Centenas de comunidades já ficaram isoladas no estado — Foto: Bruno Kelly/Reuters
A seca histórica que afeta o Amazonas em 2024 já afeta 767.186 pessoas no estado, segundo o boletim mais recente da Defesa Civil, divulgado nesta sexta-feira (4). O órgão também informa que cerca de 190 mil famílias estão enfrentando as consequências da estiagem severa.
O Amazonas enfrenta uma estiagem severa que deixou todos os principais rios do estado em situação crítica. No fim da tarde de quinta-feira (3), o Rio Negro bateu o recorde histórico ao ultrapassar a marca de 12,70 metros, registrada em 2023. Na manhã desta quarta-feira (4), o nível do rio atingiu a 12,66 metros.
Na capital, a prefeitura interditou para banhistas a praia da Ponta Negra, principal balneário da cidade. No porto de Manaus, o surgimento de bancos de areia tem afastado as embarcações e alterado a rotina de quem depende do rio para viver. Até o Encontro das Águas se tornou mais difícil de observar devido a seca severa.
O carpinteiro Getúlio de Castro, de 57 anos, mora na Marina Rio Belo, às margens do Rio Tarumã-Açu, na zona ribeirinha da capital amazonense. Segundo ele, para sair de lá, é preciso enfrentar um trajeto de duas horas até a Marina do Davi.
Carpinteiro leva duas horas para chegar em casa. — Foto: Matheus Castro/g1
“Um trajeto que eu levava dez minutos pra fazer estamos fazendo duas horas. E em uma parte a gente ainda precisa descer do barco para empurrar, porque não tem como passar porque o riu sumiu”, continuou.
Quem também é afetado pelo problema é o estaleiro Felipe Lopes, de 54 anos. Ele tem um flutuante na Marina do Davi desde 1994, no qual faz barcos e reparos em pequenas embarcações. Com a seca, o empresário precisou dispensar os funcionários e viu os clientes irem embora.
Empresário viu clientes irem embora e dispensou funcionários. — Foto: Matheus Castro/g1
“É um cenário muito triste. Estou aqui há muito tempo e nunca tinha visto o que aconteceu aqui ano passado e agora. E este ano parece que vai ser ainda pior. A gente sabe que ninguém tem culpa, mas é complicado, porque tem muita gente que vive aqui e ganha seu pão aqui também”.
No Puraquequara, na Zona Leste de Manaus, o empresário Erick Santos, de 29 anos, dono de um restaurante que serve peixes e outras comidas regionais, também viu os clientes irem embora.
Dono de flutuante também viu clientes irem embora. — Foto: Matheus Castro/g1
No âmbito da assistência humanitária, foram distribuídas 2,5 mil toneladas de alimentos para as regiões mais afetadas. Para atender as famílias impactadas, o governo instalou 36 purificadores de água, sendo 8 destinados à calha do Alto Solimões, e enviou 700 caixas d’água para melhorar o acesso à água potável.
Além disso, o governo informou que enviou 202,2 toneladas de medicamentos e insumos para municípios das regiões do Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões.
Foram também enviados 37 cilindros de oxigênio para Eirunepé, Canutama e Itamarati, além da instalação de uma usina de oxigênio em Envira. Para Ipixuna, foram enviados 10 cilindros de oxigênio e medicamentos, totalizando 8,4 mil volumes distribuídos em diversos municípios
Segundo Renato Senna, pesquisador e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Amazonas ainda está enfrentando os efeitos da seca do ano passado, como a falta de precipitação.
Cachorro tenta atravessar mar de lama onde antes havia um rio — Foto: Matheus Castros/ g1 Amazonas