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Sete em cada dez brasileiros conhecem alguém que morreu de Covid-19
A pedido da CNN, cientistas fizeram levantamento e apontam que, estatisticamente, ainda é possível afirmar que quase 25% dos brasileiros perderam alguém próximo
cresce em todo o país, esses percentuais ganham mais corpo. “O número tende a ser cada vez mais verdadeiro. A chance de você conhecer alguém morto pela doença aumenta todo dia.”
Claro que isso varia também conforme a idade, a região, a classe social, a profissão da pessoa, diz o professor Takahashi. “Uma pessoa em São Paulo ou em Manaus vai ter mais vítimas conhecidas que alguém que trabalha isolado, no campo, em Goiás”, explica.
Cada um e todos nós
Enquanto a estimativa numérica varia de acordo com diferentes fatores, o que não muda é esse sentimento de que estamos cercados de dor e morte. A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora doutora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) decidiu, em junho do ano passado, fazer um mapa da Covid na cidade de São Paulo.
Com base no código postal de pessoas internadas e falecidas, ela identificou, por meio do LabCidade, um laboratório dedicado a estudar o espaço público e direito à cidade, onde a doença estava aparecendo e matando mais. “O problema é que o Ministério da Saúde considerou que o CEP das pessoas era informação pessoal e proibiu a divulgação do mapa”, conta ela.
O mapeamento continua sendo feito, embora não seja divulgado. “No começo, a gente achava que as periferias eram mais atingidas, com suas moradias e condições mais precárias para o isolamento”, diz. Com o recrudescimento da pandemia e a consolidação dos dados, Rolnik viu que o cenário mudou – e chegou a duas conclusões que não esperava: não existe lugar na capital paulistana, por menor ou mais isolado que seja, onde a Covid não tenha feito estragos. “A doença está por toda a cidade. Inteiramente.”
É por isso que, estatisticamente, 73,1% dos paulistanos conhecem alguém que morreu. Quando se restringe a familiares e amigos, o percentual é de 27,98%. (Os dados usados na reportagem sobre mortes em cidades são referentes a 27 de abril e reportados pelas secretarias municipais de saúde.)
A doença, contudo, não atinge a cidade homogeneamente. Há manchas onde ela é mais grave que em outros lugares. Essas manchas não estão divididas, como se chegou a pensar, entre áreas onde moram os mais pobres e os mais ricos. Mesmo dentro de um mesmo bairro, seja ele de classe A, C ou D, existem locais de maior e menor incidência. O que explica isso?
“A circulação de pessoas. Onde há mais trânsito de pessoas, há mais casos. E os locais de maior trânsito são estações de metrô, pontos, corredores e terminais de ônibus”, explica a urbanista. É por isso que, segundo os dados do LabCidade, o bairro mais atingido pela doença atualmente na capital é Santa Cecília – região de classe média alta, com várias estações de metrô e terminais de ônibus.
“Sem diminuir a exposição das pessoas no transporte público, com mais ônibus, mais vagões e menos lotação, o combate ao vírus não vai ter sucesso. Medidas ‘classemediacêntricas’, como o trabalho em casa, só são possíveis para 30% das ocupações. E não geram o impacto que precisamos”, diz Rolnik.
Manaus, o caso mais grave
Essa displicência com medidas de distanciamento social no transporte público – e em outros espaços em geral – também acontece em outras cidades. E assim o vírus vai se espalhando e fazendo vítimas.
Manaus, por exemplo: a capital amazonense, com 2,02 milhões de habitantes, é a cidade com a maior média de pessoas que pelas estatísticas conhecem mortos pelo coronavírus: 92,59%.
Ou seja, dificilmente alguém na cidade cuja gravidade serviu de motivação para a abertura da CPI da Pandemia não ouviu falar de alguém que tenha morrido. No círculo mais fechado, a situação é estarrecedora: quase metade (47,82%) dos manauaras perdeu um amigo ou familiar.
Olhando para outras capitais, Cuiabá vem em seguida: 91.94% conhecem vítimas fatais (e 46,73% dos moradores perderam amigos ou familiares).
Os altos percentuais, porém, não estão restritos a capitais. Com uma população de 465 mil habitantes, São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, chama atenção. Lá, assim como em Manaus, nove em cada dez pessoas conhecem, estatisticamente, pessoas mortas pelo vírus (91,18%). No círculo mais próximo, são 45,50%.
Era o que faltava?
Ou seja: a pandemia está generalizada e as mortes, também. “Minha prima perdeu o pai para Covid há poucos dias. Ele foi cremado e o velório foi uma cerimônia com apenas dois parentes, atrás de um vidro e, do outro, oito caixões. Oito pessoas sendo veladas juntas, coletivamente, por falta de espaço. Essa é uma cena que não vai se apagar da memória dela e nem da minha”, diz Flávia Ávila, especialista em economia comportamental e presidente da InBehavior Lab, empresa especializada em usar a ciência para criar estratégias, intervenções e políticas públicas.
