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Acreana superdotada de 14 anos é aprovada em oito universidades públicas: ‘Desempenho dela’, diz mãe

Ana Joyce se inscreveu em vários cursos para testar o próprio desempenho e foi aprovada em 14 deles, incluindo medicina em instituição particular. Adolescente deve tentar vaga na USP pela 1ª vez no próximo ano

Ana Joyce foi aprovada em 14 cursos superiores brasileiros. Foto: Arquivo pessoal

Por Hellen Monteiro

A adolescente acreana Ana Joyce do Carmo Gomes, de 14 anos, conseguiu um novo feito para sua jornada de estudante rumo ao ensino superior. É que a jovem superdotada foi aprovada em 14 cursos superiores espalhados em 12 instituições, sendo oito públicas e quatro privadas pelo Brasil.

Duas das aprovações foram na Universidade Federal do Acre (Ufac) e outra em medicina em uma universidade privada do estado.

Apesar de ser aceita em vários lugares, ela quer cursar medicina na Universidade de São Paulo (USP) e havia feito as inscrições apenas para testar a nota.

Agora ela foca em um cursinho específico para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2026, no período noturno, e conseguir pleitear uma vaga para a universidade e curso que sonha. A jovem, que está no 1º ano do ensino médio, deve continuar fazendo as aulas regulares.

“Ela sempre estudou com adultos e ela se dá super bem, com todas as faixas etárias. Ela não tem esse problema com isso, a questão foi que ela quer fazer medicina na USP e eu disse para ela que só depende do desempenho dela. Então por isso ela vai continuar na escola“, contou a mãe Vânia do Carmo Nery.

Apesar de ter um dos vestibulares mais difíceis do Brasil, a família acredita que Ana consegue alcançar o objetivo.

“Eu digo para ela: ‘se tu tiver um bom resultado, conseguir passar, a gente dá o jeito’. Se ela quisesse cursar qualquer um dos outros cursos que ela passou, eu teria entrado na Justiça para ela poder começar a cursar, mas como não é de interesse dela, ela decidiu estudar um pouco mais e tentar onde quer realmente fazer”, afirmou a mãe.

Desempenho

Em junho do ano passado, a reportagem conversou com a Ana Joyce, que na época havia sido aprovada em dois cursos de ensino superior, além de um concurso público no Acre.

À época, ela já era acompanhada pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S). Ela desempenha atividades no local há cinco anos.

Ana Joyce estuda ainda no Centro de Estudos de Línguas (CEL-AC). A adolescente explicou que falta pouco tempo para terminar o curso de inglês e, por esse motivo, decidiu continuar com a atividade.

“Eu fico de manhã na escola, à tarde eu durmo um pouco e depois vou para as minhas aulas do CEL, faço badminton e à noite vou estudar. Apesar de ser cansativo, às vezes, eu durmo à tarde e também no final de semana, para descansar mais”, relatou ela.

A mãe da adolescente assegurou que a forma como Ana faz suas atividades são decididas por ela mesma, sob supervisão.

“Eu disse para ela que se estiver muito cansada, quiser sair mais cedo, eu a busco porque moro a 10 minutos do cursinho [pré-vestibular], mas ela vai todo dia e só sai quando termina. Ela é bem aplicada e está fazendo porque quer, porque gosta […] são escolhas dela, eu só falei pra ela ver se tiver muito cansada, parar”, declarou Vânia.
Os cursos e universidades que Ana Joyce foi aprovada foram:
  1. Universidade Federal do Amazonas (Ufam) – Música
  2. União Educacional do Norte (Uninorte) – Medicina
  3. Universidade Federal do Acre (Ufac) – Matemática
  4. Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) – Geografia
  5. Instituto de Ensino Superior do Foz do Iguaçu (Iesfi) – Enfermagem
  6. Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC) – Medicina Veterinária
  7. Universidade Federal do Acre (Ufac) – Engenharia Agronômica
  8. Universidade Paranaense (Unipar) – Odontologia
  9. Universidade Federal de Rondônia (Unir) – Letras/Língua Portuguesa
  10. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) – Licenciatura em Computação
  11. Instituto Federal da Paraíba (IFPB) – Licenciatura em Pedagogia
  12. Centro Universitário União das Américas Descomplica Uniamérica – Direito
  13. Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) – Ciências Biológicas
  14. Instituto Federal do Acre (Ifac) – Física

Adolescente acreana superdotada agora quer focar no piano, apesar de saber tocar muitos instrumentos. Foto: Arquivo pessoal

Atividades novas

Apesar de ter uma rotina apertada, Ana Joyce sempre busca novas atividades para conhecer. De acordo com Vânia, a filha tem um jeito muito ativo e adora conhecer coisas novas, o que também faz com que as modalidades mudem constantemente.

