Você já contou sua mentira hoje? No dia Mentira pode

Veja a origem de uma da data mais celebrada em todo o mundo e casos famosos de mentiras que mexeram com as pessoas, inclusive no Acre

Por Tião Maia, especial para o Alto Acre

O Dia da Mentira, celebrado em todo mundo neste 1º de abril, remonta no calendário Gregoriano ao Dia dos Tolos ou ao Dia dos Bobos. O fato é que ninguém sabe ao certo como isso começou.

O fato é que histórias, “causos”, balelas, invencionices ou, simplesmente, mentiras, elas foram contadas durante toda a história da humanidade. Quando contadas em excesso, podem indicar transtornos psicológicos graves, além de trazer sérias consequências para quem conta. Mas, no Dia da Mentira, são aceitas e até celebradas.

O calendário Gregoriano substituiu o Calendário Juliano por determinação do Concílio de Trento (conselho ecumênico da Igreja Católica). O Calendário Gregoriano divide o ano em quatro estações distribuídas ao longo de 12 meses, ou 365 dias, de acordo com o movimento da Terra em relação ao Sol e estabelece o primeiro dia do ano em 1º de janeiro.

Com a instituição do novo calendário pelo papa Gregório IX, em 1582, historiadores contam que parte da população francesa se revoltou contra a medida e se recusou a adotar o 1º de janeiro como início do ano. Zombados pelo resto da população, os resistentes às mudanças eram convidados para festas e comemorações inexistentes no 1º de abril. Nascia assim a tradição de zombaria e de pregação de peças.

Há também relatos históricos que relacionam a data ao festival de Hilária – uma festa romana no período anterior ao nascimento de Cristo – que celebrava o equinócio de março em honra à deusa Cibele, a “Mãe dos Deuses”, uma divindade que reunia aspectos das deusas gregas Gaia, Reia e Deméter.

Imagem ilustrativa/internet -GQ Magazine.

No Brasil, a tradição foi introduzida em 1828, com o noticiário impresso mineiro “A Mentira”, que trazia em sua primeira edição a morte de Dom Pedro I na capa e foi publicado justamente em 1º de abril. No Acre, a mentira mais famosa e também publicada na imprensa deu-se em 1º de abril de 1987, quando o jornal “O Rio Branco”, por certo na época ao mais lido jornal local, estampou em manchete, com letras garrafais, notícia dando conta que o empresário e político Zamir Teixeira estaria trazendo a apresentadora Xuxa, para uma visita ao Acre. A manchete fez lotar o antigo aeroporto “Presidente Médici”, em Rio Branco, com pais, mães e responsáveis por crianças, muitas delas deficientes físicas, em cadeiras de rodas – todas querendo ver a apresentadora, então no auge do sucesso.

Nem Zamir ou a apresentadora sabiam que a tal manchete era apenas uma das muitas traquinagens do então editor do jornal, o falecido jornalista José Chalub Leite, o qual, antes de morrer, confessou arrependimento pela brincadeira, a qual reconheceu como de mau gosto.

Mas, não são apenas as pessoas que contam mentiras no 1º de abril. Empresas entenderam o potencial de marketing e a oportunidade de engajamento das “pegadinhas” para aumentar a visibilidade no mercado e passaram, desde o século passado, a participar da celebração.

Entre os mais conhecidos exemplos está a emissora pública britânica BBC, que tradicionalmente prega peças no público desde a década de 30. Em uma das memoráveis brincadeiras, a BBC afirmou que o governo do Reino Unido trocaria o mecanismo de ponteiros do Big Ben – o relógio mais famoso do mundo e símbolo nacional – por um mostrador digital. A mentira, veiculada em 1980, ainda prometeu que a primeira pessoa a ligar para a rádio ganharia os antigos ponteiros do grande relógio como lembrança.

A ação gerou milhares de ligações e cartas e acabou causando problemas à emissora, que teve que explicar a manobra durante a programação nas semanas seguintes. No Brasil, a revista “Veja” também “caiu” numa dessas pegadinhas: influenciada por informações nada verdadeiras – numa época sem redes sociais ou outros meios de checagem de informações -,a  publicação noticiou que chegara ao Brasil o boi-mate, um animal alimentado à base da planta do tomate e que, quando abatido, o bife já teria atomatado.

Nos Estados Unidos, em 1992, a National Public Radio (NPR), também uma emissora pública de comunicação, veiculou entrevista do comediante Rich Little em que ele se passava pelo ex-presidente Richard Nixon.

No quadro, chamado “Conversa da Nação”, o personagem afirmava categoricamente que se candidataria novamente à Presidência naquele ano. O problema é que Nixon, figura política controversa, havia renunciado durante processo de impeachment em 1974 pelo envolvimento no escândalo de Watergate, o que gerou revolta nos ouvintes.

A emissora ficou com todas as linhas telefônicas congestionadas até que, em determinado momento, foi anunciada a pegadinha do Dia dos Tolos.

A Amazon, a maior loja online do mundo, também celebra o Dia da Mentira com brincadeiras que, muitas vezes, confundem os usuários. Em 2015, a Amazon reverteu sua página principal para a versão de 1999 – época em que a internet ainda era rudimentar. Até descobrirem a brincadeira, os usuários deveriam passar pela experiência de “túnel do tempo” na navegação do site.

Apesar da permissão lúdica no dia 1º de abril, a mentira pode se tornar hábito e degradar relações sociais. Em tempos de ampla difusão de conteúdos na internet, uma mentira pode ser considerada até mesmo fake news – notícias falsas ou com dados manipulados deliberadamente para enganar ou enviesar as conclusões do leitor – e ser punida legalmente.

O uso exacerbado de mentiras pode indicar transtorno de personalidade e fragilidades psicológicas que necessitam ser trabalhadas.

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Publicado por
Da Redação