Flávia mora em Brasília onde 78,47% das pessoas conhecem algum falecido pela pandemia (e 31,88% tem maior familiaridade com vítimas). O momento é triste, mas segundo ela, toda essa matemática da Covid, mostrando qual a proximidade das pessoas com a morte, pode ter um efeito positivo. Pelo ponto de vista da economia comportamental que, muito simplificadamente, estuda como as pessoas tomam suas decisões, o sofrimento que a Covid causa pode funcionar como um “atalho mental”, evocado pelo ser humano na hora de tomar decisões, como evitar aglomerações, usar máscara.
“Toda vez que você precisa decidir algo, seu cérebro puxa por lembranças que ajudem na tomada de decisão. Ter parentes ou conhecidos que morreram é uma memória forte e pode modificar comportamentos”, explica Flávia. “Até agora, as pessoas estavam pensando assim: ‘ah, depois de um ano, se não peguei até agora, não preciso mudar nada, está tudo bem’”, diz. Isso é o que a economia comportamental chama de viés da confirmação: a pessoa procura na realidade dela elementos que comprovem o que ela pensa.
A realidade é implacável e nada está tão bem quanto antes parecia para alguns. Se você tem a sorte de ainda não ter tido alguém próximo que a Covid levou, certamente sabe de alguém que se contaminou, que ficou internado. “Imagine que você tenha um grupo de 150 amigos, então a chance de que ninguém tenha tido Covid é 0,003%. Muito baixa”, calculou Régis Varão, professor doutor do Instituto de Matemática da Unicamp.
Anestesia ou empatia
Mas por que precisamos chegar a esse ponto extremo para vislumbrar alguma mudança? “É difícil saber. E também é dificílimo estimar o que esse trauma todo, esse luto vai provocar na sociedade”, afirma Flávia. O certo, de acordo com ela, é que haverá consequências sociais. Mesmo que muita gente ainda não tenha sentido esse sofrimento, a dor de quem teve essa proximidade com a perda é forte e não vai se diluir. Nem na sociedade, nem no indivíduo.
A reação a esse momento tão grave, obviamente, não é uníssona. Para Vera Paiva, professora titular no Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP, há pessoas e grupos que, profundamente sensibilizados pela dor do próximo, se mobilizam e agem para oferecer conforto e apoio. “Gosto de pensar que a maior parte dos brasileiros é pela vida, pela solidariedade. Foram essas pessoas, por exemplo, que pressionaram e conseguiram colocar o direito à vida na Constituição, só para citar um grande exemplo.”
Já uma outra parcela da sociedade está dessensibilizada, contaminada com o que ela chama de “cultura da morte”. “É a cultura que existe desde os tempos do escravagismo, da ditadura e que vem ganhando força em alguns setores nos últimos anos, com a banalização da morte provocada pela violência urbana ou, recentemente, pelo vírus”, diz a especialista.
São pessoas que, segundo ela, gostam de se colocar no lugar de Deus para decidir quem vive e quem morre: se quem morre são os velhos, os fracos, os pobres, os negros, tudo bem. Para esse grupo, banalizar a morte e menosprezar os direitos humanos é a regra. É um comportamento social bem mais grave e tóxico que o negacionismo, ela diz.
Negar o problema é a forma mais leve e irresponsável de lidar com a perda. Por um tempo, a negação é aceitável e normal. Mas quando se torna um modo de vida, é patológico e arriscado. Ainda mais numa pandemia. “Ao negar a realidade, a pessoa não sente a necessidade de se responsabilizar”, diz o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, mestre em psicologia clínica pela Pontificia Universidad Católica de Chile.
O luto como companhia
O que o Brasil e o mundo estão vivendo com a pandemia é uma situação inédita neste século e no anterior, na opinião dele, não comparável sequer ao período das grandes guerras. “Havia mortes, mas não havia a informação da morte tão disponível quanto temos hoje”, afirma Amaral. A percepção de que a morte está à espreita por si só é capaz de gerar luto. A falta de abraços, do convívio social, do contato próximo com outras pessoas. Tudo isso também colabora para um sentimento muito próximo ao do luto.
E cada um tem uma forma bem individual de lidar com isso. “A experiência do luto é tão pessoal quanto a impressão digital de cada um. Não existe uma cartilha para lidar com ele”, diz o psicólogo. O caminho mais saudável para quem vive a dor da perda de uma pessoa amada, de alguém mais distante, ou simplesmente a angústia desses dias é aceitar o que aconteceu e conversar sobre isso.
Externar os sentimentos e falar da dor, do medo, da raiva e da saudade. Escoar os sentimentos em forma de palavras, seja conversando com alguém de confiança presencialmente, se for possível, ou de forma virtual. E até mesmo escrevendo num papel, como num diário. “Transferir os sentimentos para a palavra, de certo modo, esvazia o peso da dor e não deixa que as emoções se acumulem.”