Do piano ao ukulele, do inglês ao japonês, a menina com altas habilidades gosta de aprender.

“É da personalidade dela, ela não consegue ficar parada, sempre tem que estar fazendo alguma coisa, se interessa por tudo que vê e o que ela pode fazer, faz […] tem algumas coisas que a gente consegue de graça também e ela vai fazendo o que ela gosta”, revelou a mãe.

Nem tudo é só estudo

Apesar de parecer que a vida de Ana Joyce se resume a estudar, as duas contaram que a adolescente tem seus hobbies. Em seu tempo livre, a adolescente gosta de assistir anime, jogos de tabuleiro e de cartas.

“Ela [também] gosta muito de comer, sempre foi ‘boa de boca’ [sic.]. Atualmente, o que ela mais está se interessando é por anime e mangás. Antes ela gostava de Dorama”, comentou.

Perguntada sobre o que mais gosta atualmente em sua rotina, Ana afirmou que é jogar badminton, um jogo de raquete, jogado em uma quadra por duas pessoas ou por equipes em duplas.

Superdotação

De acordo com o laudo elaborado pelo NAAHS, a adolescente apresenta características consistentes com altas habilidades/superdotação na área de música, liderança e leitura, além de apresentar potencialidades nas áreas de comunicação e acadêmica.

De acordo com os pais, as facilidades da menina foram observadas muito cedo, quando ela começou a andar antes do tempo. Também falou cedo, leu muito antes do que outras crianças e começou o interesse por instrumentos desde muito pequena.

Vânia diz que antes de levá-la para investigar a superdotação, não percebeu, pois ela era a primeira filha, então não conseguia ter um parâmetro para comparar.

“Quando ela era bebezinha, ela aprendia as coisas com muita facilidade, mas a gente achava que aquilo era coisa de criança mesmo, que toda criança tem facilidade em aprender. Aos 4 anos a gente já colocou ela para aprender instrumentos, mas foi a vontade dela mesmo, ela via e queria tocar. No começo, a colocávamos como ouvinte, e aí ela assimilava bem os conhecimentos e se saía melhor até do que os meninos que eram mais velhos”, contou.

Para a descoberta, os pais receberam o conselho de uma amiga da família, para que procurassem avaliá-la. Além do parecer do NAAH/S, os pais ainda buscaram um diagnóstico com uma neurologista, que apresentou o mesmo resultado.

A superdotação da jovem é, principalmente, voltada para a área musical. Com apenas 4 anos, a garota começou fazendo aula de teclado próximo de sua escola. Aos 5, começou a fazer aula de violino na Universidade Federal do Acre (Ufac). Aos 6, órgão e piano. Depois veio a flauta, o saxofone e, atualmente, ela toca 15 instrumentos.

“Inicialmente, foi [altas habilidades para] a música, mas depois identificaram outras habilidades na parte do conhecimento científico. É um laudo extenso, inclusive, o pessoal do NAAH/S nos chamou para apresentar. Ela foi diagnosticada com altas habilidades na área de música e de conhecimentos científico-acadêmicos”, complementou.

Os pais de Ana Joyce afirmam que tentam apoiá-la em todas as atividades que ela deseja fazer. Foto: Arquivo pessoal

NAAH/S

O Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) está vinculado à Divisão de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE-AC), oferecendo serviços educacionais especializados no que diz respeito à investigação e ao atendimento dos alunos com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD) e à formação continuada dos profissionais que atuam na educação básica, ofertando, também, cursos livres à comunidade.

Jeane Lira Jucá, chefe do NAAH/S-AC, esclareceu que o local tem como objetivo identificar e atender os alunos com tais características na educação básica.

“O objetivo do núcleo é identificar o aluno com AH/SD e atendê-lo de forma pedagógica, ou seja, o aluno adentra o Núcleo para um processo de investigação e, uma vez que são confirmadas as características consistentes de AH/SD, ele passa a receber atendimentos de enriquecimento curricular e/ou extracurricular até o final do ensino básico”, diz.

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G1 Acre