Sesacre é suspeita de superfaturar compra de meio milhão de pães mais caros que no interior

Os preços do pãozinho comum deveria ser mais baratos na capital acreana, pois nesta estão as maiores distribuidoras da matéria prima e é o ponto de acesso mais fácil. Mas isso não se aplica se a compra for de mais de meio milhão de unidades e para atender a Secretaria de Saúde do Estado do Acre (Sesacre).

Em uma licitação para atender a demanda dos setores que compõem a Sesacre, esta aceitou como sendo justo o valor de R$ 0,68 por unidade. Mas o mesmo produto foi licitado por R$ 0,40 na distante Porto Walter e por meros R$ 0,28 centavos em Plácido de Castro.

Questionada, a assessoria de comunicação informou ser a diferença por conta da embalagem e por ter a empresa vencedora de entregar nos locais indicados pela secretaria (vide nota ao fina da matéria).

Pão pelo preço de carne

Conforme consta no contrato Nº 028/2018 (SRP Nº 715/2016–CPL 04), o Estado do Acre, por intermédio da Sesacre, contratou uma empresa para o fornecimento de gêneros alimentícios. Os produtos são para atender as necessidades das unidades de saúde do município de Rio Branco.

Com um valor total de R$ 1.025.624,52 dos quais cerca de um terço (36,82% ou 377.644,80) é representado pela compra 555.360 unidades de pão francês (50g) ou massa fina, em sacos de polietileno atóxico, resistente e transparente e com validade mínima de 24 horas após a entrega.

Ocorre que na mesma licitação (contrato Nº 028/2018), a Sesacre aceitou pagar quase o mesmo valor pelo quilo de bisteca bovina (item 81), cotada em R$ 17,11. Ou seja, os 27.768 quilos de pão equivalem a compra de 22.071 quilos de carne de qualidade.

Porto Walter: 70% menos

Mas a primeira distorção encontrada se deu em relação ao mesmo produto cotado na distante e isolada Porto Walter, onde uma licitação na mesma modalidade e para o mesmo tipo de produto, porém em quantidade menor, resultou em um preço bem abaixo do aceito pela Sesacre.

Conforme consta na Ata de Pregão SRP nº 01/2018, cujo objeto é a aquisição de gêneros alimentício, dentre outros produtos, o mesmo pão tipo frances ou massa fina (50g) e também acondicionado em sacos de polietileno atóxico, com validade mínima de 24 horas após entrega foi cotado a módicos R$ 0,40.

Porto Walter é uma cidade isolada, com acesso apenas por barcos ou avião, situação esta que encarece os produtos básicos, notadamente os perecíveis como os alimentos em geral. E ainda sim o preço do pãozinho ficou 70% abaixo do aceito pela Sesacre.

Plácido de Castro: o exemplo a ser seguido

Mas, como parâmetro a ser seguido está a Prefeitura Municipal de Placido de Castro, onde o mesmo pãozinho foi cotado em R$ 0,28 a unidade, conforme se verifica no extrato de ata relativo ao SRP N°006/2018. O processo está devidamente publicado no Diário Oficial do Estado do Acre (DOE) no dia oito de março.

A prefeitura daquela cidade conseguiu que o pão tipo francês e o pão massa fina ficassem bem abaixo do preço aceito pela Sesacre. Ou seja, o preço a ser pago pelo governo do Estado por meio da secretaria é 143% acima do acolhido pela prefeitura da pequena cidade na fronteira boliviana.

Se o preço praticado na fronteira com a Bolívia fosse o mesmo aceito pelo governo do Estado/Sesacre, haveria uma economia de R$ 222.144,00, ou o suficiente para comprar outros 62.200 pãezinhos.

Sesacre se justifica: embalagem e distribuição

Por conta das inconsistências entre os preços praticados pelo governo do Estado/Sesacre, foi encaminhado um pedido de explicações para a Assessoria de Comunicação tendo sido recebida a seguinte resposta:

“A licitação não tem nada de errado, pois foi aceito o preço praticado pelo mercado local. A licitação foi aberta à todos e participaram os que quiseram, sendo vencedor aquele que apresentou o menor preço no certame”.

“É preciso destacar que com a embalagem específica e a entrega ocorrendo onde a Sesacre determinar, encarece o produto por conta dos custos extras. No valor em questão está embutida a entrega em 13 unidades de saúde”.

Comentários

Compartilhar
Publicado por
folha do acre