Olhar para o outro também ajuda. “Tenho muitos pacientes que perderam familiares e amigos para a Covid e que me relatam que ajudar os outros é algo que auxilia a aplacar essa dor”, conta o também psicólogo Wilson Montiel. Para ele, mesmo vivendo seu próprio pesadelo de dor e perda, romper essa bolha dolorosa para ajudar alguém – seja uma pessoa conhecida ou um desconhecido na rua passando fome – “gera outro sentimento, com grande potencial para aplacar o luto: a gratidão”.
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STJ decide que vendas na Zona Franca de Manaus são isentas de PIS e Cofins
Decisão unânime vale para pessoas físicas e jurídicas e terá efeito vinculante em todo o país, encerrando disputa tributária que durava anos
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, nesta quarta-feira (11), que todas as vendas de produtos e serviços realizadas dentro da Zona Franca de Manaus (ZFM) — tanto para pessoas físicas quanto jurídicas — estão isentas da cobrança das contribuições ao PIS e à Cofins.
A decisão foi tomada no julgamento do Tema 1.239, sob o rito dos recursos repetitivos, e terá efeito vinculante para todo o Judiciário, uniformizando a interpretação em nível nacional. Com isso, todas as instâncias da Justiça deverão seguir o entendimento estabelecido pelo STJ.
O caso colocava fim a uma antiga controvérsia sobre o alcance dos incentivos fiscais previstos no artigo 4º do Decreto-Lei 288/1967, que instituiu a ZFM com o objetivo de promover o desenvolvimento da Amazônia Ocidental e reduzir desigualdades regionais.
Até então, a Receita Federal restringia a isenção de PIS/Cofins apenas às operações entre empresas — principalmente voltadas à industrialização e exportação —, excluindo as vendas diretas ao consumidor final. Essa interpretação elevava os preços de produtos e serviços na região, contrariando os objetivos econômicos da Zona Franca.
A decisão foi comemorada por empresários e consumidores locais, que agora esperam maior competitividade nos preços e fortalecimento da economia regional.
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Funcionário da Polícia Científica é preso por furto de armas no Tocantins
Suspeito de 20 anos teria desviado ao menos 15 armas do Núcleo de Criminalística e vendido o material a um traficante; drogas e dinheiro também foram apreendidos
Um homem de 20 anos foi preso nesta quarta-feira (11) em Gurupi, no sul do Tocantins, suspeito de furtar armas de fogo do Núcleo de Criminalística da cidade — órgão vinculado à Polícia Científica da Secretaria de Segurança Pública (SSP-TO). Segundo a Polícia Civil, ele teria repassado os armamentos a um jovem de 22 anos, apontado como traficante de drogas e também detido durante a operação.
Durante a ação, os agentes apreenderam porções de maconha e cocaína, 171 comprimidos de ecstasy, insumos utilizados na produção de entorpecentes, além de R$ 7.660 em dinheiro, 20 euros, um veículo e aparelhos celulares.
As investigações apontam que o suspeito preso atuava no setor administrativo do Núcleo de Criminalística e, ao longo de 2025, teria furtado pelo menos 15 armas de fogo. Com base nas provas reunidas, a Justiça expediu mandados de prisão preventiva e de busca domiciliar, cumpridos na manhã desta quarta-feira.
Ao ser localizado, o suspeito confessou o crime e indicou o endereço do segundo envolvido, no Setor Canaã. No imóvel, os policiais encontraram drogas, dinheiro em espécie e outros materiais ligados ao tráfico.
A Polícia Civil não divulgou os nomes dos envolvidos, e, até o momento, a defesa dos investigados não foi localizada. As investigações seguem para apurar se há outros envolvidos no esquema.
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Mulher é presa com três fuzis de uso restrito em carro de aplicativo em Boa Vista
Armas de calibre 7.62 estavam desmontadas e com numeração raspada; passageira negou posse, mas motorista confirmou que mochilas pertenciam a ela
Uma mulher de 25 anos foi presa em flagrante nesta terça-feira (10) ao ser flagrada transportando três fuzis de uso restrito dentro de mochilas, enquanto viajava como passageira em um carro por aplicativo. A abordagem foi realizada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-174, em Boa Vista, capital de Roraima.
Segundo a PRF, os armamentos, de calibre 7.62, estavam desmontados e com a numeração raspada — indício de tentativa de dificultar a identificação. Esse tipo de fuzil é classificado como de uso exclusivo das Forças Armadas e possui alto poder destrutivo, com capacidade inclusive de atingir aeronaves.
O veículo seguia em direção ao município de Mucajaí, no Sul do estado, quando foi parado na Unidade Operacional da PRF. Durante a fiscalização, os agentes observaram duas mochilas no banco traseiro. A passageira negou que o material fosse seu, mas o motorista afirmou que as mochilas pertenciam à mulher.
Ao revistarem o conteúdo, os policiais encontraram os três fuzis desmontados. A suspeita foi conduzida à Central de Flagrantes da Polícia Civil, no 5º Distrito Policial. As armas foram apreendidas e estão sob custódia das autoridades, que investigam a origem e o destino do armamento.
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