal como todos os trânsitos processuais e também na investigação a partir de agora será com o acompanhamento do OAB”, disse o delegado.

O que diz a OAB-AC

 

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Acre (OAB/AC) mandou nota sobre o caso, confirmando que tem acompanhado todo o processo.

“Inicialmente, esta Seccional foi acionada para a designação de sua representação de defesa de prerrogativas do advogado para acompanhar o cumprimento de mandados na manhã de hoje, onde foi informado que seriam quatro alvos, todos advogados inscritos nesta seccional, sendo a equipe da Comissão de Assistência e Defesa de Prerrogativas destacada para o acompanhamento da operação. A operação teve como alvos quatro endereços, sendo que um dos advogados não se encontrava na cidade de Rio Branco e foram cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva. Nesse contexto a OAB Acre acompanha a situação dos profissionais envolvidos, garantindo o respeito de suas prerrogativas funcionais e permanecerá acompanhando o caso a fim de que tais direitos sejam devidamente respeitados. Ademais, ante os fatos apresentados, esta Seccional solicitará informações do Poder Judiciário acerca das acusações imputadas, a fim de que sejam adotadas eventuais medidas disciplinares.”, dia nota.

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), composta pela Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Penal, e contou com 40 policiais que cumpriram os mandados judiciais no dois estados.

Os investigados, a princípio, devem responder pelos crimes de integrar organização criminosa, cuja pena é de reclusão de 3 a 8 anos, além de eventuais delitos relacionados.

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Publicado por
G1 Acre